Transtorno costuma ser mais frequente entre mulheres adolescente
A compulsão alimentar é um transtorno caracterizado pela vontade de comer grandes quantidades de comida mesmo que a pessoa não esteja com fome. Além disso, o distúrbio pode causar problemas de saúde como doenças cardíacas, obesidade, diabetes tipo 2, cálculo renal e até levar ao desenvolvimento de outros transtornos psicológicos. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), a compulsão alimentar é caracterizada pelo ato de comer demais até mesmo quando o indivíduo está satisfeito ou sem fome. O transtorno atinge mais mulheres, com frequência maior em adolescentes e jovens.
Rafaela*, 20 anos, sofre com o transtorno desde o começo da adolescência. “Percebi que, mesmo quando já estava cheia, algo me impedia de parar, pois na minha cabeça se eu parasse não teria oportunidade de comer outra vez”, relata. Por passar por essa experiência, seu organismo sente fraqueza e sonolência nos períodos de crise. Além disso, o distúrbio faz com que ela sinta vergonha do seu corpo e de se alimentar na frente de outras pessoas.
Um episódio de compulsão alimentar pode ser desencadeado de diferentes maneiras. No caso de Rafaela, a ausência de regularidade na alimentação pode desencadear momentos de compulsão. Por exemplo, se hoje ela ingere uma fatia de bolo, nos próximos dias permanece em abstinência e essa oscilação faz com ela coma mais após os dias sem comer. “Após esse processo começa a compulsão, engatilhada pelo desespero e pelo fato do meu corpo estar completamente sem nutrientes”, explica.
Foto: Jaqueline Guerreiro/Lente Quente
Ela reconhece que sofre de compulsão alimentar, mas não procurou a ajuda de profissionais. “Admitir isso já é difícil o suficiente e com a rotina que tenho acredito que, no momento, um tratamento me atrapalha ainda mais, talvez piorando de maneira significativa meu estado psicológico”, alega.
Por outro lado, a busca por ajuda profissional é um passo importante para lidar com a questão. De acordo com a psicóloga Roberta Seles, a compulsão alimentar não se caracteriza por episódios isolados. “Por exemplo, nas festas de fim de ano, uma pessoa que come demais não tem necessariamente um quadro de compulsão alimentar. A gente sempre precisa avaliar o histórico desse comportamento, há quanto tempo que ele acontece e com qual frequência”, explica.
A profissional também informa que é comum as pessoas utilizarem a comida como uma tentativa de fugir de sentimentos difíceis como, por exemplo, tristeza ou raiva. “É realmente uma busca de alívio que pode funcionar, porém a curto prazo e faz com que a pessoa precise comer mais”, afirma Seles. No tratamento da compulsão alimentar são usadas técnicas, tanto da psicologia quanto da medicina, e não está descartado o uso de medicamentos. “Existe tratamento nesses dois aspectos, médico e psicológico e é importante que a pessoa busque psicoterapia, busque profissionais capacitados para que ela construa uma relação de confiança”, orienta Seles.
*Nome fictício utilizado para preservar a identidade a pedido da fonte.
Ficha técnica
Reportagem: Levi de Brito
Edição e publicação: Gabriel Mendes Ferreira
Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Ricardo Tesseroli