A falta de servidores na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) tem sido um problema há anos. O deficit de funcionários afeta de maneira significativa a administração de serviços da Universidade. Dados do Portal da Transparência do Governo do Estado do Paraná mostram que, atualmente, a UEPG possui cerca de 2.091 servidores, sendo 1.342 concursados (efetivos) e 749 de Contratação em Regime Especial (Cres), isto é, funcionários temporários. Do total, 1.134 são servidores administrativos, enquanto 957 são docentes. Os dados são referentes ao mês de setembro deste ano, o último registrado.
Os últimos concursos realizados para a contratação de técnicos-administrativos aconteceram em 2009 e 2011. Em dezembro de 2011, a UEPG possuía cerca de 905 agentes administrativos, sendo 795 efetivos e 110 temporários. Em 2019, até o mês de setembro, o total é de 1.134, com 650 efetivos e 484 temporários. Ou seja, o número de servidores cresceu, porém, foram contratados mais funcionários temporários em relação aos efetivos, situação que afeta diretamente a manutenção de serviços.
Para o presidente do Sindicato dos Técnicos e Professores da UEPG (Sintespo), Plauto Jacir Coelho, a melhor forma de a universidade resolver o problema seria que todos os servidores (agentes administrativos e professores) fossem efetivos, pois ao término do contrato dos temporários, não se sabe se esse quadro de funcionários será devidamente reposto. Para isso, seria necessária a realização de concursos públicos, porém, não há previsão de que novos concursos para agentes administrativos sejam realizados, segundo o presidente do Sintespo.
“O que se destaca hoje é que, quando chega um servidor temporário para assumir um determinado departamento, muitas vezes ele não possui experiência de universidade. Ele pode ser acadêmico, estar fazendo um curso de graduação, mas ele não tem experiência administrativa de universidade, com isso a qualidade de trabalho cai bastante, consequentemente a qualidade de ensino”, ressalta.
Segundo Coelho, o sindicato vem lutando em busca de servidores há alguns anos e não se opõe à terceirização e contratação de servidores temporários, mas o número atual de funcionários não garante a qualidade de trabalho para a comunidade universitária. “Diante disso, os servidores efetivos precisam orientar os temporários a respeito do trabalho e, quando esses funcionários finalmente entendem sua função, os contratos já estão terminando. Isso sobrecarrega os que são efetivos dentro da universidade. Estamos lutando junto a outros sindicatos na busca pela reposição do quadro de servidores”, conta.
No quadro de docentes acontece o mesmo. Os últimos concursos aconteceram em 2010, 2011, 2012, 2013 e 2017. Em dezembro de 2013, a UEPG registrou um total de 929 professores, sendo 768 concursados, enquanto 161 eram temporários. Em 2019, o número total é de 957, com 692 docentes concursados e 265 temporários. Do último concurso realizado em 2017, os professores tomaram posse por ação judicial e a ação está sendo contestada pelo Governo.
O presidente do Sindicato dos Docentes da UEPG (Sinduepg), Marcelo Ubiali Ferracioli, disse que “há uma defasagem de servidores enorme. Não só os concursos [para professores] de 2017, mas os anteriores também há candidatos aprovados que não foram chamados e, desde então, essas lacunas são cobertas por professores temporários, que trabalham em condições precárias. O que caracteriza um recrudescimento da carreira e o desmonte da universidade enquanto seu corpo docente”.
Reflexo nos serviços
Na UEPG Central, por exemplo, a biblioteca tem sido fechada mais cedo por falta de trabalhadores. Há aproximadamente um ano, o funcionamento tem sido das 8 às 21 horas. Na falta de uma única pessoa o local muitas vezes precisa ser fechado até em horários em que o movimento é mais intenso, como pela manhã e à noite. E às vezes no horário de almoço.
Estudante do segundo ano de Direito, Vitor Augusto Cogo de Oliveira, que utiliza os serviços da biblioteca todos os dias, relata que a falta de servidores tem afetado sua programação de estudos. “Como tenho aulas pela manhã e faço estágio à tarde, utilizo o período da noite para estudar na biblioteca. Geralmente, meu período de estudos começava das 19 às 22 horas. Agora preciso me organizar para sair uma hora mais cedo e terminar de estudar em casa. Essa situação tem me prejudicado bastante”.
Na limpeza da UEPG Central, um serviço que antes era realizado por até 50 pessoas, hoje se mantém em funcionamento com apenas nove agentes universitários. Com isso, os servidores não conseguem fazer com que todas as demandas necessárias sejam cumpridas para manutenção da Universidade. Nos próximos dias, duas servidoras da área de limpeza serão afastadas para a realização de procedimentos cirúrgicos, o que agravará ainda mais a situação.
Com relação à segurança, a situação também é alarmante. No Campus Central existem seguranças somente em uma das entradas, enquanto as outras três ficam sem o serviço de vigilância uma vez que a segurança atua com no máximo quatro servidores, que pode variar em cada um dos dois turnos (a troca de segurança ocorre a cada 12 horas). E o problema é ainda maior no Campus Uvaranas, já que os blocos são distantes uns dos outros.
Alguns servidores do Restaurante Universitário (RU) têm cumprido hora extra para que os estudantes de todos os turnos sejam atendidos. No RU Central, são nove servidores para o almoço, no jantar esse número diminui por conta dos funcionários temporários que não podem cumprir o horário noturno. Por muitas vezes o restaurante chegou a funcionar sob o comando de apenas três pessoas. No RU em Uvaranas são cerca de 17 funcionários entre efetivos e temporários no almoço. Esse número varia num revezamento entre um grupo de quatro e outro de cinco funcionários no jantar.
A reportagem tentou entrar em contato com a Pró-Reitoria de Recursos Humanos (PRORH) da UEPG, na busca por mais informações, porém, não houve retorno do e-mail até o fechamento desta edição. O pró-reitor, Marcos Fidelis também não retornou os e-mails, nem mensagem por aplicativo.
Arquivo Portal Periódico
29/10/2019 - UEPG tem déficit de 213 servidores
Técnicos administrativos da UEPG sofrem com a demanda de serviços
Ficha Técnica:
Produção: Laísa Braga
Foto: Eder Carlos / Arquivo Foca Foto
Supervisão: Professoras Angela Aguiar, Fernanda Cavassana e Hebe Gonçalves, Ben-Hur Demeneck, Rafael Kondlatsch
Edição: Alexandre Douvan