Assassinatos de jovens cresce em PG em 2021, indica polícia
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O perfil das vítimas coincide com o de presos envolvidos com tráfico
O número de homicídios dolosos, quando há intenção de matar, cresceu em Ponta Grossa entre janeiro e outubro de 2021. De acordo com levantamento feito pela reportagem, o município teve 47 casos no período, e até o final do ano pode ultrapassar a marca de 2020, quando ocorreram 54 homicídios. Em 2019, foram 48.
O problema se agrava em relação aos jovens. Só neste ano, ocorreram 12 homicídios de pessoas com menos de 21 anos, o que supera os oito casos de 2019 e os 10 de 2020. Segundo o chefe da 13ª Subdivisão Policial de Ponta Grossa, Nagib Nassif Palma, a maioria dessas vítimas eram homens que estavam envolvidos com o tráfico de drogas.
A professora e pesquisadora da área dos Direitos Humanos, Karoline Coelho, afirma que o perfil das vítimas coincide com o da maioria dos presos no Brasil. “Esses jovens são geralmente mais pobres e, além de não terem oportunidades de estudo e emprego, crescem em um meio onde o crime é algo naturalizado. Isso gera a chamada cultura do crime”.
Karoline destaca que, para resolver o problema da reincidência criminal, é necessário que as penitenciárias disponham de programas de ressocialização, dando oportunidade de educação e inclusão no mercado de trabalho.
A professora salienta que incluir os ex-detentos em um meio social diferente do qual são originários seria essencial para evitar a reincidência. “Se a pessoa que cometeu crime sair do presídio e voltar ao mesmo local, onde estão postas as mesmas circunstâncias que fizeram ela cometer o crime, a probabilidade é a de que ela volte a delinquir”, diz.
Para Coelho, é importante entender que os delitos não são puramente criminais, mas acontecem a partir de problemas sociais, como desemprego e falta de acesso à educação. Porém, no Brasil, só ocorre a repreensão, o que não soluciona a violência. “O Estado deveria estabelecer direitos sociais básicos, ao invés de se preocupar apenas em reprimir. Isso reduziria a criminalidade, mas não iria extingui-la.”
Foto: Cássio Murilo.
Realidade
Uma fonte que não quis ter sua identidade revelada, conta que teve um primo assassinado neste ano em Ponta Grossa. Ela relata que ele era um jovem de classe baixa envolvido com drogas. “Uma hora a conta chega. Infelizmente ao jovem da periferia o caminho mais acessível para conseguir uma renda é o das drogas. Mas o mínimo deslize é fatal”.
A fonte afirma que o primo não foi incentivado a frequentar a escola e cresceu em um ambiente que levava ao crime. O rapaz assassinado tinha passagem pela polícia, e mesmo após deixar a prisão, voltou a cometer crimes. O jovem tinha pendências com o tráfico de drogas, e como não conseguiu quitá-las, acabou pagando com a vida.
Este texto faz parte da edição 220 do Foca Livre, jornal-laboratório produzido por alunos do segundo ano de jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Ficha Técnica:
Repórter: Carlos Eduardo Mendes
Edição: Bettina Guarienti e Carolina Olegário
Publicação: Manuela Roque
Supervisão: Cândida de Oliveira, Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi e Mauricio Liesen
Mais de 13 mil pessoas vivem na linha da pobreza em Ponta Grossa
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- Produção: João Gabriel Vieira
- Categoria: Cidade e cidadania
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De dezembro de 2020 a junho de 2021, este número cresceu mais de 18%
Resumo
- Reportagem mostra que mais de 38 mil pessoas vivem com menos de meio salário mínimo na cidade;
- Em seis meses, 2021 já supera o número acumulado de 2020;
- A pandemia de covid-19 é um dos motivos apontados pelo cenário;
- O aumento da pobreza se dá também a nível nacional, continental e mundial.
Pelo menos 13.239 pessoas estão na linha da pobreza ou da extrema pobreza em Ponta Grossa, segundo dados do Cadastro Único para Programas Sociais. De acordo com o serviço que cadastra programas como o Bolsa Família, pessoas na linha da pobreza vivem com até R$178,00 por mês; na extrema pobreza, com R$89,00.
No período de seis meses - de dezembro de 2020 a junho de 2021 - o número de pessoas nesta situação superou todo o acumulado de 2020. No período, 2.411 pessoas passaram a viver nesta linha de pobreza.
Há outro contingente de pessoas sem o mínimo necessário para viver: os de baixa renda. Trata-se daquelas que têm como renda per capita mensal até meio salário mínimo. Em Ponta Grossa, são 38.495 famílias nesta posição.
Impacto da pandemia
Em âmbito global o panorama também é ruim. Segundo relatório de 2021 da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), a pandemia de Covid-19 provocou um aumento nos níveis de pobreza sem precedentes nas últimas décadas, o que gerou impacto forte na desigualdade e no emprego. Estima-se que 22 milhões de pessoas adentraram a linha da pobreza na América Latina, o que totaliza mais de 209 milhões de pessoas no final de 2020. Deste número, 78 milhões estão inseridos na extrema pobreza - 8 milhões a mais do que o relatório apontava ao final de 2019.
O documento ainda reforça que, sem as transferências de renda emergenciais realizadas pelos governos locais, os níveis de pobreza e extrema pobreza seriam ainda maiores. De acordo com o relatório, 263 medidas de proteção social em caráter emergencial foram implementadas em 2020 pelos governos da região, o que atingiu 49,4% da população, cerca de 326 milhões de pessoas.
A entidade entende que a curto prazo é necessário que os programas de transferência de renda se mantenham, para que de alguma forma se estabeleça uma mínima proteção social às pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade.
No Brasil, foi criado pelo governo o programa Auxílio Emergencial, que serviu para a transferência de renda para a população desamparada em 2020. Inicialmente o programa beneficiava a população com parcelas mensais de R$600,00. Seguindo até o mês de outubro de 2021, com parcelas entre 150 e 300 reais.
Outro ponto destacado no documento apresentado pela CEPAL foi o impacto causado pela pandemia no mercado de trabalho. Dados do relatório apontam que a taxa de desemprego da região foi de 10,7% no final de 2020, um aumento de 2,6 pontos em relação a 2019, que registrou 8,1%.
No Brasil, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que a taxa de desemprego atingiu 13,2% no mês de agosto, o que atinge cerca de 13,7 milhões de brasileiros. Comparado a agosto do ano anterior, houve uma queda de 1,4 pontos.
Foto: Yuri A.F. Marcinik/ Lente Quente
Auxílio Brasil
Programas como o Auxílio Brasil, que substituirá o Bolsa Família, tornam-se ainda mais importantes com os aumentos dos indicadores de pobreza.
O Programa Bolsa Família (PBF) foi criado como política pública durante o governo Lula pela Lei n° 10.836/2004 e unificou programas de transferência de renda que já existiam na época. Com o valor do benefício variando entre 89 e 205 reais, o total também era alterado de acordo com o número de filhos do beneficiado. O PBF contemplava famílias com renda per capita de até R$ 178,00.
E em outubro de 2021, após 18 anos de operação, o PBF foi extinto e deu lugar ao Auxílio Brasil, programa similar criado pelo governo Bolsonaro, que substituirá também o Auxílio Emergencial que vigorou durante a pandemia da Covid-19.
O novo benefício social foi criado pela medida provisória 1.061 e prevê o pagamento mensal de R$ 400,00 até o final de 2022. O programa tem como objetivo aumentar o número de famílias beneficiadas, passando de 14,7 milhões do PBF para 17 milhões. Ainda cercado de incertezas que perpassam desde o financiamento do programa até quem terá direito ao benefício, o novo auxílio tem previsão de começar a ser pago no dia 17 de novembro de 2021.
Voltando aos dados do Cadastro Único para Programas Sociais em outubro de 2021, 11.697 famílias foram beneficiadas pelo Bolsa Família em Ponta Grossa. O valor total movimentado ultrapassou os 906 mil reais, atingindo mais de 92% das famílias pobres do município.
Ficha Técnica
Repórter: João Gabriel Vieira
Edição: Eduardo Machado e Yuri A.F. Marcinik
Publicação: Yuri A.F. Marcinik
Supervisão de Produção: Jeferson Bertolini
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen
Professores e alunos do ensino superior estão inseguros com aulas presenciais
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Comunidade universitária deseja retorno quando todos estiverem vacinados
Mesmo com a volta de várias atividades acadêmicas presenciais, alunos e professores do ensino superior não se sentem seguros para retomar aulas nesta modalidade no atual momento. O fato de que nem todos os docentes e discentes estão vacinados com as duas doses é o maior motivo de insegurança. Nesse contexto, o ensino híbrido é uma alternativa.
Para Hellen Christina de Pontes, 20, estudante do curso de Zootecnia da UEPG, as aulas deveriam retornar presencialmente apenas em 2022, com professores e alunos vacinados. Porém, a aluna reconhece que muitos cursos são prejudicados pela falta da presencialidade. Para estes, o ensino híbrido se torna uma opção, pois algumas disciplinas práticas não podem ser realizadas de forma remota durante a pandemia.
Janaína Aparecida Chernake, 20, estudante de Ciências Biológicas da UEPG, compartilha do mesmo pensamento. Para ela, neste momento as aulas devem permanecer remotas, pois ainda há risco de contaminação entre os alunos, muitos ainda nem foram vacinados. “O risco ainda é grande, seja na sala de aula ou no transporte público, que é o meio de transporte mais utilizado pelos estudantes”, lembra.
Maria Julieta Weber, 52, professora do departamento de Educação, acredita que o ensino remoto trouxe novas aprendizagens e experiências através das ferramentas e tecnologias utilizadas, mas que é importante entender e defender o sistema presencial. No entanto, a professora destaca que para que as atividades presenciais voltem, além de ser necessário que toda a comunidade universitária esteja vacinada, é preciso realizar uma avaliação de como seria possível voltar às aulas com segurança. “A partir desse estudo, fazer um levantamento de que forma a universidade pode adotar medidas e como estaria a estrutura da universidade”, explica.
Enquanto a UEPG ainda não tem previsão para a retomada dos cursos presenciais, outras instituições de ensino superior de Ponta Grossa adotaram a forma híbrida de ensino, como é o caso da UniSecal. A instituição voltou parcialmente às atividades, seguindo um cronograma de turmas estabelecidas. Segundo Ligiane Malfatti, 43, professora de Jornalismo da UniSecal, o retorno aconteceu no início do mês de agosto e está sendo realizado de forma gradual. Ela considera que a forma híbrida de ensino está sendo eficiente na instituição. “Aprendemos muito com as aulas on-line. Agora estamos mais adaptados. O ensino presencial tem vantagens incomparáveis. Assim, acredito que a forma como estamos tentando retornar possa ser eficiente”, afirma.
Porém, mesmo com o retorno presencial, a demanda de alunos que frequentam a universidade é baixa. De acordo com Giovana Montes Celinski, 31, professora e jornalista, a universidade está conseguindo atender os alunos e seguir os protocolos de segurança.. “Com esse número baixo de alunos, acredito que não tem problema, mas se a gente trabalhar com o número máximo, aí a gente precisa pensar em todo esse cuidado da estrutura do prédio”, ressalta.
Lucas Portela Haas, 23, estudante de Jornalismo na Unisecal, acredita que ainda não é o momento para a retomada presencial. Mesmo com a volta parcial da instituição, o aluno preferiu não retornar presencialmente. “Creio que não é nada seguro retornar agora. Um cenário ideal para isso seria se todos os alunos estivessem vacinados com as duas doses”, afirma.
Foto: arquivo Portal Comunitário
Pesquisa
Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), em parceria com a Educa Insights, mostra que 55% dos alunos de ensino superior em instituições privadas preferem o retorno presencial de maneira parcial. A pesquisa entrevistou 668 estudantes matriculados em cursos de graduação presenciais. A maioria demonstra preferência pela retomada das aulas em apenas alguns dias da semana e manutenção do ensino remoto nos demais dias. Ou seja, o ensino de forma híbrida é o que mais agrada os estudantes de universidades privadas.
Ainda de acordo com a pesquisa, 52% dos estudantes demonstram preferência pela volta presencial apenas das aulas práticas. Os que preferem o retorno das atividades teóricas somam 10%. Já os que gostariam da volta dos dois formatos, representam 38% dos entrevistados. A diferença também foi realizada entre aqueles que já tomaram pelo menos a primeira dose da vacina e os que ainda não foram vacinados. Entre os imunizados, 47% preferem o retorno presencial das aulas práticas, 10% a volta das aulas teóricas e 43% os dois formatos. Entre os não vacinados, 53% preferem a volta de aulas práticas, 11% as aulas teóricas e 34% os dois formatos.
Ficha técnica
Reportagem: Deborah Kuki
Edição e Publicação: Matheus Gaston e Levi de Brito
Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen
Pandemia afeta festas juninas em Ponta Grossa
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- Produção: Yasmin Orlowski
- Categoria: Cidade e cidadania
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Para manter a tradição, escolas fizeram festas pela internet
Pelo segundo ano seguido, a pandemia interfere na realização das tradicionais festas de julho em Ponta Grossa. Há impactos na rotina do comércio e na programação de igrejas. Na cidade, escolas particulares e municipais precisaram se reinventar para levar um pouco da celebração às crianças. Encontros online realizados pela internet com vestimenta caipira ou até drive thru foram adaptações comuns nas escolas durante a pandemia. Isso foi necessário para respeitar as regras de isolamento social e ordens de restrição da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O colégio particular Sant’Ana foi um dos que realizaram a festa adaptada. No dia 19 de junho, via drive thru, famílias compraram kits juninos e foram até a escola retirar os produtos, de carro e com máscaras. Algumas famílias foram a caráter e com os carros decorados.
Nem todas as escolas da cidade puderam fazer festas e isso entristeceu alguns alunos. Lais Ventura, mãe de duas crianças, diz que os filhos sentiram falta da festa.
Foto: Matheus Pileggi/Arquivo Lente Quente
Economia
Em Ponta Grossa, com o impedimento das festas presenciais por causa da pandemia, alguns comerciantes precisaram se reinventar. É o caso da vendedora Giovana Pitur que passou a vender cestas de festa junina pela internet. Pitur abriu a empresa durante a pandemia. Faz cestas com quentão, pinhão, canjica, bolo de fubá com goiabada, maçã do amor, entre outros. A autônoma diz que pretende continuar com as vendas no ano que vem.
No país, a festa junina gera empregos e movimenta a economia nos meses de junho e julho. Segundo o Ministério do Turismo, em 2019 aconteceram mais de 103 eventos em 15 estados brasileiros. Com a pandemia, este desempenho não foi repetido, o que afetou o trabalho de costureiras, bordadeiras, serviços de decoração, comércio de alimentos e comerciantes locais.
De acordo com dados do Ministério do Turismo, a cidade de Caruaru recebeu 2,5 milhões de pessoas - faturamento que movimentou cerca de 240 milhões de reais em 2019.
Tradição
A festa junina é uma celebração típica católica, que festeja três santos: Santo Antônio (no dia 13 de junho, considerado o santo casamenteiro), São João Batista (no dia 24, conhecido por batizar o povo, o que dá origem ao seu nome) e São Pedro (no dia 29, primeiro Papa da Igreja Católica). Esses santos inspiram novenas e simpatias.
As origens dessas festas vieram antes da tradição cristã: os índios já tinham o costume de fazer rituais no mês de junho. Com a chegada dos portugueses, em 1500, o caráter festivo dos indígenas se fundiu com o aspecto religioso dos portugueses. A culinária é um exemplo da mistura destas culturas: os grãos e raízes, como pinhão e milho, cultivados pelos indígenas, se juntaram às especiarias dos colonizadores. A celebração também tem um aspecto caipira, que reflete os primórdios da sociedade brasileira, cuja vida se dava no campo.
Ficha técnica
Reportagem: Yasmin Orlowski
Edição e Revisão: Eduardo Machado e Lucas Muller
Publicação: Marcus Benedetti e João Paulo Pacheco
Supervisão: Jeferson Bertolini, Mauricio Liesen e Marcos Antonio Zibordi
Produção de orgânicos surge como alternativa diante da alta dos preços dos alimentos
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- Produção: Laísa Braga
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Na última década, a produção orgânica aumentou em até 20% por ano
A região de Ponta Grossa tem 431 produtores de orgânicos. Foto: arquivo do pré-assentamento Emiliano Zapata
Diante da alta dos preços dos alimentos convencionais encontrados nos supermercados, os produtos orgânicos podem ser uma opção para quem precisa controlar gastos. Comumente encontrados em feiras, a procura por esses alimentos têm aumentado durante a pandemia, não somente pelo preço, mas também porque são mais saudáveis e livres de agrotóxicos. Em Ponta Grossa, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), pré-assentamento Emiliano Zapata, é um dos principais produtores de orgânicos no município.