Portais de notícias em redes sociais não têm controle sobre a filtragem de comentários


O período de eleições municipais mobiliza os eleitores pelo Brasil inteiro. Com o avanço de um público que consome conteúdo noticioso via redes sociais, estas plataformas funcionam como um impulso para que os portais de notícias transmitam as informações de cada candidato de seu município. O problema é que uma parcela dos eleitores acaba utilizando destas postagens para alimentarem um debate injusto e antidemocrático, principalmente no espaço dedicado aos comentários.


Esses espaços acabam se tornando alvo de xingamentos aos candidatos, discussões e informações sem fontes comprobatórias. Em boa parte das vezes, apoiadores de candidatos comentam em publicações que citam propostas da oposição, recebem uma réplica e a discussão começa. Em uma apuração realizada, é possivel encontrar um exemplo característico desta situação. Em uma postagem de portais de notícias nas redes sociais sobre uma das candidatas à prefeitura de Ponta Grossa, alguns eleitores a chamam de “velha”, além de fazerem piada com a sua idade. Um comentário até faz menção à zona de risco da Covid-19.

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Os portais de notícia que divulgam seus materiais principalmente no Facebook, não tem condições de colocar uma equipe para fazer o controle e a filtragem de comentários, por contarem com uma redação enxuta e haver um grande número de postagens diárias. Por isso, esses comentários ficam expostos a outros leitores, facilitando na propagação de notícias falsas e difamações contra candidatos.
Em outra publicação analisada, é possível detectar a disseminação de uma fake news. A eleitora afirma que o governador Ratinho Júnior prometeu 100% de pavimentação na cidade de Ponta Grossa independente do próximo prefeito. Mas, na verdade, o governador afirmou que faria a pavimentação unicamente ao lado de um único candidato. No entanto, nenhuma outra citação envolvendo os outros candidatos é mencionada nesta situação. Inclusive, o comentário foi o que mais recebeu menções na publicação.

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Sobre a disseminação das fake news, o cientista político Fábio Góiris, em entrevista de arquivo para a Revista Nuntiare, coloca que essas ações podem interferir no modo de pensar dos demais eleitores. “Em períodos eleitorais podem ter a capacidade de mudar a opinião das pessoas, especialmente daquelas imersas no mundo da alienação”, diz o cientista político. Ferramentas e sites na internet fazem trabalhos de checagem de notícias falsas para auxiliar o leitor a filtrar o que é verdade ou não no meio online. Um desses sites é o Boatos.Org que desmente boatos que surgem na internet. A jornalista Kyene Becker da Silva trabalha para o site desde sua criação, em junho de 2013. Ela conta que o projeto surgiu como algo experimental, mas, devido ao crescimento de demanda, passou a ter um caráter profissional. Becker cita que apesar do portal publicar a comprovação de que um boato se trata de uma fake news, alguns leitores, no espaço dos comentários, ainda insistem em que o portal está errado. “Durante a pandemia, vimos muitas pessoas compartilharem notícias falsas com a desculpa de que: ‘vi que foi desmentido, mas essa essa não é a minha opinião’ e isso acarretava em uma desinformação”, lembra.


A jornalista continua ao dizer que “o primeiro passo sempre é checar a informação. Entrar nos sites de checagem. Se não encontrar a informação lá, você pode enviar para a gente que fazemos a checagem. Outro passo também é conferir na mídia, pois, se não encontrar lá, há algo muito estranho”.Outra dessas ferramentas de checagem é o Fato ou Boato, uma atualização da antiga página Esclarecimento sobre Notícias Falsas, que é administrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em parceria com nove agências especializadas em Fake News. Segundo o TSE, o Fato ou Boato conta com mais de 80 profissionais envolvidos no projeto. Porém, que não atendem a comentários feitos em redes sociais, visto que o projeto não trata de dúvidas específicas do leitor, e sim, funciona como uma força tarefa para desmentir boatos nas redes.


Há sites que combatem as notícias falsas, porém, os comentários continuam sendo veiculados, principalmente por essa dificuldade de controle. Fábio Góiris diz que é dever da população, agir no combate às Fake News. “Todos os cidadãos devem combater as  fake news. É uma luta universal contra a mentira e as manipulações discursivas. Mas, provavelmente, a melhor forma de combater é aumentando a cultura das pessoas, especialmente a cultura política.”
Para esta eleição, o TSE firmou parceria com as empresas Facebook Brasil e WhatsApp.inc, para combater a desinformação e abusos no período. Na rede social, foi criada a ferramenta Megafone, que ajudará na divulgação de informações sobre organização e medidas de segurança sanitária para os eleitores dias antes da eleição. Porém, essa ferramenta, assim como o Fato ou Boato, também não prevê uma forma combativa aos abusos cometidos nos espaços para comentários.

 

FICHA TÉCNICA:

Repórter: André Ribeiro Pires
Edição: Jessica Allana
Supervisão: Textos III, Núcleo de Redação Integrada II