Quase 40% da população de Ponta Grossa recebe até dois salários mínimos

Mesmo com o aumento de 10% do salário mínimo nacional, que passou a valer em janeiro de 2022, a população enfrenta dificuldades ao comprar itens básicos. Apesar da variação de R$ 1.100,00 para R$ 1.212,00, o rendimento salarial de hoje equivale, em média, ao mesmo poder de compra de seis anos atrás, de acordo com o doutor em Desenvolvimento Econômico, Celso José Costa Júnior. 

Para o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), considerando os gastos básicos para o mês de abril, o salário mínimo necessário deveria ser de R$ 6.754,33. O economista explica o motivo do reajuste salarial não ser proporcional aos gastos da população. “O governo federal sofre com questões fiscais desde 2015, o que torna o reajuste cada vez mais complicado, pois, se aumenta o valor, logo a previdência social também precisa ser atualizada, gerando mais gastos aos cofres públicos”.

Segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que analisa a situação financeira de famílias com rendimentos de um a cinco salários mínimos, entre janeiro e abril deste ano houve um aumento de 1,87% na inflação nacional.

Realidade local

De acordo com o relatório do projeto Caravelas, que calcula o custo de vida dos municípios, cerca de 39% dos ponta-grossenses pertencem à classe E (até dois salários mínimos). Este é o caso de Maria Leonilda Galvão, de 69 anos, que recebe exatamente um salário mínimo via Benefício de Prestação Continuada (BPC). A idosa, que reside sozinha em Ponta Grossa, destaca que, se não fosse o suporte financeiro do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), ela não conseguiria pagar nem metade das contas mensais. 

Nos últimos anos, Leonilda começou um tratamento com remédios de uso contínuo para embolia pulmonar. Devido a quantidade de remédios que precisa comprar, ela sente a alteração dos valores no bolso. “Ano passado, eu comprava um medicamento na farmácia que custava 20 reais, já neste ano, ele vale 35 reais. Para conseguir comprar esse e outros remédios, precisei deixar de comprar outros itens no mercado, como carne e leite”.

Salário mínimo poder de compra Ponta Grossa

Ponta-grossenses sofrem para realizar compras básicas mensais. Foto: Heryvelton Martins

 

Se está difícil para quem ganha um salário mínimo, imagina para quem recebe menos. A professora de educação infantil, Kethelyn Mello, recebe R$ 1.100,00. Atualmente, ela reside com o marido na casa dos avós, até terminar de construir sua residência. Devido à construção, tanto ela e o marido gastaram mais do que previam.

“Por sorte, temos ajuda do meu pai para terminar a casa, mas metade do meu salário vai somente para tentar comprar os móveis, o que não está sendo fácil”, revela. A professora também explica como funciona a divisão dos gastos mensais entre ela, o marido e os avós. “Por exemplo, um paga luz, outro a água, já nem temos internet em casa para não gastar a mais, porém, se fosse depender somente do meu salário, eu morreria de fome”, enfatiza.

O economista Celso José Costa Júnior afirma que a economia do país não tem previsão de melhora por, pelo menos, mais um ano. “O processo inflacionário não vai melhorar, o mercado de trabalho não vai melhorar o suficiente para considerarmos um ganho à população". 

O economista ainda complementa que o atual governo está no limite fiscal de gastos e, devido ao ano de eleição, as contas públicas estão sobrecarregadas. “Infelizmente, a população vai sofrer muito neste ano e o número de inadimplentes tende a aumentar.”

 

Ficha técnica

Reportagem: Leriany Barbosa

Edição e publicação: Leriany Barbosa, Maria Helena Denck

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen