Foto: Danielle Farias.

 

Moradores reclamam da falta de infraestrutura e atenção do poder público

 

Além do terreno irregular, com ruas inclinadas, a Vila Cristina cerca um dos arroios de Ponta Grossa. A população convive com o esgoto a céu aberto, erosões e moradias próximas ao arroio. As ruas possuem buracos e entulhos que tomam conta do local e dificultam a passagem de carros e pedestres. Os moradores também ressaltam a falta de área para lazer, saúde e educação. A Prefeitura promete projeto de operação padrão, assegura a construção de galerias e reformas das ruas, mas os moradores estão desacreditados de qualquer mudança do poder público pois percebem o abandono da região.

 

Abandono. Esta foi a primeira palavra que nos veio à cabeça ao chegar na Vila Cristina, no bairro Nova Rússia. Foi em uma segunda-feira, dia 12 de junho, saímos do Centro com a intenção de seguir até um dos bairros periféricos. O divisor foi uma rua em declive, asfaltada e que marca o começo da extensão da Vila Cristina.
O surpreendente, por outro lado, não estava na rua principal, onde moradores circulavam entre os pequenos comércios. O carro não avançou além de uma ou duas quadras. A via - não asfaltada - deu lugar a enormes buracos do tamanho de um pneu de carro popular, com pedras soltas e de difícil acesso até mesmo para pedestres.

 

Problemas ambientais e de infraestrutura também afetam as moradias. Uma fita colocada pelos moradores indica perigo, mas também isola o local de deslizamento de terra próximo ao arroio, com área verde e aproximadamente dez casas ao redor. A área não é afastada do centro da cidade (fica a cerca de 3,5 km do Campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG), mas é perceptível a falta de recursos básicos como escolas e posto de saúde, presentes apenas na Vila Hilgemberg, que faz divisa com a Vila Cristina. Para chegar até lá os moradores precisam atravessar uma ponte sobre o arroio e uma escadaria - que também dá acesso às casas próximas ao deslizamento.

 

O espaço de lazer se restringe a uma cancha, com buracos na quadra e telas de proteção - que permitem a passagem da bola até a casa do vizinho. Um espaço utilizado, porém esquecido pelo poder público. Descaso, não apenas com a infraestrutura, mas também com os moradores, foi a nossa segunda impressão.

 

 

 

        Imagem: Danielle Farias.

 

 

FALTA DE ESTRUTURA

Moradores antigos do local viram a Vila crescer sem nenhum apoio municipal. É o caso de Antônio Marcondes, morador há mais de 30 anos que relata já ter ido à Prefeitura pedir ajuda, mas não obteve retorno. “Na hora de eleição eles vêm, prometem e depois se esquecem da gente. A gente fica sem ter o que fazer”, afirma.

 

Foto: Danielle Farias.


Os depoimentos dos moradores se completam ao expor dificuldades e as possíveis melhorias. Edgar José Balzer mora na Vila Cristina há 37 anos e reclama da falta de um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), escola e campo de futebol. “Aqui nós estamos completamente abandonados pelo poder público. Já fiz três ou quatro protocolos para melhoria do bairro, mas não temos resposta nenhuma. Já aconteceu de uma pessoa ficar doente, mas o SAMU não conseguiu passar com a ambulância e tivemos que carregá-la mais de uma quadra”, conta Edgar.

 

 

Foto: Danielle Farias.



Edgar Balzer explica a situação difícil das ruas em dia de chuva e as dificuldades enfrentadas pelos coletores de lixo para chegar às casas na área mais baixa, ouça o áudio:

 

A equipe do Periódico conversou com João Pauka, que reside na Vila Cristina há quase 40 anos e é um dos moradores mais antigos. Apesar de morar em uma das únicas ruas asfaltadas, ele conta que o local conquistou melhorias como as ruas pavimentadas por onde transita o ônibus. O asfalto segue até a Vila Hilgemberg e é a rota que liga a escola e posto de saúde. Pauka diz já ter procurado a Prefeitura, mas os responsáveis nunca aparecem. “Não basta somente fazer ligação de vila com vila ou se preocupar com obras grandes, sendo que o mais básico estão deixando a desejar”, explica.

 

Foto: Danielle Farias.



João Pauka conta que a Vila Cristina tem mais de 60 anos, antes não havia tantas moradias ou ruas, apenas área verde, ouça mais detalhes: 


Outro morador antigo é o senhor Francisco Machado, que mora na Vila há 40 anos e confirma que ela está abandonada. “Nós queremos que arrumem as bocas de lobo que estão entupidas e o esgoto sempre estraga também. Quando chove as ruas se enchem de água. Há muitos bichos e mau cheiro, faz quatro anos que está entupido, já veio vereador ver, porém nunca fazem nada”, relata.

Ele ressalta que os políticos só prometem mudança durante eleições, mas depois esquecem da Vila. Ouça a fala do morador:

 

REPAROS

A equipe do Periódico entrou em contato com a Secretaria de Obras e Serviços Públicos para questionar a falta de atitude do poder público e o descaso com a Vila Cristina. Em entrevista concedida no mês de julho, o secretário Márcio Ferreira falou de um projeto de operação padrão a ser feito ainda no mesmo mês na Vila Cristina. A operação englobaria a construção de galerias, limpeza de valeta, patrolamento, cascalhamento e revestimento primário - uma camada granular aplicada sob rodovias não pavimentadas. As obras iniciaram no mês de julho, como previsto, contudo nem todos as demandas citadas pelo secretário foram executadas. Em contato com a Prefeitura no início de agosto foram relatados os serviços de patrolamento, cascalhamento e reparos de galerias de águas pluviais durante os dias 10 e 21 de julho. No Diário de Obras consta apenas o serviço de patrolamento. 

 

O projeto deveria ser realizado por uma empresa terceirizada, uma vez que a Secretaria de Obras não consegue realizar as demandas necessárias em bairros da cidade de Ponta Grossa, conforme relato do diretor geral Leandro Ximenio. “Como a Vila Cristina é um bairro que tem uma topografia muito complicada, nós preferimos colocar uma empresa terceirizada para fazer o trabalho completo em um tempo mínimo”, ressalta. Por outro lado, foi a própria Secretaria a responsável pelas obras no mês de julho, devido ao caráter de urgência.
A pavimentação da Vila está fora de questão e sua topografia dificulta um projeto para asfaltar as ruas, cerca de 60% das vias não estão pavimentadas – o que encareceria a obra. Em julho, a Prefeitura iniciou as obras para a recuperação das ruas, mas apenas o patrolamento foi utilizado para minimizar os buracos.

 

A Vila possui declividade e por isso exige estudo e planejamento específico. A equipe do Periódico conversou com o mestrando em Geografia pela UEPG, Brendo Carvalho, que comenta a topografia local. “Uma declividade muito alta acaba influenciando nas questões de segurança da vila, porque quanto maior a declividade mais a água ganha velocidade e força erosiva e quando chega lá embaixo faz aquelas ravinas e buracos enormes. Por isso, a pavimentação tem que ser planejada e estudada para que não haja casos de buracos de erosão”, completa Carvalho. Segundo o especialista, há uma lei municipal que prevê que determinada declividade de relevo não pode ser ocupada para fins de construção. “Na Vila Cristina você percebe que essa lei não foi seguida, são muitas casas construídas sem um aval de um profissional da área, o que acaba expondo as pessoas a condições de riscos”, ressalta. Não se tem uma data certa de quando a Vila foi criada, os moradores dizem que ela tem aproximadamente 60 anos.

 

INICIATIVA DOS MORADORES

Na região os problemas não são apenas de ruas e buracos, outra situação que causa discussão é o espaço da cancha, localizada em uma das ruas principais da Vila, que é utilizada para práticas esportivas e confraternizações.

 

Foto: Danielle Farias.


A condição da quadra esportiva é precária, com buracos, pedras e lixos espalhados. Altamiro Fernandes mora há 37 anos na Vila Cristina e sua esposa, Irene, há 51. Para ela, o local sempre foi o mesmo, o maior problema surgiu com a cancha. Com a falta da tela de proteção, e também por conta da péssima estrutura, as bolas caem para o terreno ao lado, quebram telhas e geram intrigas. “Eu tenho um boletim de ocorrência que fiz em 2003, quando um rapaz armado veio e ameaçou minha família e eu, porque a bola caiu em nosso terreno e o cachorro pegou e destruiu”, relata Fernandes.


Altamiro Fernandes ressalta os principais problemas que envolvem a atual estrutura da cancha: 


Em junho, a Prefeitura de Ponta Grossa iniciou a obra de reforma com recursos do Governo Federal, após um mês pouco ainda foi feito. A expectativa era de que uma nova cancha substituísse a velha, com novos muros e piso, mas até então a estrutura continua a mesma. O prazo para entrega da obra é de 90 dias após o início. No mesmo terreno havia também a associação de moradores, que foi desmanchada pela Prefeitura em 2015, com a justificativa de que o local não estava em condições para uso e que em breve uma nova sede seria construída. Atualmente no local encontramos apenas lixo da construção antiga.

 

Foto: Danielle Farias.


Segundo a secretária da Associação de Moradores da Vila Cristina, Nayara Mocelim, são os próprios moradores que terão que arcar com as despesas da construção da nova sede. “Ela será erguida com o nosso trabalho e o esforço de toda a comunidade e, infelizmente, para essa obra não terá recurso da Prefeitura, somente daqueles que querem ajudar”, relata.
A nova direção da Associação iniciou em 2017 e alguns projetos já estão em pauta, os dois principais são a reforma da cancha e a construção da associação de moradores, seguido por outros já previstos, como a construção da capela mortuária, projetos sociais, clube de mães e idosos.

 

Foto: Danielle Farias.


Nayara, Secretária da Associação de Moradores, ressalta a necessidade de projetos na Vila Cristina: 

 

A QUESTÃO DO ARROIO

Um dos maiores problemas presentes é o arroio, localizado no centro da Vila e que afeta muitos dos moradores insatisfeitos com os maus cuidados e consequências que ele causa à comunidade. O arroio, que, segundo a Prefeitura, não tem nome, inicia próximo ao Hospital Bom Jesus, na Nova Rússia, passa pela Vila Hilgenberg até chegar à Vila Cristina. A Defesa Civil alega que é necessário orientar os moradores que estão inseridos em áreas de risco próximos ao arroio e avaliar, através de vistorias, se ele oferece riscos de desmoronamentos ou alagamentos.

 

Moradores alegam que já pediram à Prefeitura providências, porém a resposta é sempre a mesma: promessas que não são cumpridas. A moradora Michelle Burgate conta que os próprios moradores fazem a limpeza do arroio, porém o cheiro que sai do local é quase insuportável. “A Prefeitura prometeu manilhamento, arrumar as bocas de lobo e que iam passar um frizado na rua, porém com o desmoronamento que aconteceu os planos mudaram. O problema mais urgente é o canalizar o arroio, o cheiro está muito forte para quem vive por perto”, alega.

Foto: Danielle Farias.

Michelle tentou contato com a Prefeitura mas não obteve resposta até o momento, ouça o trecho da conversa: 

 

O engenheiro florestal Edemilson Luiz Quadros ressalta que é dever do órgão municipal fazer um trabalho de conscientização da população, realocação das famílias inseridas em propriedades irregulares, projetos de tratamento do esgoto e pavimentação dessas áreas. O que dificulta é o orçamento do município. “Como a Vila surgiu em uma época em que não existiam os licenciamentos para a construção do bairro, a situação fugiu do controle. Atualmente, a situação não se repetiria, pois dentro do licenciamento está previsto a necessidade de uma estrutura básica para os moradores, como pavimentação, calçamento, esgoto, energia elétrica”, comenta.

Os moradores pedem melhorias na Vila Cristina e esperam mais atenção do poder público. A população já começou a organização da Associação de Moradores a fim de fazer mais pressão na Prefeitura e conseguir um retorno positivo para o local. Confira na galeria de fotos a seguir um panorama dos problemas encontrados:

FOTO PANORAMA - 1
FOTO SLIDE (2)
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FOTO SLIDE (6)
FOTO SLIDE (7)
FOTO SLIDE (8)
FOTO SLIDE
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