Metade da alimentação dos brasileiros é processada

Alimentos processados representam 50,5% da alimentação total do país, segundo pesquisa do IBGE

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou este ano o resultado de 2017/2018 da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), que visa investigar o consumo e o gasto dos brasileiros em alimentos. Ele revela a quantidade consumida dos grupos alimentícios: alimentos in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários processados, alimentos processados e alimentos ultraprocessados. Ademais, mostra as despesas e rendimentos média e o consumo por faixa etária, tanto no âmbito nacional como estadual.
A partir dessa pesquisa, percebeu-se que 50,5% da alimentação dos brasileiros é processada. Ingredientes culinários processados (22,9%), alimentos processados (9,8%) e alimentos ultraprocessados (18,4%) somam 50,5% do consumo no Brasil. Em contrapartida, os alimentos mais naturais, somam 49,5%. Entre os alimentos que representam o grupo de ingredientes culinários processados, estão o açúcar, féculas, óleo vegetal e gordura animal. Bebidas alcoólicas, queijos e pães fazem parte da sessão de alimentos processados. Os ultraprocessados são, maioria das vezes, produtos que apresentam alto teor de sódio, gorduras trans, gorduras saturadas e aditivos químicos, como molhos prontos, sorvete, margarina, frios embutidos, bolos, tortas, biscoitos e lanches. Em contrapartida, os alimentos in natura e minimamente processados são frutas, legumes, verduras, ovos, carnes magras e leite, por exemplo.


Em 2006, o Ministério da Saúde lançou o Guia Alimentar para a População Brasileira, que contém informações nutricionais sobre o que consumir, o que evitar e as consequências positivas e negativas dessa ingestão. O mesmo material discute a escolha dos alimentos e apresenta gráficos que exemplificam a escolha da mesma base alimentícia em diferentes versões. Segundo o Guia, alimentos ultraprocessados devem ser evitados por conter valor nutricional baixo, muitas calorias e, como consequência, o provável desenvolvimento de doenças. Alimentos processados devem ser consumidos em pequena quantidade e ingredientes processados utilizados para fins culinários, como açúcar e óleo, podem ser utilizados, mas com moderação.
Gabriela Albuquerque, nutricionista, diz que, infelizmente, o aumento do consumo de produtos prontos está cada vez mais acentuado na rotina das pessoas. “O que me leva a crer que esse aumento seja real é o fato de serem, muitas vezes, alimentos mais acessíveis e alimentos mais palatáveis, conquistando consumidores que buscam por praticidade”, relata.


Idosos consomem mais alimentos naturais do que jovens


A pesquisa nacional, projetada em 2017/2018, revela o que cada grupo de idade consome em relação aos grupos alimentares. Quanto maior a idade, maior o consumo deste grupo de alimentos e menor o consumo de alimentos ultraprocessados. Pessoas com 60 anos ou mais, consomem cerca de 57% de alimentos in natura ou minimamente processados e apenas 15,1% de alimentos ultraprocessados. Quadro que se diferencia na faixa etária de 10 a 18 anos, em que a participação dos alimentos ultraprocessados no total de calorias aumenta para 26,7% e alimentos in natura e minimamente processados diminui para 49,2%.
A nutricionista acredita que a população idosa carrega uma tradição cultural de uma alimentação baseada em alimentos in natura e, dependendo da região onde esses idosos se encontram, há ainda relação com a tradição de criação de animais e cultivo de plantações, que por muito tempo pode ter servido como sustento para toda a família. “Além disso, esse hábito alimentar pode estar atrelado com a saúde de cada indivíduo e devido algumas alterações decorrentes do envelhecimento, os idosos tendem a se preocupar mais com a alimentação, buscando alternativas mais naturais e menos prejudiciais à saúde”.
Albuquerque ainda diz que existem alternativas para combater o crescimento do consumo de produtos ultraprocessados, como o investimento em políticas fiscais para regulação de rotulagens e publicidade de produtos ultraprocessados e a obrigatoriedade, no futuro, de um ensino sobre alimentação nas escolas.

Cinco grupos de alimentos tiveram queda na aquisição familiar no Paraná em 10 anos

Entre 2008 e 2018, todos os grupos de alimentos tiveram seu consumo diminuído no Paraná. Lacticínios (leite e creme de leite/queijos e requeijão/outros); cereais e leguminosas, carnes (bovinas de primeira/bovinas de segunda/bovinas outras/suínas com e sem osso/suínas outras/outros animais); farinhas, féculas e massas e açúcares confeitaria (açúcares, doces e produtos de confeitaria/outros) são os cinco grupos com maiores quedas em kg/ano per capita. O infográfico a seguir mostra o comparativo entre as duas últimas pesquisas e a queda total de cada um dos cinco grupos de alimentos mais afetados.
Em relação aos grupos mais consumidos em 2017/2018 no cenário paranaense, apenas os laticínios e carnes tiveram quedas mais significativas. Os alimentos mais consumidos foram bebidas e infusões, entre elas alcoólicas, não alcoólicas, cafés e chás, com 48.149 kg/ano per capita; lacticínios, 38.111 kg/ano per capita; frutas de clima tropical e temperado, 29.445 kg/ano per capita; hortaliças (folhosas e florais, frutais, tuberosas e outras), 26.100 kg/ano per capita; e carnes, com 23.977 kg/ano per capita.
A alimentação é o terceiro maior tipo de despesa das famílias paranaenses, ficando atrás apenas de habitação e transporte. De acordo com a última pesquisa divulgada, R$ 641,75 de R$ 5.115,09 são destinados a alimentação. Em 10 anos, o aumento com esse tipo de despesa foi de R$ 225,14 por mês, em média.

Confira o vídeo produzido por Denise Martins sobre a pesquisa do IBGE:

 

Fonte: IBGE, Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008/2009 e 2017/2018 e Ministério da Saúde, Guia Alimentar para a População Brasileira

Ficha técnica
Infográficos: Denise Martins
Reportagem: Denise Martins
Edição: Emanuelle Salatini
Supervisão: Angela Aguiar, Cintia Xavier, Jeferson Bertolini e Vinicius Biazotti.