A necessidade por remédios leva as famílias a comprá-los na rede privada

 

Moradores de Ponta Grossa e usuários do Sistema Público de Saúde (SUS) do município se queixam da falta de medicamentos disponíveis nas farmácias das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) Santana e Santa Paula. Os que mais faltam são analgésicos, antibióticos e anti-inflamatórios.

Na última vez em que foi até a farmácia da UPA Santana, Eduardo Martins conseguiu somente soro fisiológico. Ele relata que a indisponibilidade de medicamentos acontece com frequência e que na maioria das vezes que procura a farmácia da UPA, volta para casa sem os remédios que precisava. Sua enteada recentemente esteve sob suspeita de dengue e precisou do relaxante muscular (cloridrato de ciclobenzaprina), entretanto, a família precisou comprar o medicamento. “É difícil, às vezes a gente vem e precisa tirar [dinheiro] do bolso para conseguir os remédios”, relata Martins.

Jocineia de Araújo, que atua como profissional de apoio escolar, é mãe de duas crianças  e vivencia uma situação similar. Ela também conta que voltou para casa sem os medicamentos receitados nas últimas duas vezes em que procurou a UPA. “Não tinha nem paracetamol, que é o básico”,afirma. Jocineia também precisou recorrer a compra de medicamentos para os problemas de saúde das filhas. “Se você tem que comprar um remédio não fica caro, mas se você tem que comprar dois ou três, 100 reais na farmácia é o mínimo que você gasta”.

 

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A falta de medicamentos no sistema público de saúde leva pacientes a comprar na rede particular | Arte: Maria Vitória Carollo

 

Em momentos de epidemias e aumentos significativos de casos de uma determinada doença, a medicação usada para tratá-la tende a entrar em falta no sistema público e, por vezes, até mesmo no privado. É o que explica a farmacêutica Tais, que pediu para não ser identificada na matéria. Segundo ela, a falta de medicamentos geralmente varia de acordo com o momento. A profissional usa como exemplo o atual quadro de dengue no município, no qual tem sido recorrente a falta de soro e plasil, usado para tratamento dos sintomas da doença. “Fora desses momentos específicos, o que mais falta são antibióticos e analgésicos, como a dipirona e bromoprida.”

Thiago Costa, atendente de uma farmácia comercial nas proximidades da UPA Santana, afirma que várias pessoas vão até o estabelecimento para comprar os itens não disponíveis na farmácia popular. “Várias vezes as pessoas chegam aqui e falam que não tinha na UPA, e que precisam comprar ou ir até outra farmácia popular para buscar”. Acrescenta que é muito frequente que as pessoas consigam alguns, mas não todos os remédios necessários na unidade de pronto atendimento.

Em nota, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) afirma que os responsáveis técnicos (RTS) dos postos são encarregados de repassar a quantidade de medicamentos disponíveis. As Unidades, de acordo com o informativo, são abastecidas semanalmente considerando o levantamento feito pelos RTS. A FMS ainda diz que a disponibilidade dos remédios pode ser afetada pela disponibilidade de mercado dos mesmos. De acordo com a nota, em 2023, para a UPA Sant’Ana foram enviados 1.680.360 remédios e para a UPA Santa Paula 380.690. 

 

Ficha técnica:

Produção: Maria Vitória Carollo

Edição e publicação: Carolina Olegário

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza Carolina dos Santos

 

 

O município, no período de uma semana, passou de 213 confirmações para 344 casos em todo o período epidemiológico

 

Com base no último informe epidemiológico, elaborado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), e publicado na terça-feira (26), Ponta Grossa registra 2.246 casos notificados, ou seja, aqueles que ainda são suspeitos de dengue. Dentre os quais 344 foram confirmados. Destes, 222 são autóctones (contaminados na cidade onde moram) e 58 importados (contaminados fora da cidade onde moram). Comparado à semana anterior, o número de confirmados teve aumento de 61,2% o município passou de 213 para 344 casos confirmados. Até o momento, no boletim, não constam casos de óbitos causados pelo vírus. 

Em 2024, de acordo com o boletim divulgado na última semana pela Sesa, o estado do Paraná registra 135.961 mil casos confirmados da doença e 77 óbitos. Com a alta nos casos, na quinta-feira (14), o governo do estado decretou situação de emergência em saúde pública.  O decreto 5.183/2024 terá vigilância por 90 dias e pretende reforçar ações adotadas para o controle e combate à doença. 

 

Sintomas 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dengue é uma doença que pode ter consequências graves, e levar à morte, variando desde de casos assintomáticos a quadros graves. Por isso é necessário se atentar aos principais sintomas (podem se manifestar apenas alguns): febre (39°C a 40°C); dor de cabeça; dores no corpo; dores nas articulações; dor atrás dos olhos; prostração; fraqueza; hemorragias; náuseas e vômitos.

Vale ressaltar que após o período de febre e melhora dos sintomas, é preciso ficar atento, pois alguns sinais podem marcar o início do agravamento da doença, que pode progredir para o extravasamento de plasma dos vasos sanguíneos e/ou hemorragias ou o comprometimento de órgãos. 

Daniela Yasmin Silva Rosa, de 17 anos, teve um quadro grave de dengue. Ela ficou internada por três dias e precisou receber hidratação na veia para amenizar os sintomas. “Eu tive febre muito alta, mas foi a partir das manchas vermelhas que vi que realmente podia ser dengue e fui atrás de atendimento médico”, conta. Ela foi ao posto de saúde, fez o teste rápido e do laço, porém os dois deram negativo. “Comecei a tomar dipirona porque era o único remédio que amenizava a dor. Foi uma dor insuportável. Eu sentia fome e nem conseguia comer. A dengue consegue atingir até o emocional. Acho que só temos noção da gravidade quando acontece com a gente”, completa.

A agente de Combate às Endemias, Meirielen Miranda da Silva, alerta sobre o risco da automedicação, principalmente com remédios que contenham acetilsalicílico e antiinflamatórios. “Ao invés de ajudar, esses dois grupos de medicação podem aumentar o risco de ter uma hemorragia, agravando o quadro do paciente.” A agente ainda afirma que o sangramento é um dos primeiros sintomas dos casos graves. “É necessário que o paciente, ao sentir quaisquer sintomas, se encaminhe para a unidade de saúde mais próxima. E o médico precisa notificar todo caso suspeito da doença, e a partir disso dar o tratamento adequado”, conclui.

 

Ações da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa 

Segundo divulgado pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, nas últimas semanas estão ocorrendo atividades de combate contra a proliferação do Aedes aegypti,  mosquito transmissor da dengue. 

Ações como a “Semana Contra a Dengue” e “Dia D”, tem o intuito de deter o crescimento dos números de casos da cidade. Com mutirões de limpeza, visitas nas residências e blitz educativa, para orientar e conscientizar a população, visando a  eliminação de criadouros do mosquito. Foram também intensificadas as ações de atendimento às reclamações e denúncias relacionadas à dengue.

 

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Infográfico por Karen Stinsky

 

 

Ficha Técnica:
Produção: Karen Stinsky
Edição e publicação: Victor Schinato e Gabriel Aparecido
Supervisão de produção: Muriel Emidio do Amaral
Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos e Candida de Oliveira

A instituição fez parcerias com municípios da região de PG e também com universitários

 

Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar) de Ponta Grossa leva enfermeiros e técnicos para realizar triagem e recrutar voluntários nas cidades dos Campos Gerais, para a captação de sangue neste ano. A instituição apresenta baixa de sangue do tipo O- e a medida busca suprir o estoque das doações. Hoje, o banco contém 20 bolsas, o que representa a capacidade do município de realizar cerca de seis procedimentos médicos, uma vez que em cada um deles, um adulto necessita de aproximadamente três bolsas de sangue. 

Valderes Cardozo, técnica de enfermagem responsável pela coleta, conta que a iniciativa foi criada porque moradores da região têm interesse em doar sangue, mas suas cidades não possuem a estrutura necessária, como refrigeradores para guardar o sangue coletado, por exemplo. Contudo, como a técnica explica, o ideal é que o ritmo de doação seja mais constante e equilibrado. “O sangue e as plaquetas têm prazo de validade, então a gente precisa de doadores constantes”, afirma.

O projeto durará o ano todo e tem o apoio das prefeituras dos municípios envolvidos para a estrutura de coleta e captação de voluntários. Ponta Grossa se torna o centro regional dessas coletas por ter os equipamentos e equipe necessária e ser vizinha das cidades que participam do programa iniciado pela Hemepar. O primeiro município a participar foi Sengés, em março deste ano, onde foram coletadas 119 bolsas de sangue. A expectativa é realizar ao menos uma coleta por mês nos municípios da região. 

No Paraná, há 23 hemonúcleos da Hemepar, com um coordenador em Curitiba e quatro regionais, localizadas nas cidades de Guarapuava, Cascavel, Maringá e Londrina. Nove núcleos estão distribuídos em Ponta Grossa, Pato Branco, Francisco Beltrão, Foz do Iguaçu, Campo Mourão, Umuarama, Paranavaí, Apucarana e Biobanco (Curitiba). Há ainda oito unidades de coleta e transfusão de sangue nos municípios de Paranaguá, Irati, União da Vitória, Cianorte, Cornélio Procópio, Jacarezinho, Toledo e Telêmaco Borba, além de uma agência transfusional na cidade de Ivaiporã.

 

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Estoque de bolsas de sangue O- | Foto: Iolanda Lima

 

Outros Projetos em PG

Além da campanha nos municípios, a Hemepar tem parceria com a Liga Acadêmica de Oncologia e Hematologia (LAOH), ligada ao curso de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), para aumentar seu estoque de bolsas. Isso se dá por meio do Trote Solidário, que foi uma forma de estimular os calouros a se sensibilizarem com a causa e a serem doadores. Na edição de 2023, 17 calouros e 16 acompanhantes participaram, totalizando 14,9 litros de sangue doados. 

O estudante de medicina da UEPG e presidente da Liga, Vitor Hugo Pironatto, tem boas expectativas para o projeto. “Pensamos em tornar isso uma tradição do curso de medicina, e quem sabe expandir para outros cursos no futuro”, almeja. O trote também foi bem avaliado pelos calouros. “O ganho de pontos a mais dentro da atividade, fez com que a gente insistisse com que outras pessoas doassem também, e muitas dessas pessoas nunca tinham doado”, declara Nicollas Mikael da Silva, calouro de medicina na UEPG.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Iolanda Lima

Edição: Heloisa Riba Bida e Maria Eduarda Leme

Publicação: Heloisa Ribas Bida

Supervisão de produção: Muriel Amaral, Marizandra Rutilli e Fernanda Cavassana

Supervisão de publicação:  Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos

Entre os motivos está a pele clara e o trabalho no campo sem proteção adequada

Em 2022, o câncer de pele atingiu mais de 3,8 mil brasileiros e 41% deles são da região sul. O Painel Oncologia Brasil, do Ministério da Saúde, divulgou o levantamento da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e identifica o sul do Brasil com o maior número de diagnósticos de câncer de pele (melanoma maligno da pele), contabilizando 1594 casos. O Paraná apresenta 631 casos, 39% das incidências. 

A cabeleireira Arilene Pupo, 65 anos, sofreu com as complicações do câncer de pele. Ela foi à dermatologista para fazer um tratamento de pele e no retorno da consulta, após seis meses, a médica notou uma mancha no nariz e a encaminhou ao oncologista. “O médico deu o diagnóstico de câncer de pele e disse que precisava retirar. Foram em três lugares, mas não doía, nem incomodava, não tinha sintoma”, conta Arilene. Um dos maiores riscos do câncer de pele é que ele não provocar dor e os sintomas passam despercebidos.

Antes disso, ela já havia feito uma cirurgia no ombro devido a uma mancha cancerígena. “Foi bem agressivo e rápido. Hoje está tudo bem porque foi tratado a tempo, se demorasse mais teria ficado com sequelas”. Arilene ainda faz  acompanhamento médico e, desde então, passou a se prevenir. 

Há dois tipos de câncer de pele: o melanoma, que pode se espalhar pelo corpo e levar à morte, e o não-melanoma, que engloba os carcinomas, tipo de câncer mais comum e menos agressivo. “O melanoma se manifesta como casquinhas ou alteração na textura da pele. Os tipos de câncer carcinoma dificilmente levam à morte ou à metástase, mas o tratamento é cirúrgico, então quanto mais ele cresce, mais a cirurgia deixa sequelas e cicatrizes”, explica a dermatologista Cristiane Hass.

Considerando os tipos de câncer de pele, os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná ocupam a segunda posição da pesquisa da SBD. Segundo a dermatologista, a pele clara dos moradores da região é um fator de risco. Além disso, a economia é baseada na agricultura, atividade com alta exposição solar. 

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Trabalhadores da agricultura estão expostos a maior incidência solar | Foto: Mirna Bazzi/ Arquivo Periódico

Entre as formas de prevenir a doença estão a fotoproteção, com uso diário de protetor solar e medidas preventivas de exposição nos momentos de lazer, como o uso de roupas com proteção solar, além de evitar o sol entre às 10 e 16h. O diagnóstico precoce é uma importante forma de prevenção. Segundo Cristiane, a SBD recomenda que uma vez ao ano seja realizada consulta dermatológica, mesmo que não tenha doença de pele.

Anualmente, o Instituto Nacional de Câncer divulga uma estimativa de novos casos da doença. Os números são obtidos a partir da relação entre incidência e mortalidade, por meio do monitoramento dos registros novos da doença e do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Na região sul, para 2023, estimam-se 2400 diagnósticos de melanoma maligno da pele, sendo o 13º tipo mais comum na população.

No município de Ponta Grossa, em 2021, foram reconhecidos 15 casos da doença. Em 2022, esse número caiu para seis. 

Em caso de suspeita procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima. O Sistema Único de Saúde tem até 60 dias para iniciar a terapia em um centro de tratamento oncológico. 

 

Ficha Técnica

Reportagem: Isadora Ricardo

Edição e publicação: Catharina Iavorski

Supervisão de produção: Muriel E.P. Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Marcelo Bronosky

Pacientes unem auriculoterapia e acupuntura aos métodos tradicionais para tratar a doença


Pessoas que estão em tratamento contra o câncer fazem uso da auriculoterapia, acupuntura e homeopatia como terapias alternativas auxiliares no combate à doença. Os métodos não estão ligados à cura do câncer, mas focados na possibilidade de diminuir os efeitos colaterais do tratamento e bem-estar do paciente. A oncologista, Tania Hissa Anegawa, afirma que as terapias alternativas com comprovação científica podem ser eficazes nos pacientes. “Não é possível abandonar as terapias tradicionais de tratamento para o câncer, é necessário compreender que as terapias tradicionais e alternativas podem andar juntas no tratamento do paciente”, explica a médica.

Tania ainda esclarece que durante esses procedimentos é necessário um acompanhamento médico e o diálogo entre paciente e profissional para a escolha das melhores terapias. “Existem casos, por exemplo, em que a acupuntura pode agravar as possibilidades de infecção no paciente. Os profissionais precisam estar habilitados para saber qual a melhor forma de fazer esse tratamento alternativo”, explica.


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Créditos: Ana Luiza Bertelli Dimbarre


Graziele Oliveira descobriu, no início deste ano, que estava com câncer de mama em estágio avançado. Desde então, buscou outros mecanismos para que a sua qualidade de vida não fosse tão afetada, uma vez que, durante as sessões de quimioterapia, seu fígado foi sobrecarregado. “O tratamento alternativo, que no meu caso foi a acupuntura e auriculoterapia, ajudou a minha imunidade e, principalmente, nos efeitos colaterais que eu sentia pós-quimioteria”, afirma. 

Uma das profissionais que faz tratamentos alternativos em Ponta Grossa é a massoterapeuta, especializada em oncologia, Márcia Regina Aplevicz. Ela explica que esses procedimentos buscam conciliar técnicas alternativas e tradicionais, sendo comum pessoas que ficam indispostas pelos efeitos colaterais da quimioterapia procurarem por tais métodos. “A acupuntura, a auriculoterapia ou qualquer outra terapia alternativa é algo ligado ao bem-estar e ao psicológico do paciente. É muito melhor o paciente ir para a quimioterapia, com a ansiedade controlada, pois seu organismo vai reagir de forma mais positiva”, exemplifica. 


Ficha técnica

Reportagem: Catharina Iavorski 

Edição e publicação: Ana Luiza Bertelli Dimbarre

Supervisão de produção: Muriel E. P. do Amaral 

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Marcelo Bronosky 

Ondas de calor, mal-estar e insônia são alguns dos sinais do climatério que podem ser tratados com reposição hormonal

O corpo humano é formado por ciclos, envelhecer é resultado das fases de uma vida inteira. Um dos indícios desta passagem do tempo se manifesta pelos  declínios hormonais. No caso das mulheres, a questão é traduzida pela menopausa. A interrupção natural da menstruação ocorre entre os 45 e 50 anos de vida, o que marca o fim da fase reprodutiva dos ovários. O período é acompanhado de vários sintomas, que se não tratados podem gerar problemas mais graves como a incidência de osteoporose, pólipos uterinos e cistos nas mamas, além de interferir no lado emocional com o surgimento de ansiedade e depressão. De acordo com estudo realizado pela Sociedade Norte-Americana da Menopausa, a depressão afeta até 70% das mulheres no climatério. 

Segundo a enfermeira especialista em ginecologia Sthefany Vaz, o climatério, período de transição para a menopausa, pode gerar uma série de sintomas como ondas de calor, insônia, suores noturnos, alterações de humor e secura vaginal. “Os sintomas podem diminuir com a prática de atividades físicas, alimentação equilibrada e reposição hormonal”, afirma.  Mesmo com esses sintomas, há quem prefira não fazer acompanhamento.

Eliane Veiga, hoje com 58 anos, conviveu com os sintomas da menopausa durante dez anos antes de buscar tratamento médico. “Os sintomas da menopausa dificultaram muito a minha vida, por conta das ondas de calor eu não conseguia dormir. Meu emocional ficou muito abalado, senti uma tristeza profunda e não tinha vontade de fazer nada”, relata. Para ela, os sintomas desapareceriam com o tempo e, por isso, não via  necessidade de buscar ajuda médica. A procura pela ajuda ocorreu apenas esse ano  por não suportar os sintomas. “No meu caso era falta de conhecimento sobre as alternativas para aliviar os sintomas, achei que estaria fazendo mal ao meu corpo”, aponta. 

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Envelhecimento nas mulheres é marcado pela menopausa | Foto: Catharina Iavorski

O medo de prejudicar o organismo também é um fator relatado por Maria Benedita de Campos não procurar acompanhamento médico. “Não vejo necessidade de consultar um médico, apesar dos sintomas como as ondas de calor existirem, aprendi a conviver com eles, acho que essas medicações são muito invasivas para o organismo da gente”, analisa. 

De acordo com a enfermeira ginecológica Sthefany Vaz, o tratamento para a menopausa não é algo obrigatório e depende da intensidade de cada sintoma. “Nem todas as mulheres precisam de tratamento médico, algumas passam por esse momento não sentindo alguns desses sintomas. Porém, outras necessitam de tratamento especializado pela intensidade do quadro apresentado”, esclarece.

É indicado fazer terapia de reposição hormonal para casos mais agudos, o que ajuda a regular o equilíbrio de hormônios e tratamento de reposição de massa óssea, caso necessário. O tratamento para menopausa não é o mesmo para todas as mulheres, porém a realização de exames deve ser feita anualmente. Segundo a enfermeira, os exames necessários incluem ecografia pélvica para analisar se há alterações do colo do útero, mamografia, densitometria óssea  para verificar o aparecimento de osteoporose, e a presença dos hormônios prolactina e estradiol que, quando baixos, sinalizam a ocorrência de menopausa.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Valéria Laroca

Edição e publicação: Maria Eduarda Ribeiro

Supervisão de produção: Muriel E. P. do Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Marcelo Bronosky

Os pacientes da vila Santa Terezinha se deslocam à unidade de saúde do Santa Paula para realizar consultas médicas

A Unidade Básica de Saúde (UBS) Clyceu Carlos de Macedo, da vila Santa Terezinha, está fechada para reformas. Desde a última semana de outubro, os moradores precisam andar quase três quilômetros para serem atendidos na UBS Egon Roskamp, do bairro Santa Paula. Segundo informações da Prefeitura de Ponta Grossa, as obras da UBS estão previstas para finalizar no dia 7 de novembro. Entretanto, a distância entre uma unidade à outra faz com que os pacientes optem por esperar pelo retorno dos atendimentos na Clyceu Carlos de Macedo. 

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UBS da Santa Terezinha está fechado para reformas. Foto: Leriany Barbosa

Egnon Schubert, 37 anos, é um dos pacientes que vai esperar o fim da reforma para ser atendido. Ele mora com a mãe, Marinez Schubert, 63 anos, e ambos são pacientes da UBS de Santa Terezinha. “Como costumamos andar a pé, o trajeto se torna complicado, e o deslocamento entre a nossa casa e a UBS do Santa Paula é muito longe”, afirma. Porém, para a mãe de Egnon, a espera não é uma opção. “Com a minha idade, eu preciso ir o quanto antes no postinho para renovar receitas médicas”, revela.

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Distância entre UBSs da Santa Terezinha e Santa Paula. Créditos: Google Maps

Para Schubert, a mudança de UBS poderia ser melhor. De acordo com ele, o local para realizar os exames e consultas deveria ser na UBS Alfredo Levandovski, localizada na vila Gralha Azul, também no bairro Contorno. Mesmo a distância sendo praticamente a mesma, o trajeto seria mais fácil, pois a unidade do Gralha Azul não tem grande contingente de pessoas para serem atendidas. "O postinho do Santa Paula atende muitas pessoas de outras vilas, assim como o da Santa Terezinha, já o Gralha Azul é mais restrito à população da própria região”, conclui Schubert. 

Leonilda Galvão, de 70 anos, também não aprovou a mudança pela falta de informações e esclarecimentos. “No geral, o atendimento continua o mesmo, assim como a demora para ser atendida. O interessante é que o postinho da Santa Paula também está com reformas a serem concluídas”, destaca a idosa. Ela menciona que surgiram diversas confusões com as datas. “As enfermeiras do postinho da Santa Terezinha falaram que eu precisava retornar sexta-feira (28) para pegar algumas receitas, mas naquele dia todos os postos de saúde da cidade estavam fechados”, expõe Leonilda lembrando que era dia do Servidor Público, logo a UBS não abriu. 

O que a Prefeitura diz?

O Município foi questionado pela reportagem sobre a escolha que resultou na mudança de atendimentos médicos na unidade de saúde do Santa Paula, porém, não obteve retorno. Além dos questionamentos sobre a metodologia de escolha, a reportagem também buscou saber o que seria de fato a reforma de modernização, o orçamento das obras e por qual motivo a UBS do Gralha Azul não foi escolhida para atender a população da Santa Terezinha, visto que a UBS escolhida também passa por reformas. Por fim, tentou-se entender como a Prefeitura iria operar caso as reformas passassem do prazo estimado. Mesmo com as mensagens encaminhadas em 26 de outubro pela reportagem, o Município não deu retorno. 

 

Ficha técnica

Reportagem: Leriany Barbosa

Edição e publicação: Isadora Ricardo

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Ricardo Tesseroli e Marcelo Bronoski

Quedas bruscas de temperatura são alertas para desenvolvimento de doenças alérgicas

O clima em Ponta Grossa tem se comportado de maneira instável nas últimas semanas. Apesar da predominância dos dias frios e chuvosos, dias quentes e ensolarados também dão as caras.  Um exemplo ocorreu entre esta segunda (17) e terça-feira (18), pois após um dia abafado e ensolarado, a terça amanheceu com chuva intensa, vento e frio. Essa mudança brusca impacta a vida de quem sofre com rinite e sinusite, pois a oscilação agrava as crises e as tornam mais frequentes.  

 

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Mudança brusca no tempo impacta a vida de quem sofre com rinite e sinusite. | Foto: Leriany Barbosa. 

 

De acordo com a otorrinolaringologista Elaine Prandel a rinite é uma doença irritativa das vias aéreas, uma inflamação, que pode ser alérgica ou não. Ela também diz que um tipo de rinite muito comum é a rinite derivada da mudança de temperatura, chamada de vasomotora. O clima frio de Ponta Grossa favorece o surgimento desse tipo de rinite. Já sobre a sinusite, a médica explica: “A sinusite ocorre quando há um microrganismo envolvido, seja viral ou bacteriano, então nesse caso já é uma infecção causada por um agente patógeno”.

A situação pode se agravar quando a rinite se desenvolve e causa sinusite. Como explica Elaine, a rinite provoca o inchaço e acúmulo de secreção nas vias aéreas e esse quadro evolui para a sinusite, o que pode causar infecções. Para quem sofre desses males, Elaine recomenda evitar agentes que causam alergias como pelúcias e o contato com animais como cães e gatos. Além disso, deixar o ambiente mais arejado, ainda mais na primavera, por conta da ocorrência de maior presença de pólen no ar. Caso o quadro se agrave, é importante recorrer ao tratamento médico, o que não descarta procedimento cirúrgico para desvio de septo

Quem passa por essa situação sabe o quanto é ruim lidar com os sintomas desagradáveis dessas doenças. Desde criança, Renan Luiz Taques, de 22 anos, sofre diariamente com a rinite. “Todo dia minha rinite ataca por conta dos cachorros e das flores que tem no quintal aqui de casa”, afirma Renan.  Ele conta que já procurou ajuda médica e foi diagnosticado com rinite crônica. “O médico passou alguns remédios e uma injeção que devo tomar uma vez por ano para tratar a rinite”, afirma.

 

Ficha técnica: 

Reportagem: Levi de Brito 

Edição e publicação: Cassiana Tozati 

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral 

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Ricardo Tesseroli e Marcelo Bronoski 

As etapas envolvem o tratamento do sangue até que ele seja destinado a outra pessoa 

Doação de sangue é um ato importante que pode ajudar a salvar vidas. O que nem todo mundo sabe é que o sangue coletado passa por várias etapas de preparação até ser destinado a uma pessoa. Desde o momento da triagem clínica do doador, até a forma de armazenamento do sangue coletado, são fases que interferem no processo final de doação.

Imediatamente após a coleta, o sangue é armazenado em caixas com placas refrigeradas a 16º C, por duas horas, a fim de estabilizar a temperatura. Nesse momento ele é chamado de “sangue total”. Segundo a farmacêutica bioquímica do Hemepar de Ponta Grossa, Vivian Aparecida Maciel Mendes, o objetivo é separar os quatro hemocomponentes do sangue: concentrado de hemácias, plasma, concentrado de crioprecipitado e concentrado de plaquetas. Para isso, as bolsas de sangue passam por um processo físico de centrifugação em duas etapas. A primeira etapa separa as hemácias do plasma e a segunda separa o plasma das plaquetas. 

Cada hemocomponente do sangue são igualmente essenciais, no entanto, cada um possui uma finalidade diferente. As hemácias, por exemplo, ajudam no tratamento de vários tipos de anemia e doenças hereditárias. Já o plasma e o crioprecipitado são destinados a pessoas com problemas de coagulação. As plaquetas auxiliam no tratamento hemorrágico.

Antes que o sangue seja liberado para doação (transfusão) , é necessário fazer exames da amostra. O intuito é verificar se o doador possui alguma doença possível de ser transmitida. Sendo elas: sífilis, HIV, hepatite B, hepatite C, doença de chagas e vírus HTLV (vírus linfotrópico de células T humanas) 1 e 2.

De acordo com Vivian, se os exames detectarem algum problema “o doador é convocado para coletar uma segunda amostra para confirmação e ele é direcionado para dar início ao tratamento”, afirma. A primeira amostra coletada, por sua vez, é descartada.

Todo o processo de coleta, centrifugação e exame leva em torno de 48 horas. Somente após todos esses estágios é que os componentes do sangue são liberados para doação.

DOAÇÃO SANGUE Maria Fernanda de Lima

Foto: Arquivo Periodico/Maria Fernanda de Lima

Armazenamento correto

Após o processo de centrifugação, todos os componentes exigem diferentes formas de armazenamento. Vivian explica que o concentrado de hemácias deve ser refrigerado em uma temperatura de 4º a 6º C e dura entre 35 e 42 dias. Já o concentrado de plaquetas é conservado em temperatura ambiente e dura apenas cinco dias. Tanto o plasma, quanto o crioprecipitado são armazenados a 30º C negativos e duram até um ano congelados.

Até mesmo durante o transporte de algum elemento é necessário ter o cuidado com a temperatura adequada. Se não forem armazenados corretamente, os componentes podem ser contaminados por bactérias e devem ser descartados.

 

Antes da coleta, vem a triagem

A triagem clínica, etapa anterior à doação, é indispensável para o funcionamento correto de todo o procedimento citado. Segundo a enfermeira do Hemepar, Vanessa Andrade, a triagem consiste em um questionário extenso sobre hábitos de vida, medicações e histórico de saúde do doador. Além de verificar se ele atende aos critérios de doação, também é avaliado se a coleta pode causar algum problema, tanto para o doador, quanto para quem recebe o sangue.

De acordo com Vanessa, a triagem auxilia na investigação de possíveis problemas que os exames em amostras não seriam possíveis de descobrir. “Todo o questionário feito aqui na triagem clínica é para descartar a possibilidade desse doador ter alguma interferência em algum ponto que venha trazer prejuízo em qualquer parte do processo. Mesmo com os exames feitos no sangue, a triagem clínica se mantém importante”, afirma.

Este ano as doações caíram 20% comparado há dois anos, porém, o Hemonúcleo da cidade ainda consegue operar sem faltas de sangue. Essa falta só é sentida quando a  baixa das doações está acima dos 40%. De acordo com a farmacêutica bioquímica do Hemonúcleo, Márcia Barbosa Machado, “por dia, são distribuídas cerca de 40 bolsas para hospitais e clínicas da cidade, e para este mês, o estoque de bolsas de sangue se mantém tranquilo devido às doações já feitas em setembro”.

A doação pode ser feita via agendamento no site do Hemepar. O interessado também pode ligar para o número (42) 3223-1616. O Hemonúcleo fica na rua General Osório (esquina com Coronel Dulcídio).

 

Ficha Técnica:

Repórter: Larissa Onorio

Edição e Publicação: Maria Eduarda Ribeiro

Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli

Supervisão de publicação: Candida de Oliveira, Marcelo Bronosky e Ricardo Bronosky

Paraná é referência na doação de órgãos no país; PG acompanha os índices do Estado

 

A cor verde marca a Campanha Nacional para a Doação de Órgãos e Tecidos, conhecida como Setembro Verde. Idealizado pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a campanha tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos. A doadora Amanda Calixto comenta sobre a importância das ações para conscientização da população. “A doação de órgãos ainda é pouco discutida, mesmo sendo de grande importância social”. 

Em Ponta Grossa, de acordo com os dados do Sistema Estadual de Transplantes do Paraná, entre janeiro e maio deste ano,  11 doadores estiveram aptos a transplantes de órgãos na região. Em comparação a 2021, os números permanecem estáveis, totalizando uma média de dois doadores efetivos por mês.

Segundo o coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do Hospital Universitário (HU), Guilherme Arcaro, o processo de doação é iniciado após a confirmação do diagnóstico de morte encefálica. Em seguida, quando o paciente é um potencial doador, há um diálogo com a família para a autorizar o processo. 

Arcaro explica que os transplantes são realizados pelos centros transplantadores. Na região, os mais próximos ficam em Campo Largo e Curitiba. Além disso, ele explica como ocorre o recolhimento dos órgãos. “A equipe transplantadora vem até o hospital, realiza a captação dos órgãos e os encaminha aos centros conforme disponibilidade e compatibilidade doador-receptor”, destacou.

O coordenador ressalta que o Paraná lidera o ranking nacional de doadores efetivos por milhão de habitantes e Ponta Grossa segue nesta mesma tendência estadual. De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), o Brasil é referência mundial na área de transplantes de órgãos e tecidos, assumindo o segundo lugar no ranking de maior transplantador, atrás apenas dos EUA. Bem como possui o maior sistema público de transplantes do mundo, com cerca de 95% do financiamento dos transplantes realizados pelo SUS.

Corrente do bem

Com apenas dez anos de idade, Gabriela Romanoski de Andrade viveu uma corrida contra o tempo após ser diagnosticada com Miocardiopatia Dilatada, em julho de 2020. Transferida para o Hospital Pequeno Príncipe para realizar seu tratamento, em poucos meses, ela deu entrada na fila de transplantes em busca de um novo coração, mesmo com o seu transbordando de tanta bondade e amor. A pequena Gabi tinha dois sonhos, receber a primeira comunhão, com direito a uma cerimônia surpresa preparada na capela da instituição médica e outro de ajudar as pessoas, principalmente crianças. Infelizmente, em novembro de 2020, a pequenina não resistiu, mas seu sonho permanece forte com o Projeto Gabi Vive, relata a amiga da família e colaboradora do projeto Ligiane Santos.

A ideia do projeto é ser uma rede de apoio para os familiares que estão na mesma situação, promover campanhas de arrecadações e difundir materiais sobre a conscientização da doação de órgãos para contribuir no aumento do índice de doadores efetivos.

Ligiane comenta sobre a importância da realização de campanhas e movimentos para divulgar informações sobre o procedimento de doação. No ano passado, a colaboradora relata que o projeto realizou ações ligadas ao Setembro Verde. “Muitas pessoas nos disseram que, ao lerem as informações dos posts, mudaram positivamente de ideia sobre suas decisões acerca da doação de órgãos”. 

Como virar um doador

Segundo informações do Sistema Estadual de Transplantes do Paraná, existem dois tipos de doadores: o doador falecido, onde é necessário comunicar os familiares sobre o desejo, visto que o procedimento só pode ser realizado com a autorização de parentes próximos. E o doador vivo: qualquer pessoa saudável que deseje doar um de seus rins ou parte do fígado para um familiar próximo, ou uma pessoa não aparentada - neste caso sendo preciso uma autorização judicial.

Os órgãos que podem ser doados são: coração, rins, pâncreas, pulmões, fígado e também tecidos, como: córneas, pele, ossos, valvas cardíacas e tendões. Ou seja, um doador pode ajudar muitas pessoas. De acordo com o Sistema Estadual de Transplantes os órgãos são destinados a pacientes que necessitam de transplante e estão aguardando em uma lista única de espera. A seleção dos pacientes que aguardam o procedimento ocorre baseada na gravidade da doença, tempo de espera na lista, tipo sanguíneo e compatibilidade com o órgão doado. Após a doação, os órgãos são removidos cirurgicamente e, antes de ser entregue a família, o corpo é reconstituído condignamente e sem deformidades, podendo ser velado normalmente.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Larissa Del Pozo

Edição e publicação: Catharina Iavorski

Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Ricardo Tesseroli 

Para que entre em vigor, PL precisa da autorização presidencial

Mulheres podem vislumbrar maior liberdade na realização de laqueaduras no Brasil. No início de agosto, a Câmara dos Deputados aprovou alterações na lei em relação ao procedimento e, se aprovado pelo Presidente, não será mais necessária a autorização do cônjuge para realizar a cirurgia. Além da ausência de autorização masculina, o projeto altera de 25 para 21 a idade mínima para realizar a laqueadura e permite a esterilização logo após o parto do primeiro filho, não sendo necessária a espera pós-parto. 

“A figura do marido que delibera pela mulher ainda está longe de ser um folclore. Parece uma piada, mas essa lei está vigorando”, diz a professora do Departamento de Biologia Geral, Marcela Teixeira Godoy, também coordenadora do projeto O que você estava vestindo?, que faz a exposição de roupas das vítimas de violência sexual, do momento em que foram violentadas. A lei anterior previa a anuência do companheiro para realizar a laqueadura  com no mínimo 42 dias depois do parto ou ao término do puerpério. 

ATENDIMENTO MÉDICO SAÚDE Mariana Okita

Foto: Mariana Okita (Acervo Periódico)

Para Marcela, as alterações na lei representam maior liberdade para a mulher, que pode zelar de forma independente pela própria saúde. “Ninguém deveria ter o poder de decisão direto ou indireto sobre o corpo da mulher, que diz respeito somente a ela. A alteração na lei impede que a mulher faça duas cirurgias, duas internações, dois procedimentos que poderiam ser realizados na hora do parto”, ressalta. Marcela também destaca que um dos objetivos da laqueadura é evitar os vários riscos à saúde que uma gravidez indesejada pode causar. 

Sileda Becket, de 55 anos, é um exemplo de como as decisões sobre o próprio corpo são atreladas à figura masculina. Ela fez a laqueadura há 20 anos e conta o que lhe foi dado de orientação para o procedimento. “A médica me pediu, além de refletir bem sobre a decisão, a assinatura do meu marido”, relata. Sileda optou pelo procedimento porque não queria mais ter filhos após o nascimento da terceira filha e seu marido não aceitava fazer a vasectomia. Sileda acrescenta outra dificuldade que afeta a vida da mulher. “Afinal de contas é ela que depois tem a responsabilidade em relação ao seu emprego, em relação à licença maternidade. Ela que corre o risco de ficar desempregada”. 

A lei não contempla todas as realidades femininas. Uma estudante universitária de 22 anos, que prefere não ser identificada, expõe que desde que atingiu a maioridade, tem interesse em realizar a laqueadura. “Eu nunca tive interesse em ser mãe, e não quero ter aquela obrigação que toda mulher tem de construir uma família”, explica. Mesmo com a possível alteração na lei, em que ela teria idade mínima e não precisaria de assinatura do parceiro, ela ainda precisaria ter um filho. 

Para ela, a alteração significa uma vitória apenas parcial. “Acham que é necessário ter um filho primeiro, porque talvez você vá se arrepender. Não consideram, inclusive, a possibilidade de que existam outras formas de se ter um filho, como a adoção”. A estudante não se sente segura com os outros métodos contraceptivos, como a pílula anticoncepcional. E, enquanto as exigências da lei intercederem pelas vontades da mulher e sobre o que faz com seu corpo, ela permanecerá com a insegurança. 

 

Ficha técnica:

Reportagem: Cassiana Tozati e Victória Sellares

Edição e publicação: Maria Helena Denck

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Maurício Liesen