Especialistas afirmam que retorno das escolas deve conciliar conteúdos de dois anos letivos | Foto: Agência Brasil

Desde março, os alunos da rede municipal de Ponta Grossa acompanham o conteúdo escolar pelo programa “Vem aprender”, transmitido diariamente pela Tv Educativa da cidade, devido à suspensão das aulas presenciais e a pandemia da Covid-19. Além dos exercícios propostos pela televisão, as escolas também ficaram responsáveis por desenvolver atividades impressas para os alunos.

Dados apresentados, em setembro, pela Undime (União dos Dirigentes Municipais de Educação) e pelo Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), revelam que 11% das redes municipais respondentes à pesquisa têm alguma previsão de retorno das aulas presenciais. Em Ponta Grossa, porém, esse cenário é diferente, já que o município não apresenta um plano de retorno às aulas. Nesse sentido, a Educação na cidade tem muitos desafios a serem enfrentados, como explica Andréia da Luz, pedagoga da escola municipal Dr. José Pinto Rosas. Segundo ela, há a incerteza da volta presencial das aulas em 2021 e a retomada dos conteúdos de 2020. Para Luz, será desafiador a organização de um plano pedagógico que concilie os conteúdos dos dois anos letivos no próximo ano.

O único documento que faz uma previsão de retomada das aulas é o parecer número 9/2020, aprovado pelo Conselho Nacional de Educação, órgão do Ministério da Educação. Ele dá indicações sobre a reposição de atividades escolares. Sugere, por exemplo, o aumento dos dias letivos e da carga horária do ano letivo de 2021, para poder cumprir os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento previstos no ano letivo anterior. O documento cita que “em caráter excepcional, é possível reordenar a trajetória escolar reunindo em continuum o que deveria ter sido cumprido no ano letivo de 2020 com o ano subsequente”. Ao mesmo tempo, o parecer não deixa claro se tais sugestões de retomada poderão ser executadas ou não, pois traz que o movimento de retomada de aulas é imprevisível e terá ritmos distintos nos Estados e Municípios.

Em vista disso, o Conselho Municipal de Educação de Ponta Grossa foi procurado para saber se há planos de retomada de aulas para a cidade. A presidente do Conselho, Ceres Benta Gehlen, afirma que “o Conselho Municipal prevê uma retomada gradativa das atividades presenciais das escolas, seguindo as orientações oriundas do MEC e do Ministério da Saúde”. Entretanto, conforme pesquisado pela reportagem, nenhuma escola da rede municipal retornou com as atividades presenciais e nenhum documento municipal foi encontrado que oficializa a forma que se dará o retorno das aulas em Ponta Grossa.

Segundo Angela Scalabrin Coutinho, especialista em educação infantil, é fundamental planejar protocolos de retorno de maneira dialogada entre escola e família, garantindo que os direitos de proteção sejam assegurados, mesmo que ainda não seja possível definir quando esse retorno acontecerá. “As redes de ensino públicas e instituições privadas precisam planejar e implementar de modo responsável o retorno às atividades, para não repetir o erro das tomadas de decisão aligeiradas que observamos com a suspensão das atividades nas instituições educacionais”, afirma Coutinho.

A especialista cita ainda o Projeto de Lei (PL) 02949/2020, em trâmite na Câmara dos Deputados, que dispõe sobre a estratégia para o retorno às aulas no enfrentamento da pandemia do coronavírus. Para Coutinho, o projeto precisa ser acompanhado e, se aprovado, colocado em prática em âmbito municipal. O PL prevê que, num momento de retomada, deverão ser realizadas avaliações de nivelamento de aprendizado e ações de recuperação de conteúdo. Segundo o Projeto, Estados e Municípios deverão ter seus próprios protocolos.

A partir disso, Andréia da Luz comenta que uma das preocupações da próxima gestão estará em propor planos educacionais condizentes com a realidade das escolas. “São várias coisas que precisarão ser pensadas pela nova gestão, e o principal de todos é conhecer como que a gente trabalhou até agora, como que a gente fechou o ano letivo, para poder planejar o próximo ano letivo da melhor forma'', afirma Luz.

Claudia Santos, mãe de uma aluna do terceiro ano do ensino fundamental, comenta que a cobrança em cima do próximo gestor será grande, tendo em vista que se espera que sejam trabalhados dois anos em um só. Para Claudia, esse ano letivo não foi proveitoso, apesar das aulas remotas. “Acho que pelas outras crianças precisaria pelo menos de um resumo do que foi passado de conteúdo durante a suspensão das aulas presenciais. Acho importante a retomada de conteúdos de forma resumida, porque algumas crianças têm mais dificuldade,” considera Santos.

Já Isamara Padilha Schoenk, mãe de aluno do quinto ano, acha que o filho não está tendo um bom aprendizado e comenta que a rotina de estudos em casa é muito complicada, porque trabalha o dia todo e, quando chega em casa, já está cansada para ajudar o filho com as atividades. “Meu filho está indo pro estadual e acho que ele vai ir sem entender nada pois não teve o 5º ano praticamente”, relata Schoenk.

Luz expõe que para trazer melhorias no ensino, o futuro prefeito ou futura prefeita precisará conhecer a vivência dos professores, especialmente na modalidade atual, para saber em 2021 quais serão os primeiros passos e de onde partir. “É inviável propostas utópicas e bonitas, mas que não condizem com a realidade, com a realidade dos alunos”, afirma Luz.

Segundo dados lançados em setembro pela Secretaria Municipal de Educação (SME), são aproximadamente 30.892 alunos da rede, distribuídos entre 62 unidades de Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs), 86 unidades de Educação Infantil, dividida em Infantil I, II, III, IV e V, e 88 escolas com Ensino Fundamental, do primeiro ao quinto ano.

 

Ficha Técnica:
Reportagem: Gabriella de Barros e Nadine Sansana
Edição: Hygor Leonardo e Thailan de Pauli Jaros
Supervisão: Profa. Fernanda Cavassana