Receita dos clubes menores diminuiu em relação aos períodos sem coronavírus

 

Desde o início do coronavírus, em março do ano passado, os clubes de futebol do Brasil tiveram que reajustar as contas para conseguirem se manter durante a pandemia. No Paraná não foi diferente, com um campeonato estadual deficitário e pobre, as equipes lutam pela sobrevivência e a diferença de arrecadação entre os maiores e os menores times do estado.

A principal fonte de renda dos clubes é a verba que vem dos direitos de transmissão do Campeonato Paranaense, que atualmente pertencem a Rede Massa. A afiliada do SBT pagou para exibir o campeonato cinco milhões de reais. Cada um dos 12 clubes recebeu 400 mil reais – os 200 mil restantes vão para a Federação Paranaense de Futebol, para arcar com despesas como arbitragem.

O dinheiro disponibilizado para a exibição da competição não agrada os principais clubes do campeonato, pois não há lucro. Os times não conseguem arcar com a folha salarial de funcionários apenas com a verba de televisão, já que cada time recebe 133 mil por mês para disputa. Há jogadores do Athletico que recebem mais que esse valor por mês.

A discrepância é maior quando são comparados valores de elenco. O principal clube do estado atualmente é o Athletico, que fornece jogadores para outros grandes do país e tem valor de mercado de 350 milhões de reais, três vezes mais que o segundo elenco mais valioso do estado, o Coritiba, com elenco avaliado 99 milhões de reais.

Outro times correm por fora nessa disputa, como Paraná Clube e Operário têm seus elencos avaliados em 18 milhões de reais. Mais abaixo aparece o Rio Branco com 12,8 milhões; Maringá com 12mi; FC Cascavel, Azuriz, Cianorte e Londrina com 6 milhões cada; Cascavel CR com 2,4 milhões e Toledo com 1,8 milhão.

Salários dos Jogadores

A diferença ocorre também na folha salarial, enquanto o maiores clubes do estado pagam salários de três dígitos aos atletas, outros fazem contratos curtos, de apenas três meses, por não ter calendário anual. Ou seja, jogam apenas o campeonato estadual. O Coritiba tem folha salarial de 3,5 milhões de reais mensais; seguido do rival Athletico que paga 2,5 milhões aos funcionários por mês. A realidade começa a ser diferente ainda na capital, o Paraná Clube tinha folha salarial de 400 mil por mês na Série B em 2020, com o rebaixamento para a C esse valor deve diminuir nesta temporada.

No interior do estado, o Operário começou a Série B 2020 com folha salarial de 200 mil reais e subiu para 700 mil com a chegada de algumas contratações. O Cianorte divulgou a folha salarial anual do clube, que é de 1,7 milhão. Média de 140 mil reais por mês. Recentemente, a equipe do noroeste do estado garantiu vaga na Copa do Brasil e recebeu 550 mil reais. Eliminou o Paraná Clube na primeira fase da competição, onde embolsou mais 675 mil reais. Assim como o FC Cascavel que também está na Copa do Brasil, eliminou o Figueirense, mas não divulgou a folha salarial. Londrina, Toledo, Rio Branco, Cascavel CR e Azuriz também não divulgaram suas folhas salariais.

Os clubes que tem calendário anual são os mais beneficiados, pois tem também as verbas de televisão de outros campeonatos. O Athletico, único representante paranaense na Série A do Campeonato tem três formas de renda só em direitos de transmissão. Pela TV aberta recebe por jogo avulso da Globo cerca de 900 mil reais, já que não tem contrato. Para TV fechada, recebe 5 milhões anuais da Turner que exibe no mínimo 16 jogos do clube no campeonato. Além disso, tem os assinantes da plataforma de streaming Furacão Play, que transmite todos os jogos do time em casa.

Clubes paranaenses  

Os representantes paranaenses da Série B do Campeonato Brasileiro também tem cota fixa de televisão anual, mas abaixo do que recebe o Athletico. Coritiba, Londrina e Operário recebem 6 milhões de reais da Globo para a disputa de todo campeonato e ter todas as partidas exibidas no Pay Per View e TV fechada, sem adicional para TV aberta. Desses, o mais prejudicado é o Coritiba, que recebia 20 milhões de reais da Globo pelos direitos de TV aberta e 5 milhões da Turner pelos direitos na TV fechada, mas acabou rebaixado e receberá quatro vezes menos na segunda divisão.

Situação diferente do Paraná Clube, que recebia o mesmo valor na temporada passada, mas foi rebaixado para a Série C e não receberá nada para a disputa da competição, pois o valor pago pela detentora dos direitos, a DAZN, vai diretamente para a Confederação Brasileira de Futebol. Há outros clubes paranaenses que jogam divisões nacionais, como FC Cascavel, Cianorte e Rio Branco que estão na Série D, mas não recebem nada pela disputa desse campeonato.

Alguns clubes também contam com programas de sócio-torcedor, mas também há diferenças significativas. O Athletico tem 28 mil, o Coritiba conta com 20 mil, Operário tem nove mil – desses apenas 1000 estão adimplentes – O Paraná Clube tem 3500 sócios, já o Londrina conta com dois mil sócio torcedores. Os demais times não tem essa forma de renda, dependendo apenas da bilheteria, mas como o público nos estádios está proibido devido a pandemia da covid-19, é uma maneira a menos de arrecadação.

O diretor de futebol do Cascavel Clube Recreativo, atualmente o último colocado do Campeonato Paranaense com nenhum ponto conquistado, Anthony Péricles de Almeida explica como que a pandemia afetou o time do oeste do estado. ‘‘A gente pegou a pandemia no final do campeonato do ano passado. Para nós em si a pandemia está tendo efeito este ano com o início dos trabalhos. O Paranaense 2021 já teve algumas alterações em termos de logística, tivemos cortar alguns funcionários para poder ter se esse respiro na folha salarial’’, conta. 

Péricles relata que houve diminuição no salário de atletas. ‘‘Em relação a jogadores você pagava um pouco mais de salário e hoje a gente não consegue mais. Tivemos que diminuir o teto salarial do clube; então a pandemia no futebol teve um ponto negativo, veio atrapalhar. Mas nós estamos firmes, pois muita gente depende do Cascavel CR para sobreviver e hoje a gente tenta fazer o melhor independente das condições da pandemia’’.

Cascavel CR

O Cascavel CR tem um calendário de apenas três meses. O dirigente comenta que a dificuldade para conseguir patrocinadores também aumentou durante a pandemia. ‘‘Sempre foi difícil você conseguir uma empresa grande, que apoie o futebol da cidade. A pandemia afetou todo mundo, então ficou inviável para muita gente que ajudava ajudar o clube e não ajuda mais com aquele valor significativo. Hoje para conseguir novos apoiadores ficou mais complicado ainda e não só pelo calendário, que é só estadual, mas também com uma Série D e uma Copa do Brasil não ia fazer tanta diferença’’. 

Segundo Péricles, com todas essas dificuldades e o baixo valor pago pela televisão, a discrepância dos maiores para os menores aumentou. ‘‘Tem clubes que já tem um calendário maior, tem a sua receita de Copa do Brasil, patrocínio de televisão de Série A, Série B, então com certeza a diferença que já era grande sem a pandemia, com pandemia aumentou bastante. Assim como todos os setores da nossa sociedade, os pequenos são os que sofreram mais e dessa forma no futebol também acontece assim’’.

Para o gestor do Toledo Esporte Clube, Anderson Ibrahim Rocha, não só os pequenos foram afetados, mas também os grandes. ‘‘Os clubes grandes também sentiram muito porque a receita deles mudou de forma drástica e os pequenos já estão acostumados a trabalhar com pouco recurso. Ainda mais os clubes do interior que tem o apoio de torcida, que conta com bilheteria e pequenos patrocínios vindos de empresas médias e pequenas que foram afetadas com este ‘abre-fecha’ 

Porém, mesmo com as dificuldades, o clube se adequou aos protocolos impostos pelas autoridades. ‘‘Foi montado um planejamento um pouco mais enxuto, até porque estamos durante a pandemia ainda e não tem uma data para poder acabar, aí tem que se adequar a realidade. Não está sendo fácil esse protocolo exigido pela FPF, pela CBF e o Ministério Público. Para poder garantir a segurança e o bem-estar dos atletas são custos elevados, pois tem a questão da forma de acomodar os atletas em uma moradia para que eles não fiquem aglomerados. Aumenta também a despesa, em alimentação porque não pode ser no refeitório e sim em um restaurante. Tudo muito diferente’’, ressalta.

Com relação aos salários, Rocha afirma que não foram dispensados jogadores e nem houve corte de salários. ‘‘Com relação aos vencimentos a gente está se planejando e sempre cumprindo tudo dentro do prazo. Não é fácil, obviamente, devido a todas as dificuldades conforme falei com relação os salários serem mais baixos, mas as receitas também estão reduzidas, não temos bilheteria onde a torcida nos ajuda, mas esperamos que tudo possa voltar a normalidade em breve’’.

Segundo Rocha, essas dificuldades poderiam ser mais bem sanadas caso o dinheiro pago pela televisão fosse maior. ‘‘Para os pequenos do interior a cota da televisão é uma receita importante, mas não é suficiente para fazer a categoria profissional, investindo na categoria de base que é o mais importante hoje no futebol, que envolve o lado social da cidade, dá oportunidade aos jovens e revelar talvez um talento que possa trazer recursos de verdade para manutenção do projeto’’.

Assim como no vizinho Cascavel CR, também houve dificuldade para atrair patrocínio. ‘‘Foi bem complicado renovar os que estavam. Hoje acontece muita permuta, que é o desconto em troca do serviço da publicidade. Mas valores mesmo são bem difíceis de entrar via patrocínio, pois os patrocinadores querem fechar onde tem um poder de visibilidade maior e a televisão tem transmitido menos jogos e não tem alcance muito grande, então acaba que empresas procuram ajudar mais para apoiar mesmo do que ter retorno’’, explica Rocha.  

Outro clube afetado foi o Rio Branco de Paranaguá, que teve que fazer vaquinha para custear as seis viagens que o clube deverá fazer para a disputa do Campeonato Paranaense. O presidente do clube e ex-jogador Emerson Luiz Almeida de Oliveira, mais conhecido como Erminho, conta como o time do litoral lidou com as dificuldades no período pandêmico. ‘‘O grupo a gente não reduziu, mantivemos trabalhando, mas tínhamos alguns funcionários que a idade deles é uma idade de risco e eles estão liberados para ficar em casa. Outra situação é a dos atletas que não reduzimos o salário. A única situação é que nós estamos pagando no prazo do dia 5 até o dia 10 o salário que está na CLT e do dia 10 até o dia 20 o restante que é o direito de imagem. Mas isso em total acordo com os atletas, porque eles sabem que a realidade que estamos vivendo é complicada, não só no Rio Branco, mas em todas as áreas’’, diz Erminho.

 

Ficha Técnica

Repórter: Eduardo Machado

Publicação: Jessica Allana

Supervisão: Vinicius Biazotti