Os benefícios e riscos da maratona e dos treinamentos intensivos para as competidoras da modalidade
- Detalhes
- Produção: Lucas Veloso
- Categoria: Periódico
- Acessos: 623
Treinos para maratonistas oferecem ganhos à saúde cardiovascular e mental, mas exigem cuidados com o corpo para evitar lesões
Treinar para uma maratona é um desafio que vai além da superação física. Para as mulheres maratonistas, a preparação envolve não só resistência mental e física, mas também alta performance e a superação de barreiras sociais. Com uma rotina de treinos exaustiva, as atletas precisam conciliar dedicação, saúde e, em alguns casos, preconceitos que persistem nesse ambiente.
A preparação de atletas maratonistas demanda planejamento minucioso, dividido em diferentes fases, que vão desde a construção de resistência física até o período de recuperação pré-prova. Normalmente, os treinos variam entre seis e sete dias por semana, incluindo longas corridas, trabalho de força muscular e dias reservados aos treinos de recuperação. Para muitas dessas atletas, conciliar essa carga horária com a vida pessoal e profissional é um dos maiores desafios.
Larissa Aparecida Vieira é diretora de escola municipal em Ponta Grossa e se considera atleta amadora. Ela conta que pratica corridas há sete anos, mas ainda assim enfrenta muitos desafios. “É uma rotina que exige muita organização e disciplina. Preciso sempre manter o foco no meu trabalho e nos meus treinos que, normalmente, acontecem à noite”. A atleta afirma que a corrida beneficia sua saúde mental, pois os treinos proporcionam tempo “para pensar, se distrair e esquecer um pouco da correria do dia a dia”. Ela já correu 13 meias maratonas (21km) e três maratonas (42km), em Florianópolis, Curitiba e uma em Ponta Grossa. Atualmente, Vieira tem feito treinos mais curtos em relação às provas, com distâncias de oito quilômetros.
A Maratona Internacional de Florianópolis conta com percursos de 5km, 21km e 42km
Treinar para uma maratona melhora significativamente o condicionamento físico e a resistência cardiovascular, além de fortalecer músculos e ossos. Irineu Loturco é fisiologista do Núcleo de Alto Rendimento Esportivo de São Paulo e conta que, no processo de uma prova, microlesões nos músculos das pernas acontecem por conta do atrito na aterrissagem e provocam a diminuição da rigidez muscular. Em razão disso, recomenda musculação simples e treino de flexibilidade, para ajudar na ampliação da passada e na corrida, reduzindo, assim, os gastos de calorias na atividade.
Um dos fatores mais relevantes para evitar problemas de saúde ao treinar para maratonas é contar com o suporte de profissionais da educação física e da saúde. Eles podem criar planos de treino ajustados à realidade de cada atleta, levando em consideração a sua condição física e objetivos. O educador físico Cláudio Lafemina explica que os treinos de fortalecimento muscular devem ser feitos ao longo de toda a preparação. “Eles melhoram a capacidade respiratória e a resistência do corpo aos impactos da corrida”. Lafemina pontua ainda que a musculação melhora a capacidade metabólica, promove a perda de gordura e o aumento de massa magra.
Os riscos não podem ser ignorados
Por mais que haja benefícios, um dos principais perigos da corrida está relacionado ao impacto excessivo nas articulações e nos efeitos que o esforço físico extremo pode ter sobre o corpo, como a insuficiência renal temporária. Um estudo da Universidade Yale, publicado no American Journal of Kidney Diseases, mostrou que 82% dos maratonistas apresentam sinais desse problema após uma prova, devido à desidratação e ao aumento da temperatura corporal.
A síndrome de overtraining também é uma realidade para muitos atletas. Este problema acontece quando o corpo é submetido a um esforço contínuo sem tempo suficiente para recuperação. O resultado pode ser queda no desempenho, cansaço extremo e maior possibilidade de lesões. Isso reforça a importância de um planejamento de treinos que equilibrem carga, descanso e hidratação.
Depois de correr sua segunda maratona em 2018, Victória Cardoso Melo sentiu que seu corpo não apresentava os resultados esperados por ela e seu treinador. “O meu desempenho foi ladeira abaixo. Eu não estava conseguindo aumentar minhas passadas e muito menos o fôlego que eu tinha antes”. Victória enfatiza a importância da ajuda psicológica, já que o cansaço mental também é uma realidade para atletas de corrida.
Vieira destaca o desgaste em função de uma alimentação e hidratação inadequada, pois muitos atletas amadores passam mal e perdem muito peso em função disso. “Um erro ou um descuido em um treino de duas horas que cause uma lesão pode fazer com que o atleta demore meses para se recuperar”, pontua.
Ficha Técnica
Produção: Lucas Veloso
Edição e publicação: Laura Urbano e Maria Vitória Carollo
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado
Incêndios florestais em Ponta Grossa triplicam em 2024
- Detalhes
- Produção: Ana Beatriz de Paiva e Annelise dos Santos
- Categoria: Periódico
- Acessos: 182
Corpo de Bombeiros de PG registrou 138 ocorrências em setembro
Ponta Grossa é a cidade paranaense com o maior número de incêndios florestais, de acordo com dados do 2º Batalhão do Corpo de Bombeiros (2° GB). O aumento do registro de queimadas, no período entre janeiro e setembro de 2024, foi de mais de 300% em comparação ao ano inteiro de 2023. Mesmo faltando três meses para o fim doo ano, o 2º GB já registrou 681 ocorrências em 2024, que já superam os 215 casos de 2023. Ao todo, o Paraná soma mais de 11 mil queimadas neste ano. As mudanças climáticas mundiais, longos períodos de estiagem, baixa umidade e a seca da vegetação e do ar são fatores que favorecem o surgimento de incêndios, muitos destes de natureza criminosa
Vários fatores causam incêndios florestais, inclusive a irresponsabilidade humana. Para que as queimadas ocorram, é necessário o acúmulo de biomassa, condição que favorece o ressecamento da vegetação e uma fonte de calor para iniciar o fogo, que pode ser de origem natural ou criada intencionalmente. De acordo com os dados da Polícia Federal (PF), em 2024 foram abertos 101 inquéritos que buscam investigar queimadas intencionais e responsabilizar os criminosos. A investigação envolve o uso de imagens de satélite e envio de peritos aos locais para identificar a origem do fogo. No estado do Paraná não há registros concretos sobre a origem dos focos de incêndio. Selene Leal é bióloga do Instituto Água e Terra e relata que há queimadas provocadas intencionalmente, mas que, na maioria dos casos, é difícil comprovar a origem do fogo.
A bióloga explica, ainda, que a mudança climática é realidade global e que mesmo ciente desse fato, o poder público e a sociedade são negligentes com as políticas públicas e com a proteção ambiental. Segundo Selene, o desmonte de estruturas das políticas públicas de meio ambiente e a precarização do trabalho de agentes fiscais, desde 2018, resultaram na redução da fiscalização, aplicação de multas e má preservação dos biomas. “Enquanto não começarmos a ter pautas ambientais no poder público, planos de governo que foquem em educação ambiental, apoio a energias renováveis e penalidades rígidas a grandes empresas que não se adequam a práticas sustentáveis, vamos tentar apagar o fogo com gasolina”, ressalta a bióloga.
Até setembro de 2024, foram registrados mais de 600 casos de incêndios florestais em Ponta Grossa | Foto: Annelise dos Santos
A moradora da Vila Vicentina, Letícia Nievola avistou um incêndio próximo à sua casa. O Cemitério Vicentino, nas proximidades da residência, foi tomado pelas chamas e os moradores da região sentiram a mudança na qualidade do ar. “Todos nós estamos sofrendo com problemas respiratórios, como rinite e alergias. Pessoalmente, tenho até notado sangramento nasal e dificuldade para respirar e dormir. A fumaça é visível a olho nu, o que só piora a sensação de desconforto”. Ela se preocupa com a falta de conscientização da população a respeito da preservação ambiental e critica as queimadas criminosas.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no mundo, cerca de 7 a 9 milhões de mortes prematuras anuais podem ser atribuídas à inalação de ar de má qualidade. Os principais riscos à saúde envolvem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e respiratórias. A médica de família e comunidade do Sistema Único de Saúde (SUS) Mayara Floss, afirma que a inalação de grandes quantidades de fumaça seria o equivalente a toda a população se tornar fumante passiva.
Mayara afirma que as partículas que poluem o ar são até 20 vezes mais finas que um fio de cabelo, por isso são responsáveis por causar irritações e inflamações. Os principais sintomas da inalação de fumaça tóxica são irritação nas mucosas, tosse, ardência nos olhos e mal-estar. Mayara explica quais cuidados devem ser adotados pela população em períodos de secas e queimadas. “O ideal é não sair de casa sem necessidade, manter portas e janelas fechadas, evitar atividades ao ar livre, utilizar máscaras N95 durante as saídas, beber bastante água, usar colírios lubrificantes nos olhos e ficar atento a tosse e mal-estar para buscar ajuda profissional caso seja necessário”, destaca.
Mayara ainda conta que notou que mais pessoas buscaram atendimento médico por problemas respiratórios, cardiovasculares e questoẽs oculares em decorrência do crescimento no número de incêndios. Além disso, também houve um aumento no número de internações e mortes por poluição do ar. “Para cuidarmos da nossa saúde será necessário parar as queimadas, responsabilizar as pessoas culpadas e reflorestar nossos biomas. Caso contrário, a consequência é enfrentarmos mais secas e mais instabilidade”, enfatiza..
A população tem sentido as consequências da péssima qualidade de ar, especialmente os que já possuem algum problema respiratório crônico. Marina Troyner tem asma e afirma que em períodos de seca precisa dobrar a dosagem de sua medicação diária. “Além da dificuldade para respirar, os quadros de irritação na garganta têm desencadeado otite e secreção no ouvido. Esses estão sendo sintomas recorrentes nos últimos dias”.
O Ministério da Saúde orienta que, em caso de incêndio, os bombeiros devem ser acionados imediatamente, por meio do 193. Além disso, os grupos de risco, como crianças menores de 5 anos, gestantes e idosos devem ter atenção redobrada às recomendações médicas e ficar atento ao agravo de sintomas respiratórios.
Ficha Técnica
Produção: Ana Beatriz de Paiva e Annelise dos Santos
Edição: Laura Urbano, Maria Vitória Carollo e Mel Pires
Publicação: Mel Pires
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado
Real completa 30 anos em 2024 e enfrenta desvalorização
- Detalhes
- Produção: Ana Beatriz de Paiva
- Categoria: Periódico
- Acessos: 457
A moeda, criada na década de 1990, foi responsável por estabilizar a inflação e a economia brasileira
Em 2024, o Plano Real completou 30 anos. A medida foi implantada durante o governo de Itamar Franco com o objetivo de amenizar a inflação vigente na época. A nova moeda cumpriu com o seu objetivo e durante os primeiros anos de circulação, um real era equivalente a um dólar. De acordo com o Banco Central do Brasil, em 1994 a inflação alcançava índices altíssimos de 47,7% ao mês e 4.922% ao ano antes da implantação desse plano. Os produtos básicos naquele período sofriam oscilações de preços mais de uma vez ao dia.
No site do Banco Central é possível encontrar a calculadora do cidadão. Ela aponta que em 2024, para o brasileiro ter o mesmo poder de compra equivalente a um real em 1994, seria preciso desembolsar R$ 8,08. A agência classificadora de risco de crédito Austin Rating apontou recentemente as moedas mais desvalorizadas do mundo. No ranking, o real brasileiro ocupa a 5° posição, com uma desvalorização de -14,6%, atrás apenas das moedas da Nigéria (-42,6%), Egito (-35,8%), Sudão do Sul (-29,9%) e Gana (-21,9%).
Moedas desvalorizadas no mundo. | Crédito: Ana Beatriz de Paiva
José Renato Olszewski é economista e explica que na década de 1990, o real foi responsável por trazer estabilidade econômica para o Brasil. “Juntamente com o plano real, vieram outros adventos responsáveis por modernizar a economia”. Olszewski comenta como a desvalorização da nossa moeda pode impactar a vida dos brasileiros: “as famílias hoje, com a mesma renda, compram menos. Esse processo afeta diretamente o fluxo circular da economia e a queda atinge a indústria”.
O economista observa que dentre as principais explicações para a desvalorização de uma moeda está o endividamento do setor público. “O governo precisa fazer o pagamento de juros pelo déficit primário gerado, há uma transferência de recursos financeiros que poderiam ser investidos no crescimento da economia, mas foram para pagamento de juros”. Além disso, o comércio internacional se torna outro polo responsável pela desvalorização, visto que há grande procura pelo dólar, moeda em comum entre os países, para a realização de transações internacionais. “É importante entender que a moeda mais utilizada no mercado é o dólar, e o Brasil precisa da moeda internacional para fazer frente aos pagamentos de importações. Assim funciona a lei da oferta e da procura, quanto mais se procura uma moeda no exterior, maior é o preço que irá ser pago nela”, esclarece.
A desvalorização da moeda e o consequente crescimento no preço de produtos básicos afetam diretamente os comerciantes. Vladimir Axt é dono de um pequeno negócio em Ponta Grossa. Ele afirma que com o aumento dos preços, seus clientes pagam o mesmo valor para quantidades cada vez menores. Além da compra dos produtos gerar lucros menores para o seu negócio. “Quando o valor das mercadorias sobe, os dois lados perdem, tanto eu como vendedor, porque preciso diminuir o lucro para o valor do produto não ser tão alto para os clientes. E os clientes pagam o mesmo valor por quantidades menores de produtos”. Ele relata que procura equilibrar os preços das mercadorias para não prejudicar os compradores.
Diva dos Santos é dona de uma mercearia. Costuma fazer compras para seu negócio a cada 15 dias e percebe o aumento regular dos preços a cada transação. “Toda vez que faço compras, o valor aumenta. Então, como forma de manter meu negócio, preciso reajustar o valor dos meus produtos frequentemente”. A comerciante conta, ainda, que parou de vender alguns itens devido aos altos valores e a baixa procura em sua região. Como uma forma de alavancar o seu comércio, Diva destaca que em períodos próximos a datas festivas ou comemorações, investe em produtos específicos, que geralmente não são comercializados por ela durante outras épocas do ano.
Os preços no início do Plano Real
De acordo com o Banco Central, em 1994, o valor do salário mínimo era de 64,79 reais, o que equivaleria a R$523,52 corrigidos pela inflação dos dias atuais. Em 2024, o valor é de R$1.412.
Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1994, uma cesta básica poderia ser comprada por R$67,40, o que em valores atuais, corrigidos pela inflação, seria o equivalente a R$544,61. Atualmente, o valor de uma cesta básica é de R$809,77.
Já o preço do litro da gasolina na maior cidade do Brasil (São Paulo) era de R$0,55, o que equivaleria a R$4,44 nos dias de hoje. No entanto, atualmente o valor do litro da gasolina em São Paulo é de R$5,66 segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.
Histórico da moeda brasileira
Durante o governo de Itamar Franco, o ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso foi responsável por elaborar o Plano Real, implantado no dia 1 de julho de 1994, com o objetivo de reorganizar a economia brasileira. Nos anos 1990, a inflação no Brasil atingia níveis altíssimos, e o cruzeiro, moeda vigente na época, valia cada vez menos do que o dólar e os preços de alimentos, gasolina e prestações subiam descontroladamente. Ao longo dos primeiros quatro anos da implementação do plano, o valor do real foi estável, sofrendo apenas em 1998, uma pequena inflação de 1,5%.
Na atual economia, a situação é diferente. Para se comprar um dólar, o brasileiro precisa desembolsar cerca de cinco reais e cinquenta centavos. Atualmente, de acordo com o IBGE, o governo federal utiliza o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) como “índice oficial da inflação no Brasil’’. Este serve de referência para as metas de inflação e para as alterações nas taxas de juros. O IBGE divulga o índice regularmente desde 1980. Segundo o IPCA, houve uma alta geral dos preços de 521% desde o primeiro dia em que o real passou a circular.
Ficha Tecnica:
Produção: Ana Beatriz de Paiva
Edição e publicação: Mel Pires e Luisa de Andrade
Supervisão de produção: Carlos de Souza
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado