Apesar do aumento, média de agendamentos é menor do que antes da pandemia

 

Resumo

  • Busca por exames de mamografia aumenta entre os meses de julho a setembro em Ponta Grossa;
  • Na região Sul, o câncer de mama é a principal causa de morte da população feminina;
  • Conheça a história da ponta-grossense que enfrentou e superou a doença;
  • A Rede Feminina de Combate ao Câncer é uma das principais entidades de conscientização sobre o câncer de mama em Ponta Grossa. 

 

Após queda em 2020 por causa da pandemia, a procura por exames preventivos contra o câncer de mama tem apresentado crescimento em Ponta Grossa neste ano. Segundo o DataSus, até o início de novembro foram agendadas 2.367 mamografias na cidade, aumento de 52% comparado com o mesmo período do ano anterior.

A médica radiologista Fabiana Ceolin, que atende pelo SUS em Ponta Grossa, diz que a procura por mamografia passou a se intensificar entre os meses de julho a setembro, período no qual foram feitos mais da metade dos procedimentos de 2021 na cidade. 

Para a radiologista, a redução antes da pandemia ocorreu não apenas nos exames preventivos para o câncer de mama, mas também nos exames diagnósticos, o que ocasionou resultados tardios. “Muitas pacientes não fizeram seus exames por medo da pandemia e quando vieram, já apresentavam lesões mais agressivas, então poderíamos ter evitado muitos agravamentos e perdas de pacientes se a prevenção tivesse sido feita”. 

O câncer de mama é a principal causa de morte na população feminina da região Sul, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). São 15,08 óbitos a cada 100 mil mulheres. 

 

Pauta Manu Foto Danilo Schleder

Foto: Danilo Schleder

 

Superação 

Josemare Machado é uma das ponta-grossenses que enfrentou a doença. A contadora de 45 anos, que atualmente trabalha com o filho em uma doceria, carrega uma história de lutas contra o câncer há quase dez anos. Em 2012, Josemare recebeu o diagnóstico positivo e precisou realizar uma mastectomia parcial. Após a cirurgia, foram oito quimioterapias e trinta radioterapias. 

Em 2014, durante o processo de recuperação, os médicos constataram o surgimento de um câncer de tireoide em Josemare. Novamente submetida à cirurgia, a contadora nunca perdeu a fé de que venceria a luta novamente. E venceu. 

Em 2018, curada dos dois cânceres, Josemare foi convidada pelo hospital em que fez seu tratamento a “bater o sino”, uma cerimônia que simboliza a alta oficial do paciente e a superação da doença. O que ela menos esperava era que, no final de 2019, se depararia novamente com o diagnóstico positivo para um novo câncer, desta vez no linfonodo axilar. 

Nesta terceira vez, foi recomendada a retirada total da mama direita, como forma de prevenção para o desenvolvimento de novos cânceres. Para ela, este foi o pior de todos os momentos, pois boa parte do tratamento foi feita durante a pandemia. “Eu não podia levar ninguém comigo, eu tinha que ficar sozinha fazendo a quimioterapia, e eu tinha muito medo porque eu sempre passei muito mal, e não ter ninguém ali me amparando como antes me preocupava muito, então foi muito diferente e muito mais assustador”.

Atualmente, Josemare está curada, mas segue realizando exames preventivos e se protegendo contra o vírus. “Quando veio a pandemia eu me isolei do mundo por conta da minha imunidade, usava máscara dentro de casa para evitar uma possível contaminação do meu marido ou do meu filho, e isso me afastou muito das pessoas, fiquei até sem ver os meus pais, que moram na casa ao lado”. 

A ponta-grossense conta que sua família e os grupos de apoio a mulheres que estão na batalha contra o câncer foram seus principais apoios durante a pandemia. “Quando uma pessoa na família adoece, adoece a família inteira, porque eles sentem sua energia e o seu sofrimento, então é uma doença muito cruel, mas você não pode achar que o câncer é mais forte que você, a gente é sempre mais forte, precisamos ter fé e acreditar que vamos conseguir sobreviver”.  

Como forma de retribuir aos profissionais que a ajudaram na luta contra o câncer, Josemare e o filho Lucas preparam todos os anos, em outubro, brownies para a ala de oncologia do hospital em que foi tratada. É um momento de agradecer pela vida e por aqueles que a ajudaram a superar a doença. “Ficou muita coisa comigo após o câncer, a gente carrega todas as lembranças, mas cada dia é um dia, sempre traz uma lição e aprendizado sobre a vida e sobre como precisamos sempre cuidar de nós”.

 

Campanha

O tratamento contra o câncer de mama acontece o ano inteiro, mas no calendário da saúde o incentivo e a conscientização sobre a doença ocorrem no mês de outubro, com as campanhas de Outubro Rosa. Em Ponta Grossa, uma das principais entidades que trabalham em prol da causa é a Rede Feminina de Combate ao Câncer. 

Segundo Vani Fadel, presidente da Rede e voluntária há mais de 40 anos, a instituição, que fornece acolhimento e atendimento gratuito para a população de Ponta Grossa e região para a realização de exames e tratamentos, teve que se adaptar financeiramente para continuar aberta ao longo da pandemia. “Para nós, o Outubro Rosa são todos os meses do ano, nós nunca paramos de trabalhar na luta contra o câncer de mama, mas durante a pandemia as pessoas ficaram fechadas em casa e pararam de fazer suas doações. Tivemos que fechar nossos dois bazares e enfrentamos sérias dificuldades financeiras para sustentar os gastos com nossos assistidos”. 

Atendendo atualmente mais de 210 pacientes, sendo 73% diagnosticados com câncer de mama, a presidente relata que foi preciso criar alternativas para arrecadar verbas, como a comercialização de mais de 1,2 mil pizzas artesanais e a confecção de decorações e ornamentos em datas festivas pelos trinta voluntários da entidade. 

A presidente também destaca a criação e venda de um calendário para homenagear as pacientes da Rede recuperadas do câncer de mama, com fotos registradas nos mais diversos pontos turísticos de Ponta Grossa e estampadas por mulheres que superaram a doença. Toda a arrecadação com o calendário está sendo destinada para financiar os gastos de outras pacientes que seguem em tratamento. 

Na visão de Vani, uma das principais dificuldades durante a pandemia foi manter o financiamento dos exames preventivos de mamografia para as mulheres assistidas pela instituição. “A covid-19 estava aí, mas o câncer já estava anteriormente, então não podíamos negar agora a ajuda que sempre demos”. Com a dificuldade, a Rede Feminina buscou uma parceria com o curso de Medicina da UEPG, que, com a suspensão das aulas presenciais, passou a realizar aulas práticas nas sedes da instituição e atendimentos preventivos de forma gratuita.

 

Exames

A Prefeitura Municipal de Ponta Grossa informou que o município oferece a realização do exame de mamografia gratuitamente no Centro Municipal da Mulher (CMM) a mulheres que possuem indicação médica. Para solicitar o exame, a paciente deve se dirigir a uma Unidade Básica de Saúde e realizar o agendamento ou contatar o Centro por meio do telefone (42) 3901-1719. O CMM fica localizado na Rua Coronel Francisco Ribas, 2970, no bairro Órfãs. O funcionamento é das 8h às 17 h. 

 

Ficha técnica

Repórter: Manuela Roque

Edição: Gabriel Ryden e Larissa Godoi

Publicação: Gabriel Ryden

Supervisão de Produção: Jeferson Bertolini 

Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

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