Grupos expostos ao coronavírus não contemplados com o imunizante apontam riscos em suas atividades

 

Os grupos prioritários para receber a vacina são pessoas selecionadas pelo Plano Nacional de Imunização. O plano criado pelo Ministério da Saúde tem como função orientar estados e municípios, sobre quem deve receber doses da vacina contra a Covid-19, tendo em vista as doses recebidas e o número de casos em cada estado. No plano inicial, alguns dos grupos prioritários para receber a vacina eram: pessoas com deficiência institucionalizadas, povos indígenas vivendo em terras indígenas, trabalhadores de saúde, pessoas de 60 anos ou mais ,povos e comunidades tradicionais quilombolas, pessoas com comorbidades, etc.

Algumas profissões não foram contempladas pela vacina, mas na opinião dos profissionais dessas áreas, como estagiárias de enfermagem e cuidadores de idosos, as mesmas deveriam ter sido contempladas pela vacina. Para a estudante do 4° de enfermagem da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Midiã Vanessa, ela e suas colegas que estagiam em unidades básicas de saúde e no Hospital Universitário Materno Infantil (HUMAI), já deveriam ter recebido a vacina. “Diversas vezes chegaram crianças com sintomas gripais e até mesmo pacientes que deveriam estar cumprindo o período de isolamento, mas estavam nas unidades que não eram referências para atendimento covid-19”, relata a estudante.
Para a também estudante do 4º ano de enfermagem da UEPG, Escarlet Silva, que também estagia em maternidades, faltou cobrança por parte dos responsáveis de seus interesses. “Nós como turma do 4° ano de enfermagem tentamos entrar em contato com o nosso departamento, com a reitoria da Universidade e também com membros da secretaria municipal de saúde de Ponta Grossa, mas não obtivemos um feedback positivo de nenhuma das posições", disse Silva. A estudante também estagia e comenta sobre o perigo de se estagiar sem ser vacinada. “Como temos estágio principalmente na área de saúde da criança, temos contato direto com crianças que muitas vezes apresentam sintomas gripais que podem muito bem serem de covid, sem nem utilizarem máscaras por conta da pouca idade”, alerta a estagiária.
A professora e coordenadora do curso de enfermagem da UEPG, Ana Paula, conta que fez a solicitação da vacina para os estudantes de enfermagem no início do ano, mas que está em espera. “Com o início dos estágios, pedi para a reitoria fazer novamente a solicitação para a fundação municipal de saúde e para a terceira regional de saúde, para que os alunos e professores fossem vacinados. “A fundação nos coloca que a terceira regional de saúde não quer liberar as doses. Não sabemos exatamente onde está o problema”, explica a professora. Paula comenta sobre o sentimento do setor de enfermagem ainda não ter recebido a vacina contra a covid-19. “Nós temos estágios mais complexos que os demais. Alguns envolvem pacientes críticos que vão para UTI, Pronto Socorro, Pronto Atendimento, sendo assim os estágios são perigosos dentro do contexto de pandemia. Para nós, todo paciente pode ter covid-19, então temos que tomar todos os cuidados para não se contaminar”, desabafa Paula. Para a professora, se pudermos pensar em culpa do setor de enfermagem não ter sido vacinado ainda, ela seria do Plano Nacional de Imunização, pois na sua opinião, a forma que montaram as classificações e as fases para que a população receba a vacina, foi cruel com os professores universitários que trabalham no setor de ciências biológicas de todas as áreas.
No dia 30 de março, o governador do estado do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), em entrevista à rádio Jovem Pan, informou que existe um plano para realizar a vacinação de todos os profissionais da educação, não apenas do setor de saúde. A vacinação dessas pessoas teria início após as pessoas com menos de 60 anos com comorbidades serem vacinadas. O principal motivo para vacinar os profissionais de ensino, seria a pressa para um retorno das atividades presenciais dentro das escolas, tanto particulares quanto públicas. O governador também disse que a vacinação de policiais também está nos planos, juntamente com a dos professores.

 

 Cuidadores de idosos apontam os riscos de não serem vacinados com seus idosos

Os cuidadores de idosos domiciliares são mais uma das profissões que ficou fora da lista de prioridades para receber a vacina. Simone Cristina Pontes, cuidadora há 18 anos, conta qual o sentimento de cuidar de um idoso. A cuidadora ainda fala sobre os riscos dos cuidadores não serem vacinados. “O risco maior é ser um portador de doenças que pela imunidade já muitas vezes debilitada algo que seria algo simples pode se tornar gigante neles, não apenas sobre a covid-19, mas também de outros vírus”, explica Pontes. Sobre a profissão de cuidador de idoso, Simone desabafa sobre a forma que são vistos pelos demais. “Apesar de já estar atuando há muito tempo, não há leis ou deveres e quesitos a serem exigidos ou direitos reais para sua segurança trabalhista e ainda muitos pensam que o cuidador também é secretário do lar,cozinheiro. Ainda não está bem entendida para alguns as divisões no trabalho em domicílio”, desabafa a cuidadora.
A cuidadora Jessica Luana Gonçalves comenta que já presenciou idosos tendo complicações com coisas simples, como a gripe. “além de um cuidador poder correr o risco de pegar covid e contaminar um idoso, para o idoso é quase fatal por conta de sua imunidade baixa,” alerta Gonçalves.
Os cuidadores de idosos não possuem uma organização que reivindique os direitos trabalhistas dos profissionais, não apenas na questão de solicitar a vacina, mas também como definição de um teto salarial, etc. Apesar disso, elas dizem que seria uma ótima oportunidade de melhorar suas condições de trabalho, caso fosse criado um sindicato que brigue por seus interesses.

O infectologista Carlos Eduardo Coradassi não concorda com os critérios do Plano Nacional de Imunização, para selecionar os primeiros a tomar as doses da vacina contra a Covid-19, e destaca a importância dos cuidadores também serem vacinados. “Na minha opinião, é muito raso você colocar os parâmetros da vacina por faixa etária. Os pacientes de 90 claramente são importantes, mas os cuidadores também são”, disse o infectologista. Coradassi comenta também que a métrica por faixa etária não leva em conta outras vulnerabilidades de certas patologias ou de comorbidades, por exemplo a obesidade. “Pacientes em quimioterapia, com doenças autoimunes são ignoradas pela métrica da faixa etária”, disse o infectologista.
Segundo a Fundação Municipal de Saúde de Ponta Grossa, até o dia 21 de abril foram aplicadas 62.101 doses de vacinas contra a Covid-19 na cidade. No Paraná, até o dia 21 de abril, veículos de imprensa divulgaram informações da Secretaria Estadual de Saúde, que no estado foram aplicadas 1.987.181 doses, sendo 1.458.539 doses da primeira dose (12,66% da população) e 528.642 da segunda (4,59% da população).
No Brasil, até o dia 20/04, segundo dados disponibilizados por veículos de imprensa sobre as Secretarias de Saúde estaduais, na primeira dose foram vacinados 27.173.331 (12,83% da população) brasileiros, já na segunda dose temos 10.718.372 (5,06% da população). Todas as doses devem seguir as orientações do Plano Nacional de Imunização. As vacinas são distribuídas pelo ministério da saúde, para os estados realizarem a vacinação da população. Os estados brasileiros que mais vacinaram a população até o dia 21/04 são: São Paulo, (SP): 1ª dose - 6.340.665 (13,70%); 2ª dose - 3.366.839 (7,27%), Minas Gerais (MG) : 1ª dose - 2.726.116 (12,80%); 2ª doses - 1.047.775 (4,92%), e Bahia (BA): 1ª dose - 2.112.152 (14,15%); 2ª dose - 686.842 (4,60%).

AC 1ª dose 85.897 960 2ª dose 22.324 250 AL 1ª dose 416.096 1242 2ª dose 146.186 436 AM 1ª dose 544.300 1294 2ª dose 203.297 483 AP 1ª dose 78

Ficha Técnica:

Reportagem: Teodoro Anjos

Infográfico: Teodoro Anjos

Publicação: Daniela Valenga

Supervisão: Vinicius Biazotti

 

 

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