Se consideradas coalizões e afinidades partidárias, Cida Borghetti (PP) pode ter o apoio de quase 40% das prefeituras, seguida por Ratinho Junior (PSD) com cerca de 30%

 

A equipe de reportagem do Portal Periódico fez levantamento dos partidos pelos quais os prefeitos das cidades do Paraná foram eleitos. O intuito foi verificar quais candidatos a governador são, supostamente, os mais apoiados. Dados mostram que a coligação “Paraná Decide” (PP / PMN / PSDB / PTB / DEM / PSB / PROS / PMB) e “Paraná Inovador” (PSD / PSC / PPS / PRB / PHS / PR / PV / PODEMOS / AVANTE) detêm 68,4% das prefeituras do Estado.

 

A projeção foi realizada a partir da correlação entre os partidos e, no caso em que se verificam coalizões, as coligações dos 10 candidatos ao governo Estado do Paraná e os partidos pelos quais se elegeram os prefeitos das 399 cidades do Paraná. Pelo resultado obtido, teriam maior apoio a coligação “Paraná Decide”, cuja candidata é a atual governadora, Cida Borghetti (PP), com 37,5%, e a coligação “Paraná Inovador”, cujo candidato é o deputado estadual Ratinho Junior (PSD), com 30,8%.

 

No infográfico a seguir, as cidades são coloridas de acordo com a coligação da qual faz parte o partido do prefeito. Observa-se, no entanto, que há prefeitos cujos partidos não integram coalizões. Há ainda os partidos ou as coligações, como no caso dos candidatos Priscila Ebara (PCO), Ivan Bernardo (PSTU) e Professor Piva (PSOL), este à frente da coligação PSOL / PCB, que não possuem nenhuma prefeitura no Estado.

 

 

De acordo com o cientista político Emerson Cervi, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), “a interferência do prefeito sobre o voto acontece muito mais em municípios pequenos do que em municípios grandes”. A justificativa seria que os menores dependem muito mais dos recursos do Governo do Estado e esse apoio se dá através de campanha feita, durante o período eleitoral, tanto pelos prefeitos quanto pelos vereadores.

 

A importância do apoio das prefeituras na eleição dos deputados pode ser observada no trecho de conversa, entre o ex-governador Beto Richa e o ex-secretário especial de Cerimonial e Relações Internacionais do Paraná, Ezequias Moreira Rodrigues. O ex-governador teve as conversas telefônicas monitoradas, entre 24 de julho e 1º de agosto, durante a 53ª fase da Operação Lava Jato, desenvolvida pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. O relatório completo foi divulgado no portal do jornal Estado de S. Paulo.

 

FalaBeto

Fonte: Estadão. Relatório completo disponível em: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp-content/uploads/sites/41/2018/09/relatoriogrampo.pdf

 

Deve ser considerado, no entanto, que há prefeitos que apoiam candidatos diferentes de seus partidos, o que nem sempre ocorre de forma explícita. Nesse caso, explica Cervi, geralmente, só “depois da votação fica claro qual foi o prefeito que trabalhou para qual candidato, mas essas divergências não podem ser antecipadas”. Quando o resultado é divulgado, é possível verificar de onde vieram os votos para os governadores.

 

De acordo com os dados levantados pela reportagem, Cida Borghetti (PP) é a candidata que tem mais cidades. O apoio assume função estratégica se considerado o número de eleitores distribuídos por municípios. Nesse caso, as cidades, cujos prefeitos são de partidos que integram a coligação de Cida Borghetti, concentrariam 50% dos eleitores do Estado. Nessa perspectiva, ela aumentaria a vantagem sobre os demais candidatos.

 

Na sequência, estariam os municípios dos prefeitos dos partidos da coligação de Ratinho Júnior (PSD) teriam 33% dos eleitores e da coligação de João Arruda (MDB), 15%. João Arruda encabeça a aliança “Paraná: emprego, educação e combate à corrupção”, composta pelo MDB, PDT, Solidariedade e PC do B. No infográfico a seguir, estão disponíveis os dados de quantas cidades cada candidato, supostamente, possui e quantos eleitores essas cidades somam.

 

 

Considerando os apontamentos feitos por Emerson Cervi sobre a influência não ser tão significativa em cidades maiores, o Portal Periódico realizou o cálculo, descartando as 10 cidades com maior número de eleitores do Estado do Paraná. Nesse caso, os números mudam, mas as posições não. Borghetti continua em primeiro lugar (39%), mas agora está praticamente empatada com Ratinho Júnior (38%), seguido por João Arruda (20%).

 

 

Enquanto isso, as pesquisas divulgadas pelo Ibope mostram Ratinho Júnior disparado nas intenções de voto. De acordo com o pesquisador da área de Geografia do Voto e professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Alides Chimin, isso poderia ser provocado pela grande influência dos vereadores. “As promessas de barganha impactam mais via vereador porque ele tem contato direto com a comunidade”, afirma.

 

Levando em consideração a influência dos vereadores, foram levantados dados de partidos que elegeram ocupantes para as câmaras municipais em 2016 e essas informações foram organizadas de acordo com as coligações e os partidos.

 

 

 

Para o professor, a base de apoio dos candidatos tem grande influência sobre o eleitor, obstáculo que, dificilmente, um candidato de partidos menos expressivos consegue quebrar. “As bases formam uma raiz que estrutura uma aliança e fortalece quem vai ganhar. Por isso, pequenos candidatos dificilmente conseguem uma expressividade de votos”, critica Chimin.

 

Com os dados dos vereadores, a situação continua parecida. Porém, alguns fatores ainda podem alterar esses valores. O TSE disponibiliza apenas os dados relativos às últimas eleições, o que não possibilita a consulta do partido atual. Portanto, checamos o partido dos prefeitos das 19 cidades da Região dos Campos Gerais para verificar a situação da mudança partidária.

 

Tentamos entrar em contato com todas as prefeituras das 19 cidades da Associação de Municípios dos Campos Gerais (AMCG), quatro delas não responderam e, em uma delas, Piraí do Sul, os funcionários presentes não souberam informar o partido do prefeito. Além disso, como já foi dito, nem sempre o prefeito ou vereador apoia o candidato do seu partido.

 

As relações de apoio se dão por negociações que estão além do alcance da reportagem. Mesmo assim, um exemplo é o prefeito de Ponta Grossa, Marcelo Rangel (PSDB), que pediu licença do cargo para apoiar, mais ativamente, o próprio irmão e candidato à reeleição para deputado federal Sandro Alex (PSD) e o candidato a governador Ratinho Junior (PSD) que, como já mencionado, encabeça a coligação “Paraná Inovador” (PSD / PSC / PV / PR / PRB / PHS / PPS / PODE / AVANTE). No entanto, o partido atual de Rangel, o PSDB, está na coligação “Paraná Decide” (PP / PTB / DEM / PMN / PMB / PSB / PSDB / PROS) da candidata Cida Borghetti (PP).

 

A licença de Marcelo Rangel foi votada pelos vereadores na último dia 24 de setembro. Outro prefeito que está licenciado é Moacyr Elias Fadel Júnior (MDB), de Castro.

 

O levantamento realizado pelo Portal Periódico utiliza os dados disponíveis no site do Governo do Paraná e considera o partido pelo qual os prefeitos foram eleitos em 2016. Os dados referentes ao número de eleitores por município está disponível no site do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Paraná http://www.tre-pr.jus.br/eleicoes/estatistica-do-eleitorado, atualizado no dia 25 de maio de 2018, assim como o de vereadores eleitos em 2016.

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A pauta surgiu durante as reuniões preparatórias para a cobertura das eleições de 2018, sob orientação dos professores: Cíntia Xavier, Felipe Pontes, Manoel Moabis, Marcelo Bronosky e Rafael Schoenherr.