Candidaturas também crescem de 30% para 36% em 4 anos
O resultado das urnas, no primeiro turno, revelou que a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) terá o dobro de deputadas, se comparada a atual legislatura. As parlamentares passam a assumir 10 das 54 cadeiras no próximo ano, cinco a mais que o número atual. Ao comparar com as eleições de 2018, nota-se que, naquela época, 125 mulheres foram candidatas, representando 30%.
Nas eleições deste ano, as candidatas femininas representaram 36%, com 204 candidaturas aptas a disputar as eleições para os cargos de deputadas estaduais. Em relação aos homens, 361 candidatos estavam aptos a concorrer para os mesmos cargos, o que representa 64% das candidaturas.
Assembleia Legislativa do Paraná. | Foto: Josette Leprevost / Alep
Foram eleitas as candidatas Secretária Márcia (75.659 votos - PSD), Ana Júlia (51.845 votos - PT), Flávia Francischini (41.757 votos - União), Marli Paulino (41.263 votos - Solidariedade), Cloara Pinheiro (35.151 votos - PSD) e reeleitas as candidatas Mabel Canto (70.215 votos - PSDB), Maria Victoria (52.8819 votos - PP), Luciana Rafagnin (46.823 votos - PT), Cantora Mara Lima (46.011 votos - Republicanos) e Cristina Silvestri (45.202 votos - PSDB)
Para a deputada eleita, Ana Júlia, na sociedade há um interesse em eleger mulheres. “Nos últimos anos a gente trabalhou muito com a importância da representatividade das mulheres nos espaços de decisão e de poder. Isso cria uma conjuntura que prioriza a eleição de mulheres”, destacou.
Esse cenário pode corresponder a um maior interesse em políticas públicas voltadas às mulheres que exigem segurança, acesso à educação, saúde e proteção contra o feminicídio e violências. Os direitos conquistados e a serem conquistados fazem parte desse processo que busca a equidade social e política, muitas vezes deixado de lado nos debates realizados por homens.
A historiadora e professora, Michele Rotta, comentou que, ao analisar o número de mulheres na população e os cargos políticos que ocupam, o nível de participação das mulheres na política é baixo. “Isso revela mais desigualdade do que os homens, porque há menos homens na população, mas eles ocupam a maioria dos cargos eleitorais", analisou.
A participação feminina segue também outra frente de luta, que é contra a violência política. A maior atuação das mulheres no poder público resulta em investidas de agressão verbal, moral ou física em razão de seu gênero, com o objetivo de anular sua capacidade de exercer esses papéis. Na tentativa de coibir esse tipo de prática, em 2021 foi sancionada a Lei 14.192, que previne e combate a violência política contra a mulher “nos espaços e atividades relacionados ao exercício de seus direitos políticos e de suas funções públicas, e para assegurar a participação de mulheres em debates eleitorais e dispõe sobre os crimes de divulgação de fato ou vídeo com conteúdo inverídico no período de campanha eleitoral”.
Ana Júlia espera que com maior número de deputadas eleitas, sejam criadas novas políticas públicas e que isso seja sinal para que ações de cunho machista dentro de espaços públicos passem a ser coibidas. “Não acredito que seja apenas pelo número de mulheres que essas atitudes perdem força, mas também pelo debate que se tem feito na sociedade e pela importância de valorizar as mulheres nos espaços públicos”, concluiu.
Primeira mulher eleita a deputada estadual no Paraná
Nos 160 anos de existência do Plenário paranaense, somente 21 mulheres ocuparam as cadeiras do parlamento estadual. A primeira foi Rosy de Macedo Pinheiro Lima, com 33 anos pela União Democrática Nacional (UDN), de 1947 a 1950.
As mulheres só conquistaram o direito ao voto em 1932 por meio do decreto 21.076 que criou a Justiça Eleitoral durante o governo de Getúlio Vargas. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as mulheres são maioria do eleitorado brasileiro, com 82 milhões, já os homens são 72 milhões. Mesmo sendo maioria, as candidaturas masculinas ainda ocupam a maioria dos cargos.
Michele explica que os direitos das mulheres são fruto de lutas históricas. "Uma das coisas que a gente tem que pensar é para quais mandatos as mulheres podem participar. Isso está sempre associado à abertura democrática”. A historiadora ainda ressalta que essa participação traz maiores direitos. “Vejo que a presença desse tipo de envolvimento é sempre a ampliação dos direitos democráticos, seja no sentido institucional, por meio de eleitores, ou por pressão de civis".
Ficha técnica
Reportagem: Leonardo Duarte
Edição e publicação: Cassiana Tozati
Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Ricardo Tesseroli e Marcelo Bronoski