A cidade só teve 10 mulheres eleitas vereadoras em mais de 60 anos

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Fonte: Verner; Cervi, 2020

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Fonte: Verner; Cervi, 2020
Em toda a história política do município de Ponta Grossa, houve somente 10 representantes mulheres no Poder Legislativo. Ao longo dos anos, a representatividade feminina dentro da esfera política é minoritária e isso era mais difícil até 2012, quando não era exigido o número mínimo de 30% de candidatas em coligações e partidos que concorrem ao processo eleitoral.


Mudanças como o fim das coligações neste ano alteram o cenário e podem permitir mais condições na eleição de mulheres, analisa o pesquisador em Comunicação Política Afonso Verner. Além disso, 2020 é o primeiro ano em que há candidatas ao cargo de prefeita da cidade, as quais, conforme pesquisa eleitoral divulgada pelo Instituto Opinião Pesquisas (07/11/2020), lideram as primeiras colocações na intenção de votos.


No site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é possível averiguar que na eleição de 2016, em todo o Brasil, 14.722 (10,4%) mulheres receberam zero votos, de um total de 142.041, enquanto foram eleitas somente 7.818 mulheres como vereadoras. Em artigo científico recente sobre a participação das mulheres nas eleições de Ponta Grossa, Verner indica que a viabilidade da candidatura feminina interfere diretamente nas chances de eleição. A maioria das mulheres não recebem voto, pois a população não acredita nas reais chances de vitória, conforme é indicado no estudo, realizado junto com o Prof. Emerson Cervi, da UFPR. Quanto à reeleição, somente 2.071 vereadoras foram reeleitas, em 2016.


Por causa de todo processo eleitoral, que é desgastante e caro, muitas mulheres optam pela desistência, já que não veem uma possível eleição. “Isso acontece em parte porque as mulheres não são socializadas em política. As mulheres tendem a participar da política, até mesmo nos partidos, mas sem a capa institucional”, discorre a pesquisadora em Ciência Política, Larissa Peixoto. Ela também comenta que a efetividade da chamada lista aberta não possui eficácia para essa representatividade feminina.


A lista aberta, explica Peixoto, é quando os partidos dispõem todos seus candidatos para votos e a população escolhe livremente, sendo que o mais votado é eleito. “Em outros sistemas como na Argentina, Bolívia, Suécia, existe o sistema fechado, a cada um ou dois homens, tem uma mulher, o eleitorado vota no partido. A lista aberta não é eficaz”, completa Peixoto.


Na lista fechada, a população vota no partido, usualmente naquele com o qual a quem tem mais afinidade, desse modo, valorizando, desse modo, os chamados ideais políticos. Depois, esses votos são distribuídos em uma lista pré-definida de candidatos dentro do partido. Com isso, as chances de mulheres serem eleitas são maiores porque não irão dividir-se entre várias, mas sim concentrar todos em um ou dois partidos que defendam a bandeira da representatividade feminina.


Na lista fechada, a população vota no partido, usualmente naquele com o qual tem mais afinidade, valorizando, desse modo, os chamados ideais políticos. Depois, esses votos são distribuídos em uma lista pré-definida de candidatos dentro do partido. Com isso, as chances de mulheres serem eleitas são maiores porque não irão dividir-se entre várias, mas sim concentrar todos em um ou dois partidos que defendam a bandeira da representatividade feminina.


Rose Mendes, mais conhecida como Professora Rose, é a única vereadora mulher na atual legislatura de Ponta Grossa. Ela entrou na política em 2016, sem histórico de carreira política. Conforme a pesquisa de Verner e Cervi, é mais fácil a eleição quando se tem aliados e ligações políticas fortes, principalmente quando há laços familiares. Na história dos vereadores da cidade, todas as mulheres eleitas até 2016, tiveram fortes envolvimentos com homens que possuíam carreira política firmada, enfatiza Verner. Isso, não aconteceu com a Professora Rose. “A minha hipótese é de que o perfil conservador do eleitorado explica tal sub-representação”, completa.


“Nós mulheres temos um olhar diferenciado para tratar das pautas femininas. Muitas questões são sentidas e vivenciadas apenas por nós e, por esta razão, precisamos desse olhar diferenciado de mais legisladoras”, enfatiza a vereadora. A importância de ter mulheres no poder legislativo impacta diretamente nas leis que são realizadas e que protegem as mulheres. As discussões realizadas na câmara são complicadas quando a voz das mulheres é minoria, ou quase inexistente, esse é um dos maiores desafios, comentou Professora Rose.


Por outro lado, existe uma preocupação de parte das eleitoras em realizar um voto consciente, que eleja mulheres que foquem em pautas femininas. “Ter representantes nas minorias na política permite que a gente tenha voz. Seria mais fácil para levarmos pautas à discussão, por mais que não fossem pra frente, é um começo”, enfatiza a estudante de psicologia, Ana Maria Machado.


Atualmente, em Ponta Grossa, existem 461 candidatos ao poder legislativo. Para a legislatura de 2020-2024, estão em disputa 19 cadeiras da Câmara Municipal. Desse total, 156 mulheres tentam uma vaga como vereadora da cidade. Para que essas mulheres tenham mais chances de eleição, foram criados alguns iniciativas que exploram perfis nas mídias digitais para valorizar e promover a representatividade na política.


O Vote Nelas é um coletivo suprapartidário que existe em vários estados do Brasil, organizado de forma independente e voluntária, e trabalha para que mulheres sejam reconhecidas como força política. É uma tentativa de incentivar o voto consciente para eleger representantes que defendem pautas ligadas aos direitos das mulheres.


Em 2018, nasceu o Vote Nelas PG com objetivo de eleger mulheres em Ponta Grossa. Isadora Henneberg Reis, uma das criadoras do coletivo, explica sobre o que a falta mulheres eleitas pode resultar. "Isso acarreta em um problema muito grande porque vivemos em uma democracia representativa e precisamos de pessoas que nos representem e vão lutar por nós, construir políticas públicas para mudar a realidade das mulheres", explana.


As primeiras vereadoras de Ponta Grossa

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No contexto histórico político da cidade, desde 1951, poucas mulheres foram eleitas no poder legislativo. Conforme a série documental do portal Maria Pauteira, a maioria, eram conhecidas pela sociedade ponta-grossense e possuíam uma boa articulação política. A primeira mulher eleita como vereadora em Ponta Grossa foi Cândida Mendes de Braz que era servidora pública.


Conforme as biografias da Maria Pauteira, Nassima Sallum foi a terceira vereadora eleita em 1993. Figura conhecida da população, ela sempre estava presente nos meios de comunicação da cidade, auxiliou também na campanha do marido. A última vereadora, antes da Professora Rose, foi Adélia Souza. Já atuante na política fazendo parte das campanhas do Dr. Zeca (atual vereador).


Ficha Técnica
Repórter: João Pedro Teixeira e Veridiane Parize
Edição: Amanda Dombrowski e Fabiana Manganotti
Supervisão: Profa. Fernanda Cavassana