Apesar de diversas emissoras, democratização da informação radiofônica precisa avançar na cidade
Repórter Osires Nadal entrevista Zagalo na Copa do Mundo de 1970, México, para a Rádio Clube. Foto: Divulgação/CBF
Apesar das novidades tecnológicas que promovem novas plataformas de comunicação, o rádio permanece presente no cotidiano de Ponta Grossa. No início deste ano, a inauguração da Rádio Clube-Pontagrossense completou 82 anos - porém, apesar do veículo ter começado em período áureo da radiodifusão nacional, e da existência de 14 emissoras na cidade, a audiência e a situação econômica é desigual.
Ponta Grossa tem 12 emissoras comerciais, uma educativa e uma comunitária. A cidade tem cinco rádios entre as 50 mais ouvidas no Paraná. As estatísticas são do site Rádios.com, aplicativo que reúne as rádios do Brasil com transmissão na internet, como as de Ponta Grossa, com exceção da Difusora FM.
As rádios líderes de público são a Rádio Clube FM, na 19ª colocação no Paraná, com mais de 22 mil acessos, e a Mundi FM, na 30ª colocação, com 16 mil acessos. Em último dentre as cinco mais ouvidas está a Mz FM, com 10 mil, na 47ª colocação. Em Foz do Iguaçu, com população similar a Ponta Grossa, a audiência do rádio é maior, mas em Cascavel, é menor.
As rádios na cidade de Ponta Grossa, que tiveram grande presença em coberturas internacionais, como a Copa do Mundo de 1970, apresentam realidades distintas. No final de 2021, a Rádio Comunitária Princesa FM promoveu campanha de doação de fundos para manter as operações. Diferente das rádios comerciais, a comunitária sobrevive com investimentos voluntários de profissionais ou empresas.
Segundo Luiz Carlos Dzulinski, diretor da Princesa FM, a situação financeira continua complicada. “Com a pandemia, piorou ainda mais os poucos apoios culturais que a Rádio tinha”. O diretor conta que dois programas novos se iniciaram no início deste ano, porém, quem trabalha na emissora realiza atividades de forma voluntária, com ajuda de custos. “E nem isso estamos conseguindo fazer”. A campanha para arrecadar fundos fracassou. “Apenas duas pessoas contribuíram. A gente até entende, pela dificuldade que o país enfrenta.”
Outra característica da realidade radiofônica de Ponta Grossa é a relação com políticos. Radialistas ou donos de emissoras, como Jocelito Canto e Marcelo Rangel, foram prefeitos da cidade. “Esta relação traz impactos tanto no rádio como na sociedade, pois a relação de políticos com o rádio tem potencial para alimentar e favorecer o populismo do político, pela plataforma de comunicação que é o rádio”, afirma a pesquisa realizada pelo pesquisador Marcelo Bronosky e Nilson de Paula Junior.
Apesar de serem eleitos para os cargos públicos, como Canto e Rangel, e vereadores, como Ricardo Zampieri e Sandro Alex, nas eleições majoritárias de 2012, 2016 e 2020, após anos atuando como locutores, os sites das emissoras não informam que seus proprietários atuaram e atuam como políticos.
De acordo com o artigo 220, capítulo quinto da Constituição Federal de 1988, que trata da lei de radiodifusão e de concessão de meios de comunicação, “a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”.