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- Produção: Mariana Real Rodrigues
- Categoria: Expressões culturais
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Mesmo com lei sancionada em janeiro, que amplia o prazo obrigatório de exibição, longas-metragens brasileiros são pouco valorizados nos cinemas da cidade
A Lei 14.814/2024, sancionada em janeiro, prorroga a exigência de que os cinemas disponibilizem na programação, durante todo o ano e até 2033, filmes de longa-metragem produzidos no Brasil. A legislação procura fortalecer a indústria cinematográfica nacional, além de buscar pluralidade no catálogo de exibição. Com mais de 120 anos em atividade, o cinema brasilero tem sido levado cada vez mais às salas de cinema no país, porém a adesão do público ainda enfrenta obstáculos.
Cinemas de PG tem baixo número de espectadores em filmes nacionais | Foto: Eduarda Breus Macedo
A subgerente de um dos cinemas de Ponta Grossa, Marilei Maruin, conta que, em conformidade com a lei, as produções nacionais fazem parte da programação do cinema, mas que, quando exibidas, atraem pouco público. Raquel Bovkovski Juszczak e Vitória Gabrieli Blageski Vícera, funcionárias do mesmo cinema, confirmam a tendência, e destacam que a procura é maior apenas para comédias ou produções com artistas reconhecidos.
Reinaldo Luiz Tavares e Bianca Maciel Alves, gerentes de outro cinema na cidade, também destacam o cumprimento das normas da nova lei. “Nós recebemos uma nova programação toda semana e os filmes nacionais sempre estão presentes”, afirmam. Bianca também diz que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) tem acesso aos filmes em cartaz para fiscalizar o cumprimento da lei. A gerente destaca que o cinema adota as mesmas estratégias de divulgação para filmes nacionais e internacionais e que realizou promoções para aumentar a venda de ingressos dos filmes brasileiros. Porém, com exceções, o público permanece reduzido.
A baixa audiência em sessões de filmes nacionais é, para a estudante Maria Eduarda Ferreira, causada por preconceito em relação às obras. “Ainda existe aquela ideia de que [a obra] não é tão boa [quanto uma produção internacional]”. Ela espera que a lei incentive o consumo.
A legislação agradou cinéfilos como a estudante de Artes Visuais da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Vitória Bahls, que acredita que a lei valoriza o cinema nacional. A universitária relata ter visto poucas vezes filmes nacionais em cartaz, e que os vê geralmente lançados para o streaming. A estudante também acredita que uma reorganização da agenda de exibição seria benéfica. “Se for obrigatório, pode tomar o lugar de alguns filmes internacionais que são relançados em cartaz, o que pode ajudar as pessoas a reconhecerem os artistas nacionais e consumir mais filmes nacionais”, opina Vitória.
Sobre a Lei
A Lei nº 14.814, de 15 de janeiro de 2024, altera a Medida Provisória n° 2.228-1, de 2001, e prorroga até dezembro de 2033 a obrigatoriedade de exibição de obras cinematográficas brasileiras. Assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a legislação exige que as empresas “proprietárias, locatárias ou arrendatárias de salas, de espaços, de locais ou de complexos de exibição pública comercial” exibam filmes brasileiros de longa-metragem em sua programação ao longo do ano.
A normativa também prevê a implementação de medidas que assegurem a variedade, a diversidade e a permanência efetiva de audiovisuais brasileiros de longa-metragem em sessões de maior demanda, com o objetivo de buscar também a valorização da cultura nacional, a universalização do acesso às produções cinematográficas brasileiras e a ampliação da presença dessas obras no segmento de salas de exibição. A Ancine é responsável pela fiscalização. O descumprimento da lei pode resultar em advertências ou multa correspondente a 5% da receita bruta média diária do cinema em que se tenha feito o descumprimento, multiplicada pelo número de sessões que o filme deveria ser exibido.
Ficha Técnica
Produção: Mariana Real Rodrigues
Edição e Publicação: Lucas Veloso e Radmila Baranoski
Supervisão de produção: Muriel Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Kevin Furtado
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- Produção: Diogo Laba e Radmila Baranoski
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Reportagem traz relatos de frequentadores de bailes que destacam o papel social da casa de dança
Foto: Arquivo pessoal de Vera Lúcia Laranjeira Manoel
Fundado em 1880 por um grupo de jovens negros que não dispunham de espaço na cidade para se divertir e conviver socialmente, o Clube Literário e Recreativo 13 de Maio ainda mantém viva a tradição dos bailes. O Clube é um ponto de referência da cultura e da história em Ponta Grossa, destaca-se como um lugar de dança e de encontro, principalmente para pessoas da terceira idade.
A historiadora Merylin Ricieli, que pesquisa dinâmicas sociais e espaços de resistência da população negra em Ponta Grossa, ressalta o papel do clube na construção de narrativas e memórias coletivas. Ela fala sobre a importância do clube como uma agência de empoderamento e celebração da cultura negra. “O 13 de Maio, além de espaço de resistência e território negro, é lugar de sociabilidade e age também nas construções identitárias negras”.
A pesquisadora destaca que a preservação de espaços de resistência como o 13 de Maio é importante para preservar as memórias dos frequentadores. De acordo com ela, memórias são fundamentais para compreender a diversidade racial que compõe a população de Ponta Grossa. Para Merylin, os concursos de beleza negra que ocorriam no clube foram relevantes no movimento contra o racismo. “Foram os mais marcantes para mim, porque existia ali a garota 13 de Maio, a mais bela negra, rainha da primavera, e era tudo pensado para a valorização da mulher e da beleza negras”, conta.
A historiadora Priscielli Rozo, especializada em arte e cultura, destaca a necessidade de preservar os espaços culturais como forma de manter viva a herança deixada pelos antepassados. Segundo ela, esses locais são verdadeiras manifestações das tradições e valores transmitidos ao longo das gerações, que permitem uma conexão única entre passado, presente e futuro. “O clube é crucial para a nossa identidade, pois ajuda a combater o mito do Paraná branco, proveniente da imigração”, explica.
Atualmente, no clube, os bailes acontecem nos fins de semana e nas terças-feiras. As modas antigas e as canções românticas e gauchescas, embalam as tardes e noites de cerca de 500 pessoas da cidade, que vêm de bairros distantes ou de outros municípios para se divertir, rever os amigos e, principalmente, dançar.
Na seleção do repertório, o sertanejo e ritmos gaúchos têm a preferência dos músicos,as canções, novas e antigas, ecoam pelas paredes da casa velha. Desde 2012, Luciano Elias Dura aluga o espaço para tocar os bailes. Porém, conta que há dificuldades em alugar um prédio tombado por conta de processos burocráticos. Luciano relata que tenta realizar a troca de portas e do telhado, ações necessárias para a segurança dos frequentadores, mas a fiscalização exige que as peças sejam idênticas, caso contrário o clube corre o risco de ser multado.
Entre as mesas decoradas com toalhas vermelhas, os casais se movem graciosamente pela pista de dança de madeira. Para muitos, esses eventos representam mais do que simples bailes; são momentos de convívio social, em que a alegria de estar junto é celebrada e compartilhada em meio a risos, conversas e passos de dança.
Elvira Ramos, de 88 anos, voltou a frequentar o clube, após ter ficado longe por um tempo. “Eu vim hoje porque estava com saudade dos músicos e dos conhecidos”. Quando chegou na porta do estabelecimento, foi recebida com muitos abraços de seus colegas de baile. Ela conta que frequenta o local para se divertir e praticar os bailados que aprendeu em um curso de dança, quando era mais jovem. “Eu fui rainha de carnaval por dois anos e foi muito especial para mim, porque tenho muitas amizades aqui no 13 de Maio” , relata a frequentadora.
Samuel Soares, de 58 anos, é outra presença constante nos eventos do 13, comparece todo final de semana e até mesmo às terças-feiras. Para ele, o clube não é apenas um local de entretenimento, é um refúgio vital. Soares compartilha sua história pessoal e revela que o clube desempenha um papel crucial no seu cotidiano. Relembra também momentos difíceis, um casamento mal sucedido e a perda da filha de 17 anos. "Eu venho para me distrair, porque se ficar em casa, eu fico pensando no que perdi e na minha vida. E, aí, para eu não entrar em depressão, venho para o clube”, conta.
Lucas Carneiro Silva trabalha como barman no estabelecimento há três anos. Além das amizades feitas nesse tempo, explica que nunca imaginou trabalhar no ramo, mas encontrou no 13 de Maio uma nova profissão. Lucas explica o movimento da casa: “Tem final de semana que chega a passar de 500 pessoas, quantidade muito boa para a gente”.
Com 144 anos de história, o 13 de Maio nunca caiu no esquecimento da população de Ponta Grossa. A exemplo de outros estabelecimentos, o local também passou por dificuldades durante a pandemia da Covid-19. Segundo os organizadores, agora os negócios voltaram ao normal. Os bailes continuam lotados, tanto nos feriados quanto nos finais de semana.
O clube já foi casa de outros estilos de música. Leonice Ferreira declara que quando frequentava o clube o que mais se tocava era o rock. “Pessoas de cabelos compridos eram comuns no salão. Dançávamos em fileiras de cinco ou seis amigos. Fazíamos os passinhos dos flashbacks, íamos para se divertir e passar a noite. Era como se fosse uma balada dos anos 80”, comenta.
A primeira sede do Clube 13 de Maio, erguida em 1921, era uma construção de madeira. Em 1935, o clube inaugurou sua nova sede, de alvenaria, onde permanece até os dias atuais. O Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Ponta Grossa tombou o prédio em 2001.
Ficha Técnica
Produção: Diogo Laba e Radmila Baranoski
Edição e publicação: Gabriel Ribeiro
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Kevin Kossar Furtado
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- Produção: Iolanda Lima
- Categoria: Expressões culturais
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Ao todo participaram 33 instituições que confeccionaram cerca de 3,5 km de tapetes. O trabalho começou em frente ao Lar São Vicente de Paulo
As paróquias de Ponta Grossa se reuniram para a montagem de cerca de 3,5km de tapetes no feriado de Corpus Christi. Com início da montagem às 8 da manhã, na rua Júlio de Castilhos, em frente ao Lar de idosos São Vicente de Paulo, a montagem se estendeu pela rua Balduíno Taques e Vicente Machado e prosseguiu até a rua Benjamin Constant. Ao todo, foram 33 paróquias que se organizaram com moldes e serragens para a confecção dos desenhos.
Serragem é um dos principais materiais utilizadas na confecção dos tapetes de Corpus Christi.
Josiane Gelinski, frequentadora da Paróquia São Sebastião e uma das coordenadoras do processo, faz parte da montagem há cerca de 20 anos. Ela conta que a organização começa duas semanas antes com os desenhos e confecção dos moldes feitos com caixas de leite colados com cola quente. Já as serragens, utilizadas na elaboração dos tapetes, são coloridas uma semana antes para a cor ficar vívida até o dia da confecção. “A montagem dos tapetes e a procissão é o ápice da vida do cristão católico, é a Eucaristia, é uma honra muito grande”, explica.
Osmário Telchinski contribui na montagem há mais de 10 anos. Ele conta que duas semanas antes é feita uma convocação de pessoal para ajudar na colagem dos moldes e para o trabalho com a serragem no dia de Corpus Christi. “A Eucaristia é o centro da vida cristã. É gratificante montar os tapetes sabendo que por ano passam mais de 20 mil pessoas na procissão", afirma.
Ramon Iansen, coordenador pastoral do Marista, participa há três anos da montagem pelo colégio que faz parte. Ele conta que o processo é um momento de celebração dentro da comunidade, já que os voluntários trocam experiências e vivências durante a manhã de Corpus Christi. “É um momento de comunhão e fraternidade, me sinto parte de algo muito grande”, conta. Ramon ainda explica que os tapetes são montados por alunos e colaboradores, mas também por pessoas que já passaram anteriormente pelo colégio. “É uma ocasião de celebração, onde as pessoas se reúnem desde manhã no propósito de montar um caminho para Jesus passar”.
Ficha Técnica
Produção: Iolanda Lima
Edição e publicação: Gabriel Ribeiro e Carolina Olegário
Supervisão de produção: Muriel Emidio
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza Carolina dos Santos
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- Produção: Eduarda Macedo
- Categoria: Expressões culturais
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Pais desaprovam envolvimento dos filhos com teatro e desestimulam profissionalização
Iniciativas como "Expondo-nós" da acadêmia BA dá oportunidades para os pais conhecerem o trabalho dos filhos no teatro | Foto: Eduarda Macedo
O teatro para muitos é visto como uma arte majestosa, divertida e cheia de emoções. Os atores dão vida a vários personagens em diferentes grupos e escolas de teatro da cidade. Mas uma coisa que fica nos bastidores é a falta de reconhecimento e apoio dos familiares aos jovens talentos que pisam nos palcos em busca de seus sonhos.
Um exemplo disso é um jovem ator que preferiu não se identificar. Ele afirma que já passou por muitas dificuldades quando decidiu entrar para um dos grupos de teatro na cidade. “Meu pai odiou quando eu contei pra ele que estava no teatro, ele falou muitas coisas pesadas e que eu não teria futuro.” O ator relata que quase foi expulso de casa, pois, segundo seu pai , aquilo que ele estava fazendo era algo muito promíscuo e que não era coisa “de homem”. O pai comenta que não gostaria de ver o filho seguindo o caminho do teatro. “Eu acho que meu filho deveria estar mais focado na faculdade, na sala de aula e não pulando por um palco”, comentou. O ator, apesar disso, não pensa em desistir do teatro. “Eu amo o teatro e não vai ser meu pai gostar ou não que vai me tirar dele. Claro que é difícil não ter essa rede, porém sei que tenho amigos que me apoiam mais que minha família.”
Outra jovem atriz, que também preferiu não ser identificada, conta que se apaixonou pelo teatro ao participar do Grupo de Teatro Universitário (GTU) e que isso a inspirou a fazer artes visuais, um choque para a família.“Eu sou bissexual e minha familia culpou o teatro pela minha sexualidade. Porque, segundo eles, artistas ultrapassam os limites e talvez essa coisa de humanas mexam com o meu psicológico” relata a atriz.
Para a diretora da escola de teatro e dança, Bianca Almeida, muitos pais julgam a produção artística como indecente e marginal. “Eles ficam com um certo receio. É aquilo que eles pensam que o filho vai ter que fazer teatro nu. E não é isso, a arte é uma ferramenta de transformação”. Bianca ainda afirma que há diferenças entre os alunos que têm o apoio familiar e os que não têm, no qual, quem tem a rede de apoio é nítida a evolução, pois se sentem seguros.. “Muitos pais já vieram falar, ‘Bianca, eu nunca imaginei que minha filha ia ficar transformada no bom sentido’. Eles apresentam melhoras até na faculdade e dentro de casa”, conta a diretora. E quando não há o incentivo dos familiares muitos alunos chegam tristes à aula. “Às vezes quando é necessário cortar contas o primeiro é o teatro. E não deveria porque o teatro é uma questão de qualidade de vida, ele trabalha a parte de cura”, finaliza Bianca.
Nem todos vivem essa mesma experiência, a atriz Jeny Hornung conta que sempre teve o apoio de seus familiares, mas apenas vê o teatro como um hobby e não como uma possibilidade de profissão. Porém, segundo Jeny, a família problematiza alguns personagens que ela interpreta. “Uma vez eu interpretei uma personagem que só usava ataduras e durex de roupa e uma bêbada. Isso talvez danifique um pouco a visão pessoal da minha família. Porque ninguém entende de verdade o conceito que a vulgaridade também é utilizada na arte e na expressão e acham desnecessário”. Segundo a atriz, seu pai não gosta das peças que ela faz por achar que os personagens possuem uma “energia ruim ". Aqui em Ponta Grossa as pessoas sempre se ligam ao tradicional e não ao arriscado. Não incentivando muito o teatro nas crianças. Isso também cria a imagem na família que teatro é só ler um texto e interpretar um conto de fadas”, finaliza a atriz.
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Produção: Eduarda Macedo
Edição e publicação: Gabriel Ribeiro
Supervisão de produção: Muriel Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza Carolina dos Santos
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- Produção: João Victor Lemos
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O Terreiro de Umbanda Caboclos da Lei realiza feijoada para comemorar a data
No domingo (21), o Terreiro de Umbanda Caboclos da Lei (TUCLEI) realizou a 6° Grande Festa Feijoada de Ogum em comemoração ao dia do Orixá guerreiro. O evento teve início ao meio-dia, quando a feijoada foi servida para o público. Durante a tarde, as apresentações de Curimbas e a Roda de Samba do grupo Okàn Mimo entreteram o público.
Pai Rafael de Ogum canta com a Curimba. | Foto: João Victor Lemos
De acordo com a organização do evento, a festa tem um significado mais que especial. Conforme postagem no perfil do terreiro no instagram “Ogum foi o primeiro que nessa casa entrou, nosso chão é de Ogum e a festa é para ele e para os falangeiros que guardam a raiz firme dessa casa”.“Quando o terreiro foi orientado pelo Exu Pimenta, ele determinou que se tornasse um terreiro que fosse caminho e desenvolvesse a sociedade macumbeira de Ponta Grossa, e isso é característica do Orixá Ogum, o Orixá que desenvolve a humanidade”, explica Rafael Miranda de Almeida, mais conhecido como Pai Rafael de Ogum, fundador do TUCLEI.
Dia de Ogum e de São Jorge
O dia 23 de abril é uma data importante para adeptos de várias religiões. Os católicos comemoram o dia de São Jorge, enquanto os umbandistas, o dia de Ogum. Não é coincidência que as duas entidades sejam celebradas no mesmo dia, isso acontece devido ao sincretismo religioso entre as divindades africanas e santos católicos, já que os umbandistas eram proibidos de cultuar suas divindades.
Pai Rafael de Ogum explica que “o sincretismo colaborou para a aceitação das religiões afro-brasileiras, dando abertura a pessoas de raça branca, mas o preço disso foi a exclusão da raça negra e o embranquecimento é apagamento de fundamentos africanos”. Para ele, Ogum e São Jorge são diferentes, mesmo tendo ocorrido esse fenômeno aqui no Brasil, “O sincretismo religioso é algo que não contribui com uma grande parte da população que se identifica como pardos e negros. Eles perdem sua identidade, pois assim seus Deuses são substituídos por Santos. Isso faz com que não vejam dentro do terreiro coisas que os representem. Portanto crianças negras e adultos negros, por exemplo, não encontram em terreiros sincréticos a representatividade” completa.
Preconceito religioso
De acordo com uma pesquisa do Datafolha realizada no final de 2019, a religião dos brasileiros se configura da seguinte forma: Católica, 50%; Evangélica, 31%; Não tem religião, 10%; Espírita, 3%; Umbanda, candomblé ou outras religiões afro-brasileiras, 2%; Outra, 2%; Ateu, 1%; Judaica, 0,3%.
As religiões afro-brasileiras, por ter número tão pequeno de representantes e suas raízes no continente africano, sofrem ataques e intolerância religiosa com frequência. “Todos os meses, diversos médiuns sofrem racismo religioso ou intolerância religiosa. A forma de ataque mudou, antes era ataque direto, hoje podemos observar ataques indiretos de maneira velada, por exemplo, quando algo acontece de ruim, acontece com um macumbeiro. Quase sempre recebemos opiniões culpando a religião, ‘Só Jesus salva’, ‘Sangue de Jesus tem poder’, ‘Você tem que acreditar em Deus’, essas são frases que muitas vezes são direcionadas a macumbeiros de maneira a ameaçar e oprimir”, afirma Pai Rafael.
Kimilly Lopes, médium do TUCLEI, relata a mudança nos ataques religiosos. “A discriminação ainda acontece, mas de uma forma muito sutil, como piada, brincadeira, vinda dos proprios familiares ou de pessoas conhecidas. Se a gente não tiver um certo filtro, essas discriminações podem até passar despercebidas”, conta Kimilly.
A aceitação do público aos praticantes das religiões de matriz africana tem melhorado na cidade de Ponta Grossa, porém, ainda há um caminho longo a ser percorrido no combateà discriminação. “Eu acredito que tem muita discriminação ainda. Duas semanas atrás, eu fui vítima de racismo e intolerância religiosa, eu como mulher preta umbandista, [para a sociedade] ainda é um absurdo. Sofro por ser preta, por vir de uma ancestralidade preta e por fazer parte de um chão de matriz africana que foi criado por pretos. Então tem muita coisa que precisa melhorar, o ser humano precisa buscar muito conhecimento, mas tem muitas pessoas que não estão abertas a conhecer. Então tudo que é novo assusta, mas é necessário ter mais visibilidade. Precisamos ter mais voz e ter mais direitos de expor e apresentar o que é a nossa religião”, observa Evelin de Sousa Gomes, também médium no terreiro. “São tantos os episódios de racismo e intolerância religiosa no cotidiano do macumbeiro que poderíamos escrever um livro”, conclui Pai Rafael.
Ficha Técnica:
Produção: João Victor Lemos
Edição e Publicação: Loren Leuch
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza Carolina dos Santos