A técnica Juciandre Capri treina o PYL FC para o Campeonato Paranaense

Capri passa instruções táticas às suas atletas | Foto: Eduardo Machado

 

Aos 25 anos de idade, Juciandre Capri é a responsável pela quebra de uma barreira no futebol de salão ponta-grossense. Durante toda a história, as beiras de quadras da cidade eram compostas por técnicos homens em equipes masculinas e femininas. Em fevereiro deste ano, Capri se tornou a primeira treinadora a assumir um time de futsal profissional adulto no município e está à frente do PYL FC no Campeonato Paranaense da modalidade. Nos demais times, o cargo ainda é ocupado por homens, como o Operário no futebol, Caramuru no vôlei, NBPG no basquete, PYL FC masculino e Tubarões no basquete em cadeira de rodas. A trajetória de Capri no esporte começou logo na pré-escola, quando jogava com meninos no Colégio Sagrado Coração de Jesus. Jogando em equipe, começou na primeira série, com o técnico Wilson Bian Júnior, no Colégio Marista, onde jogava outros esportes, mas preferiu dar foco ao futsal, atuando em campeonatos ponta-grossenses e Jogos Escolares do estado durante a vida escolar.

 

Em 2016 e 2017, após passar pela Secretaria Municipal de Esportes, Capri teve a primeira oportunidade como auxiliar técnica. Nesse período, fez parte da comissão técnica da equipe de Ponta Grossa e foi campeã do Jogos Abertos do Paraná, comandada pelo técnico China. Ficou um ano afastada das quadras e, em 2019, pediu à Secretaria Municipal de Esportes para treinar o time feminino da cidade, para disputa do Abertos. O projeto abriu portas também para ser a comandante do PYL FC, que estreou profissionalmente neste ano e disputa o campeonato estadual da categoria.

Durante sua trajetória no futsal, Capri conta que sofreu preconceitos, desde quando começou a jogar há 15 anos. “O machismo me fez tomar a decisão entre jogar ou estudar. Preferi os estudos, pelo que falavam sobre meninas que jogavam na época”, conclui. Quando era auxiliar, tinha mais dificuldade no cargo, pela falta de liberdade para expor suas ideias. Capri relata que várias pessoas afirmavam que, por ser mulher, não era capaz de comandar uma equipe. “Falavam que eu não entendia nada sobre o esporte e muito menos de tática, porque homens eram superiores”. Atualmente a situação melhorou, pois no comando técnico do PYL FC, ela pôde implantar sua ‘filosofia’ de jogo e ser livre para trabalhar como quiser.

Capri só se deu conta da conquista quando disse em entrevista que era a primeira técnica de futsal na história de um time profissional da cidade. “Ali percebi toda a grandiosidade da nossa conquista, de tudo que estamos fazendo, do que sofremos também na falta de incentivo e recursos financeiros. Caiu a ficha que superamos uma barreira e sou a pioneira desse grande marco”, relata Capri.
Nos treinos e vestiário, há diferença de quando a técnica é mulher num time feminino, pois há certa peculiaridade no modo de fala, tratamento e percepções que apenas a mulher tem e isso reflete dentro e fora de quadra, segundo Capri: “Existe uma liberdade maior havendo uma técnica em um time feminino, do que alguém do gênero masculino”. Para Capri, um dos intuitos de estar à frente da equipe é dar continuidade ao projeto e ter um calendário para que as meninas mais jovens se espelhem nas atletas, desde o período escolar. A ideia da técnica é incentivar para ter mais mulheres na prática do esporte.

Atualmente, a cidade conta com duas ponta-grossenses que atuam na Itália. A ala da equipe do PYL FC, Bruna Novaki, comenta a experiência de ter uma mulher como orientadora no banco de reservas. “Ficamos felizes e aliviadas em ter uma mulher no comando do time, pois tem muito machismo nesse meio. Existe um entendimento melhor entre ambas as partes”. Novaki ainda ressalta: “Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive no futsal”.
O presidente do PYL FC, Luís Fernando Pyl, explica porque deu a oportunidade à Capri. “Há muito tempo acompanho o futsal daqui, vi que era o momento de dar a chance a quem realmente acredita no esporte. No feminino, a Juciandre é uma dessas pessoas que acreditam”, conta. “Não vejo diferença entre homem e mulher, apenas quero os melhores técnicos. Para o feminino, não tem mínguem melhor que Juciandre”, finaliza.

 

 

 

Ficha técnica:

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Reportagem: Eduardo Machado
Foto: Eduardo Machado
Edição: Francielle Ampolini
Supervisão: Professores Angela Aguiar, Ben-Hur Demeneck, Fernanda Cavassana, Hebe Gonçalves e Rafael Kondlatsch