Participação nos encontros cresceu de 10% em 2020 para 41% neste ano
De maio do ano passado até o mesmo mês deste ano, o grupo Alcoólicos Anônimos do Brasil (AA) registrou crescimento no número de mulheres participantes: de 10% para 41%. O crescimento geral foi de 9% e os homens continuam sendo a maioria, com 59% de participação.
Em Ponta Grossa, o alcoolismo também apresenta desafios. Segundo o Centro de Reabilitação (CRL) da cidade, desde o começo da pandemia todos os 38 leitos masculinos e 48 femininos sempre estiveram em uso. Quando liberados, os leitos já são preenchidos com prontidão e, na maioria das vezes, por pacientes reincidentes.
“Quando um paciente recebe alta, outro sempre surge para ficar com a vaga dele. Mas passados dois, no máximo três meses, o indivíduo volta a ter recaídas e necessita ser internado de novo, infelizmente. Alguns chegam a ter três dessas internações em apenas um ano”, afirma o diretor técnico e terapeuta ocupacional Leandro Luiz Leão do Centro do CRL.
O problema do alcoolismo ultrapassa as fronteiras do Paraná e de Ponta Grossa. No mundo, o observatório Global Drug Survey registra um aumento de 13% na média de consumo mundial de álcool.
Psiquiatra
Para a psiquiatra Alessandra Diehl, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudo sobre Álcool e outras Drogas (ABEAD), existem vários fatores que explicam o aumento no consumo de álcool no mundo.
Segundo a especialista, “o stress em ambiente doméstico cresceu 40% nesse período de pandemia, 26% só entre as mulheres, e a renda de 61,9% das casas sofreu algum tipo de diminuição”, detalha a psiquiatra ao citar dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
No caso do desemprego, para se ter ideia da dimensão de um dos exemplos citados pela psiquiatra, Ponta Grossa registrou um saldo negativo no último balanço realizado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) no começo de maio. Com 2.983 contratações contra e 3.112 demissões, o município teve 129 postos de trabalho fechados. O estoque de empregos em Ponta Grossa diminuiu para 94.702. Os números do Caged consideram apenas os trabalhadores com carteira assinada.
No caso da violência doméstica, para ampliar outro exemplo citado pela psiquiatra, o Juizado de Violência contra a Mulher registrou 784 pedidos por medidas restritivas judiciais desde o começo de 2021. O número representa mais de 51% de todos os pedidos realizados em 2020.O juizado informa que seguindo a tendência, devemos superar os números do ano passado.
Alessandra Diehl também menciona outros fatores que influenciam nesse cenário. “Além da possibilidade de beber com privacidade, há alta na oferta de lojas oferecendo serviços de delivery de álcool”, comenta a psiquiatra.
Só no aplicativo Ifood em Ponta Grossa, do total de 49 estabelecimentos que oferecem delivery de bebidas alcoólicas, 14 foram inaugurados no último mês de junho. Uma alta de 28% em relação ao mês de maio.
Medidas
A especialista defende medidas como aumento de impostos, controle de publicidade e patrocínio, assim como o monitoramento da responsabilidade corporativa. “Em termos de custo-efetividade, são as melhores medidas a serem tomadas na atualidade. São recomendadas tanto pela OPAS como pela Organização Mundial da Saúde (OMS)” argumenta Diehl.
No Paraná, o governador Ratinho Júnior instaurou um decreto que proíbe a venda de bebidas alcoólicas das 20h às 5h. A medida é válida até o dia 25 de julho.
Para Leão, do Centro de Reabilitação de Ponta Grossa, na prática tais medidas são paliativas. “Primeiro, porque o contingente policial não dá conta de fazer valer os decretos, pois precisa se ocupar com outras coisas mais importantes. Segundo, pelo que os pacientes nos contam, a maioria sempre dá um jeito de se prevenir e fazer um estoque de bebidas quando sabe da instauração de um desses decretos.”
Foto: Luiz Antonello.
SERVIÇO:
- Centro de Reabilitação (CRL):
Endereço: R. Bahia, 2334 - Nova Rússia, Ponta Grossa - PR, 84070-300
Ficha técnica
Reportagem: Yuri A.F. Marcinik
Edição e Revisão: Yasmin Orlowski e Malu Bueno
Publicação:Rafael Piotto
Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen