“O ônibus sai cedo daqui e volta somente no fim da tarde. A passagem custa muito caro, um absurdo. Eu ainda tenho carro, mas a maioria da população não tem. Muitos precisam ir a pé”. O relato de Vanessa Góes da Rocha, moradora do distrito de Itaiacoca há 17 anos, revela um pouco da realidade da população que reside nos bairros mais distantes da região central de Ponta Grossa.

O distrito de Itaiacoca não possui linha de transporte coletivo da Viação Campos Gerais (VCG). De acordo com relatos de moradores, uma empresa particular realiza o transporte desses passageiros com apenas uma viagem de ida e volta. O valor da passagem está avaliado em torno de R$ 12. A Prefeitura Municipal de Ponta Grossa afirmou que não possui qualquer contrato ou vínculo com a empresa.

A ausência do serviço público de transporte também dificulta o acesso dos moradores a outras áreas, principalmente à saúde. “Se tiver uma consulta ou exame médico marcado, dependendo do horário, você tem que ir um dia antes, pousando na casa de um amigo ou parente, para realizar a consulta”, explica o morador do distrito, Anilton Cordeiro dos Santos. Em outubro deste ano, a população local protocolou, junto à prefeitura, um pedido para a implementação de uma linha de ônibus no local.

A situação do transporte público também é crítica na Vila Pinheirinhos, no distrito de Piriquitos. “Tínhamos o Metropolitano da Princesa dos Campos, que ia até Alto do Amparo (distrito da cidade de Tibagi). Mas agora, se precisar, tem que pegar o ônibus que vem de Telêmaco Borba e é bem mais caro. Dizem que nem sempre faz a parada aqui”, relata Vilma Robach, vice-presidente da Associação dos Moradores da Comunidade Pinheirinhos. Segundo relatos de moradores, as pessoas costumam dividir carros particulares para realizar o deslocamento.

Em contato com a Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, por meio da Assessoria de Imprensa, a reportagem apurou que existe um estudo em andamento a respeito da implementação de uma linha de ônibus em Itaiacoca. “A definição de linhas de transporte coletivo leva em conta diversos fatores, entre eles a distância, o número de potenciais passageiros e o impacto de custos na manutenção do sistema. (...) A Prefeitura avalia a possibilidade e os impactos da implantação de uma linha que atenda à região”, esclarece a nota enviada pela prefeitura. Até o momento desta edição, não se tem a informação a respeito de um projeto para solucionar este problema na comunidade Pinheirinhos.

Necessidade de políticas públicas

Os problemas de acesso ao transporte público nos distritos estão diretamente relacionados à falta de políticas públicas que permitam uma maior integração entre as áreas rural e urbana. A mestre em Ciências Sociais, Juliana Kawanishi, explica que essa questão se tornou uma dificuldade histórica para muitas cidades de grande e médio porte do Brasil, pelo fato do país ter sido, por muito tempo, essencialmente agrário. “Com as transformações decorrentes do processo de industrialização, veio o êxodo rural, que também contribuiu para o inchaço urbano e para a centralização das atividades”, destaca.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2010) comprovam a existência desse fenômeno em Ponta Grossa. Os números da pesquisa apontam que o município possui um grau de urbanização avaliado em 97,79%. Ao todo, aproximadamente 6,8 mil pessoas estão situadas em locais distantes da malha urbana da cidade. O IBGE também destaca que a área rural possui uma taxa de crescimento geométrico populacional negativa, com -0,08%.8 Allyson e Cícero Transporte Distritos Infográfico

“Essa baixa densidade demográfica na área rural traz algumas consequências, como a carência em alguns serviços de saúde e educação, por exemplo”, explica Kawanishi. A escassez de serviços, somada à precariedade na oferta de transporte público, contribui para que esses cidadãos fiquem cada vez mais à margem.
Os impactos relacionados à mobilidade urbana vão além dos serviços considerados essenciais. “Atualmente, a gestão do município não contempla soluções para a temática do transporte”, ressalta Maria Iolanda de Oliveira, mestre em Serviço Social e professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
“A existência de um monopólio neste setor contribui para a ausência de estratégias que possibilitem uma mudança radical e o surgimento de novas políticas públicas voltadas para essas populações”, explica Oliveira. Para a pesquisadora, este será um dos principais desafios para as próximas administrações municipais.
Oliveira também destaca a importância de uma remodelação da dinâmica urbana de Ponta Grossa, levando em conta o crescimento populacional e a execução do Plano Diretor. Outra questão fundamental apontada pela especialista é o estímulo ao debate público junto aos conselhos da cidade. A mobilização popular dentro dos bairros também deve ser levada em conta para reverter este cenário.

Ficha Técnica:
Reportagem: Allyson Santos e Cícero Goytacaz
Edição: Natália Barbosa e Thaiz Rubik
Supervisão: Profa. Fernanda Cavassana