Atualmente cerca de 150 pessoas sobrevivem nessas condições

 

Resumo da matéria:

  • Oswaldo Pereira e Maicon estão em situação de rua e sobrevivem com apoio da prefeitura e instituições de caridade;
  • Prefeitura disponibiliza dois serviços de assistência para atendimento das pessoas em situação de rua;
  • A estimativa atual da Prefeitura é de que Ponta Grossa comporta de 25 a 30 pessoas em situação de rua e cerca de 120 pessoas estão nas ruas e têm residência fixa, mas utilizam o espaço público como meio de sobrevivência.

 

Oswaldo Pereira chega na Igreja Sagrado Coração de Jesus, na Praça dos Polacos, todos os dias às 18 horas. Quando toca o sino da igreja ele entra, faz uma oração e conversa com o padre. Ao final da missa, coloca a mochila e o cobertor corta-febre na escadaria e espera o sono vir. Valdo, como é chamado pelos amigos que dividem a entrada da igreja à noite, conta que vive nas ruas há cerca de um ano e meio, quando perdeu o emprego de ajudante de pedreiro e não conseguiu mais pagar as contas da casa de um cômodo, alugada no bairro Cará-Cará. 

Esta é uma das várias histórias escondidas nos rostos cabisbaixos que habitam os arredores de igrejas, praças e das ruas de Ponta Grossa. Com a chegada da pandemia, em 2020, Oswaldo esperava continuar trabalhando em pequenos serviços domiciliares, mas as oportunidades não vieram. O pedreiro entregou a casa para o proprietário, vendeu seus móveis e passou a procurar abrigo em instituições de acolhimento da cidade. 

Oswaldo guarda suas economias para almoçar no Restaurante Popular e, no fim da tarde, entra na fila da marmita da instituição Irmã Scheilla. “Eu não tenho vergonha de pedir ajuda, ficar na fila, esperar pela comida, eu teria se eu não tivesse trabalhado nada nessa vida”, diz. Oswaldo nunca foi casado, mas tem um filho de 22 anos que mora e trabalha em Carambeí. “Ele tem a vida dele e eu tenho a minha, amo meu filho, mas não preciso que ele cuide de mim, eu tô bem aqui”. 

Ao lado de Oswaldo, na escadaria da igreja da Praça dos Polacos, dorme Maicon. O morador, que não quis compartilhar seu sobrenome, conta que foi expulso de casa por ser usuário de drogas e hoje vive nas ruas. Maicon se alimenta diariamente tanto das refeições da instituição Irmã Scheilla, como do “sopão” na Praça Barão do Rio Branco, conhecida como Praça do Ponto Azul, além disso, também utiliza os serviços da Prefeitura para banho. “Minha mãe não me quer, o que eu posso fazer? Se tá lá e eu posso usar, eu tomo meu banho, ‘vazo’ e durmo onde der”, desabafa. 

 

 

PESSOA SITUAÇÃO DE RUA Vitor Almeida

Prefeitura presta suporte para pessoas em situação de rua | Foto: Vitor Almeida

 

Voluntariado

Diversas organizações ponta-grossenses trabalham em prol da população de rua na cidade. A Organização Espírita Cristã Irmã Scheilla, em atuação desde 1954, é uma delas. De acordo com Maria Etelvina Wosiacki, vice-presidente, a procura pelas refeições promovidas diariamente pela instituição aumentou durante a pandemia, principalmente de pessoas que perderam o emprego neste período. “Não temos apenas moradores de rua, temos também famílias com dificuldades financeiras e sociais que precisam da nossa ajuda, que não têm dinheiro para pagar uma refeição e nos procuram para se alimentar. Nós alimentamos quem tem fome, independentemente de ter um lar ou não”. 

Em 2021 a instituição realizou uma pesquisa para conhecer o público auxiliado pelas refeições diárias. No total, são distribuídas nos dois turnos (manhã e noite) de 400 a 500 marmitas, atendendo em média 120 pessoas e de 30 a 40 famílias. 

Antes da pandemia, a maioria dos assistidos eram pessoas em situação de rua e pessoas que viviam à margem da sociedade. Atualmente, apenas 30% dos que procuram as refeições são pessoas nessa condição. Os outros 70% têm casa e vivem de renda informal ou estão desempregados e se encontram em situação de risco social.   

Segundo Rosicleia Venske, coordenadora das refeições da instituição, a distribuição das marmitas de sopa começou nas praças da cidade durante o inverno. “O perfil do morador de rua quando começou a casa é totalmente diferente do de hoje em dia. Antes eram muito ligados às drogas e pessoas que viviam em barracos ou vielas, hoje está mais ligado à perda de emprego e falta de renda”, relata. 

Para a manutenção da sede e a garantia das refeições diárias na entrada da instituição, a Organização Irmã Scheilla realiza artesanato de bordados, produção de enxovais para bebês e venda de roupas no brechó. Também são distribuídas mensalmente cestas básicas para famílias em vulnerabilidade social cadastradas pela organização. 

A casa, composta majoritariamente por voluntárias da terceira idade, não recebe nenhuma ajuda governamental e sobrevive apenas de doações da população. Para colaborar com a entidade basta realizar o contato através do telefone (42) 3224-4828 ou visitar a sede na Rua do Rosário, 556, no Centro. 

 

Prefeitura

A estimativa atual da Prefeitura é de que Ponta Grossa comporta de 25 a 30 pessoas em situação de rua, ou seja, pessoas sem referência domiciliar nenhuma. Por outro lado, cerca de 120 pessoas estão nas ruas e têm residência fixa, mas utilizam o espaço público como meio de sobrevivência.

A Prefeitura conta com dois principais serviços para atendimento das pessoas em situação de rua. As equipes de abordagens, que trabalham com o encaminhamento de pessoas vulneráveis para abrigos conveniados. A segunda é a equipe de acolhimento para as dependências do Centro Pop, vinculado à Fundação de Assistência Social de Ponta Grossa (FASPG). A estrutura conta com espaço para banho, almoço, café da manhã e da tarde, auxílio para emissão de documentação e disponibilização de passagens de ônibus para itinerantes.

De acordo com o órgão, as equipes relatam que desde o começo da pandemia têm notado um crescimento do número de pessoas em situação de rua que procuram os serviços disponíveis. Entre os principais fatores que ocasionam o aumento estão o uso de drogas e/ou de álcool, conflitos familiares e dificuldades financeiras. Outro fator apontado pelo Centro Pop é que Ponta Grossa se trata de um entroncamento rodoviário, e por consequência recebe muitas pessoas de fora da cidade. 

 

Covid-19

Segundo o Centro Pop, o município já vacinou mais de 100 pessoas em situação de rua, o que equivale a 60% dessa população calculada pela Prefeitura. Além disso, em 2021 foram feitos 587 atendimentos pelo órgão, com uma média de 53 atendimentos por mês. O cálculo engloba também os que necessitam do serviço mais de uma vez. 

Tanto Oswaldo quanto Maicon relatam que se contaminaram com a covid-19 enquanto estavam na rua, mas também já foram vacinados contra o vírus. “Eu fiquei ruim, tremia de frio e nem era inverno. Eles [Prefeitura] me ajudaram, fui na UPA e no outro dia voltei pra cá”, conta Oswaldo. Maicon acredita que se contaminou em um grupo de pessoas na Praça do Ponto Azul. “Lá todo mundo ficava junto, ficava tossindo um no outro, ninguém usava máscara, ninguém se importava, a nossa vida não tinha como ficar pior, sabe?”. 

As abordagens feitas pelas equipes acontecem de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas, à noite, das 21 às 23 horas, e nos finais de semana em regime de plantão. Para informar aos órgãos responsáveis e solicitar ajuda, basta ligar para o telefone (42) 98872-3820. 

 

Ficha técnica

Reportagem: Manuela Roque

Edição e Publicação: Ana Paula Almeida, Gabriel Ryden e Tayná Lyra

Supervisão de Produção: Rafael Kondlatsch

Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen