A corrupção tem que ser vista como uma doença, portanto, tem que ser eliminada, curada, afirma professor de Gestão Pública


Pesquisador aborda a relação entre a imprensa e a corrupção sistêmica no Brasil. Foto: Gabriela Clair

O professor do curso de Gestão Pública e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável da Universidade Federal do Paraná – Campus Litoral (Matinhos), Ivan Jairo Junckes compareceu à UEPG na sexta-feira (23). O professor deu palestra sobre Mídia, Política e os processos de corrupção que envolvem as eleições, à convite do Curso de Contabilidade. Ivan desenvolve pesquisas em análise de redes sociais e financiamento eleitoral.

A fala do palestrante buscou quebrar mitos acerca da corrupção na política. Junckes afirmou de forma preliminar que a população trata este tema de maneira equivocada. “As pessoas tendem a acreditar que a corrupção tem que ser vista como uma doença, portanto, tem que ser eliminada, curada. Não é por aí. Esse problema é crônico, não tem cura, e não fomos nós brasileiros que inventamos. Ela deve ser combatida e reduzida”, afirma.

Na relação com a mídia, o pesquisador também destacou a ligação entre os escândalos estampados na imprensa, e todos os outros esquemas de corrupção que passam despercebidos por trás destas manchetes. “O brasileiro adora um escândalo. Se ele marca de sair, mas o Jornal Nacional diz que vai revelar escândalo, o telespectador cancela o que estiver fazendo para grudar na tela da TV”, acrescenta.

“Eles têm o dom de ‘esconder um boi por trás de um bife’. Por exemplo, a história toda da Lava Jato roubou cerca de R$ 5 bilhões e teve mais de 5 mil horas de cobertura televisiva. Este é o bife. O boi são os mais de R$ 400 bilhões que são drenados em outros esquemas de corrupção e sonegação, e não conseguem sequer dez minutos de jornal. Claro que R$ 5 bilhões é muito dinheiro, mas cinco dentro de 400 parece troco de bala”, argumenta.

Como acontece a corrupção?

Em sua fala, o professor Junckes explicou como se dão estes processos de acordo com as pesquisas que realizou. No momento da eleição, os postulantes com maiores chances de vencer o pleito, independentemente do partido, vendem contratos públicos a grupos empresariais organizados como uma máfia. Eventualmente o candidato eleito não entrega o contrato que vendeu “por baixo dos panos”. É então denunciado pela imprensa.

“A imprensa denuncia estes políticos porque ela [a imprensa] também é financiada por estes mesmos grupos empresariais. Os grupos compram tudo, mas só vão para as capas de jornal os escândalos que estes lobistas querem que seja publicado”, comenta.

Tiro no pé? E qual a solução?

A legislação eleitoral que vigora para o pleito de 2016 teve o efeito contrário do que se esperava quando a lei foi implantada, de acordo com o professor. Para ele, o menor tempo e as doações apenas por pessoas físicas deram mais vantagens a candidatos mais conhecidos ou os que concorriam à reeleição. No que diz respeito ao caixa das campanhas, o professor também duvida da efetividade da lei.

“Para essas eleições não houve grande impacto da lei porque os caixas das grandes campanhas já haviam sido construídos antes mesmo de 2016. Entretanto, para o pleito presidencial em 2018 a legislação deve afetar diretamente a arrecadação partidária. Por isso acredito que, como já vem sido feito, boa parte dos partidos deve tentar se unir para derrubar os artigos e voltar com as doações de CNPJ”.

Junckes finaliza dizendo que o eleitor é o único que pode se articular para evitar e combater a corrupção eleitoral. “Comecem a comprar os candidatos de vocês. Apoiar campanhas de financiamento coletivo, saber quem o candidato vai apoiar porque você sabe quem pagou por aquela campanha. Desconfiar, acima de tudo, porque ‘não existe almoço grátis’, no jargão dos contabilistas. Os dados eleitorais são públicos, todos têm acesso. Pesquise, se informe”, recomenda o pesquisador.

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