O Paraná é o quinto estado com menos representatividade feminina nas candidaturas para o executivo

 

Dos 1305 candidatos para as prefeituras do Paraná, nas eleições de 2020, apenas 146 são mulheres, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As candidaturas femininas correspondem a 11,2% do total para o executivo municipal. Segundo o TSE, o Paraná teve um aumento de 32% se comparado com a última eleição, de 120 para 146 candidatas.  Mesmo com essa nova margem no número de mulheres concorrendo à prefeitura, proporcionalmente, o Estado ainda é o quinto estado com menos representatividade feminina nas eleições para o cargo do executivo municipal.

A doutora em Comunicação Política, pesquisadora e professora, Luciana Panke, explica que esse não é um cenário isolado. De acordo com a professora, a baixa participação feminina em todos os cargos políticos, não só no executivo, faz parte de uma construção histórica, que coloca as mulheres fora da participação da vida política. “É muito naturalizada a ideia de que a política é ‘coisa de homem’, se habituou a ver o papel da mulher como algo figurativo”, afirma Panke. 

Nas eleições de 2020, no Paraná, 70% das cidades não têm nenhuma candidata mulher. E esse cenário não engloba apenas cidades pequenas. A capital, Curitiba, é a cidade com mais candidatas para o executivo em todo Paraná, porém, homens continuam sendo a maioria e representam 62,5% das candidaturas. Londrina, a segunda maior cidade do Estado, não tem nenhuma candidatura feminina para o cargo de prefeita esse ano. Maringá e Ponta Grossa têm duas candidaturas cada e Cascavel, uma. Neste contexto, algumas cidades menores se destacam com três candidaturas, como é o caso de Toledo e Carambeí.

Dos 399 municípios paranaenses, apenas 120 têm pelo menos uma mulher concorrendo à prefeitura. Esse número aumenta quando se trata do cargo de vice-prefeita, são 176 cidades que têm pelo menos uma candidata a vice no executivo. De acordo com Panke, as candidaturas femininas para o cargo de vice são mais comuns e estão em maior ascensão. “Nesse processo de mudança que está acontecendo, os partidos que não colocarem em evidência suas líderes vão ficar para trás, mesmo como vices, elas estão ali”, explica. Em 2020, o Paraná tem 247 candidatas para o cargo de vice-prefeita, com um aumento de 50% de candidaturas, da última eleição para este ano.

A presença feminina dentro da política não se limita apenas às candidaturas, o processo de participação da mulher na vida política até chegar em uma posição para ser apta a se candidatar é muito mais difícil se comparado ao processo do homem, é o que explica a jornalista e doutora em Comunicação, Camilla Tavares. “Temos um sistema partidário que não beneficia as mulheres, existe uma série de fatores limitantes. Para uma mulher conseguir chegar a disputar um cargo no executivo, ela tem que ter um capital político muito maior do que qualquer outro homem”, afirma. “A mulher que decide entrar para a vida pública precisa de uma rede de apoio e precisa ser incentivada, se ela não tiver isso, é muito difícil de conseguir se manter”, explica Tavares. 

O problema se encontra, também, dentro dos próprios partidos. “Dificilmente a mulher vai ser escolhida como primeira opção para disputar a prefeitura, porque dificilmente ela tem uma base sólida e um eleitorado consolidado”, comenta Tavares. 

 

As candidaturas femininas em Ponta Grossa

 

Em Ponta Grossa, o cenário das candidaturas para o executivo, pela primeira vez está equilibrado. É a primeira vez em que existe candidatas femininas para o cargo. Em 2020, duas das cinco candidaturas aptas são de mulheres: Elizabeth Schmidt (PSD) e Mabel Canto (PSC), com dois vices homens. Nenhuma chapa é composta em sua totalidade por mulheres.

Um fator muito comum dentro das candidaturas femininas, segundo Tavares, é o fato de candidatas entrarem para a competição com um capital social e político vindo de um homem. “Ou ela está entrando porque a própria pessoa não pode disputar, ou baseia a candidatura numa certa expressividade que esse homem tem, não necessariamente na política”, explica. Em Ponta Grossa, as duas candidatas mulheres que disputam as eleições ao executivo têm como base homens. Uma sendo a atual vice-prefeita e apoiada pelo prefeito - eleito duas vezes - e a outra com seu pai sendo uma personalidade midiática altamente influente na cidade.

 

No Paraná, 52% do eleitorado é feminino, porém a participação da mulher na política é muito pequena. Hoje, somente 30 das 399 cidades paranaenses têm uma mulher como prefeita. “Para conseguirmos aumentar essa expressividade enquanto de fato, precisamos encarar as candidaturas femininas como candidaturas competitivas. A gente ainda vê a candidatura feminina muito como um tapa buraco”, conclui Tavares.  

Visando uma maior equidade na política, desde 1995, as eleições para as câmaras municipais precisavam ter, no mínimo, 20% de candidaturas preenchidos por mulheres. Em 1997, a Lei das Eleições aumentou a cota para no mínimo 30% para todas eleições proporcionais. As cotas de gênero tentam equilibrar e solucionar a questão da desigualdade nas candidaturas do legislativo. Hoje, são 33.153 candidatos para vereador no Estado, desses, 35% são mulheres. Panke afirma que as leis e cotas são essenciais para o sistema eleitoral brasileiro, uma vez que obrigam os partidos a lançarem e a incentivarem as candidaturas femininas.  De acordo com a professora, o agendamento público de pautas relacionadas à mulher ajuda nesse processo de reconhecimento das mulheres no espaço político.

 

Ficha técnica:

Repórter: Emanuelle Salatini.

Edição: Daniela Valenga.

Infográficos: Emanuelle Salatini.

Supervisão: professores das disciplinas de textos III e NRI II.