Campanha Julho Amarelo alerta sobre risco das hepatites virais

Doença atinge mais de 30 mil brasileiros por ano; no Paraná são cerca de 2 mil


No calendário de campanhas que usam cores para incentivar o tratamento de doenças, julho aparece como o mês que busca conscientizar sobre a hepatite viral, doença que atinge cerca de 33 mil brasileiros por ano. O Julho Amarelo existe desde 2019, por meio da Lei Federal nº 13.802. A campanha se intensifica em 28 de julho, Dia Mundial de Luta Contra Hepatites Virais.


A hepatite viral é uma inflamação das células do fígado causada por vírus, que podem gerar alterações leves, moderadas ou graves. A doença é dividida em cinco variações: A, B, C, D e E. No Brasil, as categorias mais comuns são os vírus A, B e C.


O hepatologista Rafael Ximenes diz que a principal dificuldade para identificar a doença é a demora na manifestação de sintomas. Quando eles surgem, são acompanhados por outros problemas de saúde. "As hepatites são doenças silenciosas. Podem não gerar sintomas. Os pacientes demoram a procurar assistência médica, e quando procuram, muitas vezes os casos já são graves.”


O médico afirma que, mesmo sendo menos comum, quando manifestados na fase aguda os sintomas costumam ser febre, náuseas, desconforto e fraqueza. Em alguns casos o paciente pode apresentar os olhos e a pele amarelados (icterícia).


De acordo com o hepatologista, após a fase aguda o paciente pode ficar sem sintomas durante anos e até mesmo desenvolver cirrose ou câncer no fígado. “No caso de avanços para demais doenças, podem surgir outros sintomas, como o acúmulo de água na barriga (ascite), vômitos com sangue, devido ao sangramento de veias dilatadas no estômago, e confusão mental (encefalopatia hepática)”, acrescenta.


Segundo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde divulgado em 2020, nos últimos 20 anos foram notificadas 673.389 pessoas com hepatites virais no país, o que corresponde a cerca de 33.669 portadores dos vírus por ano. No Paraná, de acordo com o documento, durante os anos de 1999 e 2019 o Estado notificou 12.228 quadros de hepatite A, 29.860 de hepatite B, 12.871 de hepatite C e 116 de hepatite D.

 

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Infografia: Victória Sellares

 

Paciente
O representante comercial Erick Hireman, que foi infectado pelo vírus da hepatite A na infância, relata que, por não existir um tratamento específico para a doença, ele realizava exames com frequência para acompanhar o quadro de infecção. Segundo Hireman, durante os dois meses de recuperação, foi necessário o repouso quase absoluto devido aos sintomas. “Precisava realizar exames de sangue a cada dois dias e seguir as recomendações médicas. Devido ao cansaço e enjoo, adaptei a minha alimentação para hábitos mais saudáveis, além de passar o dia em descanso”, conta. Hoje ele afirma não sofrer com nenhuma sequela da infecção, podendo levar uma vida normal, sem precisar de acompanhamento médico.

 

Testes
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece testes para diagnósticos das hepatites de duas formas: exames laboratoriais e testes rápidos. A vacinação, também ofertada pelo SUS, está disponível contra os vírus A e B.
No caso de tratamentos, para a hepatite A recomenda-se repouso e cuidados com a alimentação. Em quadros de hepatite C, a intervenção é feita com antivirais de ação direta (DAA) durante 8 ou 12 semanas. As hepatites B e D não possuem cura, mas o tratamento com medicamentos específicos pode reduzir o risco de progressão e complicações.

  

Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Acesse a edição completa em https://periodico.sites.uepg.br/index.php/foca-livre.

 

Ficha técnica

Repórter: Victória Sellares

Editora de texto: Carlos Solek

Publicação: Leonardo Ribeiro

Supervisão Foca Livre: Jeferson Bertolini, Muriel Emidio e Rafael Kondlatsch

Supervisão Site Periódico: Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Medo de reações afasta moradores de Ponta Grossa da vacina

Segundo especialista, imunização é segura e salva vidas

A imunização contra a Covid-19 em Ponta Grossa começou em fevereiro deste ano. Até o dia 16 de agosto, 267.814 tinham sido vacinadas na cidade.

Com o andamento da vacinação, relatos de vacinados que tiveram reações começaram a circular. E isso fez surgir um contingente de pessoas que sentem medo de tomar o imunizante. O problema não acontece só em Ponta Grossa. Além dos relatos de reações, a situação se agrava com outros problemas, como a declaração do presidente da República, Jair Bolsonaro, em evento em Porto Seguro (BA), sobre a eficácia da vacina do Laboratório Pfizer: “Se você virar um jacaré, é problema seu". 

Elisangela Gueiber Montes, professora e especialista em microbiologia e imunologia, diz que as reações adversas acontecem como resposta do sistema imunológico às substâncias presentes nesses imunizantes. “Como uma forma de combater algo estranho, as células do nosso sistema imunológico produzem substâncias inflamatórias que geram reações.” Ela também explica que as reações mais comuns são febre, dor e vermelhidão local e mal-estar, semelhantes aos sintomas de um resfriado comum. 

vacinação Telêmaco Borba Manu Benício 19 de janeiro de 2021 15h

Vacinação Telêmaco Borba | Manu Benício |19 de janeiro de 2021

 

Adriana Burgath, 25 anos, teve reações à vacina do Laboratório AstraZeneca. Seus sintomas foram febre, dores de cabeça intensas, cansaço, dor na região de aplicação e um episódio de vômito, que não chegaram a durar 24 horas. Adriana conta que pesquisou antes sobre como a vacina age para combater o vírus. “Sabia que poderia ter as reações que tive e, sinceramente, eu enfrentaria qualquer reação”, diz. 

Cláudio Bayer, 63 anos, também teve reações à vacina da AstraZeneca, mas afirma que se sente mais tranquilo e mantém os cuidados recomendados pela ciência. Sua esposa, Celia Wille Bayer, defende a vacinação independentemente das reações: “Não existe nenhum medicamento, nenhum procedimento que seja eficaz no combate ao Covid. A única prevenção é a vacina. Penso que a possível reação é nada se comparado à violência do vírus, ninguém sabe como seu organismo vai reagir se infectado".

 

Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Acesse a edição completa em https://periodico.sites.uepg.br/index.php/foca-livre

 

Ficha técnica:

Repórter: Malu Ferreira Bueno

Editor de Texto: Carolina Olegário

Supervisão Foca Livre: Jeferson Bertolini, Rafael Kondlatsch e Muriel Emídio Amaral

Supervisão Periódico: Marcos Antonio Zibordi e Mauricio Liessen

Publicação: Marcella Panzarini

Vídeo: Pandemia altera procedimentos para partos em Irati

Com mais de 800 partos realizados entre março de 2020 e março de 2021, a cidade de Irati remodelou os protocolos para a realização da operação para se adaptar aos procedimentos sanitários de contenção do contágio de covid-19. Uma das mudanças mais importantes foi a necessidade das gestantes passarem pelo teste para detecção do coronavírus e por uma triagem antes da realização do parto. As que testarem positivo farão o procedimento em alas separadas.

 

 

Ficha técnica:

Repórter e editor: Ana Moraes e Levi de Brito

Publicação: Yuri Marcinik

Supervisão: Marcos Zibord e Maurício Liesen

Ponta Grossa tem 42 mil animais em situação de rua

 Prefeitura é criticada por ONGs pela falta de apoio, especialmente na pandemia

 

Por Manuela Roque

 

Ponta Grossa tem atualmente 70 mil animais, segundo o Centro de Referência para Animais de Risco (CRAR), órgão criado pela prefeitura em 2016. Deste total, 42 mil vivem ou em situação de semi domicílio (têm lar, mas vão para as ruas) ou estão abandonados.

Leandro Inglês, coordenador do CRAR, diz que somente em 2021 foram adicionados a esse total mais 3.570 animais. “De janeiro até junho, credenciamos mais animais do que normalmente castramos ao ano. Seguimos recebendo denúncias e até mesmo casos de abandono na porta do CRAR. Está impossível controlar esse crescimento”.

Desde 2007, é lei em Ponta Grossa a realização de castrações de animais por parte da Prefeitura em seus centros de controle de zoonoses, com o número mínimo de 3.200 cirurgias anuais. A lei também reforça que qualquer situação de abandono ou maus tratos é crime, sendo os animais resgatados obrigatoriamente redirecionados aos alojamentos municipais. 

Leandro também destaca que os animais semi domiciliados, em especial cães, prejudicam o andamento das atividades de castração. “Não são animais de rua, mas sim animais que estão na rua. Corremos todos os dias o risco de confundir um animal abandonado com um animal que apenas está solto e depois retornará para a sua casa, o que atrasa o trabalho do CRAR e impede a castração de um animal que é domínio do Poder Público”, completa. 

 

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Foto: José Tramontin

Castração

Cristóvão Pereira, médico veterinário responsável pelas cirurgias de castração do controle de zoonoses de Ponta Grossa, afirma que foram realizadas aproximadamente 20 mil cirurgias para o controle populacional e também por motivo de fraturas envolvendo acidentes ou maus tratos. “Nós só capturamos animais de rua, mas quando não sabemos se o animal possui um lar ou não, aguardamos 48 horas. Se o proprietário não aparecer, o animal é do município e ele entra no credenciamento”, explica. 

A castração é realizada por meio do Castramóvel, uma unidade que percorre a cidade. Em casos mais leves, os animais são atendidos em clínicas particulares credenciadas. Se ocorrer operação, o animal é monitorado entre sete e 10 dias; apresentando completa recuperação, é devolvido ao local em que foi coletado. “Os de situações de maus tratos precisam ficar aqui, e por isso divulgamos nas redes sociais a adoção”. 

No entender do veterinário, o cenário ideal para a população animal de Ponta Grossa é a castração, seguido de uma microchipagem, estejam ou não em situação de rua. “Por meio do chip com informações sobre os tutores, poderemos saber quem é o dono e tomar as medidas.”

 

Causa animal

Rosélia Vanat atua há mais de 40 anos na causa animal de Ponta Grossa. Criadora da Associação Pontagrossense Amigos da Natureza, popularmente conhecida como Canil Lar, ela opera desde 2009 apenas com doações da população e apoio de agropecuárias parceiras.

Rosélia conta que, desde o início da pandemia, abriga 232 cães, 40 gatos e três cavalos. São poucas adoções, e com a pandemia elas pararam completamente. “Não entram sequer dois reais na nossa conta. Semana passada realizamos uma compra de ração de R$ 5,4 mil, que vai durar somente oito dias”.

De março de 2020 até julho, triplicou o número de animais abandonados que foram amparados pelo Canil Lar. Muitos abandonos ocorrem em estradas de terra, mas durante a pandemia aumentou o número de casos no centro da cidade e em portas de condomínios. Rosélia critica o que considera lentidão do processo de castração em Ponta Grossa e a falta de iniciativas públicas para manter em funcionamento as atividades do Castramóvel durante a pandemia.

Com mais de 10 anos, o Canil Lar acolhe animais idosos, com deficiências e doenças incuráveis, tendo livrado mais de 100 animais da eutanásia. “Temos praticamente um espaço de reabilitação de animais que sequer saem daqui e acabam vivendo o resto da vida deles conosco, porque eu me recuso a liberá-los novamente na rua e correr o risco de sofrer ainda mais e morrer sem amparo”.

 

Voluntários

As mesmas dificuldades são enfrentadas pela Associação Protetora dos Animais de Ponta Grossa (APAPG). Gabriela Merotto, voluntária desde o início da ONG, em 2015, destaca que não somente aumentou o número de resgates de animais abandonados durante a pandemia, mas de devoluções. Os tutores alegam problemas financeiros e dificuldades na adaptação do animal. “É fato que as pessoas estão em casa, muitas trabalhando em home office, e com crianças em tempo integral. Os números comprovam que o estresse nas pessoas aumentou. Mas devolver ou até cometer o crime do abandono compromete a vida do animal e prejudica o andamento das atividades das ONGs com resgates não planejados, os gastos com medicamentos e rações, entre outros fatores”.

A APAPG não possui espaço físico, funcionando em lares temporários, nos quais a população abriga animais resgatados. Atualmente, todos os animais ajudados pela ONG estão em casas dos voluntários, abrigando cerca de 10 a 25 animais por residência. Gabriela cita a impossibilidade de realizar feiras de adoção como um dos principais empecilhos para encontrar novos lares para os animais, e a falta de apoio do poder público.

 

Iniciativas independentes

Apesar da falta de apoio às ONGs em Ponta Grossa, nas redes sociais o movimento em prol da causa animal cresceu na pandemia. O Grupo de Auxílio a Resgatinhos (GAR) é um exemplo. Isabela Danesi, vice-presidente do GAR, conta que o projeto surgiu com o intuito de abrigar gatos resgatados de uma situação de abandono e maus tratos proporcionados por uma acumuladora de Ponta Grossa, que mantinha mais de 380 felinos em condições inóspitas: 70 desses animais foram direcionados para o projeto. 

“Nós fizemos toda a parte de reabilitação social dos animais. Eles aprenderam a usar a caixinha, a ter contato humano, a receber carinho, e também a parte da saúde, como acompanhamento alimentar, cuidados com remédios e com possíveis doenças, para posterior adoção para lares responsáveis e amorosos”, conta. Apesar de ainda não ser considerada uma ONG perante a lei, o GAR realiza campanhas de adoção pelas redes sociais, bem como arrecadações para manter o abrigo em funcionamento. 

Para evitar situações de novos lares problemáticos, o GAR elaborou um processo de entrevistas em duas etapas, acompanhado de um termo de responsabilidade assinado pelo adotante e um acompanhamento diário por fotos e vídeos enviados pelos novos donos.  Na visão de Isabela, a importância de projetos independentes voltados para a causa animal é essencial. “A Prefeitura não supre as necessidades da cidade, e as ONGs também estão em superlotação. Os nossos animais ficariam a esmo”. 

Isabela também é fundadora do Projeto Conta Cãomigo, iniciado durante a pandemia a partir da preocupação com o aumento de abandonos de animais e principalmente da falta de estrutura para aqueles que estavam nas ruas antes da chegada da Covid-19. “O abandono normalmente é feito sempre à noite e o mais triste é perceber animais recém abandonados vagando pelas ruas atrás de seus donos”. Atualmente, o Conta Cãomigo não realiza resgates, apenas trabalha com a divulgação de animais para a adoção e casos de desaparecimento. 

 

Adoção

Um dos casos mais famosos de abandono e posterior reintrodução a um novo lar em Ponta Grossa durante a pandemia é o de Pink, resgatada pela APAPG. Abandonada pela dona com oito filhotinhos, a cachorra foi a única que sobreviveu a um atropelamento. Ela foi enviada para a emergência, mas nenhum dos voluntários tinha condições financeiras de arcar com os custos dos procedimentos que salvaram sua vida. Gabriela, voluntária da ONG, por um post na rede social Twitter, conseguiu notoriedade no município para o caso de Pink, somando mais de 12 mil likes e compartilhamentos, que geraram doações para custear o tratamento. Hoje ela vive com seu tutor Yuri, que passou a ser um dos principais apoiadores da APAPG durante a pandemia. 

Já a estudante de direito Gabriela Presente aproveitou o período de isolamento social para realizar o sonho de infância de adotar um gato. A primeira a chegar a família foi Lua, através de um grupo de doação do Facebook. Já Paçoca e Sol foram adotadas por ONGs especializadas em gatos. As três sofrem com sequelas e problemas de saúde, mas Sol foi um caso em especial. Encontrada grávida abandonada em um terreno baldio, a gata foi resgatada e seus filhotes sobreviveram. Após todos serem adotados, foi a vez de Sol de encontrar um lar.

Gabriela relata que ela não possui sinal de maus tratos, mas por se tratar de um animal muito medroso, ela acredita que a gata sofreu agressões físicas enquanto vivia nas ruas. Para ela, adotar suas companheiras foi essencial para sua saúde mental durante a pandemia "Eu ficava muito desanimada, principalmente antes de começar as aulas on-line. Então ter que cuidar, brincar e criar uma rotina de responsabilidade com elas fez muito bem pra mim. E com a minha primeira adoção, toda a minha família que não gostava de gatos passou a amar, então foi algo bem surpreendente”, relata.

Prefeitura

Em nota, a Prefeitura Municipal informou que o CRAR se encontra atualmente em período de transição para a Secretaria do Meio Ambiente, com o intuito de ampliar a estrutura e o atendimento do canil municipal. Em casos nos quais a população presencie situações de abandono ou maus tratos, as denúncias devem ser feitas pelo telefone da Guarda Municipal (153). Se a ocorrência não for registrada em flagrante, o atendimento é feito pela Polícia Civil, de preferência com fotos e vídeos para comprovar o crime.

 

Ficha técnica

Reportagem: Manuela Roque

Edição e Revisão: Ana Paula Almeida e Levi de Brito

Publicação: Ana Paula Almeida e Levi de Brito

Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

 

Parceria com Hospital Universitário gera novas pesquisas em Ponta Grossa

Estudos apresentam resultados no diagnóstico e no tratamento do novo coronavírus e outras doenças 

 

Projetos realizados por pesquisadores do setor de Biologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) têm auxiliado no tratamento de pacientes do Hospital Universitário (HU) que contraíram a covid-19.

Por uma demanda da Universidade e também social, professores de todos os campos de pesquisa mudaram seu foco para o trabalho no estudo da covid-19. Desde o início da pandemia, em março de 2020, alguns setores, como o Departamento de Biologia, têm trabalhado em parceria com o Hospital Universitário, referência no tratamento da doença na cidade de Ponta Grossa.

Marcos Pileggi, professor de Microbiologia e do Programa de Pós-Graduação em Biologia Evolutiva da UEPG, trabalha no desenvolvimento de pesquisas com probióticos para o tratamento de pacientes que sofrem de síndromes respiratórias como a covid-19. Pileggi ainda participa de outro projeto que envolve a utilização de probióticos. Este, porém, realizado em laboratório, visa diminuir a resistência a antibióticos da bactéria causadora da tuberculose.

 

HU

Hospital Universitário (HU) é referência no tratamento da Covid-19 em Ponta Grossa. Fotografia: Éder Carlos.

 

Variantes

Bruno Ribeiro, professor do departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas e um dos coordenadores do projeto de identificação de variantes Sars-Cov-2, realizado por pesquisadores ponta-grossenses e que tem como objetivo identificar as cepas da doença em circulação na cidade, coleta amostras de pacientes e funcionários do Hospital Universitário. a partir delas é possível distinguir quais variantes estão presentes no município. 

O pesquisador ressalta que após o resultado dos testes ser divulgado, o relatório é encaminhado à Secretaria Municipal de Saúde de Ponta Grossa, através da vigilância epidemiológica. Assim é possível traçar estratégias para gerenciamento de leitos e medidas de combate à pandemia, como decretos restritivos e isolamento dos pacientes e pessoas que tiveram contato com aqueles que estão infectados por alguma variante.

O pesquisador conta que atualmente o projeto trabalha em uma coleta de material de 300 pacientes e colaboradores do HU. Essa etapa de análise tem como intenção a testagem para as variantes Beta (B.1.351), originária da África do Sul, e Delta (B.1.617.2), originária da Índia, que têm alta capacidade de contágio.

Além dos resultados obtidos no diagnóstico de novas cepas do vírus e no tratamento dos pacientes com a utilização de probióticos (microorganismos vivos benéficos à saúde, atuantes em sistemas como o imunológico e o digestivo), pesquisas sobre outras doenças têm surgido neste período, visando a melhora na recuperação dos pacientes. 

 

Ficha Técnica
Reportagem: João Gabriel Vieira
Edição e Revisão: Manuela Roque e Maria Eduarda Eurich
Publicação: Manuela Roque
Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Pandemia afeta corpo e mente de trabalhadores da saúde

Estudo da Fiocruz mostra que, no Brasil, covid prejudicou a atividade de 95% desses profissionais

 

Ponta Grossa confirmou o primeiro caso de covid-19 há um ano e quatro meses. Desde então, profissionais da saúde trabalham com cargas horárias estendidas e com poucos dias de folga. Rotina intensa, pressão no trabalho, hospitais superlotados e mortes constantes dos pacientes levaram profissionais da saúde à exaustão física e mental.

O enfermeiro Anderson Grzibekucka trabalha no Hospital Universitário Regional de Ponta Grossa e na Santa Casa de Misericórdia. Desde o início da pandemia, atende infectados que desenvolvem a forma grave da doença, internados nos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Anderson sente que as muitas mortes dos pacientes mexeram com seu psicológico.”A gente fica muito abalado com tudo isso. Pensamos cada dia que, a qualquer momento, podemos ser nós em um leito de UTI lutando pela vida”, desabafa.

A recorrente morte pela doença nos hospitais contribui para pensamentos de impotência dos trabalhadores da área da saúde. Anderson relata ainda que as mortes contínuas o deixaram exausto e “mesmo que nós da enfermagem demos o nosso melhor, há momentos em que não é suficiente”.

Mesmo com a vacina como forma de escudo para a doença, o enfermeiro lembra que não podemos estar totalmente livres da doença. “Os sintomas podem ser menores com a vacina, mas não evita pegar novamente. Há casos de pacientes com as duas doses da vacina aplicada ser intubado por causa da doença ter sido grave”, explica.

 

Morte

Trabalhar com doenças e mortes é algo comum dentro dos hospitais. Mas o avanço da covid-19 agravou o problema.

De acordo com a psicóloga Juliana de Godoy, a exaustão física e mental pode se tornar permanente. “Com a alta exposição dessa categoria de trabalhadores a fatores altamente estressores e aversivos, a longo prazo poderemos ter afastamentos definitivos pelo adoecimento físico ou mental, e até mesmo o abandono da profissão”.

A rotina constante com a morte de pacientes causa a falta de contato com os próprios sentimentos desses trabalhadores. Muitos recusam atendimento à saúde mental. A psicóloga Juliana comenta que o ambiente hospitalar é de constante sofrimento, o que impede de processar a perda dos pacientes. “A morte de um paciente nos faz questionar nossas habilidades profissionais e mexe também com nossos medos mais profundos enquanto seres humanos que somos”, relata a psicóloga.

 

Fiocruz

O relatório Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 da Fiocruz mostra que 95% desses trabalhadores tiveram modificações no trabalho e na vida pessoal. A saúde mental se torna uma das principais afetadas: 15% relataram dificuldades em dormir e outros 13%, distúrbios em geral.

Entre médicos e enfermeiros, que têm maior contato com pacientes de covid-19, 85% sentiram implicações na saúde mental. Desses profissionais, médicos são os que tiveram maior apoio à saúde mental, com 28% dos entrevistados

O relatório da Fiocruz aponta que 43% dos profissionais da saúde entrevistados sentem insegurança nos locais de trabalho e que 64% improvisam equipamentos para trabalharem. 

 

HU UEPG Leonardo Duarte

 

Ficha técnica
Reportagem: Leonardo Duarte
Edição e Revisão: Malu Bueno
Publicação: Rafael Piotto
Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Com pequena queda, doação de órgãos cai 4,43% no Paraná

 Pacientes transplantadas viveram momentos muito difíceis; conheça a história de três delas

 

O número de doações de órgãos caiu em 4,43% no Paraná: em 2019, ocorreram 497 doações; em 2020, foram 475, com queda de 22 doações, ou 4,43%. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA), não é possível afirmar se a queda está ligada somente à pandemia do coronavírus ou se existem outros fatores.
Atualmente, segundo a Sesa, existem 2.394 pessoas à espera de algum órgão no Estado. Este número leva em consideração órgãos e tecidos. Segundo o Sistema Estadual de Transplantes do Paraná, existem dois tipos de doadores: o doador falecido, que são pacientes que foram diagnosticados com morte encefálica e podem doar rins, coração, pulmão, pâncreas, fígado e intestino; e tecidos, incluindo córneas, válvulas, ossos, músculos, tendões, pele, cartilagem, medula óssea, sangue do cordão umbilical, veias e artérias.
Há também o doador vivo, pessoas saudáveis que podem doar parte do fígado e seus rins para um familiar de até 4° grau consanguíneo. Para doar para uma pessoa que não tem ligação sanguínea, é necessário autorização judicial. No Paraná, a forma de doação que mais acontece é após falecimento.

Foto Santa Casa

O Hospital Santa Casa de Misericórdia em Ponta Grossa é referência na coleta de doações de órgãos na cidade. Foto: arquivo Periódico

 

Livia, a advogada que precisou de um rim
A advogada Lívia Pinheiro, moradora de Barão Geraldo, distrito de Campinas, no interior do estado de São Paulo, foi diagnosticada em 2008 com hipertireoidismo. Com o acompanhamento médico, percebeu que o número de plaquetas começou a cair. Em 2012, ela descobriu o motivo dessa diminuição: foi diagnosticada com Plaquetopenia, uma hepatite autoimune, que havia deixado o seu fígado cirrótico. Na época, o médico alertou sobre a necessidade de um transplante hepático.
Após oito anos de tratamento, seu quadro se agravou em 2020. “Eu estava bem e, inclusive, havia sido dispensada das consultas de rotina, devido à pandemia. Mas, em abril, tive uma crise de encefalopatia hepática [deterioração de funções cerebrais por pessoas com hepatite grave], o que me obrigou a retornar ao acompanhamento com a mesma periodicidade de antes. Em agosto, foram descobertos dois carcinomas no meu fígado e, diante disso, foi agendada nova consulta no gastrocentro da Universidade Estadual de Campinas, para que eu fosse listada”, conta Lívia.
Ela então foi internada com insuficiência renal devido a diabetes medicamentosa, passando para a primeira posição na fila de transplante. Durante o internamento para a cirurgia, Lívia não podia receber visitas devido à covid-19. Outro agravante foi o baixo estoque de sangue. “Precisei de uma bolsa e soube, por parte dos enfermeiros, que o estoque estava baixo. Algumas semanas depois, soube que três pessoas deixaram de transplantar por não haver sangue suficiente”. As dificuldades não impediram a cirurgia, realizada em outubro de 2020.
Lívia está imunizada contra a covid-19, segue sua dieta e a rotina de medicamentos. Os exercícios físicos foram liberados, sempre com uma cinta abdominal para evitar o surgimento de hérnias.

Pietra, a bêbê transplantada
Pietra Manuella, moradora de Paracambi, município do Rio de Janeiro, fez o seu transplante com um ano e dois meses de idade. Ela nasceu com Atresia de Vias Biliares (AVB), sem a vesícula das vias biliares. Pietra realizou a cirurgia de “Portoenterostomia de Kasai”, procedimento que liga o intestino delgado ao local de maior acumulação de bílis no fígado. Na cirurgia, acabou sofrendo uma parada cardíaca de 15 minutos.
A mãe, Débora Oliveira, relembra a trajetória da filha desde o nascimento. Após um mês de vida, Pietra ficou "amarelinha''. E, aos sete meses, descobriu-se que seria necessário um transplante. Inicialmente, seu pai seria doador, mas problemas de saúde impossibilitaram a doação. Passados cinco meses de espera na fila de transplante, a família recebeu a notícia do “fígado tão sonhado".
No pós-cirúrgico, o quadro de Pietra ficou grave: precisou permanecer 17 dias entubada e 40 dias no Centro de Terapia Intensiva (CTI). Seu quadro se estabilizou por dez dias, porém, no dia em que teria alta, foi identificado um nível alto de plasmas no sangue. “Ela teve uma convulsão, não respondeu aos medicamentos, os médicos desceram com ela para o CTI e a entubaram, convulsionou o dia todo. Na tomografia, apareceu um sangramento na cabeça, que nenhum médico soube explicar”.
Após três dias em estado grave, cinco dias entubada e dez dias no CTI, Pietra voltou para o quarto, onde permaneceu internada por mais 20 dias, até receber alta.

Maíra Foletto Jost, a estudante
A estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Maíra Jost, moradora de Tunas, Rio Grande do Sul, foi diagnosticada com diabetes aos 12 anos de idade. Desde então, usou insulina e medicamentos por 18 anos.
Durante esse tempo, desenvolveu complicações como insuficiência renal crônica, pancreatite aguda e retinopatia diabética, perdendo a visão do olho direito. Devido à insuficiência renal, teve que iniciar tratamento com hemodiálise três vezes na semana, por dois anos e quatro meses, tendo que se deslocar até Passo Fundo e, posteriormente, até Soledade.
Maíra aguardou na fila para transplante duplo durante dois anos no Rio Grande do Sul. Em uma consulta, foi informada de que o período de espera iria demorar mais, devido à pausa de transplantes do tipo que necessitava. Então decidiu ir atrás do seu “sonho”. “Entrei em contato com a equipe médica Hepato de São Paulo, através de redes sociais, e com o próprio coordenador de transplantes, o doutor Marcelo Perosa, que ouviu minha história e aceitou o desafio.”
Após o contato com a equipe médica de São Paulo, Jost fez todos os exames necessários e constatou que tinha condições para o procedimento. Então transferiu seus atendimentos de hemodiálise para a capital paulista e aguardou por mais dois meses na casa de uma família que a acolheu. “O momento do chamado para realização do transplante jamais será esquecido em minha mente, a voz da enfermeira Aline, emocionada, me comunicando que havia órgãos compatíveis disponíveis para mim”
Após a cirurgia, Maíra segue com uma vida saudável e sem diabetes. “Hoje estou com praticamente dois anos de transplante, e isso só foi possível devido a conscientização da doação de órgãos”.


Ficha Técnica
Reportagem: Rafael Piotto
Edição e Revisão: Leonardo Duarte
Publicação: Leonardo Duarte, Yasmin Orlowski
Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Casos de ansiedade aumentam em Ponta Grossa durante a pandemia

Pacientes passaram de 5,7 mil em 2019 para 6,8 mil somente nos primeiros seis meses deste ano

 

Além das mortes que ultrapassam 550 mil, a pandemia de covid-19 afeta a saúde mental. Em Ponta Grossa, por exemplo, houve aumento na procura de atendimento para casos de ansiedade. Segundo dados da Prefeitura, considerando Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centro Psicossocial (CAPS), em 2019 o total de pacientes atendidos foi de 5.766; em 2020, subiu para 6.447; neste ano, até julho, atingiu 6.858.

O estudante Rafael Bahls enfrenta o problema. Ele trancou seu curso da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) no ano passado depois de sentir que as crises de ansiedade se intensificaram durante a pandemia. Bahls aumentou as consultas com a psicóloga e aumentou a prática de exercícios físicos, o que vem melhorando seu quadro de ansiedade.

 

Psicólogas 

A psicóloga Heloisa Christina Mehl diz que o aumento da ansiedade na pandemia se deve à perda da rotina, de emprego, diminuição da renda, ao isolamento social, novas formas de estudo e de trabalho. Ela lista ainda a circulação de notícias falsas e as frequentes notícias de mortes, inclusive de pessoas próximas, como familiares.

Para Heloisa, o lockdown é um mal necessário, apesar de videochamadas e plataformas para aulas e serviços atenuarem o distanciamento. “Mas, infelizmente, não são todas as pessoas que tiveram acesso a essas ferramentas, tendo suas vidas afetadas no âmbito financeiro, educacional ou profissional, o que certamente aumenta os índices de ansiedade”, pontua. 

Heloisa percebeu aumento no número de pacientes, cuja maior faixa etária são jovens adultos, que estão na universidade. “Os maiores fatores de ansiedade foram a mudança de rotina, novas formas de estudo e aulas, incerteza financeira e quanto ao futuro, além de perdas de conhecidos e familiares, devido à covid”, completa. 

A psicóloga Fabiana Nunes Jacontho aponta o lockdown como um dos principais motivadores para o aumento de crises de ansiedade, pois podem surgir sentimentos de impotência nas pessoas.

 

Estudos

O aumento da ansiedade não acontece só em Ponta Grossa e no Paraná. No Rio Grande do Sul, por exemplo, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) entre maio e junho deste ano mostra que 80% da população brasileira tornou-se mais ansiosa na pandemia de coronavírus. Os pesquisadores ouviram 1.996 pessoas maiores de 18 anos.

Outra pesquisa, realizada pela Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, em março deste ano, mostra que o Brasil, comparado a outras dez nações, é líder em casos de ansiedade e depressão durante o período pandêmico.

 

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Ficha Técnica

Reportagem: Yasmin Orlowski

Edição e Revisão: Gabriel Clarindo Neto

Publicação: Gabriel Clarindo Neto

Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Avanço da vacinação traz esperança a moradores de Ponta Grossa

No último mês, mais de 100 mil doses foram aplicadas na cidade

 

Em junho, Ponta Grossa ultrapassou a marca de 50% da população vacinada com a primeira dose ou a dose única da vacina contra a covid-19, o que representa mais de 130 mil doses aplicadas no município. Segundo a prefeitura, até o dia 26 de julho de 2021 foram aplicadas o total de 230.648 doses.

O mecânico Adriano Michelis tem esperança de que toda a população seja imunizada para que possa voltar à sua rotina normal. Ao ser vacinado, ele relata alívio, mas mantém os cuidados necessários para não se contaminar, já que tomou apenas a primeira dose. “A vacina não imuniza 100%”.

 

Arquivo UEPG. Unidade de Saúde Dra. Zilda Arns, Parque Nossa Senhora das Graças. Foto: Fernanda Wolf

 

Cristina Bueno Teixeira, moradora da cidade, foi contaminada pelo vírus em 2020. Ela ficou internada por seis dias na UTI e ainda apresenta sequelas, como queda de cabelo, aumento de peso pela quantidade de soro que precisou tomar, além de precisar de ajuda psiquiátrica. Cristina já tomou a primeira dose da vacina. “Eu me sinto aliviada”.

Para a dona de casa Teresinha Ferreira de Lima, que passou por cirurgias na coluna e apresenta baixa imunidade, cada dia que passou sem ser vacinada e não se contaminou foi uma vitória. A principal dificuldade em ter dores crônicas era não poder ir até o hospital para ser medicada, com medo de contrair o vírus. De acordo com Teresinha, o momento mais difícil foi a perda de amigos próximos. Ela acredita que se a vacinação tivesse chegado antes, muitas pessoas não teriam morrido. Para ela, o momento de vacinação foi emocionante, apesar de não se sentir imunizada completamente. “Eu senti como se tivesse me fortalecendo contra um vírus que tem levado muitas pessoas”.

Para a professora Makelly Kaoane dos Santos, a emoção de receber a primeira dose da vacina é inexplicável. Mas ela se preocupa com as novas variantes do coronavírus, por não saber até que ponto a vacina que tomou vai ser eficaz. Durante a pandemia, sua principal dificuldade foi ficar isolada em casa. Ela não foi contaminada, mas sentiu medo quando seus avós ficaram doentes. O avô de Makelly pegou covid-19 em 2020 e precisou de oxigênio. Sua avó, contaminada neste ano, passou 21 dias na UTI. “Eu fiquei aliviada por ter tomado a vacina e não ter pego covid, pois não sei como meu organismo ia reagir”.

Calendário

De acordo com o Governo do Estado do Paraná, a vacinação para a população em geral deve continuar acontecendo dos mais velhos para os mais novos. A distribuição dos imunizantes segue de acordo com os repasses do Ministério da Saúde.

Até 22 de agosto, está previsto que pessoas entre 39 a 30 anos recebam a primeira dose. A partir de 23 de agosto, até 19 de setembro, o público entre 29 a 20 anos. E dos dias 20 a 30 setembro, a população de 19 e 18 anos, conforme a disponibilidade de doses.

