Cinemas de Ponta Grossa reproduzem quase na íntegra o ranking nacional


Projeto Fissura é um cine debate que é realizado no Cine Teatro Ópera. |Foto: Arquivo Lente Quente

Dados da Agência Nacional do Cinema Brasileiro (Ancine) revelam que, em 2018, o cinema nacional gerou uma renda de R$ 404 mil na cidade de Ponta Grossa. O valor corresponde a 0,15% da receita nacional (R$ 260 milhões), obtida com o lançamento de mais de 163 longa-metragens. Do total, mais de R$ 236 milhões (90,7%) ficaram concentrados nos 10 títulos mais assistidos. Em Ponta Grossa, o montante movimentado pelos títulos do top 10 chega a 96% (R$ 387,8 mil).

 

Tanto no cenário nacional como municipal, existe uma predominância do gênero comédia entre os filmes nacionais mais assistidos. Filmes como Nada a Perder, Os Farofeiros, Fala sério, Mãe, Tudo por um Popstar, Uma quase Dupla, O Candidato Honesto 2, Detetives do Prédio Azul 2- O Mistério Italiano, Crô em Família, Os Parças e Não se aceitam devoluções integram o top 10 de bilheterias em Ponta Grossa.

No cenário nacional, o ranking se mantém com os mesmos títulos, apenas com a troca de Detetives do Prédio Azul 2- O Mistério Italiano, por O Doutrinador (Ação/Policial). No total, 43% (R$ 113 milhões) da receita do setor ficaram concentradas nas comédias do top 10. Em Ponta Grossa o número fica em torno de 17,4% (R$ 70,6 mil), visto que apenas Nada a Perder concentrou 81% (R$ 327 mil) da renda de filmes nacionais na cidade.

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Para o cineasta André Queiroz (RJ), diretor de filmes como El Pueblo que Falta (2015) e Araguaia Presente (2017), tal padrão indica um sintoma do sistema de distribuição de filmes nacionais. “Se trata de você se inserir num mercado viciado e viciante, tanto nas formas de produção como nas propostas de conteúdo e ideologias. São canais que, no pretexto de profissionalização, arregimentam só um determinado tipo de produção e exclui outros”, comenta.

Já para o cineasta Guto Pasko, da produtora GP7 de Curitiba e diretor dos documentários Ivan (2011) e Clube dos Solitários (2018), o padrão de sucesso das comédias é um [reflexo da falta de rentabilidade mínima para se manter em exibição. Normalmente elas têm a Globo Filmes como coparceira de distribuição e produção. E assim estão sendo constantemente divulgadas na programação de todos os veículos que a organização Globo abrange.”, explica Pasko.

Pasko cita o mercado das séries para defender que, se o espectador médio tivesse mais acesso a obras produzidas no Brasil, elas seriam mais consumidas. “Desde 2011, por lei [12.485, chamada Lei da TV Paga], as emissoras de TV a cabo tem uma cota de pelo menos três horas por semana que devem separar para a exibição de produções nacionais, em suas programações. Com isso, o Brasil tem produzido uma cota de mais de 200 séries por ano. A exibição supera o exigido por lei prova que o público tem boa vontade com nossos produtos”, conclui. A lei determina que 2% do tempo de grade seja destinada à exibição de produtos nacionais. Atualmente, segundo a Ancine, tem-se uma média de 8% de exibição.

Formação cultural brasileira deprecia sensibilidade estética do público

Professor de Filosofia na rede de educação Estadual, Vinicius Costa concorda que há um problema na formação do brasileiro, que o priva de aproveitar a variedade das artes. “Concordo com essa ideia de que a gente não tem o hábito de apreciar o cinema como uma arte. Passamos por um momento de crise estética também, porque não aprendemos a lidar com a sensibilidade estética. É chato você escutar música erudita, é chato assistir a um filme em preto e branco, justamente por essa sensibilidade não estar inserida na educação brasileira.”, alega Vinicius.

Informações Complementares
O Brasil tem 3223 salas de cinema, cujas 1357 concentram-se apenas no eixo Rio-São Paulo. O paraná possui atualmente 192 salas;

Em 2018, os cinemas de Ponta Grossa exibiram 107 filmes. 88 estrangeiros e 19 nacionais;

A cada 10 filmes estrangeiros lançados na cidade, é lançado um nacional;

Enquanto filmes nacionais lucraram R$ 404 mil reais, filmes estrangeiros tiveram receita de R$ 3,195 milhões de reais;

A distribuidora Downtown Filmes é a única brasileira a figurar entre as que mais lucraram em 2018. O ranking é composto por filiais de estrangeiras como a Disney, Warner Bros e a Sony;

No ranking estadual de bilheterias nacionais, Ponta Grossa ocupa o 5º lugar ficando atrás de Curitiba, Londrina, Maringá e Foz do Iguaçu;

Dos 20 filmes nacionais lançados na cidade, 19 foram lançados pela rede Lumière, enquanto apenas oito foram lançados pela Rede Araújo;

Ficha Técnica

Reportagem: Yuri A.F. Marcinik
Edição: Postada 19/06 por Gabriella de Barros; atualizada 20/09 por Bruna Kosmenko
Supervisão: Angela Aguiar, Ben-Hur Demeneck, Fernanda Cavassana, Hebe Gonçalves e Rafael Kondlatsch