PG em pessoa: “Meus pais vieram da Alemanha em busca de uma vida melhor no Brasil”

Foto: Rodrigo Charneski

Dona Maria Luísa Merette nasceu em junho de 1956. Mora numa casa de madeira na Vila Madureira, próxima da linha do trem, no bairro da Nova Rússia. Filha de imigrantes, fala com calma e sotaque comum entre alemães que aprenderam o português. Entre uma frase e outra, levanta as maçãs do rosto num sorriso. Na varanda de sua casa, admira o movimento e compartilha sua história com suas visitas.

"Meus pais vieram da Alemanha fugindo da guerra. Eles buscavam uma vida melhor no Brasil. Chegaram no porto de Santos (SP) e seguiram para Laranjeiras do Sul (PR). Cresci com meus pais ainda falando alemão, mas nunca aprendi o idioma em si. A maiorias das palavras que sei são os nomes de comidas como o famoso chucrute [Sauerkraut, em alemão]. Minhas irmãs aprenderam melhor o idioma.

Aquela época era muito diferente. Não tínhamos dinheiro. Nunca precisamos, porque nós e os nossos vizinhos sempre fomos unidos. Quando precisávamos de alguma coisa, trocávamos pelo que produzíamos na nossa fazendinha. Havia imigrantes de vários outros países por perto. Mesmo com a guerra, nos dávamos bem. Muitas vezes nem sabíamos o que estava acontecendo na guerra do outro lado do mundo.

Eu cresci trabalhando na roça. Trabalhava em tudo, desde plantar até limpar as baias dos animais. Eram trabalhos difíceis. Lembro que um dia a lavoura pegou fogo. Nós perdemos muita coisa naquele dia. Meu pai era sempre muito rigoroso. Tinha o trabalho para o homem e para a mulher. Um nunca fazia o trabalho do outro.

Antes de vir para Ponta Grossa, meus pais eram protestantes. Mas por aqui só havia uma capela católica. Comecei a ir na missa e nunca mais quis sair. O padre vinha uma vez por mês e rezava a missa em latim. Muitas vezes, o padre ficava de costas para as pessoas. As mulheres ficavam de um lado e homens do outro.

Eu me lembro dos costumes da época, de quando era criança. As mulheres sentavam mais próximas da cozinha para servir os homens da casa. Eles tinham outros trabalhos, nunca faziam trabalhos da casa. Éramos também muito supersticiosos. Eu me lembro de que quando meu irmão mais novo nasceu. Levaram todas as crianças para outro lugar antes do parto. Falar em gravidez era bem difícil naquele tempo. Depois do parto sempre colocávamos uma tesoura aberta debaixo da cama para as bruxas não levarem o bebe saudável e deixar um doentinho no lugar".