O dia 26 de julho é de Nanã Buruquê e de Senhora Sant’Ana 

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Ilustrações de Edu Andrade para o livro Na Terra dos Orixás

“Ela é tão velha, tão antiga, tão ancestral, como o início do mundo”. Assim, Rosângela de Aguiar, sacerdotisa e responsável pela rito liturgia do Terreiro Vovó Cambina em Curitiba, descreve Nanã Buruquê, orixá das religiões africanas que, no sincretismo religioso, é Senhora Sant’Ana. No dia 26 de julho é celebrado o dia da santa católica ]que representa a avó de Jesus, e padroeira de Ponta Grossa. Na Umbanda e Candomblé, no mesmo dia, comemora-se Nanã Buruquê, a mais velha de todos os Orixás. 

Devido ao sincretismo religioso que marcou o período de colonização e escravidão no Brasil, Nanã e Sant’Ana são ligadas por terem representações semelhantes. Como forma de proteção e preservação da religião, os africanos trazidos do seu país de origem relacionaram suas entidades à imagens católicas e, assim como muitos exus e orixás, Nanã passou a ter contornos relacionados a santa católica, mas sem deixar de lado seu simbolismo e características próprias dentro da Umbanda. 

Rosângela começou na Umbanda no terreiro de sua mãe, em 1980, e em 2000 foi consagrada sacerdotisa, responsável pelos trabalhos espirituais do terreiro desde então. Ela explica uma especificidade da Umbanda: “é diferente dos outros cultos de matriz africana, porque cada terreiro é uma escola, que produz uma linha específica do conhecimento. Eu tenho o conhecimento que, através da tradição oral, recebi da minha mãe, que recebeu da mãe dela”. A celebração da divindade Nanã Buruquê se dá de diversas formas, de acordo com a filosofia de cada terreiro de Umbanda. 

Na perspectiva de Rosângela, a orixá foi sincretizada com Sant’Ana pela natureza antiga atribuída a ela. “É aquela que viu nascer o mundo. Por ser uma divindade muito antiga, se relacionou com os anciões, com os avós e foi sincretizada com a avó de Jesus”. A sacerdotisa conta que a orixá tem relação com as águas, principalmente das fontes, onde há terra úmida. “Ela é o orixá primordial, que gera a vida a partir da combinação da água com a terra, formando o barro”. 

Para o Pai de Santo do Terreiro Caboclos da Lei, em Ponta Grossa, celebrar o caráter ancestral de Nanã é celebrar, também, a presença da vida. “É o orixá que nos traz para terra”. Rafael Miranda de Almeida é o dirigente do terreiro desde 2018 e, filho de mãe de santo, cresceu inserido na religião umbandista. Na filosofia do terreiro de Rafael, Nanã não está entre os sete orixás de cabeça (aqueles que regem a atual encarnação dos iniciados umbandistas). 

A orixá representa o primórdio da vida, em contraposição ao orixá Omolu, que representa a morte. "Na filosofia Iorubá, conta-se que Olorum (Deus), ao tentar criar os seres humanos, não obtinha sucesso. Nanã entrega o seu barro, do fundo dos rios, para ser o que integra os seres humanos”. 

Nos rituais habituais do terreiro, no momento de louvar Nanã Buruquê em 26 de julho, “montamos o altar, com um tecido no chão, imagens dela, oferendas, flores, louvamos e cantamos. Os médiuns manifestam a energia da orixá, e assim a gente recebe todo o axé dela”. A figura de Nanã traz nas mãos o chamado Ebiri, que representa o poder que ela tem de cuidar das almas que renascem. 

Os elementos da oferenda, e o pano estendido no altar para louvar a orixá, são das cores roxa e lilás, que representam a energia. As cores estão presentes, inclusive, na comida da oferenda, mistura da batata doce roxa com mel. O lilás é a cor ligada à transmutação energética e lembra o poder da orixá em relação às águas que, por sua vez, representam as emoções. 

“Nanã rege as águas mais profundas, não somente dos rios e do mar, mas das nossas emoções. Quando a gente vibra Nanã Buruquê, a gente vai decantando e transmutando as cargas emocionais que temos no inconsciente”.

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Espaço destinado à Nanã Boruque no jardim dos Orixás
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Rafael Miranda de Almeida, Pai de Santo do Terreiro Caboclos da Lei
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Altar do Terreiro Caboclos da Lei
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Ficha técnica:

Reportagem: Cassiana Tozati e Victória Sellares

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen