Imbaú tem pior cobertura de vacinação geral em 23 anos

Com 14,39%, número da cidade é o menor dos Campos Gerais

Faltando menos de 20 dias para o final do ano, Imbaú está longe de cumprir a meta de vacinação de 90% do público-alvo estabelecida pelo Ministério da Saúde. Com 14,39% de cobertura geral, este é o menor dado desde 1997 - ano em que os dados da cidade começaram a ser disponibilizados pelo Departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DataSus). Dados coletados até o dia 10 de novembro, demonstram ainda que a cidade possui o menor índice geral de imunização nos Campos Gerais.

 Apesar de a cada ano serem consideradas novas vacinas para a lista, a cidade não está com uma resposta acima dos 90% na imunização geral desde 2005. A pior cobertura era do ano de 2016, quando a cidade atingiu apenas 45,74% da cobertura. De um grupo de 24 vacinas, em sete (BGC, Rotavírus Humano, Meningococo C, Hepatite B, Penta, Pneumacócica e DTP) ficaram acima dos 90% estabelecidos. O Reforço da vacina Tríplice Bacteriana,entre os 4 e seis anos, por exemplo, alcançou apenas 1,54% de imunização do público-alvo.

Em 2020, o menor valor é da vacina Dupla adulto e tríplice acelular gestante, com 6,57% de cobertura. Segundo a Sociedade Brasileira de Imunização, essa vacina está acessível nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) para gestantes ​a partir da 20ª semana ​de gestação, mulheres de até 45 dias após o parto e profissionais da Saúde que atuam em maternidades e serviços de atendimento a recém-nascidos. Ela previne difteria, tétano e coqueluche. Disponível no sistema do DataSus desde 2013, a maior cobertura dela foi de 59,46% neste mesmo ano, em 2014 teve o pior número com 3,76%. Segundo a Biblioteca Virtual em Saúde esse imunizante foi “introduzido em 2014 no Calendário Nacional de Vacinação da gestante como reforço ou complementação do esquema da vacina dupla adulta (difteria e tétano) – dT”, com objetivo de diminuir a mortalidade infantil em decorrência dessas doenças

A vacina com maior cobertura é a da Hepatite B em crianças de até 30 dias. Com o público-alvo de recém-nascidos até o 30º dia de vida, esse imunizante atingiu 65,17%. Mesmo com a vacina, essa doença ainda atinge a população. Essa infecção agride o fígado e é transmitida através do contato com o sangue ou secreções de pessoas infectadas. Apenas na região sul, em 2019, foram 4.529 casos de Hepatite B.

A Bacilo Calmette-Guérin, conhecida como BGG, segunda da lista, combate à tuberculose e é aplicada desde 1975 em crianças com até cinco anos de idade, atualmente está com cobertura de 30,14%% do seu público-alvo. Desde 2017 a vacina não cumpre a meta em Imbaú, porém sempre esteve próximo do objetivo com 88,38% (2017), 71,62% (2018) e 81,46% (2019).

A médica Heloisa Gianberardino, Vice-presidente da Regional-PR da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) relata que a queda desse imunizante se explica pela dificuldade de produção no Brasil, ocasionando a falta em muitas cidades brasileiras. No momento, apenas a rede pública de saúde a aplica. Em plena pandemia, um estudo publicado na MedRxiv demonstrou que países com baixa cobertura da vacinação contra tuberculose obtiveram dez vezes mais mortes por covid-19 que os locais com políticas públicas, como a obrigatoriedade da BCG. Alguns estudos demonstram que essa vacina previne outras doenças respiratórias, tanto que alguns testes já foram realizados para descobrir a eficácia desse imunizante contra a Covid-19.

Gianberardino, comenta que é necessário a vacinação atingir o maior número de pessoas - já que é impossível toda a população receber um imunizante -, assim a transmissão da doença seria bloqueada. Ela explica que é necessário atingir a imunidade de rebanho ou imunidade de grupos. “Quando você tem mais de 90% da população com uma boa adesão à vacina, você vai ter uma menor circulação do vírus ou da bactéria e com isso você não vai ter a transmissão consistente. Agora quando você tem brechas e começa a reduzir essa cobertura para 60%, 50%, vai ter várias pessoas suscetíveis no meio das que estão imunizadas”, explica
A médica menciona que no Brasil os grupos anti-vacinas são fracos, sendo o maior problema as Fake News e a desinformação. Segundo ela, é importante que os médicos e profissionais da saúde orientem as famílias quanto à importância do procedimento. Em situações de recusa quanto a aquelas obrigatórias por lei, é necessário fazer uma notificação aos pacientes. A vice-presidente conta que em alguns casos, se o médico não orientar a vacina, a justiça pode intervir. “Sendo obrigatório por lei a vacina no país, já se tem baixas coberturas, imagina se não tivesse essa obrigatoriedade”, diz.

A reportagem buscou a Secretaria Municipal de Saúde para questionar os números. Em contatol no início da apuração, a Secretária Municipal de Saúde de Imbaú, Zindamir Dias Prestes, informou que houve uma migração do sistema do Ministério da Saúde (SIPNI) para o E-SUS, o que pode ter resultado de algumas informações se perderem ou não chegarem na nova base federal. “Tivemos também remanejamento e substituição de profissionais no Prestes, informou que houve uma migração do sistema do Ministério da Saúde (SIPNI) para setor o qual também contribuiu para a inserção dos dados no programa/sistema de imunização. Já treinamos mais profissionais e o mais breve possível isso será regularizado”, explica.

No mesmo conteúdo, a secretária também menciona que a pandemia afetou a busca da população pela vacina. “Outro fator que contribuiu com essa baixa taxa de Informação no sistema, foi que entre os meses de março a agosto houve uma queda na procura das vacinas devido a Pandemia COVID 19”, finaliza Zindamir. A reportagem ainda tentou confirmar os dados, porém a responsável pela área na cidade não pode responder até o fechamento da reportagem. Em uma das ligações, uma funcionária relatou que hoje Imbaú possui apenas uma aplicadora de vacina para atender toda a demanda.

Em relação às vacinas que faltaram em 2020, houve tentativa de contato com a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) e com o setor responsável no Ministério da Saúde, mas até o fechamento não se obteve resposta de quais imunizantes faltaram neste ano.

COBERTURA DE VACINAÇÃO EM IMBAÚ


Número de pais ou responsáveis que necessitam atualizar a carteira de vacinação para rematrícula sobe em 2020 na cidade de Imbaú


Por causa de profissionais confirmados com coronavírus na Unidade Básica de Saúde São Cristovão no município, o local precisou entrar em isolamento e alguns pais ou responsáveis não conseguiram atualizar as vacinas dos filhos. Desde 2018, a lei estadual Nº 19.534 de 04/06/2018 obriga a apresentação da Carteira de Vacinação em todo o estado para a matrícula de alunos até os 18 anos de idade. A lei vale tanto para a rede pública quanto para a privada e em todas as séries.
A secretária responsável pela documentação escolar do município, Daniela Ribeiro relata que os pais tiveram dificuldade para pegar a declaração durante o tempo em que a unidade ficou fechada, mas que nos outros anos acontecem poucas situações assim.

Da mesma forma, o diretor da Escola Municipal Júlia Vanderley, José Fabricio Oliveira explica que antes de iniciar as matrículas deste ano, a escola avisou com antecedência aos pais que regularizassem os documentos necessários. Por estar no meio de uma pandemia, ele disse que esperava que situações assim poderiam ocorrer. “Nós, enquanto instituição de ensino, entendemos bem a situação e aguardamos, isso não caracteriza que a criança vá perder a vaga ou que nós não vamos fazer a rematrícula”, menciona.

Como medida de prevenção para evitar essas situações, nos anos anteriores, no início de novembro a escola já frisava aos pais e responsáveis que no final de novembro a carteira de vacinação precisa estar atualizada. Neste ano, por causa da pandemia e deste período que a UBS ficou fechada, José Fabrico conta que em sua escola são cerca de 10% de pessoas que precisam da declaração de que todas as vacinas dos filhos estão em dia. A escola municipal prorrogou o prazo para que os documentos pudessem ser entregues depois.

Confira no YouTube a reportagem produzida por Manu Benicio:

 

Ficha técnica:

Repórter: Manu Benicio 

Imagem: Manu Benicio 

Edição: Manu Benicio e Laísa Braga 

Supervisão: Angela Aguiar, Cintia Xavier, Jeferson Bertolini e Vinicius Biazotti