Cidade possui o maior coeficiente de mortalidade por 100 mil habitantes da região

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       A covid-19 deixou marcas em inúmeras famílias, que perderam pais, filhos, irmãos, tios, primos e amigos. Apenas na cidade de Telêmaco Borba, localizada a 114 quilômetros de Ponta Grossa, foram 392 vidas perdidas durante toda a pandemia. A cidade hoje tem o maior coeficiente de mortalidade dos Campos Gerais e ocupa a 19ª posição no ranking realizado pela Secretaria do Estado do Paraná (SESA-PR).

       Duas das vítimas do novo coronavírus foram Diva Mercer, 65, e Lodir dos Santos, 68. Pais de três filhos e avôs de dois netos, o casal morreu com uma diferença de apenas um dia. Na mesma semana, a família ainda sofreu a perda do irmão da dona Diva, como era conhecida. Ele faleceu logo depois que recebeu as notícias sobre a situação da irmã. O corpo dos dois foi enterrado no dia 14 de dezembro de 2020. Por ser morte pela covid-19, foi permitido apenas um breve cortejo no cemitério.

       Passado quase um ano, a família sente saudades, mas segue em frente, mesmo sendo obrigada a ver diariamente informações sobre o coronavírus. “A gente fica vivenciando todo dia, esse que é o problema. Depois do que aconteceu, várias pessoas conhecidas se foram: o meu tio faleceu, um primo. Então, é uma coisa que você vai vivenciando”, explica a filha do casal falecido, Andrea Mercer, 41.

      Como muitas pessoas próximas passaram e passam por uma situação parecida com a da sua família, Andrea comenta a dificuldade de conversar. “Como que eu vou falar isso? A pessoa vai achar até que é sarcasmo da minha parte. No começo eu tinha até medo de falar para as pessoas: ‘não se preocupe’, ‘não é nada’. Como vou falar assim, se eu, tudo que eu vivenciei, foi diferente?”, relata.

       A única mulher entre os irmãos, ela evita alimentar sentimentos de revolta em relação ao luto. Andrea conta que as pessoas aconselham a família a procurar atendimento psicológico, mas que não sentiu necessidade, apenas levou o seu filho mais velho por causa de uma crise. “Chorar? A gente vai chorar a vida inteira. Acontecer esse tipo de coisa, vai acontecer a vida inteira”, diz.

Foto: arquivo pessoal

 

       Andrea, seu marido e seus filhos moravam em um prédio ao lado da casa dos pais. Depois do falecimento, ela decidiu morar na casa que eles ocupavam. As roupas foram doadas e apenas alguns pertences foram guardados. Ela explica que os itens não vão trazer eles de volta e por isso decidiram retirar tudo.

       A psicóloga Bárbara Noviski explica que cada pessoa enfrenta o luto de forma diferente. "Nós temos que ter em mente que ele é um processo que tem fases, mas a etapa de cada fase depende de cada sujeito, de cada subjetividade e de cada história”. Noviski ainda fala sobre o impacto do coronavírus na vida de cada um e como isso afeta o luto junto a todas as dúvidas geradas no momento. "Esse não se despedir, não ter esse rito de passagem da vida para a morte, cada um com sua fé. Por todo esse conjunto de fatores, o falecimento pela covid tem uma representação mais intensa, por que é algo inédito”, finaliza.

       De acordo com o Centro de Apoio Psicossocial (Caps), durante a pandemia houve um aumento de cerca de 80% dos atendimentos relacionados à ansiedade e depressão decorrentes do luto e isolamento social. Aqueles que se encontrarem nesta situação, podem procurar ajuda na Av. Osório de Almeida Taques, 116-144 - Centro, Telêmaco Borba ou ligar para o telefone (42) 3904-1824. O local possui profissionais capacitados e atende qualquer pessoa.

 

Ficha técnica

Reportagem: Manu Benicio

Infográfico: Manu Benicio

Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi

Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral