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Falta de colaboradores, pressão e acúmulo de atividades comprometem o funcionamento das associações

 

Formar líderes empreendedores a partir da vivência empresarial faz parte da missão das empresas juniores (EJ). Em Ponta Grossa, apesar de sua relevância, as EJs passam por dificuldades para se manterem ativas e produtivas. A falta de interesse de calouros e o consequente acúmulo de atividades para quem participa do projeto, coloca em risco o funcionamento de empresas que estão há anos no mercado. 

Em 2022, as associações tiveram uma perda de quase 50% dos membros, o que pode acarretar na diminuição dos projetos e até no encerramento das atividades. Foi isso que aconteceu na Empresa Júnior do curso de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A Eco+ foi criada em 2020, durante a pandemia, e devido a falta de planejamento e estrutura, não conseguiu se consolidar no mercado. 

Com o encerramento da Eco+, o Núcleo de Empresas Juniores de Ponta Grossa conta  com 12 EJs colaboradoras. A UEPG possui oito empresas federadas (Quanttum, Engenium, Master, EMa-jr, Astreia, Evolve, Plantec e CTZ). Já a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) é composta por quatro associações (Solumax, Vulcano, Petri e Protut). Em 2022, as EJs de Ponta Grossa faturaram cerca de 120 mil reais com os projetos. Neste ano, a meta é de R$ 162 mil, mas até o início de junho, o faturamento foi de R$ 45 mil.

A vice-presidente da última gestão, Sara Marques, relata que a Eco+ precisou fechar as portas, devido a baixa adesão de membros, má gestão nos anos anteriores e dívidas acumuladas. “Eu e um colega fomos incentivados a assumir, porém só quando assumimos ficamos sabendo do déficit. Tivemos que negociar a dívida e acertar muitos detalhes, mas como não teve adesão, decidimos fechar”, relata. Os membros da diretoria abriram processos seletivos, divulgaram e apresentaram a importância e os benefícios em participar de uma EJ, mas, mesmo assim, tiveram somente quatro inscrições. 

Não apenas empresas recém criadas sofreram com a baixa adesão. A EJ do curso de Engenharia de Materiais da UEPG, EMa-Jr, atuante desde 2001, foi prejudicada pela baixa adesão no curso, e consequentemente, na empresa júnior. Das 50 vagas oferecidas anualmente pela UEPG para formação na área, apenas 22 vagas foram preenchidas para o ano letivo de 2023. No processo seletivo para a empresa, cerca de 15 pessoas participaram. “Para comparar, em 2018 tivemos 54 pessoas no processo seletivo. Hoje não temos 54 pessoas nem somando o primeiro e segundo ano do curso”, afirma o presidente da EMa-Jr, Gabriel Correia.

Lara Giordani, ex-membro da EMa-jr, atuou durante três anos na iniciativa, e em 2022, foi diretora presidente. Ela relata que o Movimento de Empresas Juniores (MEJ) acrescenta na vida pessoal e profissional dos acadêmicos, porém é desgastante. “A EJ demanda muita energia e tempo, então eu tive alguns problemas para conciliar as atividades na empresa e na graduação”, conta.

A Federação das Empresas Juniores do Estado do Paraná (FEJEPAR) possui atualmente 142 EJs federadas. De acordo com o portal do Brasil Júnior, a FEJEPAR encerra o primeiro semestre de 2023 em 8° lugar no ranking nacional de faturamento da rede com uma arrecadação de R$1.150.831,14. Entretanto, com a baixa adesão de membros, empresas correm o risco de não atingir metas e não melhorar no desempenho, contrariando o resultado esperado pela Federação.

O que é uma Empresa Júnior?

As EJs são associações sem fins lucrativos que possuem atividades de consultorias desenvolvidas para empresas seniores, com um custo mais baixo do que as oferecidas pelo mercado. Cada empresa realiza consultorias e projetos no seu respectivo nicho, como assessoria em gestão financeira, assessoria jurídica, registro de marca, tabela nutricional, projeto arquitetônico, impressão 3D, entre outras.

As empresas buscam fomentar o aprendizado prático dos estudantes, aproximar e familiarizar os acadêmicos com o mercado de trabalho, ensinar a gerir e elaborar projetos na área de formação. “Além do conhecimento técnico adquirido gratuitamente e através da prática com projetos reais, proporcionamos experiência em vivência empresarial”, afirma a presidente da Empresa Júnior de Engenharia Civil da UEPG - Engenium, Fernanda Meneghini.

Para ingressar nas EJs, os acadêmicos passam por processos seletivos, que são baseados nos processos realizados por empresas seniores, com algumas especificidades de acordo com as necessidades da EJ. A Engenium, por exemplo, realiza seleção uma vez por ano, e para ser colaborador, o acadêmico não precisa ter experiência. Ao ingressar, os membros realizam treinamentos com os novos participantes de acordo com a área de atuação. “Os times dos projetos possuem de 3 a 6 membros que trabalham nas etapas da execução. Porém, como somos acadêmicos, contamos com um professor que nos auxilia e nos representa perante a sociedade e as instituições”, esclarece Fernanda Meneghini. 

Mesmo com dificuldades, as EJs proporcionam uma experiência profissional complementar ao curso de graduação, colocando em prática habilidades de liderança e proatividade. “Muitas vezes você chega no quinto ano e não sabe como uma empresa funciona. Não tem o conhecimento nas áreas de Recursos Humanos, marketing, vendas, entre outros. Quando você faz parte de uma empresa júnior, você entra em contato com técnicas que se não participasse não iria saber”, explica Gabriel Correia.

As consultorias realizadas trazem um retorno para a imagem da universidade, investimentos nos respectivos departamentos e oficinas de estudos para os membros. Através das soluções empreendedoras realizadas pelas EJs e os resultados obtidos, as universidades ganham destaque no ranking das Universidades Empreendedoras. Nos últimos dois rankings, a UEPG e a UTFPR melhoraram suas colocações na categoria geral. Em 2019, elas estavam na colocação 69° e 30°, respectivamente. Já em 2021, subiram para as colocações 60° e 10°.

 

Ficha técnica: 

Reportagem: Janaina Cassol

Edição: Kailani Czornei e Manuela Rocha 

Publicação: Emelli Schneider

Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos

Supervisão de publicação:  Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos