Os gestores afirmam que há a necessidade de eleger prioridades para aplicar o investimento nas políticas públicas do esporte

 

Em 2019, de acordo com a Secretaria Municipal de Esportes, o valor orçado para investir no esporte da cidade era de R$9.768.755,26, sendo 60%valor destinado à folha de pagamento. Além disso, o orçamento previa manutenção dos espaços esportivos da cidade, promoção decompetições esportivas locais e investimento em atletas de alto nível. Esses valores não aparecem descritos no Portal da Transparência. 

Parte desse montante também é, ao longo do ano, destinado para a distribuição de bolsas para atletas e técnicos das equipes que representam a cidade em competições oficiais do Estado do Paraná, como por exemplo: Jogos Abertos (JAPs), fase regional e divisão A e B. Em 2019, Ponta Grossa disputou as modalidades bocha,bolão, futebol, futsal e handebol, na fase regional. Na divisão B do JAPs, bocha, futebol, kickboxing e vôlei de praia. Já na divisão A, foram disputadas 15modalidades, incluindo entre esportes coletivos como basquetebol e futebol, voleibol, e individuais como atletismo, ciclismo, natação, tênis de mesa e xadrez. Ponta Grossa encerrou a competição na 6° colocação geral. 

 

Foto: Allyson Santos

Bolsas aos atletas

Alguns dos atletas que participam dessas competições são contemplados pelo Projeto Prata da Casa, promovido pela Secretaria de Esportes da cidade. Esse projeto objetiva incentivar os atletas locais em competições regionais, estaduais e internacionais. Em 2019, 80 atletas foram selecionados para receber a bolsa.Nesse investimento, o valor total gasto pela secretaria foi de R$ 226.667,56. 

A divisão do valor que será recebido pelos atletas é baseada nos resultados em competições que eles apresentam no ano anterior. Para receber a bolsa o atleta precisa entregar um currículo na prefeitura, após esse procedimento é selecionado o valor que é destinado para cada atleta. Os atletas podem se encaixar nas categorias: iniciante, juvenil, adulto e alto nível. A atleta de ciclismo Talita Oliveira é destaque paranaense. Ela é a atual campeã brasileira da categoria contra o relógio, tricampeã do ranking nacional, campeã paranaense e vice campeã dos Jogos Abertos do Paraná. Em 2019, a ciclista foi campeã brasileira, por isso se enquadra como atleta de alto rendimento.

Para Oliveira, o valor do incentivo não é o ideal, pois um atleta de alto rendimento possui outros gastos além dos treinamentos, como a alimentação, suplementação e equipamentos. Ela defende que a prefeitura deveria investir mais no esporte, principalmente nos atletas que carregam o nome da cidade para outros lugares do Brasil.“Eu já fui convocada para a seleção brasileira, então já levei esse nome internacionalmente. Acho que a gente precisa de mais incentivo. Precisa de uma lei mais clara que beneficie o esporte de base e de alto rendimento, que seja uma prioridade e principalmente uma prioridade para atletas de Ponta Grossa. Nós temos atletas ótimos na cidade”, ressalta.

Outro destaque ponta-grossense é a atleta Wanessa Zavolskique, que em 2019, conquistou a melhor marca do Brasil na corrida 400 metros com barreiras. Em 2018, a atleta chegou a ocupar o segundo lugar no ranking nacional e o sexto da América do Sul, após atingir a melhor marca de sua carreira, no Troféu Brasil. Em fevereiro deste ano ela venceu uma competição em Maringá, nas categorias 400m com barreira e 400m rasos. 

Wanessa também é contemplada pela bolsa do projeto, apesar de ter o seu pagamento suspenso neste ano. “Não estou recebendo esse incentivo financeiro, apesar de ter mantido meu o treinamento ao longo deste ano. O motivo foi o cancelamento das principais competições onde os ponta-grossenses representam seu município”, explica. Segundo Zavolski, o valor recebido ajuda nas despesas esportivas, mas também não é suficiente para se manter no esporte, por isso acaba utilizando de outros meios para conseguir uma arrecadação que supra suas necessidades. 

Segundo a assessoria da Secretaria Municipal de Esporte, atualmente, recebem auxílio atletas de alto nível que participam de competições nacionais e internacionais, alguns campeões brasileiros e integrantes da seleção brasileira. As modalidades que não sofreram cortes nas bolsas, neste ano, foram karatê, jiu jitsu, ciclismo, judô, xadrez e kick boxe. 

Além das bolsas destinadas aos atletas destaque, os técnicos também recebem um auxílio ao longo da execução do projeto. O valor mínimo que um técnico pode receber é de R$1.000,00, que pode ser maior dependendo dos resultados das equipes em anos anteriores. A Secretaria Municipal de Esporte frisa que os valores destinados para esses profissionais não são referentes ao salário, mas sim um auxílio pelo treinamento e pela participação em Jogos Oficiais do Paraná.

Há seis anos Milos Alexander é técnico das equipes feminina e masculina de basquete da cidade, as quais participam dos Jogos Abertos. Ele comenta que o auxílio fornecido pela prefeitura é importante para que seja possível manter o esporte ativo durante o ano. Além disso, a Secretaria de Esportes utiliza seu orçamento para dar assistência em casos de lesão, alimentação e na logística dos jogos.

O treinador explica que as bolsas são o que garantem uma rotação maior no esporte, mas que a quantidade atual ofertada pela Secretaria de Esportes limita possíveis alterações necessárias no time. “Hoje, no basquete, uma modalidade coletiva, nós trabalhamos com seis bolsas. A gente brigou bastante nesse ano para ter a condição de ter de oito a dez bolsas, mas não conseguimos”, conta. Segundo o técnico, a solicitação para aumento de bolsas destinadas aos atletas foi feita após a conquista dos Jogos Abertos, com o objetivo de manter a equipe mais competitiva e com alta qualidade.

 

Foto: Allyson Santos

 

Nem todas as modalidades são contempladas

A Secretaria de Esportes também fornece locais de treinamento e transporte para competições fora da cidade. De acordo com o Secretário de Esportes de Ponta Grossa, Marco Macedo, destaca que a cidade está entre as cinco maiores forças do esporte paranaense, porém o município não consegue abranger todas as modalidades, por exemplo, o time de handebol. A equipe de handebol feminino que representa Ponta Grossa foi organizada de forma independente pelas próprias atletas, a poucos mesesdas inscrições da fase Regional dos Abertos em 2019.

A Secretaria de Esportes realizou a inscrição da equipe e disponibilizou um horário semanal para treinamento e o transporte para que pudessem participar da competição. No entanto, o time apresenta algumas dificuldades financeiras e, segundo o treinador Euller Lima, a prefeitura cede apenas local para treinos com horários restritos. O salário do técnico e as demais despesas da equipe são pagas por meio de patrocínio, mas esse valor de fonte privada também não viabiliza transporte e ajuda de custo para comissão técnica e atletas.

 

Pesquisa aponta momento de transição no esporte em PG

Na pesquisa realizada em 2017, que faz parte da dissertação de mestrado em Ciências Sociais Aplicadas, a doutoranda Érica Fernanda de Paula teve como seu objeto de estudo a Fundação Municipal de Esportes (atual Secretaria de Esportes). Érica de Paula constatou, por meio dos discursos dos administradores da gestão 2017-2020, que o investimento com relação ao âmbito esportivo, voltado ao esporte de rendimento em Ponta Grossa, estava passando por um momento de transição. “Há relatos sobre a tentativa de ampliar as opções de acesso ao esporte de participação e ao esporte de base, enquanto o esporte de rendimento passa a ser realizada com recursos vindos principalmente de parcerias com outras entidades”, explica a pesquisadora.

Segundo ela, o esporte de rendimento vem sendo deixado em segundo plano. Já o esporte participativo e relacionado a saúde e ao lazer ganha força com relação ao investimento, projetos e ações a serem desenvolvidas pela secretaria. Isso pode ser justificado, pois os recursos destinados ao esporte são escassos. Também porque o esporte de alto nível demanda alto valor que atinge um número reduzido de pessoas, quando comparado com as demais manifestações esportivas. “O esporte de rendimento exige um maior investimento, porém além das questões relacionadas aos custos, o esporte de rendimento também é destinado para uma pequena parcela da população. Em contrapartida, as ações destinadas ao esporte escolar, de formação e de participação conseguem abranger um número maior da população”, analisa.

Com relação ao orçamento e recursos da Secretaria de Esportes, Érica de Paula afirma que há a necessidade dos gestores escolherem quais são as prioridades para a elaboração das políticas públicas municipais relacionada aos esportes. No caso da cidade de Ponta Grossa, o esporte de alto rendimento é tido como aspecto secundário quando comparado com as demais manifestações esportivas.

 

Esporte de alto rendimento e as eleições 2020

Dos cinco candidatos(as) que concorrem à eleição municipal deste ano, apenas o Professor Edson (PT) não cita o esporte de rendimento no seu plano de governo. A candidata Mabel Canto (PSC) tem como proposta o maior incentivo aos atletas de alto rendimento, representantes da cidade em competições regionais, nacionais e internacionais. 

A professora Elizabeth (PSD) promete apoio aos programas de qualificação e preparo de atletas de alto rendimento, principalmente referente a modalidades coletivas, incluindo ainda a equipe de base do Operário Futebol Clube. A candidata promete ainda a ampliação do projeto Esporte de Base, e programas Bolsa Técnico e Prata da Casa.

Marcio Pauliki (Solidariedade) propõe a manutenção de um calendário anual, e da realização das etapas finais dos jogos oficiais do estado do Paraná. O candidato indica a formulação de uma Lei de Incentivo ao Esporte local e reconhecimento dos destaques esportivos da cidade por meio do ‘Mérito Desportivo’.

O professor Gadini (PSOL) tem como proposta a reestruturação e profissionalização da ‘Fundação Municipal de Esportes’. O candidato pretende usar o diálogo com profissionais e entidades do âmbito esportivo, e propõe a criação do Centro de Inclusão Educacional Esportiva para o melhor aproveitamento de talentos esportivos desperdiçados.

 

Ficha Técnica

Reportagem: Amanda Dombrowski e Fabiana Manganotti

Edição: Maria Fernanda Laravia e Matheus Rolim

Supervisão: Profa. Fernanda Cavassana