Dos cinco candidatos, nenhum colocou no plano de governo soluções para o problema

Ponta Grossa conta, atualmente, com mais de 120 bairros e distritos no município. Nas centenas de vilas, são contabilizados mais de 150 arroios por toda a cidade, onde existem mais de 250 pontes e travessias; a maior parte delas em situação de abandono. Mesmo com o tamanho do problema, nenhum dos candidatos a Prefeitura Municipal colocou nos planos de governo propostas para que essas passagens possam ser melhoradas. Esse será um desafio que o gestor eleito encontrará pelos próximos quatro anos.


Em grande parte das vilas, as pinguelas são a única forma de encurtar a distância de um bairro para o outro. Isso porque, em muitas ocasiões, é necessário dar a volta por outro bairro para chegar ao destino ou procurar o ponto de ônibus mais próximo. Um exemplo é o logradouro Jardim Três Rios, localizado na Chapada. Os moradores da região para chegarem ao bairro vizinho, o Bonsucesso, precisam dar a volta pelos bairros Los Angeles, Manacás e Santa Luzia; um trajeto de quase 5 quilômetros. Como a distância é longa, os moradores preferem correr o risco de passar por uma pinguela em situação precária, evitando o longo trajeto.
Quem evita fazer o trajeto e se arrisca na ponte todos os dias é Cristina Kovalski, dona de casa, 36 anos. Cristina é moradora do Três Rios e precisa levar a filha todos os dias ao Centro Municipal de Educação Infantil, o CMEI. A moradora reclama da situação da travessia e pede mais atenção com a situação. “A ponte vai aguentar até um vereador se lembrar de nós porque a eleição está aí e eles começam a lembrar do povo. Só para pedir voto que eles lembram’’. Cristina complementa dizendo ‘’não precisa nem arrumar o ‘carreiro’, nós ficamos no meio do mato mesmo, arrumando a ponte já está muito bom para nós’’.


A maior parte das propostas direcionadas aos bairros é para a área do lazer. Alguns candidatos propuseram a continuação do programa Meu Campinho, com a construção de quadras de futebol society nas vilas. Outras propostas são a reforma e a manutenção de praças e a criação de calçadões pelos bairros. Ao abordarem mobilidade urbana, o tema mais explorado é a pavimentação de ruas já existentes, o que não beneficia quem necessita das pontes. Na área da saúde é prometida a criação de mais Unidades Básicas de Saúde (UBS). Entretanto, eles esquecem que, para chegar na UBS, são necessárias condições para irem até ela, ou seja, pelas pinguelas.
A arquiteta, urbanista e professora do curso de Engenharia Civil da UEPG, Nisiane Madalozzo Wambier, explica que o descaso com os problemas de pontes e de travessias é estrutural, o que afeta Ponta Grossa desde a sua emancipação: “Da maneira que a cidade se desenvolveu temos as vias principais dos bairros localizadas nos pontos altos dos terrenos. Devido a isso, locais que foram pavimentados primeiro, que acabaram se tornando as vias principais, são as partes altas e planas’’.


Wambier ressalta o motivo de haver pouco investimento nas áreas próximas a arroios: “O caminho levou as outras áreas, as iniciais, a terem investimento e serem valorizadas por metro quadrado. Assim os fundos de vale, onde passam os rios e riachos têm menos valorização do mercado imobiliário, resultando nessa desigualdade social’’.
Os problemas com as travessias ocorrem há anos e são passíveis de reclamações por parte dos moradores. O aposentado Vitor Buten, de 63 anos, que mora na Palmeirinha, cobra um posicionamento por parte do legislativo. ‘’Os caras vêm aí e prometem. Vem outro e promete. No fim, nada feito até agora. Mas estamos em época de política. Agora, vêm os candidatos pedirem voto e é a hora de dizer não’’. Buten mora na Rua dos Bandeirantes e há apenas duas saídas de sua casa, pela pinguela ou pela subida da rua que é íngreme, onde nem veículos motorizados conseguem subir.


Para o jornalista que abordou planejamento urbano na defesa do seu Trabalho de Conclusão de Curso, Pedro Andrade, uma das atribuições para essa problemática é a desinformação dos candidatos a respeito do assunto. ‘’Mais problemático que notar que esses assuntos não são debatidos, é perceber que isso acontecer por haver falta de conhecimento sobre, como conhecimento específico e técnico’’.
Para Andrade, esse problema virou algo comum aos olhos de quem não vive essa realidade. ‘’Se tornou consensual nas últimas gestões dizer que Ponta Grossa passa por problemas em seu planejamento advindas de sua topografia, principalmente em regiões de fundo de vale. Pensam na cidade a partir da centralidade urbana e esquecem de ouvir os clamores e anseios populares de quem vive a cidade as margens, nos bairros’’.


Em alguns casos, como em setembro do ano passado, houve a promessa de manutenção de algumas pinguelas no prazo de até seis meses, o que foi verificado pela equipe de reportagem no mês de março deste ano. Entretanto, foi comprovado que a Secretaria Municipal de Obras sequer visitou a localidade para vistoriar a travessia.

 

FICHA TÉCNICA:
Repórter: Eduardo Machado
Edição: Vítor Almeida
Supervisão: professores das disciplinas de Texto III e NRI II