Casos de repercussão nacional, como o do médico que estuprou paciente no parto, evidenciam necessidade de abordar o tema

VIOLÊNCIA MULHER AGRESSÃO Scarlet Rodrigues

Pesquisa aponta que o medo de exposição é um dos fatores que impedem denúncia. Foto: Scarlet Rodrigues

Em março deste ano, Laura Goes Tozetto, bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), apresentou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) com o tema “Vitimologia do sexo e gênero feminino nos crimes de estupro”. No estudo, ela entrevistou 37 mulheres associadas à comunidade acadêmica da UEPG que já sofreram abuso sexual em algum momento de sua vida. Tão grave quanto o número de mulheres abusadas é o índice de vítimas que não denunciaram: 97% delas não prestaram queixas. “O objetivo foi realizar uma pesquisa em que aquela mulher se sentisse minimamente confortável em relatar aquele episódio”, explica.

O tema do abuso sexual veio à tona nas últimas semanas com dois casos debatidos em nível nacional: um deles envolvendo uma criança de 11 anos, e o outro, uma atriz que teve seu relato vazado por colunistas. Para Laura, o caso da atriz é um exemplo de medo da denúncia. “Ela fez de tudo para manter o caso em sigilo e mesmo assim foi exposta. Como garantir às vítimas de que não terão suas histórias vazadas?”, questiona. O mesmo pensamento é compartilhado por uma aluna do Campus Central que pediu para não ser identificada. “Sei de casos que aconteceram com colegas do curso, e que por medo, não denunciaram o acontecimento. Para evitar fofocas, essas mulheres continuam convivendo com os abusadores como se não tivesse acontecido nada, mas as pessoas próximas sabem que sim”.

A dificuldade de encontrar um espaço seguro para discutir sobre o abuso sexual entre universitárias é observado por Magaly Noguera, acadêmica de pedagogia na UEPG. “Não existem muitas discussões promovidas pela universidade que foquem na saúde e segurança da mulher, mas mais importante que isso é a consciência coletiva dos acadêmicos para acolher quem está sofrendo algum tipo de violência quando existe essa percepção”.

Magaly ainda lembra que, apesar de estudantes mulheres serem maioria em seu curso, pouco se fala sobre o assunto dentro da universidade. “Minhas disciplinas focam na educação infantil, porém a turma quase sempre traz os assuntos para a perspectiva feminina. Não existem muitos debates sobre a segurança da mulher adulta, mesmo que seja tão importante quanto a da criança”. 

 

Ficha Técnica: 

Reportagem: Lilian Magalhães

Edição e publicação: Vinicius Sampaio

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen