Iniciativas independentes de acolhimento têm dificuldades para atender a demanda

A chegada do frio não afeta somente pessoas em situação de rua, mas também deixa os animais mais vulneráveis. Como faltam abrigos públicos temporários que os acolham, eles dependem de Organizações não Governamentais (ONGs) ou pessoas que se disponham a doar tempo e recursos. Em Ponta Grossa, o órgão público responsável por atender animais abandonados é o Centro de Referência para Animais em Risco (CRAR), que atua mediante denúncias de abandono e maus-tratos encaminhadas à Guarda Municipal.

A agente universitária Lúcia Helena Garrido integra a equipe de voluntários que presta suporte aos cães que circulam pelos campus da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ela explica que os cachorros recebem alimento, abrigo, vacinação, castração e tratamento veterinário, realizado por clínicas parceiras. 

Para Lúcia, os abrigos públicos são precários, oferecendo risco à saúde dos animais. “O abrigo é um local cruel, com superpopulação - de animais idosos, principalmente. É preciso que as pessoas tentem ajudar mais, porque as políticas públicas são muito pobres”. 

Cãodomínio, gatolândia e outros espaços

A cuidadora independente Alexsandra Faria começou a resgatar animais de rua há 13 anos. Ela relata que as únicas ajudas que recebe são de ONGs e de algumas pessoas que oferecem auxílio ou compram rifas. Os cães que abriga são, em sua maioria, idosos. A protetora ressalta que a vizinhança não colabora. 

“Algumas pessoas põem água, põem comida, só que muitas tiram os potes. Tinha um cãodomínio, local para cães, aqui no Canaã; desmontaram e jogaram fora”, relata. Alexsandra lamenta a burocracia e a baixa quantidade de vagas para castração oferecidas pela Prefeitura. “Nós, como protetores independentes, e as ONGs, precisamos que haja mais vagas para os animais que acolhemos”, finaliza.

 

Cuidadores independentes auxiliam o trabalho de ONGs e órgãos públicos, mas enfrentam dificuldades (Foto: Arquivo)

 

Falta castração

Isabele Futerko, representante do Grupo Fauna, ONG que atua na causa animal em Ponta Grossa há 23 anos, destaca a importância das pessoas cederem espaço em suas casas para acolher os animais sem abrigo. “As pessoas querem encaminhar os animais para cá achando que é uma cachorrolândia, gatolândia, e não é assim”. 

Isabele explica que a ONG não tem condições de fazer resgate, mas exerce papel de conscientização, por meio das redes sociais, e de ajuda a cuidadores independentes, promovendo descontos em tratamentos veterinários e cedendo espaço em feiras de adoção.  

A representante do Grupo Fauna considera insuficiente a atenção dada pelo poder público ao setor. “A alegação é sempre de falta de recursos, e os animais acabam ficando em segundo plano. Mas estamos com expectativas positivas, inclusive de aumento de castrações”. 

Isabele destaca o avanço nas políticas públicas contra maus-tratos, como a ampliação no atendimento de ocorrências, graças a reivindicações da ONG. “Tudo o que a gente conseguiu avançar foi com muita pressão e cobrança”. 

Adoção 

Lúcia Helena Garrido ressalta a dificuldade na adoção dos cães mais idosos, de pelagem escura e com alguma deficiência, que são os menos procurados. “A grande maioria se interessa pelos cachorros de pelagem mais clara, e acha que a deficiência é um sofrimento para eles, mas não é”. 

Lúcia reforça que o abandono surge da falta de conscientização da população, e que deve começar na educação das crianças. “Enquanto não conscientizarmos as crianças, vai haver adultos que abandonam animais”, avalia. Os interessados em participar da adoção dos cães acolhidos pela UEPG podem entrar em contato com os voluntários por meio do perfil @dogsdauepg, no Instagram.

 

Ficha Técnica

Repórter: Carolina Olegário

Edição e publicação: Lilian Magalhães

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen