Apenas o Operário Ferroviário mantém categorias de base em PG

Resumo:

  • Cidade têm poucas opções de campeonatos para jovens entre 15 a 18 anos;
  • Categorias de base são decisivas para a profissionalização esportiva;
  • Os jogadores André Henrique Ferreira e Eduardo Mosconi contam sobre suas experiências em competições da base;
  • O cenário é ainda pior no futebol feminino.


Em Ponta Grossa, apenas os atletas que compõem o início de formação possuem campeonatos de base, em sua grande maioria futsal. As crianças mais novas têm mais chances de competir na cidade, porém para a fase final, dos 15 aos 18 anos, as opções são quase nulas. Em todo o estado do Paraná, existe apenas uma grande competição: o Campeonato Paranaense de futebol profissional.
Em âmbito nacional, existem muitas competições de alto nível, a maior delas é a Copa São Paulo de Futebol Júnior aberta para inscrições e considerada a mais importante das categorias de base. As outras competições no Brasil dependem de um ranking. A partir da classificação no estadual, o clube ganha vaga na Copa do Brasil ou Campeonato Brasileiro. Porém, nenhum clube de Ponta Grossa conseguiu alcançar um campeonato nacional até hoje.
Para Fabiano de Castro, educador físico e coordenador das categorias de base do Operário Ferroviário, elas desempenham um papel importante para o desenvolvimento de um bom atleta. “Há algumas décadas, os nossos jogadores vinham da várzea e do futebol de rua. Essas situações formavam bons jogadores, principalmente em termos de improviso, mas por outro lado, deixaram uma lacuna muito grande no sentido tático e na formação cidadã”, acrescenta.
Segundo Fabiano, outros benefícios da formação são os auxílios sociais. Os grandes clubes oferecem suporte médico, odontológico, nutricional, psicológico e social. “Isso é essencial para manter acompanhamento escolar e pedagógico, evitando defasagem. Antigamente o atleta ia treinar, jogar, viajar, fazer testes e deixava a escola de lado. Então a categoria de base auxilia o atleta a correr atrás do sonho, sem deixar de estudar.”, explica.
Para o coordenador, a profissionalização é o grande objetivo dos atletas, mas a transição é a hora mais difícil. “A maioria consegue chegar até a parte final da formação, mas alguns acabam não tendo tanta oportunidade. É um funil muito grande, então nesse momento ele vai poder pensar em outras áreas e até ter uma visão de mundo e uma consciência do que ele pode fazer.”
Fabiano coordena aproximadamente 60 atletas, divididos entre as categorias sub-17 e sub-20 e desses, 40 ficam alojados no clube. Eles recebem uma ajuda de custo por meio da Lei de Incentivo que, de acordo com o educador, é o que mantém as categorias. “Com ela mantemos os atletas na cidade e contratamos todos os profissionais que dão suporte para eles. Além de comprar material e oferecer refeição. Eles também contam com a ajuda de família e empresários.”
As competições ajudam o atleta a melhorar seu condicionamento físico e ter um maior rendimento. Fabiano acredita que é parte fundamental para que o atleta não sinta o peso da competição. “É impossível um atleta ter um bom rendimento em uma competição se aquela foi a única competição do ano. Ele tem que estar acostumado, o dia do jogo é diferente do treino é outra pegada, outra rotina. Competições têm muitos critérios técnicos e isso aumenta o nosso nível”, afirma.

 

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Foto: Tayná Lyra


Os atletas
André Henrique Ferreira, 17 anos, atleta do Operário Ferroviário (OFEC), já viajou para mais de cinco estados representando seu time pela categoria de base. Na sua opinião existem poucas competições na cidade e até no estado. “A gente tem apenas o Campeonato Paranaense e só. Ele dura o ano todo, mas se a gente for eliminado numa fase inicial, nós ficamos o ano todo sem competir.”
Ele, que subiu este ano para a equipe profissional do OFEC, considera a visibilidade um dos pontos positivos das competições. “Você pode mostrar o seu futebol, seu talento e acabar sendo contratado por clubes grandes e até chegar no profissional. Existe uma carência nas competições de base, principalmente para os times do interior, que não têm tanta visibilidade quanto os times das capitais.”
André vê a Copa São Paulo de Futebol Jr. como a maior competição de base do mundo. “É onde tem a maior janela pra mostrar seu futebol. É um espelho pra vários clubes poderem te contratar e no meu caso ela me ajudou a subir pro profissional do Operário.”
Eduardo Mosconi, atleta do sub-15, ainda não foi profissionalizado, mas tem contrato de formação com o time. Para ele, a grande aposta dos campeonatos de base é a experiência. “Jogos decisivos, como uma final, é diferente de treinos e amistosos, faz toda a diferença na formação do atleta, além de melhorar o nível técnico. Existe diferença em jogar contra grandes equipes, muito estruturadas. O nível apresentado nessas competições é muito alto, exigindo o melhor do atleta, e isso é muito importante. Até estar jogando com alguns meninos cinco anos mais velhos, passam uma experiência muito boa.”
Para o jogador a falta das competições pode prejudicar o desenvolvimento pois é necessária uma rotina de confrontos com outras equipes. “Em jogos importantes e decisivos é ruim não saber lidar com a pressão e com a obrigação da vitória. O ideal pra mim, seria um calendário de jogos em pelo menos 10 e 10 dias. Ter mais campeonatos, desenvolveria mais oportunidades.”, destaca.


A base feminina
Se as competições de base para categorias masculinas já são escassas, as femininas são ainda mais raras. O futebol profissional feminino no Brasil possui apenas três competições: Campeonato Brasileiro, Competições Estaduais e a Copa do Brasil. As categorias de base não têm nenhuma. Ágatha Allana, de 19 anos, é atleta de futebol e futsal e conta que seu primeiro campeonato já não foi voltado às jogadoras mais novas. “Tudo começou quando fiz a seletiva da Chapecoense. Anteriormente apenas jogava campeonatos escolares, como o Bom de Bola. Em 2019, joguei a primeira Copa de Futebol Feminino, porém era time adulto, não foi pensado para categoria de base embora tivesse algumas atletas menores”.
Ágatha já defendeu o Operário Ferroviário e foi recrutada pelo Athlético Paranaense para disputar o Campeonato Brasileiro sub-18. “Foi onde eu conquistei mais bagagem e visibilidade, ficamos em um grupo com times muito renomados, como o Internacional, América Mineiro e Sport Recife, só nessa ocasião já estava no radar de grandes times.”
A jogadora acredita que os campeonatos proporcionaram uma vivência esportiva maior, mesmo que com a base feminina não tenha saído do estado do Paraná. “A base me ajudou a chegar onde estou hoje. Elas me deram visibilidade e competitividade porque, quando você tem os dois aliados, você consegue mostrar seu futebol e seu objetivo. Hoje em dia você não joga futebol só porque gosta, se joga é porque você acredita que no futuro possa conquistar seus sonhos como a Marta e a Formiga.”
Natural de Rebouças, a atleta afirma que a falta de competição de base impacta negativamente na formação das atletas, que acabam desistindo da carreira. “Você tem que sair da zona de conforto, buscar clubes que têm profissional feminino, mas dificilmente vão pegar uma atleta que não está preparada. É aí que o reflexo das faltas de competições aparece, porque se ela for boa, mas não tem vivência maior do que apenas treinamento, ela não adquire disposição e a competitividade que move o atleta e ela é descartada.”
Para a jogadora o cenário ideal seriam treinos de excelência e mais apoio. “Sem tanta dificuldade para treinador e atletas. Que haja investimento, apoio e que o reconhecimento fosse maior que o julgamento. Quanto maior o investimento, maior a visibilidade e também mais oportunidades. É nas competições que você tem contato com os demais clubes, o que facilita a realização do sonho de ser jogadora de futebol profissional.”
Além disso, ela compara as oportunidades masculinas com as femininas. Para ela são vistas e valorizadas de maneira muito desigual. “Dificilmente você vai encontrar transmissões como as da Copa São Paulo. A única que tem potencial de se igualar é o Brasileiro Feminino, que tem as categorias de base, mas ainda assim é bem abaixo. Todos os clubes do Brasil tem uma base masculina, porém nem todos tem a feminina.”
Porém, a jogadora vê o futebol feminino com muito potencial. “As mulheres estão ganhando espaço pouco a pouco. Elas não devem se acomodar, quanto mais bagagem ela conseguir adquirir, mais ela vai se destacar. O futebol masculino e feminino têm admiração diferentes, um o Brasil todo acompanha e tem apoio, o delas, é sempre muito criticado e pouco valorizado.”

 

Ficha Técnica
Repórter: Tayná Lyra
Edição e Publicação: Evelyn Paes e Leonardo Duarte
Supervisão de Produção: Rafael Kondlatsch
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi, Maurício Liesen