Ficha técnica

Reportagem: Larissa Godoi

Edição e Revisão: Matheus Gaston e Tayná Lyra

Publicação: Tayna Lyra

Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Pacientes relatam angústia pela demora da volta das cirurgias eletivas

Procedimentos foram suspensos no início da pandemia para liberar leitos em hospitais

 

Com a piora da pandemia de covid-19 e o aumento da ocupação dos leitos nos hospitais do Paraná, as cirurgias eletivas (aquelas que não são de urgência) precisaram ser suspensas, prejudicando quem espera pelo procedimento. Bruna Oliveira aguarda pela cirurgia do joelho há dois anos. Ela não consegue movimentar a articulação e isso causa muita dor. Havia a esperança de fazer a operação no início de 2020, mas teve que suportar a dor e o incômodo por todos esses meses. “Tem sido muito difícil. Tem dias que nenhum remédio faz efeito e o que me resta é apenas esperar”.

Bruna continuou trabalhando durante um tempo, mas ficou desempregada com a chegada da pandemia e teve dificuldade financeira, mesmo recebendo o Auxílio Emergencial. “Por causa da minha dor constante no joelho eu sempre estou comprando muitos remédios, algo que tive que diminuir com a minha demissão, por ter outras despesas mais importantes para pagar”, completa.

Bruna não vive sozinha, mora com o irmão de treze anos. Os dois perderam a mãe em setembro do ano passado para a covid-19. Na época, sua mãe era diarista e enfrentava ônibus lotado todos os dias. Desde então, Bruna tem sido a fonte de renda em casa e o apoio de seu irmão. O que a deixa preocupada é pensar na atual situação financeira da família, pois ela terá que ficar em repouso depois que conseguir realizar a cirurgia. “Me preocupa pensar que vou ficar parada, porque se for depois da pandemia, já não vou receber mais o auxílio e não terei renda para sustentar meu irmão e eu. Apesar de termos família, não somos próximos para pedir ajuda financeira”, explica.

 

HU 25 10 2019

Hospital Universtiário da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Foto: Eder Carlos | Arquivo Periódico

 

Caminhoneiro
Outro paciente que espera por cirurgia é o caminhoneiro Anderson Costa. Diagnosticado com diabetes há dez anos, notou uma alteração brusca na visão. Após os exames realizados pelo oftalmologista, foi detectada catarata. “No primeiro momento fiquei em choque, mesmo sabendo da minha doença e cuidando dela, não imaginaria que teria catarata, ainda mais tão cedo, já que é normal que só os mais velhos tenham”, diz. Aguardando há um ano e meio pela cirurgia, Anderson está apreensivo, pois tem medo que a doença se torne irreversível.
“Meu maior medo é perder a visão, porque sem ela não consigo trabalhar com a profissão que tenho há anos, isso me deixaria perdido e sem emprego por um bom tempo”, relata. Sem dirigir desde que notou dificuldades para enxergar, Anderson tem conseguido se manter com o Auxílio Emergencial e com o trabalho de sua esposa. Com a volta das cirurgias eletivas, espera ser chamado logo.

 

Secretaria
A Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA) informou que ainda não há levantamento do número de pacientes esperando por cirurgias eletivas nos municípios e instituições do estado. Também destaca que há uma reorganização nos processos para identificar todas as demandas a partir de cada cidade e dos Consórcios Intermunicipais de Saúde.
Segundo a SESA, a realização de cirurgias eletivas é possível pela redução na taxa de ocupação dos leitos de Covid-19, que vem ocorrendo desde o início deste mês. O retorno é válido apenas para unidades que tenham capacidade de recursos humanos, com equipes profissionais disponíveis, insumos (medicamentos) e condições operacionais. Essas ações devem respeitar a Resolução 632/2020, segundo a qual qualquer alteração relativa à pandemia justifica novas medidas.
Em Ponta Grossa, o Hospital Universitário (HU) retomou as cirurgias eletivas no dia 16 de julho e convocou pacientes para consultas ambulatoriais pré-cirúrgicas. Por meio de nota, o HU informou que existem 16 leitos, antes usados para Covid-19, Clínica e UTI Geral. Dessa forma, passam a ser 60 leitos da UTI exclusivos para Covid-19, quatro leitos de emergência e 53 leitos clínicos.

 

Ficha Técnica

Reportagem: Ana Paula Almeida

Edição e Revisão: Gabriel Ryden, Larissa Onorio

Publicação: Gabriel Ryden

Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Número de jovens e adultos mortos por Covid-19 sobe 86% em Ponta Grossa

Índice se refere ao período de maio a junho deste ano

Nos últimos três meses, entre maio e junho de 2021, o total de vítimas da Covid-19 em Ponta Grossa com idades entre 18 e 59 anos quase dobrou, passando de 46 para 86. Do início da pandemia até o mês passado, foram 1.115 mortos na cidade. O aumento inverte a tendência de queda dos três primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, quando as vítimas maiores de 60 anos caíram de 334 para 217.

Entre os mortos estão o avô de Jéssica Cardoso, estudante de enfermagem, Efrain Cardoso, e seu pai, Orlei Cardoso. Segundo ela, foi difícil superar duas perdas tão rapidamente. “Fico indignada ao ver pessoas morrendo de uma doença para a qual já se tem vacina”.

De acordo com a psicóloga Juliana de Godoy, as mortes podem afetar a saúde mental de parentes das vítimas e das demais pessoas da população. “Os efeitos psíquicos dessas mortes podem ser sentimento de medo, desamparo e vulnerabilidade, depressão, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo e transtorno do estresse pós-traumático”, enumera a psicóloga. 

Foto: Fernanda Roccio / Arquivo Lente Quente