Trabalho Híbrido: Mal uso de redes sociais interfere na saúde mental de profissionais

Falta de divisão entre esferas profissional e privada pode influenciar no desenvolvimento de Síndrome de Burnout 

 

O trabalho híbrido, conhecido por combinar o presencial e o home office, tem sido cada vez mais aplicado após o isolamento por conta da covid-19. Trata-se de um contexto onde os trabalhadores desenvolvem as atividades em horários condizentes com as rotinas pessoais. Porém, os benefícios das tecnologias, que possibilitam esse tipo de trabalho, ainda precisam ser avaliados. É um desafio dividir a vida profissional e pessoal com o uso das redes sociais e aplicativos de mensagem, pois não importa o horário, o trabalho consegue se misturar com a vida privada por esses meios. 

O psicólogo Luiz Ricardo Pauluk diz que as queixas pela invasão do trabalho na vida pessoal, a partir do uso de redes sociais e WhatsApp, são frequentes em seu consultório. “Posso dar como exemplo um casal que precisou estabelecer regras rígidas, porque o WhatsApp profissional de um deles invadia a privacidade. Isso, por sua vez, levou à uma crise no casamento que quase resultou na separação”, conta. A solução do casal foi proibir o uso profissional do aplicativo após as 22h, e as consequências dessa atitude seriam resolvidas no dia seguinte. 

Para Pauluk, é preciso avaliar o uso das tecnologias e buscar uma educação a partir disso. “Não temos uma cultura que administre bem o contato com o mundo virtual. Não sabemos, de modo geral, dosar o uso dos dispositivos eletrônicos”. A falta dessa postura diante das tecnologias pode ocasionar na Síndrome de Burnout, principalmente no contexto de trabalho híbrido. 

Por ser caracterizada como um estado de exaustão psicológica derivado do excesso de trabalho, que pode gerar sintomas depressivos, ansiedade, de despersonalização (como se a pessoa sentisse sua personalidade se esvaziando ou se dissolvendo) e perda de satisfação no trabalho, a síndrome apresenta complexidade maior no trabalho híbrido, onde o ambiente de trabalho e espaço privado se confundem. E para evitar a exaustão nesse contexto, o psicólogo dá algumas alternativas. “A parte virtual do trabalho híbrido depende de uma organização específica. Algumas dicas seriam organizar os horários de trabalho, a dinâmica familiar, o espaço reservado para trabalhar. Por exemplo, nunca utilizar o quarto, onde se descansa.” 

Uma psicoterapeuta, que não quis ser identificada, relata ter desenvolvido a Síndrome de Burnout a partir da dificuldade em separar a vida pessoal da profissional. Um ponto que ela destaca é o fato de seus pacientes conseguirem entrar em contato com ela em qualquer horário. “Estou sempre à disposição dos meus pacientes para ajudá-los e, mesmo quando não são assuntos urgentes, devo respondê-los. Muitas vezes é meia-noite de um domingo, por exemplo, e não consigo sair do WhatsApp por causa disso, o que dá um desgaste emocional e físico”, explica. 

Para ela, sua situação com o uso das tecnologias não parece se encaixar no termo “trabalho híbrido”, pois não há dias determinados e horários para responder as mensagens. Porém, ao considerar o trabalho além da terapia presencial, o desgaste acaba sendo semelhante. “Por parecer simples responder uma mensagem ou outra por aplicativos, não é visto como trabalho. Mas, na realidade, estou trabalhando, só que fora do consultório.” 

Ela acrescenta que ainda não conseguiu encontrar o equilíbrio necessário para o uso profissional das tecnologias e que, por isso, não consegue descansar no tempo livre. “Sempre estou pensando nas mensagens que me enviam, além das demandas do consultório. É preciso muita organização e um pouco de desprendimento do trabalho também. Quero estar disponível para meus pacientes, mas nem sempre os assuntos precisam ser tratados imediatamente”. A psicoterapeuta pensa em definir horários para tratar de assuntos que não são urgentes pelo WhatsApp, com o objetivo de melhorar sua saúde mental e parar de sobrecarregar o trabalho. 

 

Ficha técnica:

Reportagem: Cassiana Tozati

Edição e Publicação: Catharina Iavorski

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

 

Perfume íntimo tem fragrância de infecções 

Produtos de higiene íntimo oferecem riscos à saúde da mulher, alertam ginecologistas

Quem acompanha a cantora Anitta nas redes sociais se deparou com o lançamento de um perfume unissex às áreas íntimas. Porém, segundo especialistas, o produto chamado Puzzy pode causar infecções na região. Por alterar o pH dos órgãos, não é aconselhável o uso de perfumes e sabonetes, uma vez que podem causar doenças sendo a mais frequente é a candidíase, provocada pelo fungo Candida albicans. Quem já teve, sabe o incômodo com coceira, inchaço, corrimento pastoso, dificuldade para urinar e dor durante as relações sexuais. 

Segundo a ginecologista Keilla Lima, produtos como lenços umedecidos e desodorantes íntimos não são recomendáveis para uso. Para a higienização, os mais adequados são os sabonetes convencionais, desde que sejam neutros e de preferência glicerina. “É muito importante que as mulheres também saibam fazer a higienização íntima de forma adequada, para além dos produtos. Água e sabão neutro são apenas na região externa, pois caso contrário, ocorre o desequilíbrio da proteção vaginal”, explica. 

Ainda de acordo com a médica, é possível desmistificar o uso desses produtos de higiene através do conhecimento, mesmo que haja incentivo ao consumo. “Saber e entender que a mucosa vaginal é uma área muito sensível, já contribui para que as mulheres usem itens adequados para a saúde íntima”, conclui Keilla. Caso ocorram irritações e suspeita de doenças devido ao uso de produtos íntimos, recomenda-se procurar atendimento médico, preferencialmente ginecológico para melhor avaliação. 

 

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Foto: Leriany Barbosa

 

Consumo dos produtos

A reportagem realizou um levantamento sobre o uso de produtos de higiene para áreas íntimas, como sabonetes íntimos e perfumes semelhantes ao Puzzy de Anitta. O público que respondeu à pesquisa foi de 40  mulheres, entre 19 e 46 anos de idade, que usam ou já usaram os produtos. Delas, 35% faziam uso de produtos de higiene para a área íntima, mas pararam de usar devido a relatos de pessoas que tiveram infecções por conta dos perfumes e sabonetes. Por outro lado, 30% das mulheres ainda utilizam os produtos. 

Quando questionadas se já contraíram alguma doença na região íntima devido ao uso dos produtos de higiene, 10% das entrevistadas responderam que tiveram candidíase. Enquanto 5% das mulheres revelaram que já sofreram com infecção urinária ou alteração no corrimento vaginal - líquido que serve para proteger e lubrificar a região. Apesar das recomendações médicas, 25% das entrevistadas não veem problema quanto ao uso, mesmo sabendo dos riscos que podem vir a ter. 

Adriana Rebonato, de 46 anos, foi uma das mulheres que respondeu ao levantamento e afirmou ter sequelas quanto ao uso desses produtos. Em 2015, ela contraiu uma alergia por conta do sabonete íntimo e os sintomas seguem até hoje. “A reação alérgica começou com um vermelhidão na vagina, então não pensei duas vezes e logo marquei uma consulta com o ginecologista. Após uma série de exames ele me alertou que essa irritabilidade foi causada pelo sabonete íntimo”, explica.

Adriana ainda revela que atualmente ela não pode usar determinados tipos de absorventes, calcinhas e tem que manter a região depilada. “Eu usava esses sabonetes desde jovem, pois eles sempre foram sinônimos de limpeza, mas na verdade eles apresentam riscos à saúde da mulher e, infelizmente, descobri isso na prática”, alerta.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Ana Luiza Bertelli Dimbarre e Leriany Barbosa

Edição e Publicação: Lilian Magalhães

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Falta de orientação gera dificuldades no aleitamento materno

Agosto é dedicado ao aleitamento materno e alerta para a importância do tema

 

O aleitamento materno é recomendado a crianças até dois anos de idade, sendo os seis primeiros meses indispensáveis para o desenvolvimento. Entretanto, muitas mães sofrem com dificuldade em amamentar, e isso acontece, principalmente, pela falta de orientação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o leite materno reduz em até 13% a taxa de mortalidade infantil, além de fortalecer o vínculo entre mãe e bebê. 

Jaqueline Rosa, de 34 anos e mãe de quatro meninos, teve dificuldade no aleitamento, que só melhorou com o passar das gestações. Durante o pré-natal da primeira gravidez, ela não foi orientada  e, quando seu bebê nasceu, não sugava o leite. No hospital, foi necessário receber auxílio de profissionais, como fonoaudióloga, que ajudou a identificar o motivo da dificuldade do bebê. Para Jaqueline, receber tantas informações de uma vez só foi cansativo. “Foi um processo exaustivo, me sentia muito pressionada”.

Devido à dificuldade, a pediatra recomendou fórmula infantil, composto parecido com leite em pó, para o recém-nascido. “Foi o maior erro que cometi, eu não tive nenhuma outra orientação, era simplesmente: fique tranquila, a fórmula vai ajudar e ele vai crescer saudável”, relembra. Na terceira gestação, Jaqueline teve dores e sofreu com leite empedrado, mas, por ter maior conhecimento, ficou mais calma. “O conhecimento é libertador, as orientações foram me tranquilizando. Precisa haver respeito com a mãe que acabou de ter o bebê, muita informação pode deixá-la ainda mais nervosa e atrapalhar o processo”.

Pamela Gorgal conversou com amigas sobre o aleitamento, e para não ter grandes problemas, salvou o contato de uma consultora de amamentação. Quando sua filha nasceu, em abril deste ano, os problemas, como fissuras nos seios, apareceram em dois dias. “Eu amamentava me segurando para não gritar, porque doía muito”. Foi quando ela buscou ajuda. Parou de amamentar, começou a extrair leite com bombinha, e alimentar sua filha com seringa até o seio cicatrizar. “Eu consegui salvar a amamentação devido à orientação, porque se não fosse por isso eu teria desistido. A dor era insuportável”.

 

foto amamentaçãoFoto: Raylane Martins/Acervo Foca Foto

 

A técnica de laboratório do Hospital Universitário Materno Infantil (HUMAI), Cláudia Cancian, afirma que as mães devem buscar auxílio. “Toda mãe que tem dor ou dificuldade, é ideal que procure pelo banco de leite para conseguir a amamentação própria do bebê, estamos aqui para ajudar”.

A farmacêutica bioquímica, doula e consultora de amamentação, Mônica Balsano, explica que nos seis primeiros meses de vida do bebê, o leite supre todas as necessidades alimentares, pois possui substâncias nutritivas próprias, excluindo até a ingestão de água. Além disso, ele protege contra diversas doenças no recém-nascido e câncer de mama da mulher. 

Caso o bebê não receba o leite materno, os riscos para a criança são altos e os compostos alimentares que se assemelham ao leite, como as fórmulas, não apresentam valor nutricional suficientes. “As fórmulas têm a mesma composição do leite materno, mas enquanto nele há 200 componentes, nas fórmulas encontramos somente 80. É uma diferença grande”, afirma. 

A mulher com dificuldade na amamentação deve procurar orientação médica ou agendar a visita de uma consultora de amamentação, para que possa entender o motivo pelo qual não consegue amamentar. De acordo com Mônica, os fatores são inúmeros, como a falta de leite ou a pega incorreta da mama. Além disso, o estresse colabora para a dificuldade. “Quando a mulher está estressada, ela libera o hormônio cortisol, o que diminui a descida do leite”, explica.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Bettina Guarienti e Isadora Ricardo

Edição e Publicação: Eder Carlos e Mariana Gonçalves

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Restrição ao glúten dificulta socialização de celíacos

Pacientes reclamam da carência de estabelecimentos locais que forneçam alimentos seguros para consumo

“Faz dez anos que não faço minhas refeições fora de casa. Quando saio levo marmita ou faço a refeição antes”. Esse é o desabafo da celíaca Valdirene Aparecida Veiga mas poderia ser dito por qualquer morador de Ponta Grossa com alguma restrição ao glúten.


Segundo o levantamento realizado pela reportagem, todos entre 28 celíacos e intolerantes ao glúten entrevistados acreditam que Ponta Grossa e região carecem de restaurantes, bares e lanchonetes que atendam suas necessidades restritivas. A apuração também constatou que quase 80% deixam de consumir os alimentos nesses ambientes por conta da contaminação cruzada. “Sinto muita falta de poder sair e me divertir como qualquer pessoa. Quando saio sei que vou pagar o preço depois, pois sempre acontece alguma contaminação”, comenta a psicóloga Fabiana Brêga, que tem intolerância ao glúten.


De acordo com a celíaca Luiza Siqueira Stemmler, a instrução dos restaurantes sobre as restrições alimentares de seus consumidores também deveria ser mais aprofundada. “Eu nem falo que eu sou celíaca, porque ninguém sabe o que é celíaco”. Ela comenta que consome alimentos que possam conter contaminação cruzada por conta de sua rotina obrigar a fazer refeições fora de casa. Luiza afirma que alguns restaurantes da cidade possuem alimentos sem glúten, mas nem sempre são alimentos pensados para esse público. “Até têm restaurantes que vendem comidas sem glúten, mas se eu vou com a minha família, todos eles comem pizza e eu tenho que comer salada por ser a única opção”, exemplifica.

Selos
No Paraná, visando a inclusão e segurança dos celíacos e intolerantes ao glúten, fundou-se na capital do estado a Associação de Celíacos do Paraná (Acelpar). Sob a atual presidência da engenheira química Ana Claudia Cendofanti, a associação possui mais de vinte anos de atuação objetivando proporcionar uma realidade que atenda as necessidades restritivas do público celíaco.


De acordo com a presidente da Acelpar, a doença celíaca vai além do diagnóstico médico e impacta diretamente o convívio social do indivíduo. Nesse contexto, a associação busca garantir espaços seguros de convivência para esses cidadãos por meio da implantação do “Selo Sem Glúten”— uma iniciativa da Acelpar com o intuito de propiciar uma produção, manipulação e preparo de alimentos totalmente livres de traços de glúten.

Segundo Ana Claudia, o processo de auditoria para a certificação do estabelecimento passa por todo percurso que o produto sem glúten faz, desde a análise da matéria-prima até sua entrega ao consumidor final. Ela afirma que existem aproximadamente 33 selos distribuídos pelas cidades paranaenses, mas nenhum em Ponta Grossa. Existiram processos anteriores para a tentativa de implantação dos selos na região, mas, foram encontrados traços de glúten no processo produtivo — o que interrompeu a certificação. No início da pandemia, outro estabelecimento de alimentos sem glúten tentou a implantação do selo, mas não deu continuidade no processo de auditoria.


Além disso, a presidente da associação comenta que mesmo diante da proximidade entre Ponta Grossa e Curitiba, ainda a cidade carece de espaços especializados para este público, contabilizando menos de dez. “Muitos restaurantes poderiam atender o público celíaco se fizessem algumas transformações em seus processos produtivos a fim de se adequarem às necessidades desses clientes”, destaca.

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Cidadãos enfrentam escassez de estabelecimentos que disponham de uma cozinha segura, livre da presença do glúten. Foto: Acervo Portal Comunitário

Produção nos restaurantes
A tecnóloga de alimentos, Paola Pavlak Silvério, expõe que existem dificuldades em produzir alimentos totalmente livres de glúten para o público celíaco. Ela realiza o controle de qualidade de um restaurante e uma padaria em Ponta Grossa, e afirma que a contaminação cruzada, o encontro de matérias-primas de qualidade e o custo elevado dos produtos são as principais barreiras para a produção desses alimentos.


Paola reforça que as cozinhas utilizadas para a fabricação desses alimentos específicos precisam de bastante atenção a fim de garantir qualidade e segurança para os consumidores. Ela comenta sobre algumas medidas possíveis para evitar a contaminação cruzada, como possuir um espaço físico separado para a produção ou a necessidade de realizar a sanitização completa do ambiente e utensílios, mas também a realização de intervalos de 48 horas entre a produção tradicional e a sem glúten.


Além disso, a tecnóloga afirma que percebeu uma maior procura por esses alimentos específicos nos últimos anos e reforça a necessidade de instruções dos estabelecimentos quando os consumidores solicitam essas produções. “Nós sempre orientamos que produzimos alimentos sem glúten, mas com contaminação cruzada”.

Contaminação cruzada
De acordo com a paciente, Valdirene Aparecida Veiga, a contaminação cruzada é um fator de risco para os celíacos pelo fato de não tratar somente de deixar de consumir os alimentos e sim do processo produtivo como um todo.


Segundo a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (FENACELBRA), a contaminação cruzada ocorre quando um alimento sem glúten recebe direta ou indiretamente partículas (traços) de glúten de outros alimentos, desde o plantio até o consumo final. De acordo com a nutricionista do Departamento de Segurança Alimentar da cidade, Elaine Cristina Popoatzki, a atenção para a contaminação cruzada na produção de alimentos deve ser considerada quando se fabricam produtos para o público celíaco e intolerante ao glúten.

A nutricionista declara que apenas cerca de cinquenta celíacos e intolerantes ao glúten estão cadastrados na prefeitura. Entretanto, ela afirma que o número de pacientes é muito superior. Além disso, expõe que escuta diversas reclamações desses cidadãos pela escassez de estabelecimentos que disponham de uma cozinha segura, livre da presença do glúten.

Doença celíaca
O gastroenterologista Rafael Acras explica que a doença celíaca consiste em uma intolerância permanente ao glúten, fazendo parte deste grupo o trigo, cevada, centeio e o malte, por isso devem ser evitados por esses pacientes.


Sobre os sintomas, ele esclarece que cada organismo age de maneira diferente, ou seja, algumas pessoas são assintomáticas, outras possuem sintomas ligados ao aparelho digestivo, como: estufamento, diarreia, gases, desconforto abdominal, ou extra digestivos: carência de vitaminas, doenças autoimunes e problemas em outros órgãos.


Segundo o médico, a identificação da doença deve ser realizada por um gastroenterologista, por meio de exames de sangue, teste de diagnóstico genético e endoscopia com biópsia.


De acordo com a FENACELBRA, a doença celíaca ocorre em pessoas com tendência genética à doença. Assim, pode surgir em qualquer idade, mas geralmente aparece na infância, em crianças com idade entre 1 e 3 anos.

 

Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Clique aqui e acesse a edição completa.

Ficha Técnica:

Reportagem: Larissa Del Pozo Malinski
Edição e publicação: Valéria Laroca 
Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli, Cândida de Oliveira e Maurício Liesen
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Quem tem AME tem pressa

Remédio para a Atrofia Muscular Espinhal custa cerca de doze milhões de reais no Brasil

A Atrofia Muscular Espinhal (AME) é uma doença rara, progressiva e degenerativa causada por uma alteração genética que afeta os neurônios motores, comprometendo o desenvolvimento da criança, causando fraqueza, hipotonia, atrofia e paralisia muscular progressiva levando à morte. Para o tratamento da doença existem o Spinraza e o Ridisplan, disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o Zolgensma, terapia gênica que ainda não está na lista de medicamentos para portadores de AME. Remédio de dose única, o Zolgensma é considerado o mais caro do mundo chegando a custar aproximadamente doze milhões de reais por paciente. Ele contém o ingrediente ativo onasemnogeno abeparvoveque, que contém material genético humano e tem a função de neutralizar a doença em crianças até 2 anos de idade.

O estudante de medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Leonardo Oliveira Barros, explica que a doença degenerativa está ligada à medula espinhal. Além disso, ele conta que a pessoa já nasce com a doença, apresentando sintomas como a hipotonia, diminuição de força e a perda de reflexos. “Antes mesmo de nascer, ela já vai ter essa doença. Porque a informação genética não vai se alterar no decorrer da gravidez”.

A farmacêutica Cecília Cardoso observa que existem várias vaquinhas online de famílias com crianças que possuem a atrofia. Essa arrecadação pelas redes tem como intenção conseguir os recursos suficientes para a compra do Zolgensma. Ela menciona que há apenas uma empresa dona dos direitos do medicamento, sendo ela a controladora do valor ofertado.

A farmacêutica ainda explica o funcionamento do medicamento. “O Zolgensma vai inibir essa atrofia. Não vai ser igual ao Spinraza [outro remédio indicado para o tratamento] que vai retardando a progressão da doença. Como ele mexe no DNA e modifica, essa atrofia vai realmente inibir”. Ela conta a história de uma criança que estava perdendo os movimentos e com o uso Zolgensma apresentou evolução.

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Reprodução/ instagram: @cureaalice

Relato

Silvana Alves é mãe da Alice, de 2 anos e quatro meses. Quando Alice ainda era um bebê, não atingia os marcos do desenvolvimento indicados para a fase. Na medida em que o tempo passava a preocupação aumentava, pois via que algo não estava normal com Alice, sendo assim foi buscar orientação e informação médica, porém sem uma resposta precisa. A AME é uma doença rara e pouco conhecida e passou despercebida pelo olhar clínico dos profissionais sem chegar no diagnóstico. “Alice já estava com quase 10 meses e não sentava, não rolava, não engatinhava, não era uma criança ativa”. Depois de várias consultas, Alice foi levada a uma neuropediatra em Curitiba que fechou o diagnóstico para AME tipo 1.

O tratamento começou trinta dias após o diagnóstico recebendo quatro doses de ataque do medicamento Spinraza, num período de 40 dias e outra aplicação após 4 meses, sendo necessária a reaplicação a cada 4 meses pelo resto da vida. Medicamento este que custa 320 mil reais cada dose com aplicação direta na medula espinhal do paciente. Para conseguir comprar o Zolgensma, a família organizou a campanha Cure a Alice (https://www.facebook.com/cureaalice/) pelas redes sociais e entrou com um processo judicial contra a União visando o fornecimento do dinheiro para a compra do remédio, como direito à saúde para qualquer cidadão. O dinheiro arrecadado ajudou com parte das despesas e o processo custeou a compra do Zolgensma. O processo  judicial ainda não finalizou, mas Alice precisava receber o remédio antes de completar dois anos de idade.

“A  AME não tem cura, mas o Zolgensma faz com que paralise a progressão da doença e Alice comece a ter uma vida sem riscos para a sua saúde”. Para receber o medicamento, ela precisou ir para São Paulo pois apenas alguns hospitais no Brasil tem especialistas preparados para realizar a infusão do Zolgensma. Hoje, ela só faz uso de corticóide e faz acompanhamento frequente com vários especialistas no Hospital das Clínicas em Curitiba. “O remédio em si, caminha junto com as terapias”, explica Silvana. 

 A irmã da Alice, Bruna Milena Rodrigues, conta que foi muito difícil no início. “Foi assustador o diagnóstico. Era uma doença que a gente não tinha conhecimento na época”. Logo em seguida de receber a notícia, Bruna conta que sua mãe entrou em contato com várias campanhas para se informar e buscar mais orientações. Relata que “como Alice tomou o Zolgensma antes dos dois anos de idade, a irmã pode ter uma vida normal, mas que tudo vai depender dos estímulos motores diários (as terapias)”.

A falta de oferta do Zolgensma pelo sistema público gerou brigas judiciais pelo país. Considera-se os riscos à vida da criança mesmo recebendo o tratamento disponível pelo SUS, o desembargador do Tribunal Regional Federal (TRF) entende que o portador de AME tem direito à outras alternativas de tratamentos. O fato do medicamento não ser oferecido pelo sistema público de saúde foi discutido na Câmara de deputados em 2021, porém o Ministério da Saúde alega que os dados de eficácia do medicamento ainda são frágeis. Em contra partida, estudos comprovam a eficiência do medicamento em crianças que já o receberam nos critérios estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA  onde vem apresentando evolução desde então, considerando as particularidades de cada paciente devido às percas que tiveram até recebê-lo. 

Ficha Técnica:
Repórter: Marcella Panzarini
Edição: Bettina Guarienti
Publicação: Gabriel Mendes Ferreira
Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen