O preço do gás de cozinha em Ponta Grossa, segundo pesquisa em 12 pontos de venda, varia de R$ 78 e R$ 95. O valor médio fica em torno de R$ 84,08. Em janeiro, o repasse do aumento aos consumidores ocorreu no dia 7. O incremento foi de R$ 5 no botijão de 13 kg. Com isso, os preços que variavam entre R$ 78 e 83 aproximaram-se dos R$ 90 em Ponta Grossa. Em 2020, a alta do GLP foi de 21,9%. O encarecimento afetou tanto o GLP 13 Kg, o chamado gás de cozinha, que passou a ser vendido nas refinarias a R$ 35,98, somente botijão, correspondente a 46% do preço total, quanto o GLP a granel, utilizado por indústrias, comércio, condomínios, academias, entre outros.
No início de fevereiro aconteceu o segundo acréscimo. No dia 9, a Petrobras promove mais uma vez aumento no preço nas refinarias do óleo diesel, da gasolina e do gás de cozinha. O gás de cozinha, que mexe diretamente com a renda das famílias brasileiras, fica 5,1% mais caro com elevação de R$ 0,14 o litro. Com o reajuste, o gás de cozinha foi para R$ 2,91 o quilo nas refinarias. Assim, só considerando as refinarias, o custo do botijão de 13 kg chegou em R$ 37,83.
A manicure Márcia de Paula, precisa completar a renda da casa trabalhando como diarista. Ela mora com as duas filhas, que estão desempregadas, e a casa depende, exclusivamente, do salário dela. Com o aumento do produto, a senhora de 52 anos, relatou sobre as dificuldades encontradas para controlar o consumo do gás. ‘’Com a pandemia, acabamos ficando mais em casa e desta maneira o gás é utilizado mais vezes. O aumento veio em um momento de dificuldades. Estamos controlando o uso do gás para evitar gasto desnecessário’’, diz a manicure.
Márcia revela que o auxílio emergencial ajudou no orçamento, mas que neste momento, só com ela contribuindo na renda familiar, está cada vez mais difícil encaixar os atuais valores do gás no orçamento. ‘’Espero que os preços diminuam, pois não está sendo fácil conciliar o gasto com consumo, cada vez mais difícil’’, desabafa.
Em nota oficial a Petrobrás considera que ‘’os preços de GLP praticados por tem como referência o valor de paridade de importação, formado pelo valor do produto no mercado internacional, mais os custos que importadores teriam, como frete de navios, taxas portuárias e demais custos internos de transporte para cada ponto de fornecimento, também sendo influenciado pela taxa de câmbio’’. O último reajuste fez com que valor médio do botijão de gás de 13kg comercializado pela estatal às revendedoras passasse para R$ 39,69 ao consumidor. Considerando o salário mínimo (R$ 1.100), o valor do gás de cozinha equivale a 3,6% da renda.
Consequência para dono de restaurante
João Verli Fagundes é proprietário do restaurante de médio porte no centro da cidade, Fogão à Lenha 2. Devido ao Decreto Estadual de número 6.983/2021, ficou proibida a circulação de pessoas em estabelecimentos comerciais das 22h00 às 6h00 do dia seguinte, com exceção dos serviços de delivery, que poderiam funcionar até às 23h00.
Desta maneira, o restaurante começou a trabalhar apenas com o serviço de entrega e retirada no balcão. O proprietário, apesar das modificações no sistema de venda, enfatizou que o aumento do preço do gás já é uma realidade sentida no dia-a-dia. ‘’Com certeza já está impactando nos custos de fabricação dos produtos. O valor chega ser tão alto para gente, que não é possível repassarmos esse aumento para o consumidor, se não, acabamos ficando sem clientes’’, esclarece.
Seguindo no ramo alimentício, o proprietário da marmitaria Vó Lurdes, Cleverson Mesquita, trabalha com a entrega de 50 marmitas por dia. Desta maneira, o gasto, além do gás de cozinha, acontece também no combustível, tanto do próprio veículo e também do motoqueiro que auxilia nas entregas. Segundo o empreendedor, o valor do GLP ainda não é o maior problema para manter as contas em dia. ‘’ No final do ano eu estava pagando entre R$ 72 e R$ 75. Agora, estou encontrando no valor próximo de R$ 77, não me afetou tanto o gás. O que está me ‘pegando’ é o valor da carne e do combustível’’, relata.
No início da noite da última segunda-feira (8), a Petrobrás anunciou novo aumento nos preços da gasolina e diesel nas refinarias, por meio da assessoria de imprensa. O preço passa a ser de R$ 2,84 por litro, alta de R$ 0,23 por litro (alta de 9,2%), enquanto o diesel passará a média de R$ 2,86 por litro, aumento de R$ 0,15 por litro (alta de 5,5%).
Além das altas no GLP, os valores dos combustíveis passam pelo sexto aumento em três meses. Desde o início deste ano, a gasolina subiu cerca de 54% do valor nas refinarias, enquanto o diesel chega a 41,6%.
Posição do governo sobre o aumento
O aumento desconsidera a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sobre anular a zeragem de impostos federais, durante live semanal transmitida pelas redes sociais, no dia 18 de fevereiro. “A partir de 1º de março não haverá qualquer imposto federal no diesel. Nesses dois meses, vamos estudar uma maneira definitiva de zerar esse imposto até para ajudar a contrabalançar esse aumento excessivo da Petrobras".
Durante a mesma live, Bolsonaro criticou Roberto Castello Branco, até então, presidente da companhia, que defendia a igualdade de valores com o mercado internacional. No dia seguinte, devido aos constantes reajustes, considerados excessivos pelo presidente da república, houve a troca na presidência da petrolífera. O executivo, indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, foi substituído pelo general Joaquim Silva e Luna, escolhido por Bolsonaro. O mandato de Castello Branco, no entanto, termina em 20 de março, e ele segue no cargo.
Na primeira semana após a mudança, a petroleira havia encolhido cerca de R$ 100 bilhões em valor de mercado. No dia 22 de fevereiro, segundo levantamento da provedora de informações financeiras Economática, a Petrobrás teria reduzido em R$ 74,2 bilhões.
O Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), com especialização Lato Sensu em Gestão de Políticas e Professor Colaborador na UEPG no curso de Pedagogia, Regis Clemente, afirma que os constantes aumentos dos combustíveis no Brasil, entre eles, o gás de cozinha representam um grande aumento no custo de vida dos brasileiros. ‘’ Na campanha eleitoral, o candidato Bolsonaro prometia baixar o gás. Após eleito, fez exatamente o contrário. O gás de cozinha pesa nas contas do final do mês, pois é um item básico para todas as famílias. Vemos nos últimos anos famílias apelando para o uso de lenha, devido não ter condições de comprar o gás. Bolsonaro adotou uma política de permitir que as empresas aumentem seus lucros às custas da miséria e do sofrimento do povo’’.
O especialista também comenta sobre as privatizações do governo, desde 2019. ‘’ Privatizou a BR Distribuidora, poços de petróleo, refinarias e sonha, junto com sua equipe de neoliberais lesa pátria, privatizar até a Petrobras’’. Por tratar-se de um item essencial para as famílias brasileiras, o aumento do gás de cozinha impacta diretamente na renda diária do trabalhador, finaliza o professor.
Ficha Técnica:
Repórter: João Paulo Calaça Pacheco
Foto: João Paulo Calaça Pacheco
Publicação: Denise Martins
Supervisão: Vinicius Biazotti