Docentes lutam pela recomposição salarial, revogação da LGU e concurso público 

De acordo com Volney Campos o sindicato está sempre aberto e receptivo para professores que queiram se filiar. Foto Mariana BorbaSindicatos das sete universidades estaduais se reúnem no dia 12 de abril para discutir a continuidade da luta a favor da revogação da LGU. Foto: Mariana Borba

Após as paralisações de 2023, os docentes da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) continuam na luta por reivindicações da categoria. As mobilizações grevistas se encerraram em dezembro do ano passado e resultaram no aumento do Adicional de Titulação (ATT) dos docentes. Professores especialistas passaram a receber adicional de 30%, ao invés de 25%. O adicional de mestres passou de 50% para 60% e o de doutores de 80% a 105%. No entanto, segundo Volney Campos, presidente da Seção Sindical dos Docentes da UEPG (Sinduepg), participante das movimentações do ano passado, o aumento do ATT, apesar de ser a principal demanda, não era a única reivindicação dos docentes estaduais. O Sindicato também luta pela alteração do Plano de Carreira (PCC), recomposição salarial e revogação da Lei Geral das Universidades (LGU). 

De acordo com Campos, o aumento do ATT ameniza o problema, mas não resolve completamente. “O governo do estado, sem qualquer tipo de diálogo, de uma forma bastante impositiva para o movimento sindical, só reconheceu o aumento no auxílio titulação, os chamados ATTs, que trouxe um ganho real de salário, mas muito aquém daquele que a gente pretendia para zerar as perdas inflacionárias”. 

O dirigente diz que, na data-base do ano passado, quando os salários foram reajustados em 5,79%, e com os aumentos de ATTs, a defasagem salarial foi reduzida, mas ainda permanece na casa dos 34%. “Houve um avanço, mas foi um avanço modesto, se a gente considerar o que estava em discussão. Mas foi o que o movimento conseguiu lutar e adquirir naquele período”, diz. O presidente do Sinduepg conclui que a greve foi exitosa e deu mais força para continuar a luta pela recomposição salarial, pela alteração do Plano de Carreira, revogação da LGU e realização de concursos públicos para professores efetivos. Ele explica que o movimento será retomado em abril e maio deste ano, quando volta à pauta do sindicato as reivindicações da categoria. 

 

UEPG está há oito anos sem concurso para professores efetivos

Desde 2016, a universidade só realiza processos seletivos para professores temporários, chamados de colaboradores. Com a LGU, a UEPG tem direito a apenas 838 docentes efetivos. Antes, a Lei n° 16.555/2010 permitia 1018 vagas. No entanto, a instituição emprega atualmente apenas 642 docentes. O restante dos professores da UEPG são colaboradores, com direitos restritos, o que impacta diretamente no ensino dos estudantes e no bem-estar dos docentes.

Suelen Campiolo é professora colaboradora no Departamento de Estudos da Linguagem da UEPG. De acordo com ela, trabalhar nessas condições a impede de ter um planejamento financeiro, acadêmico e familiar. “Outra dificuldade, decorrente do medo de ficar desocupada após o fim do contrato, é estar constantemente prestando provas em outros processos seletivos. Isso gera uma sobrecarga de trabalho e me adoece física e mentalmente, pois, além das 40 horas do meu contrato na UEPG, dedico meu tempo livre a estudar para outros concursos. É um ciclo vicioso: por estar cansada das aulas, meu desempenho nas provas cai, assim tenho de continuar prestando concursos e sigo sempre cansada”, salienta. 

Giuliano Lellis Ito Santos também é docente colaborador no Departamento de Estudos da Linguagem. O professor relata que o contrato de professor temporário impacta na criação de vínculos na universidade. Além disso, professores colaboradores ministram grande parte das disciplinas: “Os professores efetivos acabam dedicando-se à pós-graduação, quando não estão em cargos de chefia, já que os temporários não estão autorizados a isso, o que reduz o tempo deles na graduação, forçando a contratação de temporários. Esse cenário serve de exemplo de como a universidade, que sofreu muitos cortes nos últimos anos, teve que lidar com suas obrigações: ensino, pesquisa e extensão.”

Tanto Suelen como Giuliano apontam que, caso a UEPG abrisse concurso para professores efetivos, eles teriam interesse em concorrer. Segundo Suelen, existe uma urgência nessa mudança de cenário. “Muitos professores se aposentaram nos últimos anos no nosso departamento e essas vagas simplesmente desapareceram. Também passamos a ofertar uma nova linha de formação desde 2023, então aumentou o número de alunos, mas não o de docentes. Os colaboradores deveriam ser usados apenas em situações excepcionais, substituição de afastamentos temporários, e não para preencher essas lacunas das aposentadorias e da expansão de cursos”.

Aumento do Adicional de Titulação não recompõe as perdas salariais. Infográfico Mariana BorbaAumento do Adicional de Titulação não recompõe as perdas salariais. Infográfico: Mariana Borba.

 

A luta continua

Diante deste cenário, Volney Campos aponta que o SINDUEPG permanece em negociação com o Governo pela recomposição salarial e alteração do Plano de Carreira. Os docentes das sete universidades estaduais do Paraná continuam na luta pela revogação da LGU, que disponibiliza pouco orçamento para instituições em constante crescimento e demandam mais investimentos. Os pŕoximos movimentos da categoria estão sendo discutidos em reuniões desde o dia 12 de abril.

Sindicatos das sete universidades estaduais se reúnem no dia 12 de abril para discutir a continuidade da luta a favor da revogação da LGU. Foto Mariana BorbaVolney Campos reforça a importância do SINDUEPG e afirma que nenhuma luta se sustenta individualmente. Foto: Mariana Borba .

 

Ficha Técnica:

Produção: Mariana Borba

Edição: Ana Beatriz de Paiva e Laura Urbano

Publicação: Eduarda Macedo e Karen Stinsky

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos e Cândida de Oliveira

Problemas relacionados à infraestrutura impedem a entrada de novos alunos.

A Casa do Estudante Universitário (CAOE) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)  está situada próxima ao Campus Uvaranas para atender estudantes em fragilidade econômica. O espaço contempla atualmente 10 pessoas, contudo, poderia receber ao menos 48 estudantes, caso fosse reformado. O complexo é composto por três prédios e apenas um é utilizado como residência, o mais novo deles, construído em 2017. As demais instalações apresentam problemas de infraestrutura e iluminação que impedem a ocupação.

 

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A Pró-Reitoria de Planejamento prevê construção de um novo alojamento, mas sem data prevista. Foto: Moradora anônima

 

Uma aluna que preferiu não se identificar mora há mais de um ano no espaço e comenta que há problemas na cozinha comunitária: “Nosso fogão de quatro bocas está funcionando apenas com duas, causando problemas principalmente nos finais de semana na hora das refeições. Nossa geladeira está perdendo peças e é extremamente pequena para o uso geral", relata a acadêmica. Outro problema são as invasões que podem acontecer nos prédios que não são utilizados. “Meu medo é que esses barracões sejam invadidos por usuários de entorpecentes, como acontece no terreno em frente ao espaço”, expõe. A estudante conta que todas as demandas são relatadas para a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE).

Outra moradora, que também preferiu não se identificar, reside há quase um ano e relata  a má iluminação da moradia: “A iluminação é insuficiente, principalmente durante o caminho de acesso dentro do campus até a casa. E também pelo próprio terreno da casa, que é enorme, mas a iluminação concentra-se somente bem próxima da casa.” Ela também descreve uma situação que aconteceu há pouco tempo, quando adolescentes pularam o muro e apedrejaram a casa. A ocorrência foi comunicada no dia para os guardas, mas os infratores já tinham fugido. De acordo com a estudante, a situação não foi comunicada para a PRAE. Apesar da contratação de guardas, a segurança ainda é falha.

Ao entrar em contato com a PRAE, o órgão responsável pela moradia, foi  confirmada  a demolição dos prédios antigos e a construção de uma nova estrutura, mas ainda sem nenhuma previsão. Ao ser questionada sobre a qualidade dos eletrodomésticos, a PRAE afirma que foi estipulada uma nova compra, contudo, também sem data prevista para entrar em vigor. A Pró-Reitoria de Planejamento (Proplan) avaliou que os dois prédios estão condenados, já que foram construídos em 1986, quando a moradia passou a ser no campus de Uvaranas, e seria mais vantajoso demolir a estrutura existente. Em consulta ao órgão sobre a demolição e a data prevista, foi reportado que a ação não era de autonomia da UEPG, mas da Coordenadoria do Patrimônio do Estado, vinculada à Secretaria de Estado da Administração e da Previdência.

 

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Os dois prédios estão abandonados, com o telhado caindo e paredes frágeis. Caso sejam reformados, poderiam acomodar mais de 30 alunos. Foto: Moradora Anônima

 

O último edital lançado oferece moradia para mais quatro pessoas, mas o espaço ainda comporta 16 estudantes. A última intervenção de maior porte realizada foi a inauguração do mais recente prédio, em 2017. Criada em 1960 para atender os alunos da UEPG, a Casa do Estudante é um espaço com quartos, com banheiro para dois alunos, cozinha e lavanderia comunitária. Por edital anual, as vagas são limitadas, e os estudantes que se interessam pela moradia devem comprovar renda e situação econômica para ter acesso ao benefício.

 

Ficha Técnica
Produção: Iolanda Lima
Edição e publicação: Lucas Veloso, Luísa Andrade, Mariana Borba e Radmila Baranoski
Supervisão de produção: Muriel Amaral
Supervisão de publicação: Candida de Oliveira

Professor especialista relaciona golpe militar de 1964 com atos de 08 de janeiro

 

Os acontecimentos antidemocráticos que marcaram a história do Brasil e antecederam o 8 de janeiro de 2024 foram o tema da aula inaugural do Programa de Pós-graduação em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A palestra integrou a programação do V Ciclo Descomemorar Golpes, ministrada na quinta-feira (21) pelo professor Luis Felipe Miguel, da Universidade de Brasília (UnB), no Grande Auditório da UEPG Campus Central.

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Luis Felipe Miguel palestrante do evento relata sobre momentos históricos do Brasil | Foto: Betania Ramos

Debate envolveu professores e alunos dos cursos de Direito e Jornalismo da UEPG na 5ª edição do Ciclo Descomemorar Golpes

 

Com a finalidade de discutir os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, Thais Machinski, advogada e especialista em direito penal, Pedro Miranda e Volney Campos, professores do curso de Direito UEPG, debateram na noite de quarta-feira (20), no grande Auditório do Campus Central, o painel “Responsabilidade penal dos golpistas em 8/01/2023”. A atividade integra o V Ciclo Descomemorar Golpes, realizado pelo curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, que tem o objetivo de não comemorar o aniversário de golpes como os 60 anos do golpe militar de 1964, mas nunca esquecê-los.

 

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Palestrantes destacam a importancia de discutir o assunto para que nunca seja esquecido. Foto: Nicolle Brustolim

A campanha que aconteceu em 1984 teve muita repressão no município

 

A palestra realizada na quarta (20), durante a semana do V Ciclo Descomemorar Golpes, reuniu os convidados João Luiz Stefaniak, Péricles de Mello, Herculano Lisboa e Luiz Valdir Slompo de Lara que participaram ativamente do movimento das “Diretas Já!”, em 1984. O evento realizado pelo Departamento de Jornalismo, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, tem como tema nesta edição a “Defesa da Democracia e dos Direitos Humanos”. Para retratar o assunto, além dos 40 anos da campanha de “Diretas Já!”, o Ciclo aborda os 60 anos do Golpe Militar, instituído em 1964, e os 20 anos do movimento de 2 março da UEPG.

Com mediação do professor do Curso de Jornalismo da UEPG Sérgio Gadini, os palestrantes das áreas do direito, política e economia, contextualizaram o período histórico da década de 80, quando iniciou o movimento das “Diretas Já!”, período importante para o processo de transformação política do país e de mobilização da população. Questionado sobre as memórias do movimento, João Luiz Stefaniak relatou o medo que as pessoas tinham de participar dos atos, mesmo aquelas que apoiavam a volta das eleições por meio do voto direto. Os convidados relembraram também o significado de reunir 500 pessoas em um ato, tornando Ponta Grossa um dos primeiros lugares a levantar a bandeira do movimento. Mesmo contando com número significativo de participantes, o contexto histórico da ditadura ainda amedrontava as pessoas a apoiar publicamente a luta.

​Herculano Lisboa explicou que, naquela época, Ponta Grossa era ainda mais conservadora, especialmente em relação ao contexto político. Lisboa salienta que os participantes das “Diretas Já!” eram destemidos, apesar da situação de repressão. Naqueles momentos de manifestações, falava-se que em Ponta Grossa o apoio às eleições diretas praticamente não existia e que era uma minoria que desejava mudanças, que fazia oposição à ditadura. 

 

Cópia de mariana borba 02Os convidados, das mais diversas áreas de atuação, participaram ativamente no marco das "Diretas Já!". Foto: Mariana Borba

 

​Péricles de Mello, ex-prefeito de Ponta Grossa, explicou a importância da participação política dos jovens na reconquista da democracia: “Todo jovem deve reservar um momento para vivenciar a política das mais diversas formas”. Já Herculano Lisboa, reforça a liberdade que a democracia plena proporciona, condição que não existia na época da ditadura militar, quando o que estava em cena era a repressão e o medo.

De acordo com João Luiz Stefaniak, foi importante ir para a rua lutar pela redemocratização do Brasil na década de 80. Essa luta da população, segundo ele,  foi essencial contra a ditadura: “Vão para a rua! A rua continua sendo um espaço importante que a gente tem para se organizar, para fazer o enfrentamento político”. Outro ponto destacado como fundamental  para as conquistas políticas, na visão de Stefaniak, são as redes sociais, ferramenta que eles não podiam contar naquela época para se posicionar e que atualmente faz parte da grande política de massa. 

​A programação do V Ciclo Descomemorar Golpes acontece até o dia 22 de março e contempla também como tema a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 e a importância de descomemorar golpes. A programação completa está disponível em https://www.uepg.br/jor-democracia-evento/.

 

Cópia de vitória schrederhof 01A presença dos universitários enfatizou a importância da participação dos jovens no meio político. Foto: Vitória Schrederhof

 

Ficha técnica: 

Produção textual: Annelise dos Santos

Fotos: Mariana Borba e Vitória Schrederhof

Supervisão da produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza C. dos Santos