Procedimentos foram suspensos no início da pandemia para liberar leitos em hospitais

 

Com a piora da pandemia de covid-19 e o aumento da ocupação dos leitos nos hospitais do Paraná, as cirurgias eletivas (aquelas que não são de urgência) precisaram ser suspensas, prejudicando quem espera pelo procedimento. Bruna Oliveira aguarda pela cirurgia do joelho há dois anos. Ela não consegue movimentar a articulação e isso causa muita dor. Havia a esperança de fazer a operação no início de 2020, mas teve que suportar a dor e o incômodo por todos esses meses. “Tem sido muito difícil. Tem dias que nenhum remédio faz efeito e o que me resta é apenas esperar”.

Bruna continuou trabalhando durante um tempo, mas ficou desempregada com a chegada da pandemia e teve dificuldade financeira, mesmo recebendo o Auxílio Emergencial. “Por causa da minha dor constante no joelho eu sempre estou comprando muitos remédios, algo que tive que diminuir com a minha demissão, por ter outras despesas mais importantes para pagar”, completa.

Bruna não vive sozinha, mora com o irmão de treze anos. Os dois perderam a mãe em setembro do ano passado para a covid-19. Na época, sua mãe era diarista e enfrentava ônibus lotado todos os dias. Desde então, Bruna tem sido a fonte de renda em casa e o apoio de seu irmão. O que a deixa preocupada é pensar na atual situação financeira da família, pois ela terá que ficar em repouso depois que conseguir realizar a cirurgia. “Me preocupa pensar que vou ficar parada, porque se for depois da pandemia, já não vou receber mais o auxílio e não terei renda para sustentar meu irmão e eu. Apesar de termos família, não somos próximos para pedir ajuda financeira”, explica.

 

HU 25 10 2019

Hospital Universtiário da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Foto: Eder Carlos | Arquivo Periódico

 

Caminhoneiro
Outro paciente que espera por cirurgia é o caminhoneiro Anderson Costa. Diagnosticado com diabetes há dez anos, notou uma alteração brusca na visão. Após os exames realizados pelo oftalmologista, foi detectada catarata. “No primeiro momento fiquei em choque, mesmo sabendo da minha doença e cuidando dela, não imaginaria que teria catarata, ainda mais tão cedo, já que é normal que só os mais velhos tenham”, diz. Aguardando há um ano e meio pela cirurgia, Anderson está apreensivo, pois tem medo que a doença se torne irreversível.
“Meu maior medo é perder a visão, porque sem ela não consigo trabalhar com a profissão que tenho há anos, isso me deixaria perdido e sem emprego por um bom tempo”, relata. Sem dirigir desde que notou dificuldades para enxergar, Anderson tem conseguido se manter com o Auxílio Emergencial e com o trabalho de sua esposa. Com a volta das cirurgias eletivas, espera ser chamado logo.

 

Secretaria
A Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA) informou que ainda não há levantamento do número de pacientes esperando por cirurgias eletivas nos municípios e instituições do estado. Também destaca que há uma reorganização nos processos para identificar todas as demandas a partir de cada cidade e dos Consórcios Intermunicipais de Saúde.
Segundo a SESA, a realização de cirurgias eletivas é possível pela redução na taxa de ocupação dos leitos de Covid-19, que vem ocorrendo desde o início deste mês. O retorno é válido apenas para unidades que tenham capacidade de recursos humanos, com equipes profissionais disponíveis, insumos (medicamentos) e condições operacionais. Essas ações devem respeitar a Resolução 632/2020, segundo a qual qualquer alteração relativa à pandemia justifica novas medidas.
Em Ponta Grossa, o Hospital Universitário (HU) retomou as cirurgias eletivas no dia 16 de julho e convocou pacientes para consultas ambulatoriais pré-cirúrgicas. Por meio de nota, o HU informou que existem 16 leitos, antes usados para Covid-19, Clínica e UTI Geral. Dessa forma, passam a ser 60 leitos da UTI exclusivos para Covid-19, quatro leitos de emergência e 53 leitos clínicos.

 

Ficha Técnica

Reportagem: Ana Paula Almeida

Edição e Revisão: Gabriel Ryden, Larissa Onorio

Publicação: Gabriel Ryden

Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen