Em decorrência da crise econômica, programa passa a beneficiar famílias que ganham até 5 salários mínimos
O Mercado da Família, programa da Prefeitura de Ponta Grossa que promete vender produtos até 30% mais baratos do que em mercados convencionais, agora atende famílias que ganham até 5 salários mínimos. Antes da alteração da lei, sancionada pela Prefeitura no dia 30 de junho, a renda máxima para os cadastrados era de 2,5 salários mínimos mensais. A medida tem o objetivo de beneficiar a população em vulnerabilidade social, que ainda sofre com os efeitos da pandemia de covid-19.
Foto: José Tramontin
O aumento do teto da renda familiar visa corrigir o volume proporcional de compras junto ao Programa, afetado pela inflação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos cinco anos o real perdeu 31,32% de seu valor, fazendo com que o poder de compra dos brasileiros hoje seja um terço menor do que era em 2017. A população de baixa renda é especialmente afetada pela inflação, pois alguns dos produtos e serviços que sofreram maior reajuste são aqueles consumidos no dia a dia.
A diretora do Mercado da Família, Jéssica Ribas Ramos, conta que nos últimos meses o público cadastrado no Programa cresceu cerca de 20%, o que seria uma consequência do aumento no valor dos produtos da cesta básica na cidade. Desde maio de 2021, os alimentos que compõem esse grupo tiveram um aumento de 26,18%, conforme aponta um estudo realizado pelo Núcleo de Economia Regional e Políticas Públicas (Nerepp) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O valor é mais do que o dobro da inflação oficial (IPCA-IBGE) acumulada nesse mesmo período, registrada em 11,73%.
Por esses motivos, a Prefeitura teria visto a necessidade de alterar o teto salarial do Programa para beneficiar um número ainda maior de pessoas. Atualmente, mais de 50 mil pessoas estão cadastradas no Mercado da Família, mas o Programa atende em média 5 mil famílias por mês nas três unidades do município, localizadas no Centro, Santa Paula e no Parque Nossa Senhora das Graças. Segundo Jéssica, o Executivo ainda não possui a estimativa de quantas pessoas a mais passarão a consumir no Mercado da Família com o aumento do teto salarial, mas afirma que o Programa conseguirá suportar o aumento do público.
Na opinião da agente de saúde Eliane Maloski, cadastrada no Programa desde 2007, a mudança é positiva e irá favorecer mais pessoas: “Não é porque alguém ganha um pouquinho a mais, que ela não precise economizar, ainda mais com a crise econômica que estamos enfrentando”, declara. Eliane não comprava no Mercado da Família há dois anos, mas voltou a frequentar recentemente em decorrência da alta dos preços nos mercados convencionais.
Preço e falta de produtos
Quase sempre é possível notar a falta de algum produto básico nas prateleiras do Mercado da Família. No fim de junho, a loja localizada na Santa Paula sofria com a falta de trigo e açúcar, enquanto o leite era a ausência mais notada na unidade do Centro. “Às vezes a gente vai lá para comprar óleo e não tem. Dificilmente tem carne também, e quando tem normalmente é de frango, quase nunca carne vermelha”, conta Maria Leonilda Galvão, beneficiária do Programa.
O Mercado da Família se propõe a vender produtos de limpeza, higiene pessoal e alimentos de cesta básica com valor reduzido, porém nem sempre é o que acontece. Maria afirma que os preços estão quase equivalentes aos dos mercados convencionais: “Eles falam que é mais barato, mas tem coisa que é quase igual nos outros mercados", relata.
Segundo a diretora do Programa, pode acontecer dos produtos faltarem ou estarem acima do preço esperado por conta de atrasos no processo licitatório realizado pela Prefeitura, que costuma levar de 60 a 120 dias. A aquisição é feita a partir de uma média de produtos vendidos nos últimos meses, mas é possível que ao longo desse processo os preços na licitação disparem ou que esgotem-se o estoque de alguns produtos no Mercado da Família.
Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Clique aqui e confira a edição completa.
Ficha técnica:
Reportagem: João Vítor Pizani
Edição e Publicação: Ana Luiza Bertelli Dimbarre
Supervisão de produção: Cândida de Oliveira, Maurício Liesen e Ricardo Tesseroli
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen