Encarecimento da carne impacta saúde nutricional da população

“O preço da comida aumenta e o salário continua o mesmo. Fazemos redução e tentamos comer menos carne para não gastar.” Esse é o relato de Marta Lemes da Rosa, mãe de dois filhos e servidora pública. Seu marido foi afastado do trabalho durante a pandemia por fazer parte do grupo de risco, o que afetou a renda mensal em sua casa. Marta aponta que com a alta no preço, a carne bovina já não faz mais parte da alimentação da família.
A fim de substituir a carne vermelha, a servidora precisou optar por outras proteínas animais, como as carnes de frango, porco e embutidos. “Você ia no mercado, comprava R$100 de carne e passava o mês. Hoje, este valor não dá nem para a semana. Estou cortando a mortadela em pedaços e fritando para ficar parecido com o bacon”, destaca. Outra solução encontrada por Marta foi consumir ovos, legumes e frutas no dia a dia.
É o mesmo caso de Antônio Pereira Barbosa. Aposentado, Barbosa deixou de ingerir carnes vermelhas e precisou optar por outros alimentos a fim de conseguir sustentar a sua casa. “Se eu opto por comprar carne, faltam os outros alimentos que nos sustentam, como o arroz, feijão e verduras. Aqui em casa já esquecemos o que é churrasco. Não temos condições de fazer. Buscamos comprar o frango inteiro, por exemplo, para aproveitar tudo”, relata.

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Foto: Janaína Cassol

 

 Nutrição

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo diário de proteína deve ser de 0,8 a 1,5g por quilo de cada pessoa. Apesar de ser possível substituir a carne pela proteína vegetal, as substâncias de origem animal são mais completas nos aminoácidos essenciais e não são produzidas pelo organismo. “Quando não se ingere carne, é preciso atentar-se aos baixos níveis de vitamina B12, vitamina D, ferro, zinco e ômega 3. Caso contrário, as pessoas entram em vulnerabilidade alimentar”, destaca a nutricionista Danila Gavron. Uma das alternativas, seria ingerir grandes quantidades de alimentos de origem vegetal, como lentilhas e amêndoas. Porém, o preço desses alimentos também pesa no bolso do consumidor.

 

Inflação

Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as carnes acumularam alta de mais de 22% entre os meses de junho de 2020 e setembro de 2021. Em outubro, os valores dos cortes caíram em 0,31%, porém essa diferença ainda não pode ser vista no bolso dos consumidores.
De acordo com o economista João Adolfo Stadler Colombo, a variação dos preços se deve ao aumento nos custos de outros setores que influenciam tanto na produção, quanto no transporte e na refrigeração desses alimentos- como a ração, o combustível, a energia elétrica e a água. Além disso, a alta do dólar e as exportações de carne também contribuíram para que o preço dela aumentasse no mercado brasileiro.
Além destes fatores, os produtores de gado brasileiro têm maiores interesses em vender os cortes ao mercado internacional, a fim de lucrar mais. “Enquanto há grupos econômicos beneficiados com a conjuntura atual, ocorre um declínio na qualidade de vida para as famílias menos favorecidas, visto que para além desses aumentos não ocorrem reajustes em suas rendas”, destaca.
Houve uma alta demanda no mercado brasileiro diante do consumo das carnes de frango e de porco, o que contribuiu para a escassez e aumento do valor. “Para essas pessoas, que desde antes da pandemia já passavam por momentos difíceis, agora elas se encontram em condições subumanas, recorrendo a ossos, tripas ou aquilo que consiga prover qualquer fonte de proteína”, descreve Colombo.

Este texto faz parte da edição 220 do Foca Livre, jornal-laboratório produzido por alunos do segundo ano de jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
https://periodico.sites.uepg.br/index.php/foca-livre/2505-foca-livre-edicao-220-novembro-e-dezembro-de-2022

 

Ficha Técnica:

Repórteres: Ana Luiza Bertelli Dimbarre e Janaina Cassol

Edição: Leriany Barbosa & Yuri A.F. Marcinik

Publicação: Yuri A.F. Marcinik

Supervisão: Marcos Zibordi, Mauricio Liesen e Jeferson Bertolini