Aumento das tensões encarece produtos eletrônicos e afeta agronegócio

“E pra variar, estamos em guerra”, já cantava Rita Lee. No dia dois de agosto, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, funcionária do mais alto escalão do país, visitou Taiwan após 25 anos de ausência dos EUA na região. A chegada representou ameaça e provocação à China, pois Taiwan é vista como parte integrante do país, que revidou com atividades militares e mísseis de teste na costa marítima e no território aéreo de Taiwan.
A ilha tem sido motivo de tensões entre EUA e China desde 2020. Contudo, o anúncio de invasão da Rússia no território da Ucrânia incitou divergências entre as nações chinesas e taiwanesas. Um dos principais motivos foi a declaração do presidente Joe Biden, em 2021, sobre conceder proteção a Taiwan em um possível ataque chinês.
Com a globalização e acordos econômicos dispostos em rede, um conflito acontecendo do outro lado do mundo afeta diretamente o Brasil. Segundo o professor do departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Celso Costa, qualquer movimentação entre China e Taiwan é sentida no país através das taxas de câmbio.
Um exemplo deste imediatismo econômico é a elevação do dólar para R$ 5,27, após o aumento das tensões entre os dois Estados. “Sempre que existe um risco global, o capital financeiro começa a sair dos países emergentes e passa para os países mais seguros financeiramente, como os Estados Unidos”.
De acordo com o professor de história e geopolítica, Gismo Cavalheiro, Taiwan lidera o mercado global de semicondutores. Com uma invasão chinesa no território taiwanês, produtos como chips para aparelhos eletrônicos e maquinários agrícolas, memória, circuitos integrados e plásticos têxteis podem enfrentar um longo período de escassez.
Em 2021, o comércio entre Brasil e Taiwan rendeu US$ 4.256,89 milhões. “O mundo todo precisa de Taiwan para ter acesso a produção de tecnologias de informática e para fabricação de celulares”, explica.
Além disso, a China é o principal parceiro comercial do Brasil. Qualquer instabilidade afeta as importações de 40% de soja, 20% de minério de ferro, 16% de petróleo e 8,1% de carne bovina, além de exportações de adubos, fertilizantes, inseticidas e medicamentos entre os países, segundo a Fundação Getúlio Vargas.
Neste momento, as atividades militares chinesas no mar de Taiwan dificultam a passagem de navios comerciais para entrega de materiais para outros países, como o Brasil. E o prolongamento dos exercícios de teste afeta diretamente o fluxo comercial da Ilha, o que atrasa a exportação e encarece produtos como celulares, computadores e grãos.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Maria Catharina Iavorski e Valéria Laroca

Edição e Publicação: Vinicius Sampaio

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen