Meio ambiente

 

Ponta Grossa enfrentou estiagem mais longa no início de 2020 e a falta de chuvas durante o ano reforçou medidas do uso consciente do recurso

 

Em 2020, Ponta Grossa enfrentou a maior estiagem desde 1993. A falta de chuvas foi um problema não apenas na cidade, mas em todo o estado do Paraná, gerando uma crise hídrica. O volume da Represa de Alagados diminuiu, assim como a Vazão do Rio Pitangui. No dia 02 deste mês foi registrado na represa uma lâmina d’água de 8,33 metros, numa escala de 10 metros. 

 

A Sanepar, responsável pelo abastecimento de água na cidade, explica que o manancial para a captação de água em Ponta Grossa é o Rio Pitangui. ‘‘O abastecimento vem de dois pontos de captação. Um na Represa de Alagados, que é o Pitangui represado, responsável por 30% do abastecimento da cidade, e o outro a captação diretamente no Rio Pitangui, responsável por 70%.’’, informa a assessoria.

 InfoChuvas18 12 2020

A Meteorologista Cátia Braga, explica que os índices pluviométricos na região ficaram bem abaixo do esperado. A falta de chuvas é decorrente de um fenômeno chamado La Niña, que é quando a temperatura do oceano diminui, e as águas do pacífico ficam mais frias, dificultando a evaporação e consequentemente causando a diminuição das chuvas na região sul. ‘‘Esse fenômeno deixa o volume das chuvas bastante baixo, isso fez com que Ponta Grossa e toda a região sul do país tivesse índices abaixo da média histórica. O que acontece no oceano pacífico influencia todos nós.’’, completa. 

 

Por conta da pandemia, e da maior parte da população ficar em casa por períodos integrais na quarentena, a água se tornou ainda mais essencial e houve aumento por volta de 3% na média do consumo, informa a Sanepar. Obras de abastecimento da companhia de saneamento em bairros da cidade durante o ano deixam famílias sem o recurso, de acordo com a moradora do bairro Vila Estrela, Gislaine Indejejczak. ‘‘A falta de água atrapalhou minha rotina, no banheiro a água é direto da rua, e dificultou quando precisava dar banho nas minhas 3 filhas pequenas. Duas vezes tive que comprar água por que ficou muitas horas sem encher a caixa’’, ressalta. Questionada se o motivo dessas obras estarem sendo realizadas como forma de rodízio de água, a Sanepar declarou que elas fazem parte de um projeto de ampliação implantado em etapas nos últimos anos. 

 

A população está sendo orientada sobre a diminuição de água nos reservatórios, e assim também para evitarem desperdícios no consumo

 

Mas mesmo assim, os moradores não são quem mais utilizam água. O setor produtivo na cidade também consome o recurso na irrigação. Dados da ONU mostram que no Brasil a agricultura utiliza 72% do recurso.  De acordo com o professor substituto do Departamento de Geociências da UEPG, membro do Grupo Universitário de Pesquisas Espeleológicas (GUPE) e integrante do Fórum das Águas, Henrique Pontes, a principal responsabilidade com a água está no setor do agronegócio e da indústria. 

 

Todas as medidas de redução e  planejamento de uso para evitar o desperdício fazem parte do compromisso que devem assumir. ‘‘Esse compromisso não pode ser exercido apenas nos momentos de estiagem mas estendido para todos o ano. A preservação dos mananciais também é importante, como a presença de vegetação nativa, então para garantir essa preservação é necessário manter essa vegetação.’’, ressalta.

 

A Sociedade Rural dos Campos Gerais foi procurada para esclarecimentos sobre ações que estão sendo realizadas na cidade para a redução do consumo de água, mas até o momento não houve retorno.

 

A cidade de Ponta Grossa está se expandindo pelos extremos, com tendência à expansão urbana horizontal, cada vez mais novos loteamentos estão saindo nas porções periféricas do centro urbano. O professor Henrique completa dizendo que a questão do planejamento urbano também afeta essa falta de chuvas. ‘‘Essa ação faz com que precise aumentar a água no sistema de abastecimento público, porque precisa haver uma vazão para elas chegarem nesses locais. Afetando diretamente a falta de água, levando em consideração uma questão social, e a questão desses locais afastados serem os mais carentes de equipamentos urbanos e que concentram muitas pessoas em vulnerabilidades diversas’’, afirma.

 

Em Ponta Grossa, os mananciais estão na área denominada de afloramento das rochas de formação de furnas, onde estão o aquífero, furnas e a zona de recarga deste aquífero, e também as áreas de conservação. A partir do momento que acontece a expansão nas áreas de preservação de manancial, pode agravar ainda mais o problema da falta, na qualidade e quantidade de água. 

 

Ponta Grossa ainda possui o recurso para abastecer os moradores por conta do manancial subterrâneo do aquífero furnas, com uma capacidade muito grande, suficiente para manter os rios e os mananciais superficiais durante toda a estiagem, mas precisa haver um cuidado para que isso não reflita em problemas no abastecimento público futuramente.

 

Para 2020 não deve haver aumento de chuvas que comporte os índices esperados, continuando com a escassez. De acordo com  a meteorologista Cátia Braga, no mês de janeiro e fevereiro em Ponta Grossa são esperados 182 e 185 milímetros, respectivamente.

 

 Confira a matéria em vídeo da reportagem produzida pela Mirella Mello no YouTube:

 

Ficha técnica:

Repórter: Mirella Mello

Vídeo: Mirella Mello

Edição: Manu Benicio

Supervisão: Angela Aguiar, Cintia Xavier, Jeferson Bertolini e Vinicius Biazotti.

 

 ARROIO 12 11 2019

A nova estrada que ligará os bairros Centro e Jardim Carvalho prevê o desvio no trecho do Arroio Pilão de Pedra. De acordo com a planilha de orçamento, cerca de 2.500 m² de vegetação será retirada. O valor máximo da obra está avaliado em torno de R$3.678.025,80 e o prazo de execução será de 360 dias.

 

E as operárias, que são a maior parte, são fêmeas que polinizam, alimentam as larvas e protegem a entrada da colmeia. | Foto: Arieta de Almeida

“Eu lido com abelhas desde meus dez anos de idade e nunca passamos por uma crise de desaparecimento como vemos na última década”, enfatiza o apicultor de 91 anos, Aberhard Husch. A produção de mel nos Campos Gerais caiu 70% em 2017, conforme destaca Husch. Além disso, os apicultores da região relatam, durante as reuniões da Associação dos Apicultores dos Campos Gerais, mortes e sumiços frequentes de abelhas e, através de observações, tentam reunir informações para compreender o fenômeno.

As declarações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em Ponta Grossa em 1º de maio causou reação em ambientalistas e pesquisadores locais. Em entrevista concedida à imprensa, o ministro disse rever os aspectos da demarcação do Parque Nacional dos Campos Gerais (PNCG).

                                                 Área preservada do Parque Nacional Campos Gerais. / Foto: Veridiane Parize.

A coletiva aconteceu em uma fazenda produtora de sementes em Ponta Grossa, conforme divulgado pela imprensa local, após reunião fechada entre o ministro com empresários, produtores rurais e políticos da região.

A reunião aconteceu após o pedido oficial da deputada federal Aline Sleutjes (PSL-PR), por meio do ofício 022/2019, no qual solicita “avaliar a possibilidade de cancelar o decreto de criação ou alterar de Parque para Monumento Natural o hoje denominado Parque Nacional dos Campos Gerais”. O pedido foi motivado pela reivindicação de 100 famílias que ainda moram em regiões do Parque que não foram desapropriadas, conforme as declarações à imprensa pela deputada. As principais reivindicações dos moradores da região é o pagamento das indenizações pelas terras, e os problemas causados pela inviabilidade de construção de novos empreendimentos e dificuldades de acesso a linhas de crédito, por ser uma região protegida legalmente.

Atos estão marcados nos cinco estados do Brasil para esta sexta-feira (20), sendo que a cidade de Ponta Grossa também tem programação prevista

As atividades do movimento Fridays for Future -  Greve pelo Clima têm início nesta sexta-feira (20) e seguem até a próxima terça-feira (24), em Ponta Grossa. O protesto, que teve início em 2018 na Suécia e se espalhou pelo mundo, busca conscientizar a população sobre a crise climática.

Em oito meses quase 300 novos agrotóxicos foram liberados pelo presidente da república, grande parte proibidos em diversos países

Desde o início do mandato, em janeiro de 2019, o presidente da República, Jair Bolsonaro, liberou de cerca de 290 agrotóxicos, com princípios ativos classificados como tóxicos e extremamente tóxicos pela ANVISA, a maioria deles proibidos na União Europeia. Alguns desses princípios ativos são vendidos e usados nas plantações de Ponta Grossa. Em Ponta Grossa, um debate foi realizado pela campanha, no dia 15 de agosto, com a presença de professores, especialistas e agricultores, que debateram sobre o uso e os perigos dos agrotóxicos.

Em 3 anos, Ponta Grossa comercializou cerca de 4.423,1 toneladas de agrotóxicos. Foto: Kauana Neitzel

O Brasil é o país que mais consome agrotóxico do mundo. O Paraná é o terceiro maior consumidor de agrotóxicos do Brasil. De acordo com dados, disponíveis na internet, da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR), presentes no Plano de Vigilância e Atenção à Saúde de Populações Expostas aos Agrotóxicos do Estado do Paraná, a quantidade de agrotóxico comercializado nos anos de 2014 a 2017 em Ponta Grossa é cerca de 4.423,1 toneladas. No estado, aproximadamente 382.750 toneladas.

Professor de agronomia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Carlos Hugo Rocha, afirma que a maioria dos alimentos produzidos em larga escala pelas grandes empresas do agronegócio são contaminados. “No Brasil, desenvolvemos uma agricultura fundamentada no eixo de fertilizantes e no uso desenfreado de agrotóxicos”, explica. De acordo com o professor a cada três alimentos dois têm contaminação total ou possui resíduos de produtos químicos. “O sistema que temos favorece isso, portanto o alimento que chega na mesa do brasileiro está contaminado”.

“Até a água que chega nas cidades está contaminada com agrotóxicos encontrados nas lavouras”, afirma Rocha. Uma investigação realizada pelo veículo Repórter Brasil, junto com a Public Eye e Agência Pública, com dados do Ministério da Saúde, mostra que a cada grande parte dos municípios brasileiros possuem um “coquetel” de agrotóxicos na água. Em Ponta Grossa foram detectados 27 tipos de agrotóxicos na água, entre 2014 e 2017, 11 deles associados a doenças crônicas, como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. 

Os riscos do uso dos defensivos não é somente no consumo, mas em todo o processo de manuseamento e aplicação. “Os agrotóxicos têm a função primária de controlar as populações de plantas, animais e micro-organismos que irão diminuir a produção agrícola, contudo, essa toxidade não é totalmente seletiva, o que pode causar a morte em seres humanos”, explica o Professor Doutor Marcos Pileggi, do Departamento de Biologia Estrutural, Molecular e Genética da UEPG. 

Pileggi ressalta outro risco, a contaminação à longo prazo do ecossistema. “Boa parte dos agrotóxicos não atingem seus alvos e podem contaminar rios, lagos e lençóis freáticos”, analisa. “Agrotóxicos têm a função primária de controlar as populações que irão diminuir a produção agrícola, porém a toxicidade não é seletiva, podendo prejudicar seres humanos”.

Segundo o dossiê feito pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), disponível na internet, em 2015, existem confirmações que certas doenças são causadas pelos agrotóxicos, como por exemplo endometriose, má formação fetal, doença de Parkinson, distúrbios hormonais diversos (nas glândulas hipófise, tireoide, suprarrenais, mamas, ovários e testículos), entre outros. 

As campanhas voltadas contra o uso do agrotóxico apoiam e defendem a agroecologia, como um dos caminhos para o fim do uso dos agrotóxicos. Para Pileggi o agronegócio está totalmente dependente dos agrotóxicos mas é preciso buscar outros caminhos. “A busca de alternativas para diminuir os efeitos tóxicos destes produtos é uma tarefa essencial para a preservação da saúde de plantas e animais, incluindo os humanos”, afirma.

Visando combater o uso dos agrotóxicos organizações estão promovendo campanhas em nível nacional para conscientizar a população. A campanha Viva Sem Veneno, é um exemplo. Criada em novembro de 2017 promove conversas em todo o país sobre os perigos do uso dos defensivos agrícolas. Segundo a campanha, cada pessoa consome cerca de 7,3 litros de agrotóxico todo ano. 

Ficha Técnica:

Reportagem:
 Emanuelle Salatini
Supervisão: Angela Aguiar, Fernanda Cavassana, Rafael Kondlastsch, Ben-Hur Demeneck
Foto: Kauana Neitzel
Edição: Alunos do 2° ano de Jornalismo, Raylane Martins e Gabriella de Barros