No terceiro mês de mandato, prefeita de Ponta Grossa se posiciona sobre propostas apresentadas na campanha

Em 2020, Elizabeth Schmidt (PSD) foi a primeira mulher a vencer uma disputa pela prefeitura de Ponta Grossa. Nos últimos 15 anos, ela foi secretária de Cultura e Turismo (2005-2012), de Administração e Recursos Humanos (2015-2016) e Vice-Prefeita (2016-2020). Ambos os últimos cargos nos governos Marcelo Rangel (PSDB).

Em entrevista ao Foca Livre, a prefeita recém-eleita não se posiciona sobre qual será a área prioritária de sua gestão e evita dar datas para projetos prometidos em campanha, mas reavalia propostas de seu próprio plano de governo. Ela fala sobre o retorno das aulas e a escola em tempo integral no município e pontua a necessidade de investir na qualificação profissional dos desempregados. A prefeita promete debate com a comunidade para a nova concessão do transporte público e garante que tem apoio e verbas do governador do estado para executar suas propostas. Além disso, a professora Elizabeth destaca a relevância política da eleição de representantes mulheres na região dos Campos Gerais.

Elizabeth Schmidt (PSD) foi eleita com 52,38% dos votos válidos em 2020.| Foto: Lucas Cabral

 

Foca Livre: Quais as prioridades para o primeiro ano da gestão?

Elizabeth Schmidt: As prioridades sempre são as pessoas. Um exemplo são essas chuvas intensas. Eu me coloco no lugar da pessoa que no primeiro dia do ano teve sua casa alagada. A educação ambiental precisa ser forte. Pedi para fazerem um plano municipal de drenagem urbana. A cidade possui 14 arroios dentro da nossa cidade, são 350 quilômetros de beira de arroio. Eu quero fazer gabiões que protejam essas pessoas. Dentro desse projeto, vamos atrás de verba em Brasília, para solucionar o problema ambiental em si, o problema sustentável para as famílias e a questão habitacional. Têm pessoas que estão morando na beira do esgoto, na beira do arroio. Existem linhas de programas a nível federal que a gente vai tentar trazer para a cidade. Isso pra mim, é uma prioridade. Todas as áreas são importantes, a saúde, o asfalto, educação, segurança. Eu acredito que as pessoas que mais precisam da prefeitura são a prioridade sempre.

Foca: Na sua campanha, havia a proposta de tornar 90% das escolas públicas com oferta de período integral. Como pretende realizar a proposta diante da pandemia? Como a prefeitura tem debatido o retorno às aulas com os profissionais da área e com os pais e alunos?

ES: A pandemia fez com que todos os nossos projetos fossem modificados. O que a gente está vivendo, cada dia é um dia. A gente não sabe o que vai acontecer amanhã. Então, o ensino em tempo integral é algo muito desejado pelas pessoas, pelas famílias e pela nossa administração. Nós temos muitas escolas em tempo integral. Somente 25 têm tempo parcial. Existe solicitação de alguns pais que não querem o tempo integral, então eles estão tendo a oportunidade de colocar as crianças em tempo parcial nesse momento. Com a retomada das aulas nós vamos iniciar com ensino híbrido, as crianças não vão ficar o dia inteiro, não vai ser todo mundo,vai ser bem caracterizado para o momento e para agora. Eu acho que a gente não vai nem comentar mais sobre isso neste ano, enquanto não voltar à normalidade.

Foca: Como as escolas estão sendo preparadas para isso? Haverá protocolos que garantam a segurança sanitária? Haverá fiscalização?

E.S: Desde julho [de 2020], estamos preparados para a volta às aulas de maneira híbrida. Nós temos tudo comprado, medidores de temperatura, luvas, máscaras, álcool em gel, tudo preparado. Temos protocolo sanitário, está divulgado para todos os professores. A vacina chegou agora quando eu já era prefeita e isso já é uma grande conquista. O maior desafio agora é conseguir vacinar o maior número de pessoas. As vacinas precisam chegar até nós, então já estamos solicitando toda hora.

Foca: Como sua gestão combaterá a desigualdade social no município?

E.S.: Todas nossas políticas públicas têm essa meta de fazer com que a desigualdade aconteça cada vez menos na cidade. Com relação ao emprego em si, o nosso papel é fazer a captação de empresas, de indústrias para que venham para nossa cidade que aqui fortaleçam essas relações de emprego e trabalho. Somos a primeira cidade do Paraná hoje no último CAGED [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados] na oferta de empregos. Temos desempregados, mas temos ofertas todos os dias, 200, 300, 400 vagas, mas o que acontece é o desencontro entre uma fila e a outra. Uma fila da procura de emprego e a outra que exige qualificação. Estamos a cada dia buscando o possível para qualificar as pessoas, principalmente aquelas que não têm acesso ao ensino superior, elas precisam ser qualificadas para saber fazer alguma coisa. Nós temos uma escola municipal de qualificação profissional que vai funcionar na agência do trabalhador fortemente para isso.

Foca: Sobre o cursinho pré-vestibular para alunos da rede pública, como ele será implementado?

E.S.: Colocaram isso na época, mas eu pedi para tirar. Acho que a gente não tem competência com isso, não sei se vou colocar isso em prática. Esse é um projeto que a equipe vai repensar, pois eu tenho um prazo que preciso apresentar as metas que terão tempo de serem colocadas em prática, vamos analisar para ver se é competência do município.

Foca: A prefeitura pretende lidar com o monopólio do transporte público? Se sim, de que maneira?

E.S.:Nós temos a previsão de que o contrato termine em 11 de junho de 2023. Logo, vamos iniciar as conversas e debates sobre o novo modelo do projeto básico para uma nova licitação com a participação de toda a comunidade interessada no assunto, através do Conselho Municipal do Transporte.

Foca: A respeito da segurança, como funcionará o Programa Vizinhança Segura?

E.S.: Já existem algumas iniciativas com relação a isso. Em alguns bairros, os vizinhos se comunicam, e um está sempre em contato com o outro avisando o que está acontecendo nas ruas, e temos aqui um projeto especial Esquadrão de Drones e o GGIM (Gabinete de Gestão Integrada), um grupo de integração de todas as forças de segurança na nossa cidade. Já fizemos a primeira reunião. A ideia é fazer com que haja uma muralha digital na nossa cidade, que aumente o número de câmeras de segurança, cada vez mais, para que a gente possa proteger a cidade em todos os cantos, e que ela não seja uma cidade convidativa para a bandidagem, que eles encontrem uma barreira muito grande mesmo e não queiram vir pra nossa cidade, é esse o objetivo. A ideia é fazer um aplicativo.

Foca: No seu plano de governo para a área da saúde existe o programa Web Saúde, ele seria disponibilizado no formato de aplicativo e site? Quem seriam os profissionais que atuariam nele?

E.S.: Nós passamos um projeto piloto com a USP e a UEPG, precisamos investir nos aparelhos necessários. Você contata os médicos através da internet. Precisamos firmar convênios e isso é algo que não vai acontecer como um passe de mágica.

Foca: No seu plano de governo, o programa Web Saúde não apresenta nenhuma relação com o coronavírus, dentro do aplicativo teria algo para a Covid?

E.S.: Não, não é direcionado a pandemia.

Foca: Quando serão implantadas as novas ciclovias e ciclofaixas? Todas as regiões serão atendidas? As mais periféricas também? Haverá ciclovias para os distritos?

E.S.: A princípio, já pedi e me trouxeram um mapa de todas as ruas que são possíveis pintar a ciclofaixa, isso é algo fácil e logo vai acontecer. Todos os espaços que receberem asfaltos novos e possuírem a topografia condizente vão receber também ciclofaixa. Não posso fazer uma ciclovia numa rua íngreme, tem que ser um espaço que tenha condições para o ciclista.

Foca: Sobre a proposta de asfaltar mais de 200 km de ruas na cidade. Quando inicia a pavimentação?

E.S.: Nós estamos fazendo os projetos, em busca de verbas, já estamos recebendo algumas emendas de deputados para que a gente inicie esse processo. Não é assim rápido, é demorado. Uma licitação demora 90 dias para acontecer e primeiramente é preciso encontrar verba. Eu tenho a garantia do governador Ratinho Jr. de que nós estaremos realizando isso nos próximos quatro anos.

Foca: Qual será o critério utilizado para a escolha das ruas/bairros que receberão por primeiro o asfaltamento?

E.S.: Eu acredito que os bairros precisam ser fechados. Não adianta fazer uma rua num determinado bairro, tem que fazer todas as ruas e depois passar para outro bairro. Estamos estabelecendo critérios. Sempre penso que a gente tem que começar pelos que estão sofrendo mais. Mas a gente sabe que todos os bairros têm ruas intransitáveis. Vamos conversar com pessoas, associações de bairros, vamos definir esses critérios para ver qual será a prioridade.

Foca: Como o programa Horta da Família vai funcionar?

E.S.: O programa é da Secretaria Municipal de Agricultura, e já tem um projeto de Horta da Família que disponibiliza mudas para as pessoas nas suas casas. Pretendo fazer como já tem no bairro Costa Rica, por exemplo, no bairro Santa Mônica embaixo da rede, onde tem um terreno que não pode construir nada, e ali fazer uma horta comunitária, onde as pessoas podem ir lá plantar e alimentar toda a família.

Foca: O Centro de Artes Marciais na praça Simão Bolívar e o Eco Lutas no Lago de Olarias são propostas para o entretenimento da cidade. Tem data para serem colocadas em prática?

E.S.: No lago, acredito que ainda esse ano vai ficar pronto. O projeto Eco Lutas já está sendo instalado, quase concluído. Recebemos uma verba do deputado Rodrigo Estacho (PV). Na praça Simão Bolívar, a princípio sem espaço especial, será no pátio coberto que tem lá.

Foca: A última eleição ganhou destaque no Brasil pelo segundo turno ser disputado por duas mulheres e, pela primeira vez na história, a cidade de Ponta Grossa tem uma prefeita mulher. O que podemos esperar da sua gestão para o combate à desigualdade de gênero e em defesa dos direitos das mulheres?

E.S.: Eu acredito que nossas políticas públicas sempre estão em defesa das mulheres e das famílias. Toda e qualquer ação que se faça atinge todas as mulheres. Especificamente voltada à mulher, inclusive estou com uma reunião marcada em Curitiba, nós vamos implantar a Casa da Mulher Ponta-grossense, pois existe um programa que se chama Casa da Mulher Brasileira. Se este estiver ainda vigorando, que é isso que a gente vai ver, pode se chamar Casa da Mulher Brasileira, onde se vai concentrar todas as ações voltadas à segurança da mulher, orientações de todo e qualquer tipo. Desde a Patrulha Maria da Penha, Delegacia da Mulher, atendimento psicológico, tudo que se refere às questões voltadas à mulher vão ser tratadas nessa Casa da Mulher, que é para ser construída, em parceria com a UEPG, ali na Avenida dos Vereadores, perto da Arena. Nós estamos vivendo um momento único na nossa cidade, e na nossa região como um todo, nós temos deputada federal, deputada estadual, vereadoras, quatro prefeitas na região dos Campos Gerais. Isso nunca aconteceu antes e quer dizer que a política é outra, porque nós mulheres fazemos de uma maneira diferente e as mulheres estão acreditando em mulheres. Porque antigamente diziam assim: “mulher não vota em mulher”. Hoje a gente vê que mulher vota em mulher sim. Claro que existem muitos ranços culturais que o Brasil carrega, são muitos preconceitos. Eu mesma passei inúmeros preconceitos durante essa campanha, não só de gênero, mas de idade. Me chamam de vovó, pejorativamente. Eu fiz questão de olhar o mínimo possível nas redes sociais, porque as coisas machucam, essas agressões verbais nas redes machucam principalmente quando você sabe quem é a pessoa que disse, quem é a pessoa que fez, porque pode ser um grande amigo seu de antes e, de repente, você pensa: “tomara que ele tenha aprendido a lição”. Sinceramente, virei a página. Acredito que a população mostrou que eles queriam uma mulher agora no governo municipal e aqui estou eu.

 

Ficha Técnica:

Repórter: Maria Eduarda Schmidt

Editores: Ana Paula Almeida e Levi Brito

Publicação: Alex Marques

Supervisão: Fernanda Cavassana, Rafael Kondlatsch, Kevin Willian Kossar