Crise econômica prejudica ou impede o acesso à alimentação de mais da metade dos brasileiros

 

A crise econômica, agravada pela pandemia, fez com que a insegurança alimentar alcançasse pessoas que não se encontravam em situação de pobreza, mas que passaram por redução de renda. A diretora do Departamento de Refeições da Organização Espírita Cristã Irmã Scheilla de Ponta Grossa, Rosecleia de Fátima Simão Venske, relata que a organização atende moradores de rua em situação de vulnerabilidade e pessoas que possuem algum tipo de moradia, porém com risco social e renda informal. “Durante a pandemia houve grande mudança na questão social, notamos o aumento de desempregados procurando por refeições e também pedindo emprego”, explica.

A Organização Irmã Scheilla possui grupos de voluntários que distribuem refeições em diferentes turnos, de segunda a sábado. Grande parte desse trabalho é custeado pelos próprios voluntários, além de outras doações. “Com a pandemia, sentimos um aumento na solidariedade e sensibilidade da população. Eu sempre digo aos grupos: a fome não tem recesso e nem lockdown”, completa a diretora.

 

Cerca de 19 milhões de brasileiros foram atingidos pela fome durante a pandemia - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil 

 

A professora de Administração da UEPG e também voluntária da Frente Ampla Democrática (FAD) de Ponta Grossa, Marilisa do Rocio Oliveira, menciona que, durante as atividades de entrega de cestas básicas, tem contato com relatos de famílias com dificuldades por conta da pandemia. “As pessoas contavam que, no início, pelo menos algum integrante da família trabalhava, mesmo que fazendo bicos, mas com o prolongamento da pandemia se tornou difícil encontrar serviços e acabou faltando dinheiro para coisas básicas, como a alimentação”.

A FAD divulgou no mês de março algumas reivindicações para o combate à fome que foram acatadas pelo poder executivo de Ponta Grossa. Segundo a professora, é preciso cobrar o poder legislativo para que ações sejam implementadas. “Também é necessário intensificar as discussões por políticas públicas que busquem reduzir as desigualdades sociais em nosso município; É preciso olhar com mais cuidado para a população, pois esse problema já é de longa data, apenas se agravou com a pandemia”, finaliza.

Segundo a Fundação Municipal de Assistência Social (FASPG) e a Secretaria de Políticas Públicas Sociais, durante a pandemia foram enfrentadas algumas dificuldades relacionadas à distribuição de cestas básicas, como a adaptação do orçamento do município e o aumento do preço dos produtos, que dificultou a compra e atrasou a entrega para as famílias atendidas.

Outro serviço que sofreu alterações foi o Restaurante Popular. Durante o ano de 2020, idosos e demais usuários ficaram praticamente sem atendimento por conta de decretos que suspendiam as atividades temporariamente. Apenas o atendimento aos moradores de rua estava permitido por meio de entrega de marmitas.

Cerca de 19 milhões de brasileiros foram atingidos pela fome, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN). Realizada em dezembro de 2020, a pesquisa consultou 2.180 domicílios de áreas urbanas e rurais, de todo o país. Ao todo, 116,8 milhões de pessoas não tinham acesso pleno e permanente a alimentos, ou seja, mais da metade da população enfrenta a insegurança alimentar em níveis que variam entre leve, moderado e grave.

 

Ficha-técnica: 

Repórter: Gabriel Ryden

Editor de texto: Diego Santana

Supervisão: Rafael Kondlatsch, Marcos Zibordi e Kevin Kossar

Publicação: Laísa Braga