Em 1875 nascia Carl Gustav Jung, o fundador da psicologia analítica, que desenvolveu conceitos de personalidade e estudou o poder do inconsciente. Todas as suas teorias originalmente preenchiam 18 volumes de livros.
Quase 120 anos depois, nos EUA, dr. Murray Stein deu uma série de palestras baseadas nas teorias de Carl Jung. Stein resumiu os 18 volumes originais em apenas um livro, chamado Jungs: Map of the Soul, ou Jung: O Mapa da Alma, na versão em português.
De uma forma que ninguém esperava, principalmente aqueles que gostam de dar hate sem nem se dar o trabalho de conhecer, o livro gerou um impacto na história da música pop, já que é a base de uma série de discos da banda sul-coreana BTS – vulgo a minha favorita.
Banda BTS. Foto: Reprodução
Os estudos sobre esse livro levaram a produção de três álbuns, o Map of the Soul: Persona, quando os conheci; o Map of the Soul: 7, que contém muitas das minhas músicas favoritas; e o Map of the Soul: 7 – the Journey, que é inteiro em japonês, pois, para quem não os conhece, como eu, além de lindos e inteligentes, todos eles são fluentes na língua.
Bom, não são apenas os títulos que relacionam o álbum com a teoria de Jung, as letras também abordam conceitos jungianos de consciência, ego, sombra e, o que vou dar mais ênfase, a ideia de persona. Persona é uma palavra que veio do latim que se refere às máscaras que os atores usam nos palcos onde performam; mas, além disso, se refere às “máscaras sociais” que, de certa forma, todos nós usamos quando estamos em público. Faz parte da nossa convivência a necessidade de se dar bem com pessoas e fazer parte de um grupo.
O BTS entra inteiramente nesse conceito logo na primeira faixa de Map of the Soul: Persona. A música se chama Intro: Persona, e quem a canta é Kim Namjoon. “Quem sou eu? É a questão que enfrentei minha vida toda”, abrindo uma discussão sobre os elogios à sua persona no palco e como isso o impede de conhecer seu verdadeiro eu.
“Quem eu sou?” é uma pergunta que pega lá no fundo da alma de todos, sempre que somos perguntados, respondemos a partir de traços físicos ou aspectos que anteriormente foram apontados por outras pessoas, mas nunca o que realmente somos, pois não conseguimos nos conhecer por completo. No clipe, o cantor enfrenta uma versão gigante de si mesmo, mostrando que sua persona oprimiu seu ego – que seriam seus sentimentos e personalidade verdadeiros.
Jung fala sobre a “armadilha da persona” e como essa condição pode desencadear problemas psicológicos graves. Esse assunto é sério e foi abordado de maneira clara, não tão leve, mas de forma compreensível, em que o público da banda, composto principalmente por adolescentes e jovens com o intelecto ainda em formação, ou até mesmo adultos e idosos que estão se redescobrindo, que acham seus egos ou personas “errados”, podem se entender e se achar.
O grupo continua com a discussão sobre a identidade em todo o disco Map of the Soul: Persona. A canção Mikrokosmos fala sobre encontrar sua autoestima a partir do olhar para dentro de você mesmo, enquanto a música Jamais Vu aborda a tendência que temos de repetir os mesmos erros. O álbum todo trata do desejo e da luta por autenticidade que, de forma figurada, é alcançada na última música, Dionysus, na qual ocorre a quebra das armadilhas da persona.
Por experiência própria, geralmente, grupos de K-Pop adotam conceitos mais visuais, nunca vi ou escutei algo tão profundo, qualquer pequeno detalhe tem um significado, como nos álbuns do BTS.
Ficha Técnica
Aluno: Heloisa Ribas
Publicação: Maria Helena Denck
Supervisão de produção: Marcos Zibordi
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Mauricio Liesen