Venda de camisetas falsificadas foi a mais alta de todos os tempos, segundo vendedores
O legado que a Copa do Mundo de 2022 deixou para o mercado de venda de camisetas, no Brasil, não é legal. A venda de camisetas falsificadas bateu recordes de vendas neste ano. A realidade que se observou nos meses que antecederam ao mundial deve permanecer para os próximos anos. Com procedência desconhecida e ilegalidade fiscal, mas com preços mais acessíveis, esse tipo de produto ganha força no mercado desde 2019, segundo vendedores. Em 2022, foi observado crescimento na criação de lojas virtuais para o comércio de camisetas.
De acordo com um vendedor ponta-grossense, que não quis se identificar, o número de vendas multiplicou a partir de agosto e as preferidas foram as camisetas da seleção brasileira. "Muitas pessoas compraram para as eleições, azul ou amarela, conforme o posicionamento político de cada um, e para a Copa”, relata o vendedor. Ele conta que entrou nesse mercado quando percebeu a grande demanda dos itens, principalmente por pessoas de classe média. “Para mim, é uma fonte de renda terciária. Mas, acredito que se eu focasse nisso como principal renda, conseguiria ter um bom lucro e expandir os negócios nesse mercado”.
Outros comerciantes de Ponta Grossa também foram consultados e disseram que, em média, as camisetas eram adquiridas por R$55 e revendidas por R$130. Todos afirmaram terem fornecedores estrangeiros de confiança. “Eu conheci meus fornecedores pelos chats de grandes sites de varejo quando comprei roupas para mim”, disse outro ponta-grossense que também preferiu ficar no anonimato.
Diferenciar camisetas piratas das originais requer muita atenção | Foto: Kadu Mendes
Mesmo diante desse comércio intenso, nem todos conseguem distinguir as peças originais das piratas. O autônomo Bruno Moraes diz ter se sentido enganado quando comprou a camiseta da seleção brasileira. “A peça me foi vendida como produto original, mas depois descobri que era fruto de pirataria. A semelhança com a camiseta oficial impressiona, a qualidade do material é muito boa e o preço é muito mais acessível, mas não acho certo comprar nesse tipo de mercado”. A maioria dessas camisetas são confeccionadas em países asiáticos, onde o custo para a produção é menor. Não são raras as denúncias de trabalhos análogos à escravidão e trabalho forçado de crianças no continente. Por isso, Bruno diz ter ficado revoltado quando soube o tipo de mercadoria que havia comprado. “Eu jamais iria patrocinar um mercado que ninguém sabe como funciona. Acredito que a fiscalização deveria ser mais intensa para impedir a entrada de produtos com essa origem no Brasil”.
De acordo com a Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), em 2021, o mercado de artigos esportivos ilegais no Brasil causou um prejuízo bilionário. Os dados de 2022 serão divulgados no próximo mês de abril. Clubes de futebol foram os mais prejudicados com a venda de artigos semelhantes aos oficiais. O governo também teve prejuízo e perdeu de arrecadar R$2 bilhões em impostos. No mercado nacional, 33% das empresas operam ilegalmente. Por consequência, as empresas legais que atuam no setor perderam R$9 bilhões em potencial de vendas. Outros números que chamaram a atenção em 2021, foram os 500 mil produtos esportivos não originais adquiridos por dia e os mais de 40 milhões de brasileiros que compraram ao menos um produto pirata. Embora as camisetas de seleções e de times sejam as mais comercializadas, o estudo também engloba outros artigos como bonés, calções, bandeiras, etc.
Ficha técnica:
Reportagem: Kadu Mendes
Edição e publicação: Cândida de Oliveira e Kadu Mendes
Supervisão de produção: Muriel E. P. do Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Marcelo Bronosky