“Intoxicações estão entre os métodos de tentativa de suicídios mais utilizados”, afirma psicóloga
Segundo o Ministério da Saúde (MS), a maior parte das mortes por intoxicações medicamentosas no Paraná ocorre em casos de suícidio. E o índice está subindo: em 2018, foram 29 mortes devido à ingestão intencional de remédios, enquanto 8 mortes resultaram de envenenamento acidental; em 2019, 37 mortes por envenenamento intencional e 7 óbitos por intoxicação acidental. Dados parciais de 2020 indicam 22 suicídios por ingestão de medicamentos e três mortes acidentais.
A psicóloga Cris Dayana Hornung explica que o consumo desregulado de remédios representa um problema cultural. “O fácil acesso contribui para o uso indevido, as intoxicações por substâncias externas estão entre os métodos de tentativa de suicídio mais utilizados. Também há a fantasia de que somente por meio da medicação o sofrimento pode ser anulado”.
O farmacêutico Cesar Fernando Kavalkeviski conta que em razão dos remédios serem facilmente conseguidos, ao invés de serem utilizados apenas para tratamentos, são ingeridos para tentativas de suicídio. “A associação de diversos fármacos transforma o produto em substância tóxica. Vale lembrar que os medicamentos controlados, em especial hipnóticos e sedativos, são a maior causa de atos suicidas e acidentes”.
Remédios fatais
Conforme o Centro de Informação e Assistência Toxicológica do Paraná, os benzodiazepínicos, antigripais, antidepressivos e anti-inflamatórios são os grupos de medicamentos que mais causam intoxicações no Brasil. Remédios do tipo lorazepam, anti-histamínicos e descongestionantes são exemplos de medicamentos comuns verificados em ocorrências de intoxicação farmacológica.
De acordo com Hornung, “embora algumas medicações combatam ideias suicidas e sintomas depressivos, as substâncias também podem agravar momentaneamente o quadro do paciente, de modo a piorar ou até mesmo precipitar um comportamento suicida”. A psicóloga frisa que toda medicação controlada traz efeitos colaterais a curto, médio e longo prazo, por isso é vital a prescrição e acompanhamento profissional.
Sobre armazenamento adequado, Kavalkeviski explica que os produtos “devem ser guardados em armário alto para dificultar o alcance de crianças ou pessoas com distúrbios psiquiátricos. Também orienta-se manter em compartimento trancado onde apenas o responsável por dispensar a medicação tenha acesso”.De acordo com registros do MS referentes aos períodos de 2018, 2019 e 2020, os casos de morte por intoxicação intencional envolvem pessoas com idades entre 15 e 80 anos. No ano de 2018, a faixa etária de 30 a 39 anos corresponde a maior parte dos óbitos, nove no total. Em 2019, novamente pessoas na mesma faixa etária representaram a maior parte das mortes, 12. Os dados parciais de 2020 apontam mudança na faixa etária: pessoas entre 20 e 29 anos correspondem ao grupo com maior número de mortes, oito no total.
Ações para minimizar intoxicações
O conselheiro do Conselho Municipal de Saúde (CMS) de Ponta Grossa, José dos Passos Neto, afirma que de acordo com o Plano Municipal de Saúde, a prefeitura deve assistir a população com atenção farmacêutica, iniciativa voltada ao uso racional de remédios, e aumentar o número de farmacêuticos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Neto conta que, em Ponta Grossa, das 50 UBSs existentes, apenas dez têm profissional farmacêutico.
Sobre suicídio por ingestão de medicamentos, Neto diz que otimizar a ação da Vigilância Sanitária contribui para a solução do problema. “Investir em mais técnicos capacitados para realizar um controle mais efetivo por paciente, junto às farmácias privadas e públicas, no que diz respeito ao consumo de medicamentos e retenção de receitas de remédios com ação no sistema nervoso, pode reduzir os riscos de atos suicidas”.
O presidente do CMS de Ponta Grossa, Jefferson Leandro Gomes Palhão, aponta que informar a população representa a solução mais efetiva para combater intoxicações por medicamentos. “O Poder Público deve orientar as pessoas através de campanhas mais intensificadas e massivas de conscientização. No Brasil, temos números elevados de indivíduos que consomem remédios por conta própria e isso traz prejuízos à saúde pública”.
Confira a entrevista com a psicóloga Cris Dayana Hornung sobre como conversar sobre suícidio representa uma ação importante para aliviar o sofrimento psicológico de pessoas com transtornos mentais e vítimas de ideação suícida:
Ficha técnica
Reportagem: Robson Soares
Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi
Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral