O Brasil é 4° maior consumidor de produtos de higiene pessoal e cosméticos
Embora ninguém esperasse enfrentar uma pandemia, a vida de todos acabou sendo afetada de diferentes formas. Novos costumes e cuidados precisaram ser adotados, como o uso de máscara, álcool em gel, distanciamento social, entre outros. Diversas áreas de trabalho foram impactadas e tiveram dificuldades para se manter. Porém, mesmo com os desafios impostos pela pandemia, os setores de estética e saúde se reinventaram para continuar com o atendimento durante este período.
Essa adaptação dos setores gerou aumento de empregos na área da beleza. Uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) destaca que, em 2020, o Brasil ficou em 4° lugar como maior consumidor no setor da estética, perdendo apenas para os Estados Unidos, China e Japão. O país ainda teve um aumento de 2,1% de empregos diretos em 2020, em comparação com 2019, o equivalente a 2.700 empregos diretos na indústria. Ainda segundo a ABIHPEC, o setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos apresentou um crescimento de 5,7% no primeiro quadrimestre de 2021. O resultado foi impulsionado principalmente pela flexibilização das medidas de restrição às atividades comerciais.
A explicação para esse aumento também pode ser pelo fato de que diversas pessoas escolheram o período da quarentena para investir em procedimentos estéticos. Segundo o tatuador Petrônio Pinheiro, a situação trouxe um aumento dos clientes que procuravam pelo a sua área, o que foi benéfico para seu negócio. "O pessoal meio que não tinha onde ir gastar o dinheiro, então o foco na estética aumentou".
Readaptações na pandemia
Trabalhadores na área de estética e saúde destacam que a impossibilidade de conseguir atender de maneira presencial foi o principal obstáculo durante a pandemia. No entanto, com a adoção de novos cuidados com a segurança, o atendimento pode acontecer normalmente.
De acordo com a massoterapeuta Jeanine Aparecida Alvez Paulista, deixar de atender seus clientes era algo difícil, pois muitos estavam em estado pós-operatório e precisavam da massagem. A saída que encontrou para continuar com o atendimento foi entrar em contato com a vigilância sanitária e explicar a situação. "Eles então me indicaram os cuidados preparatórios que tinha que ter e que deveria atender a domicílio", afirma. Já para voltar a atender em seu espaço, a massoterapeuta precisou adotar medidas de segurança específicas, como papéis para maca descartáveis e esterilização dos aparelhos com maior frequência.
Já para Kalinka Gauliki Ienk, body piercer, o momento do lockdown foi o mais complicado, pois houve queda drástica nos atendimentos. "Na minha área não posso realizar um atendimento seguro na residência dos meus clientes devido a contaminação. Realizo um procedimento invasivo, por isso necessito que seja feito na minha sala", explica.
Para se manter enquanto não estava atendendo normalmente, ela utilizou do fundo de emergência que tinha em uma conta. "Se não tivesse essa reserva, acredito que teria fechado meu espaço", afirma. No entanto, a body piercer destaca que, ainda que a pandemia tenha interferido diretamente no fluxo de clientes, com as novas medidas de segurança que adotou, no início deste ano houve um aumento na procura por seu trabalho.
Novos negócios no setor
Além dos profissionais que relatam conseguir manter os negócios a partir de novas adaptações, tiveram ainda aqueles que abriram seu espaço durante este período. É o caso de Maria Izabele Ribeiro de Paula, designer de sobrancelhas e maquiadora. Mesmo com medo de não conseguir se manter por trabalhar sozinha em seu espaço, resolveu abrir seu negócio em meio a pandemia.
A história da designer inicia em 2018, quando começou a cursar contabilidade na UEPG, mas por não se identificar com a profissão e por estar enfrentando a depressão, resolveu deixar o curso na metade do ano de 2019. Logo após sair da faculdade, ela decidiu trabalhar na área em que realmente gostava, a estética. “Porém em minha cabeça eu achava que eu tinha que ter um diploma de ensino superior para ‘ser alguém na vida’, mas eu estava enganada”.
Foi em agosto de 2019 que deu início ao seu trabalho como designer de sobrancelhas, além de maquiar e vender maquiagens online. Para alcançar um público maior, decidiu começar a atender em domicílio, indo a pé na casa de suas clientes. Neste período, a maquiadora teve dificuldades para atender em bairros mais longe de sua residência, pois o valor do Uber não cobria o que recebia por seu trabalho e ela não cobrava taxa de deslocamento.
Para se capacitar nas áreas em que atua, em outubro de 2019 Maria fez seu primeiro curso de maquiadora profissional e, em novembro do mesmo ano, realizou seu primeiro curso profissional de designer de sobrancelhas. A partir daí os atendimentos cresceram, até que chegou o início da pandemia. Logo após o avanço da doença, a demanda pelos seus serviços foi reduzida, o que deixou a profissional sem clientes por pouco mais de um mês. Com o fim do lockdown, a procura pelos procedimentos voltaram, mas ainda assim não eram muitos.
Foi em junho de 2020 que, mesmo em meio a pandemia, ela decidiu abrir seu próprio negócio. “Como consegui abrir meu estúdio, tive que impor algumas regras para os atendimentos e comecei a trabalhar com horários um pouco reduzidos. Com isso atendia menos clientes no dia, mas Graças a Deus nunca fechei nenhum mês no vermelho”. Quando o comércio reabriu, a designer pode voltar aos atendimentos normais, com todos os horários que fazia antes, porém ainda com medidas de segurança.
Agora que a situação está melhor, Maria já percebe a recuperação de seu trabalho e afirma que atende, em média, 200 clientes por mês. A profissional destaca que se sente orgulhosa por não ter desistido do seu sonho, mesmo diante da situação difícil em que o mundo se encontrava no momento em que abriu seu próprio negócio. “De certa forma a pandemia afetou, mas consegui lidar com a situação. Mas sabe o que realmente eu tiro de toda essa situação? É que a Maria Izabele, ex-estudante de contabilidade, sente maior orgulho da Maria Izabele empreendedora na área da beleza”.
Ficha técnica:
Repórter: Deborah Kuki
Edição e publicação: Levi de Brito
Supervisão de produção: Rafael Kondlatsch
Supervisção de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen